quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

ANO NOVO: OUTRO OLHAR, OUTRA VISÃO



“...porque olhou para  a humildade de sua serva...” (Lc. 1,48)

“Os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo o que ouviram e viram...” (Lc. 2,20)



Assim como a Encarnação do Verbo foi determinada a partir de um “olhar” que saiu do coração de Deus, que pousou sobre Maria e que voltou ao Seu coração, estremecendo-O de compaixão e movendo-O à ação, assim, este novo ano que se inicia, pede também de nós um olhar compassivo, esperançador e comprometido para com o mundo à nossa volta, movendo-nos em favor da vida.

Deveríamos, ao longo deste ano, situar-nos diante de Deus desse modo, com mais freqüência, deixando os olhos, os d’Ele e os nossos, se falarem silenciosamente.

O cristão é aquele que conserva límpido os seus olhos interiores, prontos para perceber a maravilha que está germinando em sua vida. Movido por um olhar novo, ele acolhe a surpresa de Deus, passa a ser surpresa para os outros, com seu gesto de amor imprevisto, com sua palavra que reanima, com sua visita que consola, com sua atenção para com todos os que levam uma vida obscura e monótona.



Com o olhar, podemos transformar uma pessoa, destruí-la ou reconstruí-la, aniquilá-la ou fazê-la renascer, restituí-la a si mesma e ao futuro, fazê-la chorar ou consolá-la, expressar-lhe ódio, indiferença ou amor...

É preciso purificar o olhar, cristificá-lo.

“Quando penso em Jesus, imagino o seu primeiro olhar à sua mãe Maria no fundo da manje-doura ou o seu último olhar que Ele lhe dirige do alto da Cruz” (Kahlil Gibran)

Contemplar o rosto do outro é sentir sua presença, sem pré-conceitos e pré-juízos..., vendo nele o sinal da ternura de Deus. Passar da contemplação à acolhida: este é o movimento da oração dos olhos.

Apreender tudo que há de invisível naquilo que vemos. Ir até aquele ponto inacessível onde se encontram os olhares. Aqui o “ver” torna-se “visão”;  e a visão torna-se união.

Muitas vezes, o presente mais precioso que podemos dar a alguém é um olhar diferente; o futuro, a aco-lhida, o perdão, a alegria... dessa pessoa podem depender desse olhar novo, cheio de afeto e confiança.

Em muitas situações difíceis da vida, o que salva é o olhar.

Num contexto de relações afetivas, onde os sentimentos são determinantes, qualquer caminho de volta ou de diálogo inicia-se sempre dom um olhar conciliador ou reconciliador.



Vivemos sob o signo do olhar, sob o impacto da imagem, da sociedade do espetáculo. Nunca como hoje o olhar adquiriu tanta soberania e status diante dos outros sentidos; no entanto, é o sentido mais violen-tado pela quantidade de imagens despejadas sobre nós a todo momento.

O ser humano primitivo tinha um olhar limitado pelas suas necessidades; já o ser humano pós-moderno, devido à complexidade da vida, ao progresso da ciência e da tecnologia, está ficando com um olhar truncado pelas imposições artificiais criadas; cerceado em sua visão, ele não sente a realidade; agredido pelo acúmulo de imagens, ele não se deixa “afetar” por nenhuma delas. “Vê”  tudo e não “olha” nada.

A urgência em “ver” tudo tira a atenção e o tempo necessário para poder “olhar pausadamente”.



Pobre olhar! Prisioneiro do sistema, é manipulado e não dá sentido à realidade captada, não rompe, não vai além, não busca o novo nem faz mudanças... Portanto, um olhar desprovido de sentimento, de imaginação, de profundidade, de horizontes....

Treinado para ver o mundo através da lente das grandes redes de poder, de manipulação e de acordo com seus interesses, o olhar estreita-se, o mundo torna-se opaco e a superficialidade da visão não capta o “mistério” das coisas e das pessoas.

O “olhar contemplativo” está perdendo sua força criativa; marcado pela ansiedade de querer “ver” tudo ao mesmo tempo, a pessoa não é mais capaz de fazer uma “pausa” para se deixar “ver” pela realidade.

Marcado pelo olhar do racionalismo, ela tudo examina, compara, esquadrinha, mede, analisa, separa... mas nunca “exprime”. Daí o olhar reprimido, desviado, insensível, frio, duro, ríspido...

Este é o pecado contra o olhar: olhar supérfluo e imediatista, olhar esquizofrênico e narcisista, olhar morno, sem vibração, sem brilho, sem assombro... Nesse olhar não há lugar para a admiração, nem para a acolhida e a presença do outro. Só existe o olhar que “fixa”, escraviza e aliena.

Na verdade, o que imobiliza e petrifica é o olhar que se fecha no egocentrismo, que não se abre ao outro numa atitude de respeito, de fidelidade criativa. “Nossa civilização, que já ultrapassou a era do trabalho escravo, ainda está na era do olhar escravo” (Eugênio Bucci).





Sentimos a urgência de uma conversão do olhar; é preciso que o olhar busque a sua libertação de tudo aquilo que o oprime, o manipula e o intimida; há necessidade de recuperar o direito de olhar... de ver e de ser visto. Um olhar gratuito e desinteressado, “janela da alma”, que expande o ser humano numa atitude acolhedora de tudo que o rodeia; olhos que possibilitem o trânsito do olhar, revelando a interioridade e dialogando com o exterior, num movimento de ir e vir constante e interpelativo, onde ocorre a contínua criação de si, do mundo, do outro.

É possível debruçarmos sobre o mundo, a história, a vida, através do olhar. Recuperar o olhar que expressa acolhida e comunhão, olhar carinhoso que rompe a distância e a rejeição.

O olhar verdadeiramente humano não é um olhar de medusa, possessivo, mas um “olhar contempla-tivo”, que admira e acolhe o ser olhado e comunga sinfonicamente com ele.

O olhar contemplativo, que vê todas as criaturas e todas as pessoas, admirando-as e amando-as na singu-laridade do seu mistério, é um olhar feliz, pacífico e encantado.

Por ser um “olhar encantado” quer ver e olhar, admirar e contemplar sempre mais em profundidade, comprometendo-se com a realidade que o cerca.

Se nosso olhar se detivesse por um tempo em pousar e repousar no que ele vê, descobriria também que todas as coisas nos olham, que todas as coisas oram.

“Uma das verdades fundamentais do cristianismo, verdade por demais desconhecida, é esta: o que salva é o olhar” (Simone Weil).



Texto bíblico:  Lc. 2,15-20                  



Na oração: A partir do “olhar” admira-

                     do dos pastores, iniciar, ao longo deste ano, um processo minucioso de extirpação das “cataratas” do seu olhar interior: o olhar das lembranças negativas, das suspeitas, dos julgamen-tos, das comparações... e reacender o olhar contemplativo capaz de expressar a benevolência, a delicadeza, a acolhida, a cortesia, a serenidade, a modéstia, a afabilidade, a alegria simples de estar junto...

Recordar todos os “olhares amorosos” que Deus foi depositando sobre você ao longo da vida.

Coração e olhos espreitam na mesma direção. São os puros de coração os que verão a Deus (Mt. 5,8).

          “Dá-me, Senhor, um olhar livre, límpido e simples,

           que rompa as correntes do meu egoísmo e abra as portas de minha prisão.

           Dá-me um olhar profundo que não se limite a roçar as pessoas de modo fugaz, apressado.

           Que seja meu olhar desarmado, sem vínculos e atento.

           Dá-me, Senhor, um olhar que ultrapasse  a casca das coisas e penetre para além das fachadas.

           Um olhar explorador eu quero, que chegue, Senhor, ao teu aposento, no centro do ser e,

           no centro, fixe teu rosto  e, do centro, fixe o rosto do outro e, nele, te veja e de adore, Senhor”.

                                                                                                                                (F. Pierino Orlandini) 


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Novena de Natal - 9º Dia.

Novena de Natal 2011                     

Acolhida:


Dirigente: Estamos reunidos em nome de Deus que é Pai e Filho e Espírito Santo.


Todos: Bendito seja Deus, Pai que nos reúne pela força do seu Espírito, no amor de Jesus.


Leitura do dia: Lucas 2,1-20


            Naquele dias, saiu um decreto do imperador Augusto mandando fazer o recenseamento de toda terra. O primeiro recenseamento feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam registrar-se, cada um na sua cidade. Também José que era da família e da descendência de Davi, subiu a cidade de Nazaré, na Galiléia, à cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Quando estavam ali, chegou o tempo do parto. Ela deu a luz o seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.

Havia naquela região pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho. Um anjo do Senhor lhes apareceu, e a glória do Senhor os envolveu de luz. Os pastores ficaram com muito medo. O anjo então lhes disse:" Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria que será também a de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor! E isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura" De repente, junto-se ao anjo uma multidão do exército celeste cantando a Deus.

"Gloria a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz aos homens por ele amados!".

Quando os anjos se afastaram deles, para o céu, os pastores disseram uns aos outros: "Vamos a Belém, para ver o que aconteceu, segundo o Senhor nos comunicou. Foram, pois, às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura. Quando o viram, contaram as palavras que lhes tinham sido ditas a respeito do menino. Todos o que ouviram os pastores ficavam admirados com aquilo que contavam.

Maria, porém, guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração.

Os pastores retiraram-se louvando e glorificando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, de acordo com o que lhes tinha sido dito.

 Pontos para oração e partilha: 


- Deus “usa” a História humana para se fazer presente. 

- O dono da hospedaria, pastores, anjos, estrelas, luz, José, Maria...

  Com que, com quem me identifico naquela noite? 

- Meditar a vida no coração. Fazer da vida uma oração. 

 - Retirar-se, louvando e glorificando a Deus


Para aprofundar:                                         

O dia em que vi Deus - Frei Betto     

Natal é a "despapainoelização" do espírito.

É quando o coração torna-se manjedoura e, aberto ao outro, acolhe, abraça e acarinha.

Violenta-se quem faz da festa do Menino Jesus uma troca insana de mercadorias. Quantas ausências nesses presentes!

Em pleno verão, nos trópicos, o corpo empanturra-se de nozes e castanhas, vinhos e carnes gordas, sem que se faça presente junto àqueles que, caídos à beira do caminho, aguardam um gesto samaritano.

Ainda criança, em Minas, aprendi com meus pais a depositar junto ao presépio a lista de meus sonhos.

Nada de pedidos a Papai Noel.

No decorrer do advento, eu engordava a lista: a cura de um parente enfermo; um emprego para o filho da lavadeira; e a paz no mundo.

Meu pai insistia para que eu registrasse meus sonhos mais íntimos.

Aos 8 anos, escrevi: "Quero ver Deus".

Minha mãe ponderou: "Não basta Nossa Senhora, como as crianças de Fátima?".

Não, eu queria ver Deus Pai.

Nem imagens dele eu encontrava nas igrejas, que exibem, de sobejo, ícones de Jesus e pombas que evocam o Espírito Santo.

Na tarde de 25 de dezembro, meus pais levaram-me a um hospital pediátrico. Distribuímos alegria e chocolate às crianças, vítimas de traumas ou tomadas pelo câncer e por outras enfermidades.

Fiquei muito impressionado com um menino de 6 anos, careca.

Na saída, mamãe indagou-me: "Gostou de ver Deus?".

Fiquei confuso: "Só vi crianças doentes", respondi.

Então ela me ensinou que a fé cristã reconhece que todos os seres humanos são imagem e semelhança de Deus.

Por isso é tão difícil ver Deus.

Pois não é fácil encarar a radical sacralidade de todo homem e de toda mulher.

Aos poucos entendi que o modo de comemorar o Natal forma filhos consumistas ou altruístas.

E descobri que Deus é tanto mais invisível quanto mais esperamos que Ele entre pela porta da frente.

Sorrateiro, Ele chega pelos fundos, via um sem-terra chamado Abraão; um revolucionário, de nome Moisés;            um músico com fama de agitador, Davi; uma prostituta, Raab; um subversivo conhecido por Jeremias; um alucinado, Daniel; um casal de artesãos que, recusado em Belém, ocupa um pasto para trazer o Filho à vida: Maria e José.

No Evangelho de Mateus (25, 31-46) Jesus identifica-se com quem tem fome e sede, é doente ou prisioneiro, oprimido ou excluído. Aqueles que para os "sábios" são a escória da sociedade, para Deus são os convidados ao banquete do reino.

Desde então aprendi que Natal é todo dia, basta abrir-se ao outro e à estrela que, acima das mazelas deste mundo, acende a esperança de um futuro melhor.

Sonhar com um mundo em que o Pai Nosso transpareça na grande festa do pão nosso.

Pois quem reparte o pão partilha Deus.



Para rezar até o próximo encontro
A vida
                                                                                        

 Oração final: 

Senhor nosso Deus, que nos visitas assim, Menino.

Dá-nos aprender de vós a simplicidade

Que se faz brilho e beleza,

A fragilidade que se faz força e poder,

A serenidade que se faz ternura,

A quietude que se faz paciência



Transforma nosso coração em manjedoura

Que nossos braços e mãos possam ser, como os de Maria

Aconchego e cuidado com todos os meninos e meninas

De todas as idades, do mundo todo

Em especial os que nascem e vivem perto de nós



Que nosso olhar seja como o de José

Sereno e firme

Livre e confiante

Sabendo exatamente o que deve e precisa ser feito

Para o Natal, de verdade, acontecer.



Ilumina nosso caminho com o brilho da vossa estrela

Inspira em nosso coração a generosidade dos magos

A hospitalidade dos pastores

O calor dos animais que, na sua irracionalidade

Foram testemunhas silenciosas do milagre maior



Deus se fez um de nós

A eternidade vestiu-se de Tempo

O Todo Poderoso mergulhou em nossa limitada humanidade

E o Universo se fez Altar.



Diante da humildade do Presépio podemos vislumbrar em nós, com Ele

As centelhas de divindade que refulgem em nossa alma

Desde o Gênesis

Amém!

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Eduardo Machado/novembro de 2011

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Um presente de Natal do Padre Adroaldo!

NATAL: esse Menino já deu o que falar!”



“Este amor sublime sentado na manjedoura do meu peito, este amor belo enrolado nas vestes da minha sensibilidade, este recém-nascido delicado, inclinado no peito de minha alma, fez das minhas tristezas, alegrias; do meu desespero, glória; da minha solidão, paraíso”  (Gibran Kalil Gibran)



Como cristãos, normalmente pensamos Deus em chave de poder, onipotência, eternidade, imutabilidade...

No entanto, no Natal somos convidados a entrar numa gruta para olhar e contemplar o rosto de uma criança; se esse Menino é Deus-conosco, feito um de nós, então Deus é diferente daquilo que espontanea-mente tendemos a pensar d´Ele. Só nos resta descrevê-lo como Amor que “desce”, Amor que une sua sorte com a nossa, Amor compassivo e entregue ao mundo.



A “Criança de Belém” não nega que Deus seja eterno, onipotente, etc., mas como qualificativos do Amor. O fato de Deus ser assim é uma revelação escandalosa. É o Messias que vem na contra-mão de nossas expectativas, ensinando que nós – e não Ele – é que devemos mudar nossa visão acerca de Sua pessoa. Sim, porque é tentação permanente pretender que o Messias seja conforme à nossa imagem e semelhança quando, na verdade, o processo deve ser inverso.

Com seu Nascimento Jesus abala muitas certezas e quebra uma lógica e uma visão de Deus que nos escandaliza. Por isso, a voz que ressoa no meio da noite do Natal avisa aos pastores não somente que o Salvador nasceu em Belém, senão que O encontrarão, enrolado em panos e reclinado sobre palhas, numa manjedoura. Se a voz não lhes tivesse anunciado esse detalhe, com certeza, ao correr até Belém e encontrar o Menino em tais condições, os pastores teriam dito imediatamente: “Equivocamos, não é este. Como pode um Salvador aparecer assim?”



 O fato de que Deus tenha decidido salvar-nos a partir de uma gruta que recolhia animais é, sem dúvida alguma, a revelação mais desconcertante d’Ele. Nosso Deus é certamente contracultural, inesperado, surpreendente, não corresponde às idéias que forjamos d’Ele, é diferente, não é óbvio que Ele seja assim.

No Natal dá-se um paradoxo: a grandeza de Deus encarnada na pequenez de um menino.

Deus não vacilou em acolher a condição humana, às vezes trágica e em muitos aspectos absurda. Na Encarnação tomou nossa humanidade. E ao “humanizar-se” Deus não mutilou o ser humano. Assumiu tudo o que é humano e nos engrandeceu. Não somos “grandes”  por nós mesmos, mas por e com Deus.

O pecado do ser humano é querer ser grande sem Deus, sem comunhão, isoladamente.

A grande diferença entre Deus e o ser humano é que enquanto Deus vem “descendo”, o ser humano quer subir, subir e subir. Por isso, para encontrar Deus temos de empreender um caminho de “descida” em direção à nossa própria humanidade.



É preciso estarmos abertos para as surpresas de Deus!

Entremos, pois, na gruta, mas não de qualquer maneira. Estamos frente a um mistério santo: Deus se fez um de nós, compartilha nossa pobreza e precariedade. Aqui só tem lugar as atitudes interiores e corporais de agradecimento, humildade, reverência e serviço.

Quem contempla, longa e amorosamente, a Jesus na manjedoura experimenta que algo o move a mudar dentro de si: uma mudança de sonhos e esperanças, uma mudança no modo de situar-se no mundo, de relacionar-se com os outros, consigo mesmo e com Deus.

Aqui está enraizada a convicção de que Belém pode mudar nossa vida. O “mistério” contemplado atinge as camadas mais profundas do afeto e do coração, gerando novidade em nossa vida cotidiana.



Durante uma noite silenciosa em Belém, uma criança nasceu e quase ninguém o percebeu. Somente aque-les que possuíam um coração aberto: os pobres. A luz e a voz põem os pastores em marcha. Preciosas mediações que mobilizam sua busca e direcionam suas vidas para o encontro. Os sinais são mínimos, cotidianos, demasiado simples. Não teriam visto nascer outros meninos de noite e em condições de pobre-za? Por quê aquele ia ser diferente? Como poderia esse indefeso menino trazer tanta alegria e paz...? Precisam ir juntos para descobri-lo: Vamos até Belém e vejamos o que aconteceu”.

Há muito que ver em Belém, mas nem todos os olhares poderão acolher o que ali acontece. Há olhares opacos que não se alegrarão, olhares desconfiados que não o entenderão, olhares frios que não vibrarão com a novidade da gruta... Somente os olhares dos pobres e pequenos se admirarão, e a paz do coração será sua recompensa.

“Ver de novo”, ver outras coisas diferentes daquilo que estamos acostumados a ver é também “nascer de novo”. É preciso despertar o “pastor interior” que há em nós, nossa capacidade de atenção à vida, de buscar com outros, de deixar-nos surpreender diante da presença despojada de Deus.

A “Criança de Belém” é também uma nova revelação de quem é o ser humano: ele não é fruto do acaso, nem é uma “paixão inútil”.

Deus se “fez tecido humano”, revestiu o ser humano de sua própria glória; no nascimento de Jesus é revelada a grandeza, a dignidade, o mistério inesgotável do ser humano. Somos seres “visitados por Deus” e isto nos dignifica; nossa humanidade foi divinizada pela “descida” de Deus.

Diante do mistério do Nascimento, S. Inácio nos convida a “olhar as pessoas: Nossa Senhora, José, a criada e o Menino Jesus...” (EE. 114).

O que faz essa pobre “criada” no texto inaciano? Será que ela não representa todos os excluídos de nossa sociedade? Contemplar o rosto do Menino “dá muito o que falar”: tal atitude nos move a cuidar da “imagem divina” nos rostos desfigurados pela fome e pobreza, rostos aterrorizados pela violência diária, rostos angustiados dos menores carentes, rostos dos anciãos cansados e excluídos, rostos das mulheres humilhadas e ofendidas... É no compromisso com o ser humano desfigurado e marginalizado que descobrimos a chegada do Messias e sua presença em nosso meio. Ele é o termômetro de nossa fé.


Em Belém somos pacificados de nossas ansiedades e pressas de fazer mais e de conseguir mais, de nossa ânsia de poder e de acumular...; e, se permanecermos em silêncio ali, diante do “menino deitado no presépio”, brotará em nós um “desejo profundo de ser”: de ser aquilo que já somos no rosto aberto daquele Menino, ou seja, simplesmente humanos.  


Ditosos somos nós se podemos saborear e abraçar a paz do coração que este Menino traz e oferecê-la largamente para que outros possam também receber seu dom; sem defesas, sem preços, sem temores.

A “memória agradecida” do tempo do Natal nos abre os olhos e todo o nosso ser para  o grande presépio que é realidade, grávida de ricas possibilidades e novidades, de sorte que nos associemos à grande “descida” do Messias para comunicar Vida em Plenitude.



Textos bíblicos:  Fil. 2,5-11   Lc. 2,1-20


segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Palavras de Padre Germano :
"Celebrar o Natal é celebrar a presença de Deus no meio de nós. Isto é, celebrar a nossa vida mesma, dom, graça, esperança, futuro. Feliz Natal e bom futuro para cada um de vocês!
(Obra de Geraldo Lacerdine Américo, SJ, para este natal)".


Aos Amigos da Comunidade Loyola,


            Natal é tempo de esperança. Esperança depositada em Jesus, o Filho de Deus, que um dia veio ao mundo para nos ensinar a amar e que há de voltar a qualquer momento para estabelecer, definitivamente, seu reino de amor. Por isso, nesta época do ano, a liturgia celebra o Tempo do Advento, destinado a todos que desejam preparar o coração com a finalidade de fazer ali a morada aconchegante do Senhor.

           Para viver esta espiritualidade com muita consciência, para realçar o sentimento de fraternidade que nos une e para agradecer as bênçãos que recebemos a todo momento, a Comunidade Loyola convida a todos a participarem da Celebração Eucarística de encerramento do Tempo do Advento. Essa missa será  presidida pelo Pe. Germano, na capela do Colégio Loyola, pontualmente às 19h15min, hoje dia 19 de dezembro. Em seguida, teremos um lanche comunitário, para o qual estamos pedindo que cada um traga um lanche natalino para partilha.

Aguardamos sua presença, contamos com a sua colaboração, agradecemos sua participação e pedimos a Deus que abençoe a todos nós.



Diretores Voluntários da Associação de Pais do Loyola

Avenida do Contorno 7919 - Cidade Jardim BH

Telefone pára contato: 31 3337-7700 // 9614-6870

                                     www.aployola.com.br


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Novena- 8º Dia.


Novena de Natal 2011  
   
   
Acolhida:

Dirigente: Estamos reunidos em nome de Deus que é Pai e Filho e Espírito Santo.


Todos: Bendito seja Deus, Pai que nos reúne pela força do seu Espírito, no amor de Jesus.


Leitura do dia: Gênesis 12,1-3

                         “E o Senhor disse a Abraão: sai da tua terra e vai onde lhe mostrarei. De ti farei nascer um grande povo e engrandecerei teu nome, de modo que tudo em ti seja uma bênção. Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem. E com teu nome, serão abençoadas todas as famílias da terra.

E Abraão partiu, como o Senhor lhe havia dito...”.




 

Pontos para oração e partilha: 

            - Deus escolhe e envia em missão. 

- Deus dá a graça necessária à missão. 

- Por um só homem, toda a terra é abençoada. 

            - Abraão não contesta ou discute. Acolhe e cumpre a vontade do Senhor. 





Para aprofundar:

                            Transfiguração e M

   O livro “Tempus fugit”, me convida a rezar a mudança no olhar de Abraão sobre sua vida. Nele Rubem Alves conta a experiência de uma paciente a quem ele acompanhava que, de repente, se vê surpreendida ao contemplar (que é mais que ver) uma prosaica cebola.

A mulher se imagina louca. Como o ato corriqueiro de cortar, fatiar uma cebola pode tornar-se algo transcendental?

Pois foi o que aconteceu. Da faina banal, doméstica e repetitiva, brotou a possibilidade do permanente. Do cheiro característico, marcante, de uma cebola cortada, numa ação limitada e limitante, fluíram aromas de eternidade.

A cena descrita no capítulo “Estou ficando louca...”, diz mais ou menos assim:

... Na semana passada uma coisa estranha aconteceu. Peguei uma cebola, igual a todas as outras, cortei uma rodela como sempre fiz, e levei um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Como isso era possível? Já havia visto e cortado centenas de cebolas e agora era como se estivesse vendo uma cebola pela primeira vez!

Olhei para a sua forma arredondada, senti a lisura de sua pele sob meus dedos, vi seus anéis circulares, perfeitos, encaixados uns dentro dos outros, surpreendi-me com sua quase transparência, a luz se fragmentando em centenas de pontos em sua superfície brilhante... 

Penso que, na verdade, a paciente de Rubem Alves não está descrevendo uma cebola, mas um olhar. Ou melhor, um modo diferente de olhar. A cebola continua lá, no seu destino cebolístico de ser sempre uma cebola. Mas os olhos que vêem para além da banalidade das coisas, quando percebem que tem suas raízes na alma, provocam uma transfiguração. E ela continua:


Meu automatismo prático se interrompeu. Deixei a faca sobre a pia e fiquei com a rodela na minha mão, encantada. Esqueci-me do prato que estava preparando. Naquele momento eu não queria fazer prato algum para o deleite da boca, pois eu havia encontrado uma outra forma de deleite: o deleite dos olhos. Meus olhos estavam comendo a rodela de cebola. E eu senti um prazer que nunca sentira antes.

Pela primeira vez na vida vi que uma cebola era bonita. Se fosse pintora, pintaria uma cebola. Se fosse fotógrafa, fotografaria uma cebola... Minha cebola deixara de seu uma criatura do sacolão, à mercê de facas e maxilares, e aparecia como criatura encantada, moradora do mundo da beleza, ao lado de jóias e de obras de arte... 

Eu lia e bebia. E pela fresta dos olhos entrava, aos poucos, uma luz que, refletida naquela cebola, revelava outros mundos, interiores, profundos, onde não é possível banalizar nem domesticar sentimentos e palavras. A paciente tinha razão. Ela entrava, assustada e encantada, no surpreendente e instigante mundo que chamou de loucura (e que chamo de poesia). E me levava junto...! 

Ao acordar deste transe místico, em que vi a rodela de cebola como se fosse o vitral de uma catedral gótica, fiquei assustada. Que coisa estranha deveria estar acontecendo como os meus olhos? Que transformação incomum deveria ter acontecido comigo mesma?

            Se eu contasse aos meus amigos o que tinha acontecido eles não entenderiam. Pensariam que eu estava fazendo gozação. Ririam. Não poderiam compreender a minha alegria vendo a rodela de cebola. Eu tive que fazer silêncio sobre a minha experiência. Pensei, então, que estava ficando louca. Pois loucura deve ser isto: aquilo que a gente experimenta e sobre que tem de calar-se. Pois se a gente disser, os outros não entenderão e começarão a pensar que a gente tem um parafuso solto.

Mas o pior é que o que aconteceu com a cebola começou a acontecer com tudo. Meus olhos já não eram os mesmos... 

Quem tem olhos, veja. Quem tem ouvidos, ouça. E eu, peço humilde licença para acrescentar: quem tem pele, toque, quem tem nariz, sinta os aromas, quem tem boca, prove.

É possível e preciso rezar com os sentidos; ver, ouvir, tocar, aspirar e saborear espiritualmente as coisas e pessoas que nos rodeiam e, pelo afeto, invadem.

E, afetados, percebemos, para além da cena previsível, do objeto e até das pessoas banalizadas, coisificadas, o toque do sagrado que muda o rumo da vida, que dá sentido à loucura de viver, que encontra o amor preciso e possível nas situações mais improváveis, que nos convida à missão.

A oração ensina o olhar a amar. E o que os olhos amam e rezam o coração sente, e pede a gente pra viver.

Eduardo Machado





Para rezar até o próximo encontro
Lucas 4,14-21
                                                                                         







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Eduardo Machado/novembro de 2011


Novena - 7º Dia

Novena de Natal 2011    

                

Acolhida:


Dirigente: Estamos reunidos em nome de Deus que é Pai e Filho e Espírito Santo.

Todos: Bendito seja Deus, Pai que nos reúne pela força do seu Espírito, no amor de Jesus. Amém.



  Leitura do dia: Gênesis

O Homem persiste no egoísmo. Deus na paciência e no perdão.      

        Abraão achegou-se a Deus e disse: Destruirás também o justo junto ao pecador?  Se porventura houver cinquenta justos na cidade, destruirás e não pouparás o lugar, mesmo havendo lá cinquenta justos?

Disse-lhe o Senhor: Se eu achar cinquenta justos dentro da cidade, pouparei tudo e todos por causa deles.

Tornou-lhe Abraão, dizendo: Sei que sou pó e cinza, mas me atrevo a falar ao Senhor. E se, de cinquenta justos, faltarem cinco? Destruirás toda a cidade por causa desses cinco?

O Senhor Deus lhe respondeu: Não a destruirei, se eu achar ali quarenta e cinco justos.

Continuou Abraão ainda a falar-lhe, e disse: Mas... e se acharem ali apenas quarenta?

O Senhor, mais uma vez assentiu: Por causa dos quarenta não o farei.

Disse Abraão: Senhor, não fique irado se mais uma vez eu lhe falar. Se porventura se acharem ali trinta justos?

Não, Abrão, não destruirei a cidade se nela houver trinta justos.

Abraão insistiu: Eis que outra vez me atrevo a falar ao Senhor. E se porventura se acharem ali vinte justos?

Respondeu-lhe o Senhor: Por causa dos vinte não a destruirei.

Disse ainda Abraão: Não se ire o Senhor, pois só mais esta vez falarei. Se porventura se acharem ali dez?

E o Senhor Deus lhe disse: Por causa dos dez não a destruirei.



   Pontos para oração e partilha: 

- Primeiro passo: achegar-se a Deus... 

- Deus dialoga com o Homem. Ouve e responde. 

- A contabilidade de Deus é diferente da nossa. 

- Deus busca razões e até desculpas para nos acolher, perdoar e restaurar.


Para aprofundar:                        

“A mulher adúltera”          


Contemplando João 8,1-12


Nove horas da manhã. Jerusalém começa mais um dia agitado e quente. No espaço amplo, diante do Templo imponente, me vejo diante de uma babel de sons, cheiros e cores. Comerciantes apregoam suas mercadorias, gente entrando e saindo, camelos, pássaros, um rebanho de ovelhas. Um grupo de soldados romanos passa em formação.

Jesus está sentado no último degrau de uma escada. Conversa com seus amigos e discípulos. Muita gente em volta ouve, curiosa. Jesus acaba de contar uma história engraçada e todos riem.

Reparo nos rostos de cada um.

Pedro, com seu ar de "dono do pedaço".  João com seu semblante jovem, quase adolescente, bem perto de Jesus. Judas, distraído, observando o movimento das pessoas que entram no Templo. Simão Zelote acompanhando com um olhar agressivo o pelotão de romanos que faz a ronda. Tomé se estica preguiçosamente num degrau enquanto come um punhado de tâmaras.     

            Olho o rosto de Jesus...

            Percebo detalhes em sua expressão que marcam profundamente: o tom da voz, o olhar profundo, que parece ir até a alma, os gestos largos enquanto fala, o sorriso fácil e acolhedor...

            De repente, todos se erguem assustados. Um tumulto se forma num dos cantos da praça. De uma ruela estreita surge um bando de homens que gritam, agitados e nervosos. No meio da poeira que se ergue é possível perceber que eles arrastam alguém. É uma mulher. O bando aproxima-se de Jesus que se ergue, tenso. Abre-se uma roda quando chegam onde Jesus está e atiram diante dele a mulher. Ela tem a roupa rasgada, os cabelos desgrenhados e sujos de terra. No rosto, medo, lágrimas e marcas de bofetadas. Um filete de sangue corre de seu nariz e ela chora baixinho, de dor e humilhação, além do pânico. Ela sabe o que a aguarda...

             Um silêncio constrangedor paira sobre a multidão. Todos os olhares se voltam para um homenzinho que parece ser o mais velho e se adianta, dirigindo-se a Jesus.

            "Mestre - ele diz, e na sua voz há um tom de desafio e ironia - essa mulher foi presa em flagrante de adultério. Ora, na lei de Moisés está escrito que tais mulheres devem ser apedrejadas. E o Senhor, Mestre, o que nos diz?"

            Um murmúrio perpassa a multidão. Todos sabem o que era o apedrejamento; uma sentença de morte. A pessoa condenada era esmagada a pedradas, numa execução cruel e violenta. Percebem também que a pergunta esconde uma armadilha. Querem, na verdade, contestar a Jesus. Imaginam que qualquer que seja a sua resposta terão como colocá-lo contra a parede. Se concordar com a execução poderão questionar seus discursos sobre perdão e misericórdia. Se reagir contra, estará infringindo a sagrada Lei de Moisés. A vida daquela pobre mulher torna-se apenas um joguete nas mãos de interesses políticos.

            Bem ao meu lado, Mateus comenta com André: "Mas onde está o homem? Ao que me consta é impossível cometer adultério sozinha..."

            Mas, eu e todos estamos agora com o olhar fixo em Jesus aguardando sua reação. Pedro, sempre intempestivo, já segura o punho de uma espada oculta sob o manto.

Surpresa. Sem dizer uma palavra, Jesus, inclinando-se, começa a escrever no chão, com o dedo.  A multidão se espreme e se acotovela , curiosa, para ler o que ele escrevia.

Eu estava mais próximo e pude perceber que Jesus escrevia nomes de pessoas. Primeiro o nome de um homem e, ao lado, o nome de uma mulher. Não entendi, mas o gesto teve um efeito devastador na multidão. O homenzinho arrogante que falara com Jesus percebeu que o primeiro nome da lista era o seu: Zacarias. Ao lado estava o nome de uma mulher.

Zacarias ficou lívido. Era o nome de uma de suas amantes. Os outros da lista ficaram igualmente transtornados.

Aquilo durou alguns instantes. Então Jesus se ergueu e encarou novamente a multidão. Deu alguns passos à frente e ficou entre a mulher, jogada ao chão, e os que estavam logo na primeira fila. Todos recuaram.  Jesus olhou a mulher, a multidão, e no seu olhar havia um misto de piedade e fúria. Então falou. Sua voz parecia uma faca afiada a cortar o silêncio...

            "A Lei diz que ela deve ser apedrejada. Muito bem... mas vamos estabelecer um acordo, um privilégio: a primeira pedra, só a primeira, as outras podem ser jogadas a vontade, será atirada por aquele dentre vocês que estiver sem pecado. Que atire AGORA!!!

            A multidão recuou outro passo. Houve quem tropeçasse e caísse. A voz de Jesus ressoava no silêncio da praça. A mulher se encolheu, como que esperando a primeira pedra...

            Mas nada aconteceu. Ninguém se moveu por alguns segundos. Então, Zacarias, o homenzinho que liderava o bando virou-se e fugiu, largando no chão as pedras que tinha nas mãos. Seu gesto pareceu uma senha, pois logo outros o seguiram. Um a um, todos se afastaram aturdidos, deixando no chão as pedras como sinal de vergonha e covardia.

            Eu me escondi entre o grupo dos discípulos, com o coração aos saltos, entre a euforia e o constrangimento, pois o olhar de Jesus nos envolveu a todos. E era um olhar terrível, assim como o tom de sua voz.

            Mas logo em seguida o que se viu foi surpreendente. O mesmo Jesus que pusera aquela multidão sedenta de sangue para correr, estava agora se inclinando e tomando pelas mãos a pobre mulher, ainda aterrorizada. Ergueu-a suavemente e passou as mãos pelos seus cabelos, limpando-os e ajeitando-os. Com uma ponta do manto secou as lágrimas e limpou o rosto da mulher. Seu olhar era só ternura e sua voz, num tom baixo e carinhoso perguntou: "Minha filha, onde estão os que te condenavam?

- “Não há mais ninguém, Senhor" disse a mulher sem entender bem o que se passara à sua volta.


            Jesus sorriu. Fixou na mulher um olhar de compreensão e amor e disse: "Pois bem, nem eu te condeno, vais em paz e não tornes a pecar..."         

A mulher foi se afastando lentamente, olhando para Jesus, para nós, como que buscando uma explicação para aquele terremoto que acabara de acontecer. Tudo fora rápido demais.

A praça, quase vazia, pedras jogadas ao chão, Jesus e nós...

Ele subiu novamente até o último degrau, sentou-se e disse, como se continuasse o assunto que fora interrompido: "Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da Vida..."

 Voltei para casa, confuso, sem saber o que mais me impressionara: se a hipocrisia daqueles homens, o medo desamparado da mulher, meu próprio medo, a voz, o olhar de Jesus ou as suas palavras.

 Parecia que naquela praça só estávamos eu e ele e que suas palavras tinham o endereço direto do meu coração...

Eduardo Machado



Para rezar até o próximo encontro

João 8,1-12


Oração final:           

Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome.

Venha a nós o teu reino, e seja feita a tua vontade



Pai, meu pai do céu, eu quase me esqueci,

Eu quase me esqueci

Que o teu amor vela por mim, que o teu amor vela por mim,

E seja feito assim


O alimento desse dia, dai-nos agora e sempre

E perdoa as nossas ofensas, de um modo maior com que perdoamos.


Pai, meu pai do céu, eu quase me esqueci,

Eu quase me esqueci

Que o teu amor vela por mim, que o teu amor vela por mim,

E seja feito assim 

Não nos deixeis cair em tentação,

Mas livrai-nos de todo o mal,

                                                            Amém!

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Eduardo Machado/novembro de 2011