Esse é o cantinho da Comunidade que participa da Jornada Inaciana de Acolhida do Colégio Loyola de Belo Horizonte.
segunda-feira, 28 de julho de 2014
DEIXAR-SE AFETAR PELO SOFRIMENTO DO OUTRO-“Jesus viu uma grande multidão e, tomado de compaixão, curou os seus doentes” (Mt 14,14)
DEIXAR-SE
AFETAR PELO SOFRIMENTO DO OUTRO
“Jesus viu uma grande multidão e,
tomado de compaixão, curou os seus doentes” (Mt 14,14)
Quem é verdadeiramente humano?Aquele que é movido pela compaixão.
O grau de humanidade (ou de barbárie) de nosso
mundo se mede pelo grau de sensibilidade diante da dor humana. E é a compaixão
a melhor expressão dessa sensibilidade e humanidade: deixar-nos afetar pelo que acontece – ou seja, ter uma
sensibilidade limpa, desbloqueada e vibrante.
Definitivamente, a compaixão é central para sermos humanos. O sofrimento das vítimas nos
“descen-tra” e nos faz “descer com paixão” aos seus pés e nos situar ao lado (a
favor) delas.Sempre se pode “pas-sar para o outro lado”.Aí é onde se abrem
espaços à compaixão.
No interior de todos nós há
sempre reservas e redutos de bondade, muitas vezes, adormecidos, mas que podem
ser ativados diante da dor e da miséria dos outros. Não somos sempre e
totalmente egoístas. Uma desgraça, uma tragédia... podem muito bem “impactar
nossas entranhas” e despertar a consciência de que fazemos parte da mesmafamília
humana.
Esta compaixão não é meramente um
sentimento privativo, mas reação “apaixonada” diante das injustiças sangrentas
de nosso mundo.Nos sofredores há algo que atrai e convoca, que nos faz sair de
dentro de nós mesmos e nos fazer próximosdos sofredores; aí reside a origem da
solidariedade que suscita uma
ação eficaz e um compromisso de vida a favor de quem é vítima de situações
injustas.
Ao
mesmo tempo, não é raro que a compaixãodesperte o contato
com a nossa própria vulnerabilidade ou fragilidade. Quando acolhemos toda essa nossa
realidade a partir de uma atitude humilde, é provável que emerja um sentimento
amoroso para nós mesmos. E, a partir dele, nos tornamos mais sensíveis ao
sofrimento dos outros.
O campo da compaixão
é o encontro pessoal, ou seja, quando as pessoas decidem romper as barreiras
que as isolam e deslocar-se uma em direção à outra. No encontro, estabelecem-se
relações que mudam as posições entre si, umas e outras intercambiam seus
lugares vitais e os laços da existência ficam reforçados.
O primeiro traço do encontro
compassivo é a gratuidade.Aqui não
se gera uma situação de dependência ou de senhorio, mas revela-se um “excesso”
de amor, que não se mede.
Outro traço do encontro
compassivo é a proximidade. Tocar,
ver, aproximar-se, deixar-se afetar..., são requisitos da compaixão, superando
as barreiras da indiferença, da falta de atenção. A distância os fez estranhos,
a proximidade, o abraço os devolve a seu lugar: filhos, amigos, amados,
festejados...
O terceiro traço do encontro
compassivo é a profundidade, que
desperta a capacidade de amar que está presente em todo ser humano.
Compartilha-se a ferida mais profunda da outra pessoa. Só se pode amar o que
tem mistério, e onde há mistério há profundidade.
A
cena evangélica da multiplicação dos pães revela que o Reino nem sempre chega
pelos caminhos “religiosos”, mas pode chegar através da compaixão despertada pela situação desumanizadora do outro. A
compaixão derruba todas as barreiras.
Compaixão, no seu sentido etimológico, quer
dizer “sofrer com”. Esse é o sentido do amor: ter o outro dentro da
gente. A compaixão é uma maneira de sentir. É dela que brota a ética. A falta
de compaixão é uma perturbação do olhar. Olhamos, vemos, mas a coisa que vemos
fica fora de nós.
“Jesus
olhou e multidão e teve compaixão”.Ele
faz vibrar as pulsões do humano presentes em cada pessoa. Seu jeito de “ser
humano” entra em sintonia e desperta o que é mais humano no outro.
Um dos traços que definem a nossa
época é o fato de ser uma era de “sem-compaixão”, um tempo no
qual se faz muito difícil vibrar de verdade com os outros, e especialmente com os
outros mal-tratados pela situação sócio-econômica.A compaixão está cada
vez mais ausente da esfera pública e de nossas rela-ções com o outro diferente
e com o outro distante que sofre. Aqui está a chave da incapacidade de nossa
sociedade para responder aos desafios atuais.
No evangelho de hoje, em contraste com atitude compassivade
Jesus diante das multidões, os discípulos, percebendo a hora avançada, pedem
que elas sejam despedidas para que comprem pão e se alimentem. Esta é a lógica
desumanizadora: devolver as pessoas às suas próprias possibilidades limitadas,
à escassez e à privação que a sociedade as relegou. Os discípulos são sensíveis
à fome do povo empobrecido, mas o dei-xam à mercê de seus próprios recursos.
Não conhecem outra solução.
Jesus abre outra lógica: a da partilha,
frente à logica do mercado, focado naapropriação e na acumula-ção.“Quantos
pães tendes?”,
pergunta que desinstala e possibilita encontrar uma saída, pequena mas
mobilizadora: a partilha de cinco pães e dois peixes.
Só se fará efetiva a nova
comunidade quando pães e peixes entrarem na lógica do Reino. Sem oferecer o
próprio pão, os próprios recursos, a própria pessoa, não há possibilidade de
construção do Reino de Deus.
A multidão dispersa, transformada pelo encontro
com Jesus, já é capaz de sentar-se em grupos ordenados sobre a relva, iguais,
sem divisão em hierarquia, que costuma criar fissuras na comunhão. Os que
tinham algo para comer também foram repartindo com os outros. Na realidade, o
verdadeiro milagre foi o da par-tilha, onde as pessoas famintas não se lançam
vorazmente sobre os pães numa luta para conseguir os ali-mentos escassos.
Compartilhar gratuitamente com os outros, com desconhecidos, e não acumular o
que sobra, isso sim é milagre.
Em cada migalha de pão, em cada
pedaço de peixe, há uma história de amores e trabalhos que vão passando de mão
em mão, sem cobiça devoradora. Os bens deste mundo carregando dentro uma vocação
fraterna e universal. São dons para todos.
Nesta refeição de todo o povo
sobre o campo verde não se discrimina ninguém, não se pergunta a ninguém pelo
seu passado, sua profissão ou sua situação moral e religiosa. Todos são
acolhidos como expressão das entranhas compassivas de Deus, que chama todos a
compartilhar sua mesa. Todos se sentem pessoas dignas e amadas.
Esta é a utopia do Reino: tudo está reconciliado: o
cosmos, com a natureza verde e em paz; os produtos do trabalho humano, da
generosidade do mar e da terra; e as pessoas, numa relação harmoniosa entre si e
com Deus, sem exclusões, competições nem privilégios.
A compaixão de Jesus situa tudo na lógica do amor, que é a única força
transformadora da história.
Texto bíblico:Mt 14,13-21
Na
oração: A oração
é tambémquestão de densidade de vida, de
humanismo,
de ativar a sensibilidade para com aquelesque não têm quem os defenda; é
revelar que em nosso peito bate um coração de amor infinito, capaz de vibrar e
mobilizar-nos em favor dos outros.A oração implica entrar em sintonia com o
coração compassivo de Deus voltado para a miséria humana.
terça-feira, 22 de julho de 2014
CRISTÃO: porque busca, move os outros à busca
CRISTÃO: porque
busca, move os outros à busca
“O Reino dos Céus é semelhante a um
negociante que anda em busca de pérolas preciosas”
As
duas pequenas parábolas de hoje nos remetem a uma questão, básica e universal,
que acompanha todo ser humano: qual é o “tesouro” de minha vida? Onde estou
investindo minhas energias e criatividade? O que dá sentido à minha existência
e é capaz de plenificar meu coração?
Essa
“aspiração
essencial”, que habita o coração humano, é a que nos converte em “buscadores”.
E
o que é que, consciente ou inconscientemente, estamos buscando na vida?
As imagens do tesouro e da pérolanão se
referem a algo “separado” que, a partir de fora, viria dar sentido à nossa
existência. O tesouro e a pérola é o que já somos, embora ainda não
os tenhamos descoberto. Em outras palavras, o “buscador é o buscado”.
Na realidade, o que andamos buscando é
o nosso “eu verdadeiro” ,o “eu profundo”, a “identidade original”. Nesse
sentido, só o que nos faz mais humanos, e na medida em que nos faça mais
humanos, plenificará nossa existência.
O dia em que isso acontecer, vibraremos
de alegriae seremos capazes de renunciar a outros valores, critérios e
expectativas que se revelavam efêmeros.
Mas, como podemos encontrar o caminho que nos leva àquilo que
tanto buscamos?
Jesus nos indica que é aquele que nos leva às nossas próprias
profundezas; portanto, um caminho de “descida” ao nosso próprio santuário interior.
Lá, nos deparamoscom os lados sombrios,
com nossos limites e nossas fragilidades humanas. Somos, como diz S. Paulo, um
tesouro em vasos de barro. Em nosso “húmus” carregamos uma nobreza.
É justamente no meio do cascalho
interior que podemos encontrar o tesouro, a pérola preciosa; é exatamente aqui
que alcançamos nossa verdadeira identidade.
A pérola cresce nas feridas da ostra;
no caminho espiritual, bem como no caminho de nossa humanização, precisamos
aprender a descobrir a pérola nos ferimentos da nossa própria biografia.
“Onde estivermos quebrados, onde
estivermos feridos, lá também se quebram as máscaras que usamos. Somos quebrados
para revelar nosso eu verdadeiro” (Henry Nouwen).
Hildegarda de Bingen vê o propósito dos
processos da humanização justamente na transformação dos ferimentos em pérola.
Viver
é desafiador na medida que viver é buscarum sentido para a própria existência.
A dinâmica da busca marca a caminhada humana e define os rumos da
vida. Vive-se em permanente busca e só àmedi-da que se vive para buscar é que a vida se torna, de verdade, vida, com
mais sabor e sentido. O que se busca define e determina o que é a
vida da pessoa. “Diga-me o que buscas e
dir-te-ei quem és”.
No interior de cada um ficou aguçada a dinâmica da busca,
aquela que mantém a vida de todo coração e o incita na busca do que
vale, do que conta e do que é essencial. O coração humano foi feito para
encontrar a razão mais profunda do seu viver; há uma inquietude latente em seu
interior que o faz peregrino do sentido. Tão fundamental como é o respirar,
toda pessoa precisa assumir sua condição de navegadora do infinito. Somos, por
natureza, eternos buscadores e garimpeiros do novo.
A vida se torna mais vida na
medida que se vive para dar razão a essa busca. Uma busca
que exercita o coração e o modula na sinfonia amorosa do coração de Deus. Ele é
a única e completa razão da busca do coração humano.
Todo
ser humano é aventureiro por essência; com ardor, ele anseia por
uma causa última pela qual viver, um valor supremo
que unifique a multiplicidade caótica de suas vivências e experiências, um projeto
que mereça sua entrega radical. Para dar sentido à sua vida e realizar-se como
pessoa, o ser humano necessita da auto-transcendência, isto é,
viver para além de si mesmo, de seus impulsos, caprichos, desejos...
Carrega
dentro de si a sede do infinito, a criatividade, a capacidade de romper
fronteiras, os sonhos, a luz...
Portador
de uma força que o arrasta para algo maior que ele... não se
limita ao próprio mundo; traz uma aspiração profunda de ser
pleno, de realização, de busca do “mais”...
Estar em busca é sair do próprio ser atrofiado
pelas preocupações individuais para mover-se num horizonte maior; estar em busca
é perguntar-se, é estar aberto para ser tocado pela mais
profunda das graças: a gratidão diante de Deus.
É
importante ter claro o que é que se busca. No supermercado da
vida pode-se buscar tudo. As ofertas são muitas. Às vezes
corre-se o risco de perder o rumo, não perceber o que é e onde está o essencial,
apegar-se ao que é passageiro; com isso, a busca desemboca em
algo sem sentido, vazio.
É
difícil a tarefa de buscar quando alguém se encontra acomodado e
satisfeito de tudo e, ao mesmo tempo de nada. Então, para quê buscar? Como
despertar e alimentar a sede da busca?
Toda busca
inclui a purificação de motivações para permitir o encontro de tudo o que
garante e promove a vida. É exercício de discernimento constante:“o
quê busco? Por quê busco? Tem sentido e valor aquilo que busco? Para onde me
leva a força da busca?...
É preciso buscar
sempre. Importa, pois, buscar o que dá garantias de fecundidade
para a vida.
Porque busca, desperta
também nos outros o “ser buscador” que está escondido.
O
desejo do encontro é força determinante para se manter acesa a
chama da dinâmica da busca.
A
pérola que é buscada, justifica, com razões de sobra, o esforço e a recompensa
do encontro. Vale a pensa buscar o que é importante e encontrar
aquilo que responde às razões mais profundas da busca.
No caminho do seguimento de Jesus, a busca
é um dinamismo determinante da mente e do coração de cada um. Aquele que busca,
movido por um espírito de aventura e por uma causa, quando encontra, vibra de
alegria, como a parábola do buscador de pérolas.
Somos continuamente desafiados diante da grandeza da
vida.
Por isso, buscar torna-se um hábito de
vida.
Não é a busca
de uma coisa qualquer. Busca-se pela força do amor.
Só o amor faz buscar o que
vale a pena encontrar. Quem busca por amor encontra o essencial, o tesouro.
Texto
bíblico:Mt.
13,44-46
Na
oração:
seu coração é portador da forçainsubstituível da busca.
- o que você está buscando?
segunda-feira, 14 de julho de 2014
DEMONSTRE COM SUA VIDA QUE SER TRIGO É MAIS HUMANO “Queres que vamos arrancar o joio”? (Mt 13,28)
DEMONSTRE
COM SUA VIDA QUE SER TRIGO É MAIS HUMANO
“Queres que vamos arrancar o joio”? (Mt 13,28)
O ser humano vive tencionado e marcado por polos
opostos: luz e escuridão, céu e terra, fragmentação e unidade,espírito e
instinto, amor e agressividade, solidão e vida comum, medo e desejo, proximidade
e distanciamento, razão e sentimento, sagrado e profano, animus e anima...,
trigo e joio.
Muitas vezes vivemos apenas um polo e
reprimimos o outro; enquanto este permanecer recalcado nas sombras ele terá um efeito
destrutivo. Só quando dizemos “sim” a esta tensão básica de nossa vida é
que conseguiremos superar a divisão interna.
Aquele que acredita que os dois
polos constituem sua interioridade poderá sentir que a tensão entre eles é que
o mantém vivo e dão calor e criatividade à sua vida. A vitalidade é sempre
marcada pelas contra-dições. Da tensão entre os opostos produz-se
no ser humano uma energia que desperta a criatividade e o espírito de
iniciativa. Ele precisa assumir os opostos dentro de si para se tornar inteiro,
completo...
A arte da humanização consiste na
reconciliação dos dinamismos contrários em seu interior.
Este é o espanto que os
empregados experimentaram quando perceberam que,no campo onde foram semeadas
boas sementes, apareceu também o joio. Seu primeiro impulso foi o de
arrancá-lo.
Muitos ficam chocados quando, apesar de todo
empenho para serem pessoas boas e amáveis, sentem o impulso para o mal; querem
ser dóceis, mas descobrem em seu interior a presença do ódio, o sentimento de
vingança...; assustam-se diante da presença do joio e querem arrancá-lo
imediatamente. Mas, se o fizerem, arrancarão com ele também o trigo.O trigo e o
joio não nascem em campos diferentes, nem dividem as pessoas em dois grupos:
bons e maus. Trigo e joio habitam juntos em cada coração humano.
O joio, do qual Jesus fala aqui,
é o “lolium”, que se parece muito com o trigo e cujas raízes se entrelaçam com
as do trigo. Quem, em sua vãtentativa de ser perfeito, tenta arrancar todo joio
do seu interior, no fim acaba sem trigo para colher e sua vida se torna
infrutífera.
Nossa liberdade
sente-se movida e atraída em duas direções. A parábola do “joio e do trigo”
des-vela (distingue, põe às claras...) os dois dinamismos, duas tendências,
dois impulsos... que se fazem presentes em nosso interior. A vida espiritual
não consiste em um combate interno que nos desgasta, tentando nos transformar
empessoas perfeitas e impecáveis. Somos “húmus”, carregados de fragilidades,
limitações... Os dois dinamismos (trigo e joio) fazem parte de nossa
constituição humana; não tem como arrancar um em benefício de outro. Não se
trata de alimentar uma luta entre eles, como um combate entre o bem e o mal, levando-nos
ao sentimento de impotência e desânimo.; tampouco se trata de uma leitura
moralista diante da presença das chamadas “tentações” (tendências, impulsos,
inclinações... presentes em todos nós, simbolizadas pela presença do “joio”).
O combate dualístico (entre o bem
e o mal) acaba desembocando no puritanismo, no farisaísmo, no legalismo, no
perfeccionismo, no voluntarismo... onde o centro sou “eu”.
A fertilidade da nossa vida nunca
é expressão de uma impecabilidade absoluta, mas resulta da confiança no fato de
que o trigo é mais forte do que o joio e de que o joio poderá ser separado na
colheita.
A questão de fundo é saber qual dos dois
dinamismos eu alimento; é aqui que entra a liberdade (ordena-da) para
deixar-me conduzir pelo Espírito. O centro é o Espírito.
Em tudo que vivemos e fazemos devemos ser dóceis
para deixar-nos levar pelos impulsos do Espírito, por onde muitas vezes não
entendemos e não sabemos.
E “deixar-nos conduzir pelo
Espírito” significa fazer a experiência originária de Deus em todas as
dimensões da vida, não em algumas privilegiadas, ou somente quando estamos no
espaço sagrado de uma celebração, ou quando rezamos... Fazer a experiência de
Deus em cada situação da vida significa sentir Sua presença em todas as coisas,
pois Ele vem misturado em nossa realidade, rica e pobre.
Enquanto vivermos, o joio se fará
presente no campo do nosso interior. Isso nos impõe humildade e nos protege de
uma dureza falsa em relação a nós mesmos e aos outros.
Toda autêntica experiência
espiritual nos ajuda a descobrir nossa natureza singular, nosso eu mais
profundo. O verdadeiro eu é aquele núcleo que reúne todas as nossas pulsões,
todo o nosso mundo de paixões, não só as paixões luminosas, também as paixões menores,
a mediocridade, os instintos...
Tudo isso é um potencial enorme
para crescermos humanamente, para nos inserirmos num projeto de bondade, não
negando essa realidade obscura, mas acolhendo-a como nossa realidade. Ao
redimi-la e integrá-la, superamos os mecanismos neuróticos de recalque e
rejeição, em nós e nos outros.
Não pretendamos, pois arrancar o
joio; demonstremos com nossa vida que, ser trigo, é mais humano.
Por isso, a atitude sábia é a de“deixar o trigo e o joio crescerem juntos”. Tal atitude nos remete
precisa-mente ao que temos de fazer com o próprio joio: aceitá-lo, acolhê-lo, integrá-lo,
reconhecê-lo como próprio, sem reduzir-nos a ele e sem nos deixar determinar
por ele. Tal atitude implica um crescimento em integração e em humildade. Por
mais estranho que pareça, a aceitação do “joio” nos humaniza, pois nos faz
descer de nosso pedestal egóico – feito de exigência, perfeccionismo e de
complexo de superioridade – e aproximar-nos de nosso ser verdadeiro.
Quanto mais nós nos conhecemos e
conhecemos o Sol que nos habita(Deus), mais nos integramos voltados para aquele
centro divino, mais nos humanizamos.
Humanizar-se, não no sentido de mais virtuoso,
brilhante, bem-sucedido... Humanizar-se é também a capacidade de ser frágil,
ser vulnerável e, ao mesmo tempo, ter vigor, ser criativo, resistir, poder
traçar caminhos. Fazer a síntese entre ternura e vigor.
Portanto, a vida espiritual significa
ter acesso a esse centro interior, para deixar desvelar o nosso eu verda-deiro,
com todas as suas contradições, negações, perversidades, mas também com suas
potencialidades, sua dimensão de luz..., até que, nesse eu, as luzes e as
sombras fiquem “planetizadas”, como os planetas ao redor do Sol.
A interioridade também tem seu centro, ao redor
do qual estão nossas passionalidades, sempre ambíguas, positivas e negativas.
São joios que mo-ram em nós, junto com o trigo bom. Os joios também tem sua
função. Não podemos negar a nossa dimensão de sombra, de imperfeições, de limites...,que recolhe a históriado velho Adão e da velha Eva, como
também do novo Adão e da nova Eva na sua luminosidade, na sua capacidade de ser
solidário, amoroso, terno. Tudo isso é vida. Tudo isso é humanidade.
Texto bíblico:Mt 13,24-30
Na
oração:Amar a nós
mesmos significa amar nossa natureza ambígua e, assim, aceitar-nos plenamente.
A
partir daí, vamos criando essa atitude de oração que nos coloca inteiros diante
de Deus.
A
oração fica inserida dentro da vida e Deus vem misturado em nossa vida.
Assinar:
Postagens (Atom)