segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Convite do Padre Adroaldo

CAP ITINERANTE

Curso de Capacitação para Orientadores e Acompanhantes de Exercícios Espirituais

É muito animador perceber que há uma crescente demanda de Exercícios Espirituais no atual contexto social e eclesial da América Latina. Reconhecemos que a metodologia inaciana dos EE é uma expressão privilegiada de renovação espiritual-apostólica, pois ajuda a pessoa a encontrar sentido para a própria existência, favorece seu amadurecimento humano em todas as dimensões, levando-a a descobrir como caminho de realização(através do discernimento), a entrega aos demais no seguimento e identificação com Jesus Cristo.

Muitos dos que viveram tal experiência, sentem-se movidos em colaborar neste ministério do acompanhamento espiritual. “A vocação de acompanhante está enraizada na atitude cristã fundamental de ‘estar ao lado’, de ‘apoiar’ aos irmãos e irmãs. Esta atitude é reforçada pela necessidade que se sente de comunicar aos outros o dom recebido e de fazê-lo, precisamente, através do mesmo caminho pelo qual lhe foi concedido: os Exercícios. Esta vocação de acompanhante de outros irmãos e irmãs na fé é cada vez mais necessária e decisiva na Igreja latino-americana” (EE na AL, n. 121).
Para isso, é preciso fortalecer o ministério dos Exercícios, incrementar a formação na espiritua-lidade inaciana e propor um processo de capacitação para uma apropriação pessoal da proposta inaciana.

Nesse sentido, a finalidade do Cap Itinerante é a capacitação de pessoas para a orientação e acompanhamento dos Exercícios Espirituais, desde que mostrem as qualidades e o carisma necessários para esse serviço. O CAP quer ser uma contribuição à formação de autênticos(as) discípulos(as) missionários(as) que possam, por sua vez, ajudar a outros a viverem a experiência fundante do discipulado, o encontro pessoal com Jesus Cristo e com seu Projeto.
Trata-se de um ministério muito importante na Igreja, especialmente nesse tempo em que vivemos, após a V Conferência do Episcopado em Aparecida, em que nossos Bispos insistem na formação espiritual do discípulo-missionário.

Esta iniciativa é a concretização da Ação Estratégica 10 do Plano Apostólico da Província Centro-Leste dos jesuítas: “criar uma equipe itinerante de formação de acompanhantes de Exercícios Espirituais com jesuítas e colaboradores, capaz de atender às diversas necessidades de obras e grupos na Província”.
Da mesma forma, esta iniciativa vem responder a uma das prioridades da CPAL (Conferência dos Provinciais da América Latina): “Compartilhar a riqueza de nossa espiritualidade, especialmente por meio dos Exercícios Espirituais, para alimentar uma experiência encarnada de Deus nas pessoas e comunidades cristãs, contribuindo assim com o processo de evangelização ao qual nos chama Aparecida”.

São destinatárias do curso pessoas que já fizeram os Exercícios Espirituais completos em alguma de suas modalidades (30 dias seguidos, ou em etapas, ou EVC), que desejam aprofundar a própria experiência e capacitar-se para ajudar outras pessoas como acompanhantes ou orientadores “em nosso modo de dar os Exercícios hoje”: iniciação à oração; acompanhamento pessoal dentro ou fora dos EE; grupos de oração; orientação de pré-EE ou EE segundo a anotação 18 (adaptações como EE breves, EE de 6 ou 8 dias) e anotação19 (EVC).

Partindo da modalidade CAP I, que já vem sendo realizada, há vários anos, pela equipe do CEI de Itaici e em regime de tempo integral, o CAP Itinerante está dividido em 5 etapas, correspondendo a 5 finais de semana, durante um ano.
Pretende-se dar uma visão global e profunda da proposta dos EE, percorrendo todas as suas etapas (Semanas), bem como uma melhor compreensão do método e dos modos e maneiras de orar, para que o participante possa perceber e utilizar adequadamente a pedagogia dos EE.
A metodologia inclui, além de algumas exposições, oração pessoal e partilhada, tempo para leituras complementares a serem trabalhados e algumas dinâmicas. Devem ser adaptados a cada realidade no referente ao horário e a outros aspectos.
Entre uma etapa e outra há um razoável espaço de tempo para estudo, partilha e experiências em grupo, se possível (será indicada uma bibliografia para aprofundamento e textos para oração, após cada etapa).
Local: Casa da Santíssima Trindade-Belo Horizonte.
A data dessa primeira etapa é 24, 25 e 26 de fevereiro. 
As outras são:
Abril: 27 a 29
Junho: 22 a 24
Setembro: 21 a 23
Novembro: 30 a 2 de dezembro, e serão feitas novas inscrições antes de cada uma.
O número de vagas é de 60 pessoas. O critério para a participação no CAP é de que  a(o) interessada(o) deve ter experimentado alguma modalidade de Exercícios Espirituais, como EE de mês, ou em etapas, ou de 8 dias, ou EVC.

Não poderá haver falta, levando em conta que há uma sequência, uma metodologia  e haverá material para leitura e estudo entre as etapas. Casos especiais poderão ser analisados.
Ainda não temos o valor total, o inicial é de R$ 160,00  o fim de semana, acrescido do valor da passagem do instrutor, q será rateado entre todos os participantes. 

    Informações com a Jane:
    Res - 3332 3755
Com - 3348 2104, 3348 2323, 3348 2345, 3348 2167;
Cel - 9971 0379.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Evangelho do 4o. domingo do TC.Um abraço a todos. Pe. Adroaldo sj

A “AUTORIDADE” HUMANIZADORA DE JESUS 



“...ensinava-lhes com autoridade e não como os escribas” (Mc. 1,22)



Marcos nos apresenta Jesus como o grande Mestre: seu ensinamento é novo, pois, ao mesmo tempo que ensina, liberta. É o início da missão de Jesus; e Ele começa justamente lá onde os “espíritos maus” produ-zem estragos no ser humano.

Diferentemente dos mestres da Lei e dos escribas, cujo ensinamento está centrado em “decorar” e conser-var a Lei, o ensinamento de Jesus parte da realidade humana de sofrimento, exclusão, preconceito...

Aqui estamos numa sinagoga em dia de sábado: lugar e dia de comunhão, de encontro, de festa... No entanto, na mesma sinagoga Jesus encontra alguém preso por “espíritos maus”, impedido de viver sua condição humana de maneira mais digna.

A missão de Jesus é a de aliviar o sofrimento humano; Ele reconstrói o ser humano ferido, fragilizado, privado de sua dignidade, sem poder dar direção à sua própria vida. Os “maus espíritos” podem ser sim-bolo de tudo o que desumaniza as pessoas. Podem ser os traumas, experiências de rejeição e exclusão, as feridas existenciais, falta de perspectiva frente ao futuro, o peso do legalismo e moralismo, a força de u-ma religião que oprime e reforça os sentimentos de culpa, as instituições que atrofiam o desejo de viver...

Enfim, tudo aquilo que prejudica as pessoas, provoca miséria, tira a dignidade do homem e da mulher.







Marcos reforça que Jesus fala e atua com “autoridade”, que é diferente de “poder”.

Jesus não exerceu poder porque o poder nunca é mediação para a libertação do ser humano (seja poder político, religioso, ou qualquer outra expressão de poder).

Jesus despoja-se do poder; Ele tem autoridade: “ensinava-lhes com autoridade e não como os escribas”

Jesus revela sua autoridade e esta é o caminho para o serviço e a promoção da vida.

Por isso a autoridade de Jesus não tem nada a ver com o poder que se impõe ou a liderança que arrasta.

A palavra “autoridade” vem do verbo latino “augere”, que significa literalmente: aumentar, acrescentar, fazer crescer, dar vigor, robustecer, sustentar, elevar, levantar o outro, colocá-lo de pé, impulsioná-lo para frente... É a qualidade, a virtude e a força que serve para apoiar, para alentar, para ajudar as pessoas a serem elas mesmas, para fazê-las crescer, desenvolvendo suas próprias potencialidades.

“Autoridade” significa recuperar a autoria, devolver a autonomia àquele que está impedido de op-tar e de fazer seu caminho. Nesse sentido, a autoridade nunca é perigosa para a pessoa, jamais é impo-sição ou atentado contra sua legítima autonomia ou liberdade. A autoridade é essencialmente amor.



Jesus tem “autoridade” porque o “centro” está no outro; Ele veio para servir.

Quem tem “poder”, ao contrário, o centro está em si mesmo; por isso é que toda expressão de poder é violenta, exclui, decide pelo outro...

Por isso, o “ensinamento” de Jesus é humanizador; parte da realidade humana ferida e liberta a pessoa, colocando-a no centro da sinagoga. Para Jesus, não é a Lei que deve ocupar o centro, mas o ser humano.

As pessoas percebem n’Ele um novo Mestre, cujo ensinamento desperta o assombro e a admiração.

Jesus é tão entranhavelmente humano que nos desconcerta, a ponto de parecer estranho, extravagante e, para muitos, escandaloso. Mas, precisamente dessa maneira, Ele nos revela não só sua profunda humani-dade, senão o grau de “desumanização” a que podemos submeter os outros.

Seu ensinamento é novo porque liberta, ao mesmo tempo que ensina. Ao entrar na sinagoga, Jesus se volta para quem estava excluído e não recebia atenção; o homem “possuído” é o símbolo de todas as pessoas despersonalizadas às quais lhes foi negado o direito de falar e agir como sujeitos da própria vida, que dependem de “outros” que pensam, falam e agem por elas.



Há algo que salta à vista quando lemos os Evangelhos com mais atenção.

Jesus apareceu como um “transgressor” das leis e tradições, fanaticamente observadas pelos líderes religiosos. O fato de Jesus não cumprir a Lei religiosa em repetidas ocasiões e de assumir atitudes ousadas nas sinagogas, não significa que Ele fosse um libertino e, menos ainda, um provocador.

A chave para compreender esta conduta de Jesus está em que Ele deixou de observar a Lei unicamente quando estava em jogo a saúde, a integridade da vida, a dignidade e a felicidade das pessoas.

Dito de outra maneira: a liberdade de Jesus perante a Lei não foi uma liberdade caprichosa e, menos ainda, egoísta. Sempre foi uma liberdade a serviço da vida.

As curas de Jesus realizadas em dia de sábado revelam sua clara opção: a felicidade do ser humano, o alívio do sofrimento, tem prioridade absoluta, acima das prescrições religiosas.

A religião e seus preceitos deixam de ter sentido e obrigatoriedade quando ela é utilizada para causar sofrimento ou para dar as costas diante da dor alheia.



Jesus revela sua autoridade ao fazer cada pessoa descobrir, em seu interior, uma força capaz de libertá-la radicalmente. A oferta de vida nova feita por Ele permite comprovar que há no fundo de cada ser humano uma força criadora e criativa, que não há poder algum que possa destruí-la, nem sequer a morte.

Esta é a autoridade de Jesus que, a partir de sua profunda contemplação da vida, das pessoas, se com-promete com os “impuros” e os “excluídos”, para dar-lhes a boa notícia e desmascarar a mentira daqueles que decidem, com prepotência e dogmatismo, manipular a vida deles.

Os escribas e fariseus, guardiões da Lei, não tem autoridade para libertar, pois investiram-se de um poder que só serve para excluir e condenar. Os sacerdotes, por sua vez, seqüestraram a Deus no Templo, o sepa-raram da comunidade humana e fizeram-se donos d’Ele.

No entanto, os milagres e as palavras de Jesus atentavam contra o poder da Lei e do Templo e denun-ciavam a exclusão e a injustiça. Jesus não fala de leis, nem de castigos, mas de Boa Notícia e o faz na terra dos excluídos. Sua atividade não está baseada na lei que exclui, nem no poder que violenta, mas está orientada diretamente aos “fora da lei”.



Neste sentido, a autoridade traz a paz, ilumina e faz crescer, ao passo que o poder gera ansiedade, medo e faz o outro se sentir inferior. A autoridade inspira e motiva as outras pessoas a fazer as coisas com boa vontade e ânimo; o poder as obriga, por causa de sua posição de força.

Por seu caráter impositivo, o poder deteriora relacionamentos, resvalando-se para o terreno pantanoso da competição, da suspeita, da intriga. A autoridade, por sua vez, não tem nenhuma relação direta com a obediência: repousa, isto sim, sobre o reconhecimento da riqueza e da possibilidade do outro. Ela anima, sustenta, desafia e toca aquilo que cada um tem de melhor em seu interior.

A cultura do poder suga o “espírito” da vida de uma comunidade, mi-nando sua criatividade e fragilizando seus laços de convivência. Quem tem poder não age, dá ordens. Jamais suja as próprias mãos; é impune e não deixa impressões digitais.

O poder não constrói comunidade, pois a pessoa se cerca de subservi-entes que cumprem suas ordens, dizem amém às suas idéias ou calam-se coniventes. Sorrateiramente este mal toma conta do coração humano e o petrifica, impedindo a vida de desabrochar e a criatividade de se expres-sar.



Aquele que se sente investido de um poder intocável e indiscutível relacionar-se-á com os outros com o inevitável ar de superioridade; o Deus a quem representa torna-se um Deus intolerável.

É decisivo compreender que o Deus que Jesus nos revelou é o Deus que se funde e se confunde com o ser humano; portanto, falar de Deus é falar, ao mesmo tempo, do Transcendente e da vida que há em cada um de nós. Por isso, respeitar a Deus é respeitar a vida e a dignidade que há em cada pessoa.

A questão não é saber sobre Deus, mas sentir o Deus que se funde com nossa vida e em nossa história.

O Deus em quem cremos, por ser mais amor que poder, é um Deus fonte de vida plena, não ansiosa-mente buscado, mas sim acolhido com gratidão. Não é, portanto, o Deus que se revela ciumento e rival do ser humano, mas amante da alegria e da vida.



Texto bíblico:  Mc. 1,21-28


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Reflexão sobre o 3o. domingo do Tempo Comum- Padre Adroaldo

NAS FRONTEIRAS DA GALILÉIA

Galiléia foi a primeira decisão importante que Jesus tomou no início de sua vida pública.
O Evangelho de Marcos diz que “depois que João Batista foi preso, Jesus veio para a Galiléia procla-mando o Evangelho de Deus” (Mc. 1,14). Uma decisão que foi essencial em sua vida, porque Jesus permaneceu na Galiléia até pouco antes de morrer.
Jesus viu claramente que o melhor lugar em que Ele podia e devia comunicar sua mensagem era preci-samente a Galiléia. Assim sendo, é evidente que o lugar de onde fala condiciona o que essa pessoa diz. Não é a mesma coisa falar de uma cátedra universitária importante que da janela de uma casa perdida em um povoado perdido qualquer. Afinal, a pessoa sente e pensa a partir de onde seus pés estão plantados.
“A coisa começou na Galiléia” (At. 10,37), dirá Pedro em seu discurso, batizando para sempre a Galilé-ia como lugar dos começos. Os galileus não viviam preocupados em conservar a memória de antepas-sados ilustres ou de veneráveis predecessores; nenhum personagem de peso tinha marcado aquela região com sua fama; nenhuma tumba patriarcal a havia convertido em terra sagrada; nenhum profeta ocorreu nascer ali. O pior da Galiléia já havia sido descrito por Isaías quando disse: “caminho do mar, do outro lado do Jordão, Galiléia dos gentios... (8,28). Respiravam ares de liberdade naquela sociedade mes-clada e heterogênea, acostumada ao vai-e-vém das caravanas do Oriente e de muitos gregos e romanos nas ruas das cidades. Havia algo de “marginalidade” em uma Galiléia refratária a continuar escutando os discursos, palavras e temas de sempre. Por isso, quando Jesus começou a falar, “as pessoas estavam admiradas de seu ensinamento, porque ensinava com autoridade, e não como os escribas”.

O fato é que Jesus, para realizar sua missão docente, não se dirigiu à capital, Jerusalém, nem à importante província da Judéia. Logo após sua decisão, Jesus foi viver e desenvolver sua atividade, pregar sua mensa-gem numa região distante, habitada por humildes camponeses e pescadores pobres, pessoas que, naquele tempo, eram consideradas uma população sem influência, que não vivia na abundancia e que, ainda por cima, tinha má fama, má reputação. Os “galileus” do tempo de Jesus não gozavam de especial estima (Jo. 7,52); eram considerados ignorantes e impuros com os quais se devia manter distância.
Se efetivamente Jesus queria “evangelizar”, ou seja, comunicar uma “boa notícia” à sociedade de seu tempo, não buscou conquistar para si os notáveis e as classes influentes da sociedade de seu tempo, nem procurou os postos de privilégios, nem o favor dos mais influentes, e nem, muito menos, os que detinham o poder e o dinheiro.
Mais ainda, quando Jesus tomou a decisão de ir pregar na Galiléia, o que na realidade fez foi dirigir-se a um país governado por um tirano sem escrúpulos (Herodes) e que não estava disposto a admitir “denún-cias proféticas” de ninguém. Portanto, Jesus foi para a Galiléia ciente de que estava “entrando na boca do lobo”. Mas nada disso o desviou de seu projeto de ir em busca dos pobres, nem o fez tomar precauções para falar com “discrição” em semelhante situação.

Por isso, Galiléia é o lugar da luta e compromisso pela vida, o lugar dos excluídos e desprezados, o lugar dos discípulos, o lugar no qual Jesus realizou os gestos libertadores.
Todos sabemos que as “mudanças profundas e duradouras” na sociedade não vem de cima, mas de baixo, a partir da solidariedade e da identificação de vida com os últimos deste mundo. Há uma esperança alenta-dora, que vem das periferias e das margens, que se empenham por imprimir um movimento novo à histó-ria; nele está a semente na qual Jesus viu o germe de uma vida diferente, nova e mais promissora. 
E Jesus foi o ponto de partida de uma profunda mudança na história da humanidade.
Foi na Galiléia que Jesus venceu os poderes que atentavam contra a vida; ali é onde venceu a morte; por isso, após a Ressurreição, Ele irá diante dos discípulos, contagiando-os com seu Espírito.

“ Ir à Galiléia” não é viajar a uma região da Palestina senão retomar a vida do Jesus histórico, retornar ao marco evangélico de Nazaré, Caná, Cafarnaum, Naim, o lago de Genesaré..., onde Jesus de Nazaré, ungido pelo Espírito passou fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo maligno (At. 10,38).
Jesus percorreu vilas e cidades despertando a vida e fazendo renascer a esperança.
“Galiléia”  é também o lugar do chamado ao seu seguimento (evangelho de hoje)
Não sabemos se o chamado ao seguimento foi assim, tão rápido. Mas, provavelmente, a forma um tanto mecânica em que Marcos se expressa é uma maneira de destacar o elemento de irradiação e sedução de Jesus. Ele vai em busca de pessoas,  chama-as pelo nome; sua presença  e  sua voz  arranca-as do seu am-biente, da sua rotina... e lança-as para novos desafios.
Tudo começou às margens do mar da Galiléia... um encontro.
Jesus entra no cotidiano de 4 homens, no meio daqueles movimentos difíceis e repetitivos, próprios de pescadores. Não estamos no templo, nem num dia sagrado, mas junto do mar, depois da fadiga de um dia de trabalho.
Jesus caminha e, ao passar ao longo do mar, entra no espaço vital daqueles homens, que estavam retornando da pesca. Exatamente ali, naquela vida tão normal, acontece algo novo.
Partindo do lugar e das coisas que representam as esperanças, as dificuldades, as decepções, os sucessos, as derrotas daqueles homens pescadores, Jesus lança a sua promessa:
       “Segui-me e eu vos farei pescadores de homens”.
Esta frase deve ser lida não no sentido quantitativo típico dos proselitismos e da mentalidade moderna, mas num sentido mais qualitativo: “pescar homens” é extrair o melhor, a melhor e mais original versão humana de cada um de nós, garimpar a autêntica qualidade humana nesse cascalho de inumanidade que somos todos. Isso é “pescar o humano” que de alguma maneira todos carregamos dentro.
E Jesus tem a capacidade de extrair o maior bem possível do outro, para tirar o melhor de cada um, sem necessidade de dar-lhe lições ou arrastá-lo com argumentos racionais.

Aquela voz abre os olhos, a mente e o coração daqueles pescadores do lago. Sentem-se chamados pelo nome e conseguem compreender melhor a si mesmos, confrontam-se com Aquele que os chama e re-descobrem um sentido novo, um significado inimaginável da própria existência.
Jesus os chama do mar, os faz descer da barca e os convida a segui-Lo, para mergulhá-los no Seu mar, para fazê-los subir noutra barca, para atraí-los a uma vida diferente.
O seguimento só se realiza quando alguém se deixa conduzir para águas profundas num novo mar.
A vida de Jesus se torna norma, uma maneira de proceder, um estilo próprio de ser e de viver... O funda-mental é o “estar com Ele”, conviver com Ele, participar de sua Vida, compartilhar do mesmo sonho: a realização do Reino.
Jesus passou a viver a partir de um sonho: a utopia do Reino.
Toda sua pessoa fica polarizada por esse sonho, por essa utopia esperançada capaz de despertar e mover outras a participarem do mesmo sonho; toda sua pessoa era capaz de despertar nos outros o melhor de si mesmos e de mobilizá-los.





Os quatro homens são atraídos pela voz, mais do que pelas palavras ou pela promessa do Desconhecido que passa, vê, chama, e sabe bem quantas e quais são as barcas e as redes que lhes davam segurança.
Aquele Desconhecido se aproxima, ainda hoje, do nosso mar da Galiléia, que representa os lugares, os afetos, os segredos, os costumes da nossa vida cotidiana... nos faz a proposta para entrar em outro mar.
Seguir o Desconhecido do lago significa aceitar toda a vida como sacramento, como símbolo d’Aquele que passa, vê, conhece, ama, chama pelo nome...

Texto bíblico:  Mc. 1,14,20

Na oração:  Por vezes somos levados a conceber a a-
                    ventura espiritual como uma fuga de nós mesmos,uma subida para outra região da atmosfera mais pura que o nosso dia-a-dia. Não! Desça até o fundo de você mesmo! É dentro do seu próprio coração que Deus o espera. A busca de Deus se assemelha mais a espeleologia do que ao alpinismo: tem mais de grutas que de cumes; mais de descidas que de subidas.
No fundo do seu coração cheio de velhas barcas, redes inúteis, mar estreito... é aí que o Senhor passa... e com sua voz provocante o acorda para uma ousadia maior. Compete a você dar-lhe acolhida.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

DECISIVAS PERGUNTAS



“Quê estais buscando?” (Jo. 1,38)



Perguntar e responder são atributos do ser humano; ele se define mais pelo perguntar do que pelo responder. Perguntar é buscar; buscar sentido. Quem pergunta procura descobrir a verdade.

Por outro lado, em toda resposta, por mais objetiva que seja, ainda resta o inexplicável; em toda clareza persistem as sombras, em toda convicção permanece uma dúvida.

A pergunta nos faz descobrir a grandeza no pequeno e o mistério naquilo que é óbvio; ela nos faz ficar assombrados pela percepção do extraordinário presente naquilo que é cotidiano.

O perguntar é ousado, instigante; perguntar contém desafio, provocação; leva dose de irreverência.

Perguntar é interpelar; coloca dúvida nas certezas; perguntar é processo que transparenta a verdade.

“Perguntar é mergulhar no abismo” (Exupèry). As perguntas tem uma força que não encontramos nas respostas. Somente enquanto perguntamos por algo, palpita em nós um impulso, um interesse que não se apaga enquanto não sacia nossa curiosidade. Perguntar-se na vida é o que nos mantém em busca...

A pergunta é movimento; e só quando pergunta é que emerge a novidade, pois a pergunta move à busca de uma resposta criativa. Mais ainda, perguntar põe em crise certas convicções, idéias fechadas, modos arcaicos de viver...






Nem todas as perguntas são iguais. Ás vezes surge uma pergunta, algo que nos interessa e que queremos saber... e basta uma busca rápida, um “click”, para satisfazer esta pergunta.

O importante é situar-nos frente a outro tipo de perguntas, as mais decisivas e essenciais, aquelas que não podem ser respondidas com um “click” e nos movem a uma tomada de decisão. São perguntas que atu-am a um ritmo diferente e tem a ver com o núcleo escondido das pessoas e da vida.

É neste nível que surge a pergunta de Jesus aos dois discípulos de João. Jesus propõe a pergunta fundamental, “e vós, o que estais buscando?”; uma pergunta exigindo que eles se examinam a sério, que tomem consciência do que pretendem, que explicitem as reais motivações da busca por Ele.

A pergunta é desafiadora, e não simples curiosidade e inquietação, e se dirige a todos. Cada um tem de dar sua resposta. Ela exige uma tomada de posição, um ato de fé. Por isso, o processo da busca dos dois discípulos se amplia, despertando nos outros igual movimento de busca; um encontro não termina em Quem encontra: a partilha da descoberta faz brotar uma “reação em cadeia”.

Porque buscam, os dois discípulos movem os outros à busca.



Não fomos educados a elaborar perguntas, mas quase sempre a conservar respostas. Introjetamos respostas de perguntas que não foram feitas.

Jesus, com sua pedagogia fundada em perguntas, nos coloca diante do mistério de Sua vida e de Suas opções. Responder à pergunta “quem é Ele” é comprometer-se com Ele, é assumir o caminho d’Ele, é arriscar-se n’Ele.

Uma pessoa que se define tem força para interrogar, para arrastar, para mobilizar pessoas... Jesus é o ho-mem que se definiu e sua “pergunta arrasta” porque oferece um mundo novo, uma proposta nova.

A vida de Jesus se torna norma, uma maneira de proceder, um estilo próprio de ser e de viver...

Jesus Cristo é o homem das “grandes viradas”, ou seja, é Aquele que muda os paradigmas e introduz novos parâmetros e referenciais, em torno dos quais se criam “coisas novas” ou se renovam rumos e sentidos de coisas válidas do passado.



Jesus aproxima-se das pessoas. Não procura convencer, argumentar, ou fazer seguidores à base de discur-sos. Suas perguntas ousadas colocam em crise visões distorcidas, falsas concepções e idéias pré-concebidas a respeito d’Ele. Com sua pergunta Jesus provoca uma radical decisão pró ou contra Ele, uma clara opção pró ou contra o Reino.

Aos olhos de Jesus nada é mais perigoso para o espírito humano do que vidas “satisfeitas”, acomodadas, sem inquietações e buscas, sem a aflição das esperas e sem as conseqüências de um compromisso; cora-ções quietos, medrosos, petrificados... não tem lugar no seu grupo. Somente vidas repletas de razões, de criatividade, de entusiasmo e vitalidade... podem fazer o caminho com ele e correr o risco da Cruz.



A pergunta de Jesus aos dois discípulos também ressoa em nosso interior: o que, ou quem você busca? Por que busca? Tem sentido e valor o que você busca? Para onde o leva a força da busca?...



Estas perguntas ficam ali, continuamente presentes em um rincão de nossa vida; mas enquanto permane-cem vivas são como brasas que voltam a acender-se cada vez  que a vida as sopra.

Estas perguntas nos fazem humanos e são tão importantes como o ar que respiramos.

Perguntar-se é também um fenômeno inteligente para reativar as decisões pessoais

“Questionar-se” é provocar a interioridade e descobrir-se na interioridade; questionar-se é ser profundo, é tocar a intimidade mais sagrada de si mesmo, é captar a essência criativa da existência.

Por isso, questionar-se é reconhecer-se como pessoa profunda e não superficial, inquietar-se com as “res-postas” tradicionais e vazias, entrar no movimento de novas buscas...



“Questionar-se” é um gesto ousado para despertar o sentido da vida pessoal, para buscar um objetivo mais sério, é ser mais humano. O cristão deve perguntar-se sempre a respeito da vida, da missão, da sua experiência de fé, da adesão à pessoa e ao projeto de Jesus Cristo...

Quando a pessoa não se questiona, é porque prefere o desânimo, a acomodação, a permanecer em seus “hábitos normóticos”. Por isso, interrogar-se é possuir sabedoria, ciência, arte, ética...

Com as perguntas fazemos história, e a história é abertura para a aventura... E o seguimento de Jesus, é a maior das aventuras.



Somos continuamente desafiados diante da grandeza da vida. No enfrentamento desse desafio está escon-dida uma sabedoria que cria as condições para se compreender o rumo certo do caminho e a abertura dos horizontes novos. Por isso, buscar torna-se um hábito de vida.

Não é a busca de uma coisa qualquer. Busca-se pela força do amor. É a força do amor multiplicando o desejo dessa busca. Na raiz está o amor. Só o amor faz buscar o que vale a pena encontrar. Quem busca por amor encontra o essencial, o tesouro. Compreende que, para além dos limites da própria inteligência, o amor revela o sentido da busca pela riqueza do encontro. Só encontra quem por amor busca o que é importante e indispensável encontrar e conservar no coração.

Uma lógica de contínua busca deve permear o coração do cristão, para aprender a viver da busca d’Ele, o Senhor, e da busca de todos os outros, colocando-se a serviço da vida, unicamente por amor.

Estar em busca é sair de nosso ser atrofiado pelas preocupações individuais para mover-nos num hori-zonte maior de pré-ocupação pelo outro; estar em busca é perguntar-nos, é estar aberto para ser tocado pela mais profunda das graças: a gratidão diante de Deus.



Texto bíblico:  Jo. 1,35-42



Na oração:  sinto vivas em mim as perguntas radicais?

                        Quais são minhas inquietantes e decisivas perguntas?


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Texto de Leonardo Boff.

Tudo começou na Grécia e tudo acabará na Grécia?
"Tudo começou há milênios na Grécia. E agora parece terminar na Grécia, uma das primeiras vitimas do horror econômico, cujos banqueiros, para salvar seus ganhos, lançaram toda uma sociedade no desespero", escreve Leonardo Boff, teólogo e escritor.
Segundo ele, "estamos assistindo a agonia de um paradigma milenar que está, parece, encerrando sua trajetória histórica. Pode demorar ainda dezenas de anos, como um moribundo que resiste, mas o fim é previsível. Com seus recursos internos não tem condições de se reproduzir".
Eis o artigo.

Nossa civilização ocidental hoje mundializada tem sua origem histórica na Grécia do século VI antes de nossa era. Ruira o mundo do mito e da religião que era o eixo organizador da sociedade. Para pôr ordem àquele momento crítico fez-se, num lapso de pouco mais de 50 anos, uma das maiores criações intelectuais da humanidade. Surgiu a era da razão critica que se expressou pela filosofia, pela política, pela democracia, pelo teatro, pela poesia e pela estética. Figuras exponenciais foram Sócrates, Platão, Aristóteles e os sofistas que gestaram a arquitetônica do saber, subjacente ao nosso paradigma civilizacional: foi Péricles como governante à frente da democracia; foi Fídias da estética elegante; foram os grandes autores das tragédias como Sófocles, Eurípides e Ésquilo; foram os jogos olímpicos e outras manifestações culturais que não cabe aqui referir.

Esse paradigma se caracteriza pelo predomínio da razão que deixou para trás a percepção do Todo, o sentido da unidade da realidade que caracterizava os pensadores chamados pré-socráticos, os portadores do pensamento originário. Agora se introduzem os famosos dualismos: mundo-Deus, homem-natureza, razão-sensibilidade, teoria-prática. A razão criou a metafísica que na compreensão de Heidegger faz de tudo objeto e se instaura como instância de poder sobre este objeto. O ser humano deixa de se sentir parte da natureza para se confrontar com ela e submetê-la ao projeto de sua vontade.

Este paradigma ganhou sua expressão acabada mil anos depois, no século XVI, com os fundadores do paradigma moderno, Descartes, Newton, Bacon e outros. Com eles se consagrou a cosmovisão mecanicista e dualista: a natureza de um lado e o ser humano de outro de frente e encima dela como seu “mestre e dono”(Descartes) e coroa da criação em função do qual tudo existe. Elaborou-se o ideal do progresso ilimitado que supõe a dominação da natureza, no pressuposto de que esse progresso poderia caminhar infinitamente na direção do futuro. Nos últimos decênios a cobiça de acumular transformou tudo em mercadoria a ser negociada e consumida. Esquecemos que os bens e serviços da natureza são para todos e não podem ser apropriados apenas por alguns.

Depois de quatro séculos de vigência desta metafísica, quer dizer, deste modo de ser e de ver, verificamos que a natureza teve que pagar um preço alto para custear esse modelo de crescimento/desenvolvimento. Agora tocamos nos limites de sua possibilidades. A civilização técnico-científica chegou a um ponto em que ela pode por fim a si mesma, degradar profundamente a natureza, eliminar grande parte do sistema-vida e, eventualmente, erradicar a espécie humana. Seria a realização de um armgedon ecológico-social.

Tudo começou há milênios na Grécia. E agora parece terminar na Grécia, uma das primeiras vitimas do horror econômico, cujos banqueiros, para salvar seus ganhos, lançaram toda uma sociedade no desespero. Chegou à Irlanda, a Portugal, à Itália, podendo-se se estender à Espanha e à França e, quiçá, a todo o sistema mundial.
Estamos assistindo a agonia de um paradigma milenar que está, parece, encerrando sua trajetória histórica. Pode demorar ainda dezenas de anos, como um moribundo que resiste, mas o fim é previsível. Com seus recursos internos não tem condições de se reproduzir.

Temos que encontrar outro tipo de relação para com a natureza, outra forma de produzir e de consumir, desenvolvendo um sentido geral de interdependência face à comunidade de vida e de responsabilidade coletiva pelo nosso futuro comum. A não encetarmos esta conversão, ditaremos para nós mesmos o veredito de desaparecimento. Ou nos transformamos ou desapareceremos.

Faço minhas as palavras de Celso Furtado, economista-pensador:”Os homens de minha geração demonstraram que está ao alcance do engenho humano conduzir a humanidade ao suicídio. Espero que a nova geração comprove que também está ao alcance do homem abrir caminho de acesso a um mundo em que prevaleçam a compaixão, a felicidade, a beleza e a solidariedade”. Mas à condição de mudarmos de paradigma.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Missa de 7º Dia

Caros amigos e amigas, 

A missa de 7º dia da Dona Lourdes, mãe do Ricardo, será dia 06/01 ( sexta -feira próxima ) na Paróquia Santíssima Trindade, às 18:30 horas, no bairro Gutierrez. A igreja se localiza na Praça Leonardo Gutierrez.

Qualquer dúvida os nossos telefones são:

Casa: 3337-2368

Ricardo: 9765-2240

Maria Helena: 9603-6098

Um grande abraço dos sempre amigos,

Ricardo, Maria Helena, João Pedro e Caio Mário.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

OS MAGOS, PORQUE BUSCAM, PÕEM-SE A CAMINHO



 “Uma vida sem busca não é digna de ser vivida” (Sócrates)



Viver é desafiador na medida que viver é buscar. A dinâmica da busca marca a caminhada humana e define os rumos da vida. Vive-se em permanente busca e só à medida que se vive para buscar  é que a vida se torna, de verdade, vida, com mais sabor e sentido. O que se busca define e determina o que é a vida da pessoa. “Diga-me o que buscas e dir-te-ei quem és”.

No interior de cada um ficou aguçada a dinâmica da busca, aquela que mantém a vida de todo coração e o incita na busca do que vale, do que conta e do que é essencial. O coração humano foi feito para encontrar a razão mais profunda do seu viver; há uma inquietude latente em seu interior que o faz peregrino do sentido. Tão fundamental como é o respirar, toda pessoa precisa assumir sua condição de navegadora do infinito. Somos, por natureza, eternos buscadores e garimpeiros do novo.

A vida se torna mais vida na medida que se vive para dar razão a essa busca. Uma busca que exercita o coração e o modula na sinfonia amorosa do coração de Deus. Ele é a única e completa razão da busca do coração humano.



Todo ser humano é aventureiro por essência; com ardor, ele anseia por uma causa última pela qual viver, um valor supremo que unifique a multiplicidade caótica de suas vivências e experiências, um projeto que mereça sua entrega radical. Para dar sentido à sua vida e realizar-se como pessoa, o ser humano necessita da auto-transcendência, isto é, viver para além de si mesmo, de seus impulsos, caprichos, desejos...

Carrega dentro de si a sede do infinito, a criatividade, a capacidade de romper fronteiras, os sonhos, a luz...

Portador de uma força que o arrasta para algo maior que ele... não se limita ao próprio mundo; traz uma aspiração profunda de ser pleno, de realização, de busca do “mais”...

O desejo do encontro é força determinante para se manter acesa a chama da dinâmica da busca. É uma chama que se mantém acesa em proporção ao sentido e à importância grande de quem ou do que se busca. Vale a pena buscar o que é importante e encontrar Aquele que responde às razões mais profundas da busca.



É importante ter claro o que é que se busca. No supermercado da vida pode-se buscar tudo. As ofertas são muitas. Há força de sedução nas ofertas de busca. Viver para buscar  “outras coisas” é correr o risco de perder o rumo, priorizar o menos importante, apegar-se ao que é passageiro, não perceber o que é e onde está o essencial. Busca-se também por outras tantas razões. Muitas dessas razões geram prejuízos graves porque a busca desemboca em algo sem sentido, vazio.

É difícil a tarefa de buscar quando nossa realidade é viver um “carpe diem” entendido como a despreocu-pação por um projeto de vida. É difícil a tarefa de buscar quando alguém se encontra acomodado e satisfeito de tudo e, ao mesmo tempo, de nada. Então, para quê buscar? Como despertar e alimentar a fome e sede da busca?

A força da busca que move o próprio coração exige cuidado e especial atenção. Toda busca inclui a purificação de motivações para permitir, como resultado da busca, o encontro de tudo o que garante e promove a vida. É exercício de discernimento constante: “o quê busco? Por quê busco? Tem sentido e valor aquilo que busco? Para onde me leva a força da busca?...

É preciso buscar sempre. Importa, pois, buscar o que dá garantias de fecundidade para a vida.



Uma das passagens bíblicas mais belas que descrevem o sentido, o valor e a dinâmica desta busca é aquela relatada por Mt. 2,1-12. De fato, todo o relato e todos os protagonistas são pessoas que estão em busca: Herodes e toda Jerusalém, os sumos sacerdotes e os escribas do povo e, obviamente, os Magos. Todos envolvidos na inquieta busca do Messias.

No entanto, quanta diferença nas motivações e nos êxitos desta busca.

Herodes não é somente o cínico e perverso rei que teme pela estabilidade do seu trono. É também aquele que vive na mentira e que tem medo da verdade. Quer, portanto, buscar a verdade, mas para eliminá-la radicalmente da face da terra. Tudo faz para conservar egoisticamente o seu poder. Este é o seu ídolo e este é o seu verdadeiro deus.

Os sumos sacerdotes e os escribas sabem onde buscar a verdade, tem a Escritura, são “experts” em indagar e investigar a verdade, mas permanecem fechados e resistentes em sua posição. No fundo estão a serviço do poder e tem medo de perder seu lugar.







Quão diferente, contrastante e diametralmente oposto é a atitude de busca dos Magos!

Estes sábios do Oriente, com humildade perscrutam por entre as pegadas da ciência em busca da verdade e quando descobrem um vestígio dela, põem-se em movimento.

Viram a estrela e partem, seguindo seu caminho; e no seu trajeto se informam, procuram, indagam, retomam o caminho. Com a paciência do diálogo, com a humildade da espera, com a alegria da esperança, esses vão ao encontro da Verdade.

E não é ingenuidade o fato de ir perguntar ao rei da Judéia onde nasceu o Rei dos judeus. É, antes de tudo, o desejo de envolver os outros na própria busca da verdade.

Não viram grandes prodígios, mas experimentaram uma grande alegria. Compreenderam que a aventura da busca não se dá nas alturas, mas no encontro com a humanidade.

Liberdade e verdade são um binômio inseparável; livre, os Magos buscam e encontram a verdade, e esta os faz livres.



O cristão é alguém que vislumbrou a “estrela”, aponta-a e, junto com os outros, desloca-se seguindo sua direção. O ca-minho da vida é marcado por percalços, dúvidas, fracas-sos... mas seu coração é portador da força insubstituível da busca.  




Como os Magos, porque busca, desperta nos outros o “ser buscador” que está escondido.

No processo da experiência cristã, a busca é um dinamismo determinante da mente e do coração da pessoa. Aquele que busca, movido por uma razão, quando encontra vibra de alegria, como a parábola do buscador de pérolas.

                    “Se eles (magos) percorreram um caminho tão longo para vê-lo recém-nascido, que desculpa terás tu

                     se nem sequer fores ao bairro ao lado para visitá-lo enfermo e encarcerado”? (S. João Crisóstomo).



Na oração:



- Há alguma “estrela” abrindo horizontes para você?

- O que há de “herodiano” em sua realidade e em seu mundo interior? quais são as causas, as manifestações e

  os efeitos das suas inseguranças, do fixismo em torno do próprio eu, dos seus medos?



Petição: pedir a graça de ser libertado das atitudes e comportamentos que geram resistência e acomodação;

                  e graça de saber descobrir e discernir no céu, na história e em si mesmo os sinais externos, as moçõ-

                  es interiores e os caminhos que levam ao Deus da Vida e à Vida plena  das pessoas que Deus ama.