quinta-feira, 28 de julho de 2011

Doação de sangue!

Olá Comunidade !
Hoje peço em nome da nossa Colega, Acolhedora: Tânia Lage.
O cunhado dela, Danilo vai fazer uma cirurgia no Hospital Biocor, na terça feirar e vai precisar de doação de sangue.

O nome dele completo é Danilo Mendonça Ribeiro.
Os telefones para agendar a doação são:  3289-5107 e 3289-5264(este segundo telefone é mais fácil), horário de atendimento: de 08 ás 16:30.

A doação é no banco de sangue do Hospital Biocor, não precisa marcar, só se for no sábado.

Contamos com vocês!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Uma sugestão para rezar o Evangelho do próximo domingo.Um abraço a todos.Pe. Adroaldo sj

A COMPAIXÃO NOS HUMANIZA



“Ao sair do barco Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por ela e

curou os que estavam doentes” (Mt. 14,14)



“Com-paixão”, palavra de etimologia latina, significa “padecer-com”, “sentir-com”, vibrar-com”, “afetar-se-com”... Seu equivalente, derivado do grego, seria a palavra “sim-patia”, termo ao qual se opõe diretamente o de “a-patia”, ausência de sentimentos, de vibração, de capacidade de proximidade...

Muitos se referem à compaixão como uma paixão, outros como uma emoção forte, outros ainda, como um sentimento...; mas todos coincidem em um ponto: ela tem a ver com nossa comum humanidade.

A compaixão nos situa em uma espécie de irmandade entre seres radicalmente iguais em sua humani-dade. É um dinamismo natural que expressa a bondade original do ser humano, a origem dos sentimen-tos altruístas.



A compaixão é força que impulsiona à ação; não se trata de uma relação de cima para baixo, de quem, a partir de uma situação superior e distante, faz concessões a quem lhe é inferior.

A compaixão é, antes de tudo, uma situação na qual prevalece a igualdade e dignidade básica e comum do ser humano; ela nos capacita a superar barreiras e condicionamentos que impedem uma vinculação frater-na entre as pessoas, para chegar a colocar-nos no lugar do outro e atuar por  e para ele.

A compaixão é essa capacidade de sentir com o outro, particularmente o outro golpeado pelas circuns-tâncias da vida. È a valentia para compartilhar sua paixão, é participação imediata no seu sofrimento e buscar com ele a esperança, o alívio e a alegria.

Por isso o outro deixa de ser um estranho e se converte em próximo.



A compaixão é filha da humildade. De fato, a humildade significa descer em direção à nossa condição criatural e assumir nossa verdadeira condição humana.

Nesse sentido, a compaixão revela, ao mesmo tempo, algo profundamente humano e humanizante, mas também a miséria e a pequenez do coração humano. São nossas misérias comuns as que conduzem nossos corações para a humanidade. É enquanto frágeis e miseráveis que nos fazemos compassivos.

A compaixão não apresenta uma solução mágica e simples aos problemas, mas sim amplia nossa visão da realidade e enraíza nossas decisões e nosso compromisso com a justiça. Pois a compaixão é algo mais que um meio para combater o sofrimento alheio: ela impulsiona à abertura e permite colocar-nos no lugar ou na perspectiva do outro, hábito saudável no campo das relações humanas.



O sentimento que balizou e deu a tônica no exercício da atividade de Jesus é a compaixão.

A compaixão, que toma conta do seu coração, é fruto do corajoso deslocamento para a margem, para a necessidade do outro. Os Evangelhos destacam os profundos sentimentos de humanidade, compaixão, empatia, ternura e solidariedade misericordiosa de Jesus. Porque amou e foi amado, o coração de Jesus experimentou a alegria e a tristeza, a felicidade e a saudade, a ternura e o sofrimento...

Assim é o Seu coração: feito com as fibras da fortaleza e da coragem entrelaçadas com as fibras da compaixão e da ternura. Através de seus sentimentos Jesus revela o rosto humano de Deus.

Muitas vezes é mencionado que o Senhor foi “comovido até as entranhas” e teve “frêmitos de compaixão”; trata-se de sentimento eminentemente humano.

- tem compaixão da multidão “porque estava cansada e abatida” (Mt 9,35-38);

- diante de um leproso fica “movido de compaixão” (Mc 1,40-45);

- o mesmo em relação aos dois cegos de Jericó (Mt 20,29-3434);

- comovente é o gesto compassivo para com a viúva de Naim (Lc 7,11-17);

- a sensibilidade de Jesus encontra sua expressão mais forte no episódio de Lázaro. Suas lágrimas  tradu-

  zem um afeto terno e profundo, que brota de um coração tocado pela dor (Jo. 11,1-44)



Jesus não passa “friamente” por nada. Ele não passa friamente ao lado da fome, doença, angústia, morte... não passa friamente ao lado das multidões e das pessoas, sem horizonte e sem pastor.

Seu sentimento está sempre engajado: Ele é o homem da prontidão de sentimentos. Sente-se “tocado” pela dor e miséria humanas.

O sentimento de Jesus é “espontâneo”, que flui e jorra. Ela é ampla e abraça tudo (lírios, aves do céu, crianças, pecadores, multidão...)

O sentimento de Jesus é “seguro”; nele não notamos hesitação ou vacilação alguma; esta segurança é designada pela expressão “agir com autoridade”.



A compaixão esvazia toda pretensão de poder, pois ela projeta a pessoa para o outro, torna a pessoa sensível ao clamor e às necessidades do outro. A compaixão rompe a couraça do “eu” constituída pelo poder. A vida do outro é a razão única da autoridade.

O outro, sua necessidade e sofrimento, será sempre a alavanca que gera no coração humano a compre-ensão e o exercício da autoridade como verdadeiro serviço.

Só a compaixão desloca cada um para o lugar do outro. Só a compaixão ilumina a realidade do sofri-mento do outro. Só a compaixão move na direção da oferta do outro.

A compaixão é a entrada do ser humano no mundo do humano; ela é o perfume do humano que invade a humildade da vida, a sua fragilidade e sofrimento, e torna operativo o processo de humanização.



Portanto, a com-paixão implica dois momentos.

O primeiro é de despojamento, que envolve o esquecimento de si mesmo e dos próprios interesses para concentrar-se totalmente no outro. Importa “ver” o outro como outro e não como prolongamento de si mesmo ou do círculo do seu eu.

O segundo momento é de cuidado, que se expressa pela saída de si em direção ao outro e se traduz em solidariedade, em serviço e em hospitalidade para com o outro.

Com-paixão comporta assumir a mesma “paixão” do outro; ou seja, sofrer com quem sofre.

Mas também alegrar-se com quem se alegra. Implica co-mungar, caminhar juntos, com-viver, oferecen-do-se mutuamente o ombro e dando-se as mãos. 



Num mundo em que o anonimato impera e uma falta de compromisso com o outro parece predominar, talvez a compaixão comece pela capacidade de fixar o olhar nos rostos, desmontando os pré-juizos, ou pela possibilidade de perguntar ao outro por sua vida, seus sonhos, suas preocupações, seus desejos e sua dor. Procurar entender seus motivos sem passar logo a interpretá-los, a etiquetá-los ou a julgá-los. Aprender a escutar suas histórias e a acompanhar suas inquietações.

Enfim, uma atitude de abertura e a disposição a uma comunicação profunda.



Texto bíblico:  Mt. 14,13-21


Reportagem do Jornal de Pará de Minas sobre a Ordenação do Geraldo.

Jesuíta patafufo será ordenado amanhã, no santuário
08/07/2011


Ainda neste mês acontecerá uma importante cerimônia religiosa em Pará de Minas, mas poucos pará-minenses sabem. Trata-se da ordenação de um religioso de uma das mais importantes e conhecidas ordens da igreja Católica, a Companhia de Jesus, fundada em 1534 e que se tornou muito conhecida historicamente por ter sido a principal ferramenta na Contra Reforma, o movimento reacionário à Reforma Protestante. Fora isso, foi também a responsável pela catequização dos índios brasileiros e pela implantação do cristianismo no Brasil. Atualmente, os jesuítas formam a maior ordem religiosa da Igreja Católica, contando com 19.216 membros espalhados por 112 países e 6 continentes. Apesar dessa ordem não está presente na cidade, o futuro padre jesuíta pará-minense, Geraldo Lacerdine Américo, 34, escolheu sua terra natal para se tornar oficialmente um religioso. Filho de Luzia Lacerdine e Antônio Américo, Geraldo reside em São Paulo/SP de onde se prepara para a ordenação que acontecerá amanhã, sábado, dia 9, no Santuário da Piedade, a partir das 19 horas. Enquanto isso, ele divide seu tempo entre orações, estudos e a profissão de jornalista que ele desempenha dentro da ordem. Como não poderia deixar de ser, a reportagem GP entrou em contato com o jesuíta pará-minense que falou com exclusividade de sua vida, sua vocação e sobre a ordem. Confira os melhores momentos.
“Nasci em Pará de Minas, mas ainda pequeno, 6 anos, minha família foi morar em um sítio chamado Rozio que tinha sido de meu avô, homem do campo. Tive uma excelente infância, correndo pelas pastagens verdes do sítio de meus pais. Por não ter brinquedos, a vida me obrigou a ser criativo. As minhas invenções eram mirabolantes: de foguetes intergalácticos a submarinos blindados de sal. Coisa de menino! Dividi infância com meu irmão mais novo que acompanhava minhas proezas em risos e brigas intermináveis”, relembra o jesuíta Geraldo.

QUERIA SER PADRE? - “De jeito algum, isso não fazia parte do meu horizonte! Aos 17 anos, me deparei com a necessidade de justificar a minha vida. Contudo, desejava uma profissão que pudesse ajudar as pessoas. Pensei em ser médico, até fiz o vestibular na UFMG, quando passei na 1ª etapa, mas fui reprovado na 2ª. Minhas indagações continuavam: Para que eu existia? Para quem? Que diferença eu fazia no mundo e na vida das pessoas? Qual era o sentido do trabalho que eu realizava e do dinheiro que ganhava, entre outros questionamentos. Foi nesse contexto de crise que recebi um convite para participar um voluntariado juvenil no sertão mineiro. Não pensei duas vezes... larguei emprego, família e tranquei matrícula na faculdade. Parti para uma aventura totalmente nova que poderia me dar respostas. Passei 6 meses vivendo, trabalhando e comendo com os pobres. Essas pessoas viviam abaixo da linha de pobreza, tendo, muitas vezes, apenas uma refeição diária. Confesso: minha família nunca foi rica, mas nunca sentimos falta de nada e nem fome. Ali, naquele lugar, vi gente que sofria dores de fome, de abandono... de tudo. Foi nesse lugar, vivendo, trabalhando, sofrendo, rindo, confraternizando com esse povo, que senti, pela 1ª vez, o desejo de ser padre. Não para resolver os problemas que eles tinham, mas para escutar, para mostrar a eles a dignidade perdida pela exclusão, para ajudá-los a perceber o imenso amor que Deus manifestava no Cristo, por razão deles. Senti fortemente no Cristo o desejo de ser como Ele, no meio do povo”.

MÚSICA E RÁDIO - “Quando voltei a Pará de Minas eu tinha claro o que eu queria fazer da minha vida. Só necessitava aprender mais, saber mais sobre Cristo, sobre a vida, o povo... eu tinha ânsia por aprender para ensinar e viver com mais qualidade. Eu era um típico jovem que vai à missa para ficar na porta da igreja flertando com as meninas. Também ajudava em algumas manifestações pontuais como o teatro de Semana Santa, festas, etc. Tudo isso até descobrir a música. Foi ela quem me levou para dentro da Igreja, de uma maneira muito mais atuante e forte. A música revelou a mim uma linguagem totalmente nova, onde Deus se comunicava por meio dela. Em um 1º momento, fui para o seminário da Diocese em Divinópolis/MG, onde fiquei por um ano. Contudo, percebi que não era essa a vida que eu buscava, diante de minha 1ª experiência no sertão mineiro. Daí, saí do seminário, voltei a Pará de Minas decidido a estudar e trabalhar. Aí, fiz vestibular de Comunicação na UFMG, passei e arranjei trabalho na Radio Espacial, onde trabalhei por uns dois anos como locutor com o pseudônimo de Dinho Ferraz, sugerido pelo colega de trabalho Ailton Santos. Durante esse tempo, conheci os jesuítas e o trabalho que eles desenvolviam no mundo, através de um grande amigo: padre Geraldo Meneses. Quanto mais eu lia, mais eu me encantava pela missão destemida desses homens. O principio básico da missão dos jesuítas é: “Homens bem formados nas artes e nas letras para melhor servir na missão de Cristo”. Esse principio torna a missão muito diversificada e aproveita o que o jesuíta, em particular, pode fazer de melhor no campo da Antropologia, Ciência, Medicina, Direito, Teologia, Filosofia, Artes, Sociologia, Pedagogia e Espiritualidade, entre outros. Os campos principais de atuação hoje são: trabalho com refugiados, apostolado intelectual, apostolado social (África, China, Índia, América Latina, etc), educação (universidades, colégios, centros de reflexão de fé e cultura), educação popular, paróquias, missões e além fronteiras”.

DISPONIBILIDADE - “Atualmente, sou responsável pela comunicação da Companhia de Jesus no Brasil. Gerencio o Núcleo de Comunicação, com sede em São Paulo/SP, onde trabalham 50 profissionais da área. Ajudo na formação de jovens no Anchietanum (casa de formação juvenil da Cia. de Jesus) e ministro os sacramentos na paróquia São Luis. É assim o meu dia a dia: às 6H30, faço uma hora de natação e uma hora de oração pessoal; às 8H30, trabalho no Núcleo de Comunicação; às 18H celebro a missa; das 19H30 às 22H40, tenho aula de mestrado na Escola Superior de Propaganda e Marketing. Na Companhia de Jesus tenho que estar disponível a qualquer tipo de missão que a Igreja queira me confiar. Sou especialista em comunicação, mas se há necessidade de outros trabalhos em qualquer parte do mundo, estou disponível. Esse é o fundamental de minha vocação: ir para qualquer parte, onde Deus e a Igreja queiram me enviar. Em lugares de fronteiras, aí está o jesuíta”.

POR QUE AQUI? – “A cerimônia de ordenação é belíssima! E o significado que isso tem para minha vida a faz ainda mais bela, pois é uma oportunidade de reunir todas as pessoas que me acompanharam nesses 12 anos de preparação para o sacerdócio. Acredito que será emocionante compartilhar esse momento com a comunidade dos cristãos local. Eu costumo dizer que é um momento perfeito para dividir um pedaço de mim com as pessoas que eu amo e com o povo de Pará de Minas. Afinal, é a cidade onde nasci, cidade que amo e onde estão minhas raízes profundas. É aqui que eu me encontro e me fortaleço, ao lado dos amigos, família e do povo pará-minense. Acredito que Pará de Minas melhorou em vários aspectos, desde que me mudei daqui (estrutura urbana, transporte, lugares públicos, etc.). Adoro essa cultura da gentileza que o povo daqui desenvolveu: a parada dos motoristas na faixa de pedestre, o ajudar as pessoas que carregam embrulhos, o dar lugar aos idosos, etc. Tudo isso é muito bacana! Outra coisa que gosto muito por aqui é a acolhida e a hospitalidade do povo pará-minense. Aqui, sempre se tem aquela boa impressão de estar em família”!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

AMIGO É ASSIM MESMO:

LONGE DOS OLHOS MAS PERTO DO CORAÇÃO !!








ESTAMOS COM SAUDADES DE VOCÊS!!
A JORNADA DE 2012 ESPERA POR VOCÊS !!!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

"O pior criminoso é aquele que sacraliza suas maldades.
É o que se diz bendito, porque está protegido sob a frágil casca religiosa."
 Padre Fábio de Melo


quarta-feira, 20 de julho de 2011

NO “CHÃO DA VIDA” ESTÁ ESCONDIDO NOSSO VERDADEIRO TESOURO


     “Do seu ferimento a ostra faz surgir uma pérola.

       A dor que a dilacera, ela a transforma em jóia” (Richard Shanon)







O conto das 3 falas


“O herói, um menino tolo, é enviado ao mundo pelo pai a fim de aprender alguma coisa. Por três vezes ele volta para casa e, quando o pai pergunta o que aprendeu, ele responde da primeira vez: - “pai, aprendi a fala do latido dos cães”;

da segunda vez: - “pai, aprendi a fala do canto dos passarinhos”;

e da terceira vez: “pai, aprendi a fala do coaxar das rãs”.

O pai fica extremamente aborrecido, porque não sabe o que fazer com esta arte.

O menino parte, então, em peregrinação e chega a um castelo onde deseja pernoitar. Mas o dono do castelo só tem lugar para ele no porão da torre, onde moram os cães selvagens que já devoraram mais de uma pessoa.

Mas o menino é corajoso; ele leva alguma coisa para comer e não tem medo de descer à torre.

Lá ele fala amigavelmente com os cães ladradores. E estes lhe revelam que só são ferozes assim porque são os vigias de um tesouro. E mostram-lhe o caminho para o tesouro, e ajudam-no a desenterrá-lo”.



Só podemos encontrar o tesouro dentro de nós se descermos ao chão de nossa torre. É normal que nós nos surpreendamos frente a frente com um “eu” desconhecido, temido ou reprimido há muito tempo.

O caminho para o nosso tesouro passa pelo diálogo com os “cães ladradores”, com nossas paixões, com nossos problemas e fragilidades, nossas angústias e nossas feridas, com tudo quanto ladra dentro de nós e consome nossa energia. A espiritualidade cristã nos mostra que exatamente em nossas feridas nós desco-brimos o tesouro do nosso verdadeiro “eu” escondido no fundo de nosso coração.

         “Lá onde nós fomos feridos, onde nos quebramos, aí nós também nos abrimos para Deus” (H. Nouwen)



Tradicionalmente, fomos coagidos a viver uma espiritualidade que nos ensinou a “prender os cães”  na torre e a levantar junto dela um edifício de “grandes ideais”.

E com isto, passamos a viver constantemente com medo de que os cães pudessem fugir e nos devorar.

Com isso nos excluímos do prazer de viver, porque tudo é reprimido.

Sabemos que tudo quanto nós reprimimos nos faz falta à nossa vida. Os “cães ladradores” tem muita força. Quando os prendemos, fica nos faltando a sua força, de que temos necessidade para o nosso cami-nho para Deus, para nós mesmos e para os outros. Somos obrigados a fugir de nós mesmos, ficamos com medo de olhar para dentro de nós, pois poderíamos correr o risco de nos deparar com os cães perigosos. Quanto mais os amarramos, tanto mais perigosos eles se tornam.



No nosso caminho espiritual, o que importa é ter a coragem de entrar na torre e dialogar amigavelmente com os “cães ladradores”. Então eles irão nos conduzir ao chão e nos mostrar onde o tesouro está enterrado. Os cães ferozes poderão até nos ajudar a desenterrar o tesouro.

Este tesouro pode ser  “uma nova vitalidade e autenticidade, um sonho ousado, uma intuição, um dom especial, o encontro com o verdadeiro eu, a imagem que Deus faz de cada um de nós...”

“Entrar na torre” significa “buscar e encontrar a Deus” exatamente em nossas paixões, em nossos traumas, em nossas feridas, em nossos instintos, em nossa impotência e fragilidade... Ali podemos nos interrogar o que é que Deus deseja nos revelar por meio deles, e como justamente através deles, Ele dese-ja nos conduzir ao tesouro no chão de nossa vida.

 “Descer” para o fundo do porão é a oportunidade para descobrir regiões novas e novos horizontes, para conhecer o reino interior, para encontrar a riqueza interior e assim experimentar a transformação.

O caminho para uma nova qualidade de vida passa pela descida ao fundo do próprio porão.

Isso requer coragem para passar por todas as regiões sombrias e chegar ao fundo. Mas essa descida nos possibilita descobrir um mundo diferente que não conhecíamos, ou que havíamos perdido.

Lá no fundo, encontra-se um bem precioso que podemos levar conosco, que nos ajuda em nosso cami-nho e que nos faz totalmente íntegros e sãos.



É preciso “descer” até o fundo para descobrirmos uma nova riqueza para a nossa vida; é “descendo” que poderemos revitalizar a vida que se tornara vazia e ressequida.

Trata-se de despertarmos, de escavarmos, de avançarmos em direção ao “veio de ouro” e de sabermos que este não é nossa propriedade; ele nos é oferecido com dom.

Não basta falar de “pedra preciosa”, é também necessário “escavar” nosso “chão interior”, alargar nosso coração, garimpar em direção às riquezas que estão no eu mais profundo, assim como o “fio de ouro” no meio dos cascalhos.

Cada um de nós possui uma fonte inesgotável de qualidades-habilidades; podemos dizer: “somos um presente”, um valor para os outros. A vida sempre está oculta nas profundezas. A pessoa superficial é aquela que se confunde com suas idéias, coisas... A pessoa do “eu profundo” é aquela que vive a partir da raiz, da fonte mesma da vida, e deixa vir à  tona todas as suas riquezas, dons, capacidades...

É no coração que existem, em abundância, os aspectos positivos de nossa personalidade, os talentos naturais e as boas tendências. Aí se aninham imensas riquezas que se exprimem de maneira diferente, dando a cada um, uma fisionomia própria, um caráter único.

Esta região profunda coincide com o mundo das certezas, dos valores, das idéias-força... que formam o eixo da nossa existência, o melhor de nós, o lugar de nossa recuperação e de nossa realização, o positivo que nos solicita continuamente a nos tornar o que devemos ser.



A força da transformação nós não a encontramos onde vivemos ou distante de nós, mas sim, lá embaixo.

Para buscar o que há de riqueza no profundo de nós mesmos, podemos imitar, simbolicamente, os hábitos dos pescadores de certo atol do Pacífico. Eles vivem pauperrimamente sobre uma terra desprovida de vegetação e açoitada pelos ventos; mas o fundo do seu mar é muito rico em pérolas.

Desenvolveram aí aptidões excepcionais para o mergulho; descem sem qualquer aparelho, ao fundo do mar, localizam as pérolas, arrancam-nas, trazem-nas para a superfície, atiram-nas no barco, para depois mergulharem de novo.

Este é o caminho da espiritualidade que brota do húmus: “descer até o fundo, mergulhar nas regiões mais sombrias onde estão escondidas as pérolas que dão significado e sentido às nossas vidas.

Assim deveríamos mergulhar livremente no nosso próprio “eu profundo”, para aí descobrir as riquezas pessoais, trazê-las à tona e colocá-las a serviço dos outros, multiplicando-as.

É preciso “des-velar” nosso “eu profundo”, o lugar onde habitam os aspectos benéficos da nossa personalidade, as boas tendências, as qualidades positivas, os dons naturais, as riquezas do ser, as beatitu-des originais, as aspirações de grande fôlego, as idéias-força, os dinamismos da vida...

O “tesouro do ser” (certezas, intuições, projetos, valores...) ainda que pareça esquecido, permanece armazenado em sua mensagem essencial, e pode tornar-se a força que orienta toda a vida, a sabedoria da própria vida, um lugar de fecundidade, de criatividade, fonte de renovação...

Dentro de nós temos forças construtivas que podem mudar-nos eficazmente. E é preciso dar-lhes curso, não ocultando-as e nem desprezando-as, mas deixando-as aflorar espontaneamente.



Ter identidade é viver em contato com as riquezas que nos sustentam. Em contato com o tesouro e na viagem para dentro, clareia-se a visão de nós mesmos, da nossa originalidade e dignidade.

Há uma força de gravidade que nos atrai progressivamente para o mais profundo de nós mesmos, onde Deus nos espera e nos acolhe, e onde encontraremos a nosso “eu original” e a verdadeira paz.

“Que eu me conheça e que te conheça, Senhor! Quantas riquezas entesoura o homem em seu interior!

 Mas de que lhe servem, se não se sondam e investigam” (S. Agostinho)



Textos bíblicos:  Mt. 13,44-46    Is. 45,1-7    2Cor. 4,7-13



Na oração:  Para realizar-se e desenvolver toda a sua potencialidade, busque, na oração, cavar mais profunda-

                     mente, até atingir as raízes de seu ser, o núcleo original de sua personalidade.

Diante da presença de Deus, esteja aberto ao contato com a própria realidade interior, para que venha à superfí-cie aquilo que o sustenta e dignifica o seu viver.

Dirija seu olhar para o mais íntimo de si, onde nascem sentimentos e valores, decisões e gestos... onde você é convidado a se alegrar com os rastros da Graça.   

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Tem dia que põe virgula, tem dia que põe reticências, tem dia que põe ponto final e tem dia que tem a necessidade de virar a página.

Padre Fábio de Melo

sexta-feira, 15 de julho de 2011

EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS: nosso GPS no caminho interior



Quem não andou um pouco perdido no caminho da vida? Quem nunca se viu mergulhado na obscuridade e sem direção quando estava prestes a tomar uma decisão? Quem nunca se sentiu confuso nas encruzi-lhadas da vida? Quem nunca ficou imobilizado diante de tantas rotas alternativas?

Quando se inicia a viagem da vida ainda não sabemos bem quê equipamentos levar, o lugar de chegada aparece cheio de incertezas e muitos mapas de caminhos alternativos nos são apresentados.

Buscar nossa identidade e conectar com o mundo de nossos sentimentos é uma parte principal desta viagem: “matutar no que sou e no que sinto”.

E é verdade que “não vale a pena andar por andar”, embora em algum momento de nossa vida tenhamos feito percursos sem direção; no entanto, “é melhor caminhar para ir crescendo” para que possam desatar em nós todas as possibilidades latentes. Este crescimento tem um movimento para fora e tem, também um movimento para o interior que é o que enche a vida de beleza, de liberdade e de sentido: “olhar-me dentro e compreender...”. Nós perderíamos muito de nós mesmos e dos outros sem esse olhar para dentro.



Em meio às mudanças e às transformações de seu tempo, S. Inácio compreendeu a importância crucial da interioridade. “Santo Inácio, enquanto se restabelecia no seu leito em Loyola, começou uma profunda peregrinação interior” (CG. 35ª).

Com efeito, a interioridade não é somente essa dimensão da vida humana que permite reconhecer e aco-lher Aquele que fez do coração de cada um sua morada: a interioridade é um caminho sempre inacabado.

Não se trata simplesmente de ser “interiores”, senão de chegar a ser mais “interiores” na medida dos desafios que a vida hoje nos apresenta. A todos nos é necessário um espaço interior livre, ou seja, libera-do de tudo aquilo que possa entorpecê-lo inutilmente, para “sentir e saborear as coisas internamente”;

importa, também deixar que se realize em nós esse trabalho interior sem a qual não podemos ser homens e mulheres familiarizados com as coisas de Deus.



Nosso GPS existencial nos indica uma condição indispensável se queremos adentrar-nos nesse espaço de nossa interioridade ainda por descobrir: fazer uma parada para conectar-nos com o nosso coração; dar-nos um espaço e um tempo para contemplar com calma tudo o vivemos e desejamos nesse lugar escon-dido do coração; expor-nos ali a essa Presença amorosa que silenciosamente nos aguarda.

A originalidade dos EE está na aventura da descoberta do “mundo interior”, esse mundo desconhecido e surpreendente, que é o coração, onde acontece o mais importante e decisivo em cada pessoa. Os EE nos ajudam a nomear e a expressar o que vamos sentindo, os apelos que vão brotando, as decisões que vão sendo amadurecidas...; eles são um guia que nos pode dar os indicadores de nosso caminho interior.

Tal como um GPS, os EE nos fazem aproximar do centro, sugerido pelo poeta Mario Benedetti:

“No centro de minha vida, no núcleo capital de minha vida,

há uma fonte luminosa, um chafariz que lança convicções de cores

e é lindo contemplá-las e segui-las...

No centro de minha vida, no núcleo capital de minha vida,

a morte fica longe, a calma tem cheiro de chuva, a chuva tem cheiro de terra.

Isto me contaram porque eu nunca estou no centro de minha vida”



Para desfrutar e atravessar intensamente cada um dos momentos e paisagens da viagem da vida, precisa-mos percorrê-los a partir de dentro, onde vemos os rostos e os acontecimentos com outra luz e com outro ritmo. A partir do centro interior tudo adquire luzes e cores novas, muito mais brilhantes.

Buscamos intuições, certezas, convicções luminosas que seja “lindo” segui-las. Nem sempre as encontra-mos e logo nos decepcionamos. Quem sabe talvez porque não as buscamos no núcleo capital de nossa vida. Fora de nós há pessoas e idéias que parecem valiosas, mas que, a partir desse autêntico centro, fundem-se como ídolos com pés de barro, como ídolos que não podem salvar (Is. 45,20).

Dentro de mim –ainda que não no centro - há desejos que me parece imprescindível seguir e realizar. Quando mergulho um pouco “no mais íntimo de minha própria intimidade” (S. Agostinho) – onde habita Deus – muitos desses desejos se mostram vazios, inúteis... Também me ocorre o contrário: se me apro-ximo desse centro da vida, me atraem outros desejos mais consistentes e outros modos de viver mais ra-dicais; até mesmo coisas que me espantavam se tornam desejáveis... e é “lindo” contemplá-las e seguí-las.

Na tradição bíblica, o centro se identifica com o coração (Dt. 30,14) e a vida autêntica consiste em ir onde o coração nos leve.

Mas há uma viagem prévia, talvez a mais inadiável: a viagem ao nosso próprio coração.

Precisamos urgentemente guias para ajudar a caminhar – e para voltar com freqüência – em direção ao nosso próprio centro onde habita o Grande Guia e sua assombrosa fonte luminosa.

Não é possível “ajudar as almas”, ajudar os outros a viver interiormente, se não vivemos nesse espaço de silêncio, de gratuidade e de oração, onde o itinerário de acesso ao coração é habitualmente conhecido.

Em um mundo de muita superficialidade, onde a imposição do imediato, da rapidez, da produtividade e da eficácia se apresentam como deveres imperiosos, o chamado a ser “homens e mulheres interiores” tem uma força particular que nos devolve à nossa humanidade perdida.

Sem uma profunda vida interior, não podemos ir longe na experiência de Deus que nos atrai e nos conduz a Ele; sem uma vida interior exigente e vigorosa, deixamos relaxar o pólo “contemplação” de nossa vida de “contemplativos na ação”; sem buscar e encontrar esses caminhos de interioridade que o Espírito de Deus abre àquele que lhe é dócil, corremos o risco de deixar secar nossa generosidade apostólica, de esvaziar o sentido de nossos compromissos mais fortes, de obscurecer nossa fidelidade de acesso à fonte de nosso ser, ali onde encontramos Aquele com quem buscamos entrar em sintonia.

Sem esta “outra visão”, que nos é dada pelos olhos interiores, não podemos reconhecer como Deus “tra-balha” intensamente no aparente “escondimento” de sua presença ou de sua visibilidade.

Enfim, essa vida interior é ao mesmo tempo a terra na qual permanecemos enraizados e a fonte onde podemos apagar nossa sede.



De quê tenho sede?

No encontro com a samaritana, Jesus se assentou: vai ocupar o lugar do poço.

Ele é o manancial que vai ocupar o lugar da lei, do templo, da tradição, da religião que submete e não alimenta. No Evangelho há um significativo jogo de palavras: sempre que fala a mulher, ela fala de “poço”; pelo contrário, Jesus se refere a ele como “manancial”. A mulher – Samaria – busca apagar sua sede na Lei, na tradição, em um “poço” do qual haveria que extrair a água.

Jesus lhe faz ver que é preciso abrir-se a um “manancial” novo, que lhe vem através d’Ele e que “brota em seu interior” de um modo permanente. Ele é o manancial e com sua presença desperta o manancial interior da samaritana, entupido.

                     “Dá-me um pouco de sede porque estou morrendo de água!”

Eis o clamor de uma geração que tendo quase tudo, parece que não consegue descobrir o sentido da própria existência.

Em sentido profundo a sede se refere à busca de sentido presente em todo ser humano, busca daquilo que traz definitivamente a paz: a “água viva” que coincide com o “dom de Deus”.

Por isso, o relato se situa intencionadamente em chave de oferta: “se conhecesses o dom de Deus...”

Acabou-se o tempo dos templos; a adoração passa pelo coração, é interior e verdadeira, corresponde a uma vida em fidelidade.

A experiência acontece quando escutamos em nosso interior o “eco” que a água viva produz, saciando nossos desejos mais plenos. “Uma água viva murmura dentro de mim e me diz: Venha para o Pai” (S. Inácio de Antioquia)



Textos bíblicos:  Jo. 4   Ez. 47,1-12    Jo. 7,37-39



Na oração: mergulhe no “rio interior” que corre, desça às “águas”  do amor do Pai, deixe-se molhar pelas

                     Palavras do Filho e receba a força e a luz do Espírito.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Onde seus pés estão plantados?

Daqui, deste chão inspirador de Itaici, segue uma primeira contribuição para rezar
o evangelho do próximo domingo.
Por enquanto, continuo com o mesmo endereço eletrônico.
Um abraço a todos
Pe. Adroaldo sj


CADA CHÃO, UMA EMOÇÃO



“Se não houver frutos, valeu a beleza das flores...

Se não houver flores, valeu a sombra das folhas...

Se não houver folhas, valeu a intenção da semente...” (Henfil)




 

As parábolas são um relato provocativo e aberto, que envolvem o ouvinte ou leitor; elas não exigem explicações mas uma resposta pessoal, vital. O objetivo das parábolas é substituir uma maneira de ver o mundo, míope e limitado, por outra, aberta a uma nova realidade cheia de sentido e de esperança.

As imagens de sementes, árvores, chão..., dão o que pensar; questionam nossa maneira de ser, nos convi-dam a descer ao nosso chão existencial, a olhar o mais profundo de nós mesmos e a descobrir ali ricas possibilidades.

Cada planta procura seu chão. Não se desenvolve em qualquer lugar. Exige nossa atenção: temos que conhecer o chão onde plantamos.Temos de observá-lo. Cuidá-lo.

Cada chão tem uma palavra a nos dizer, uma palavra sobre a planta que melhor fruto pode dar.

O novo vem das raízes. Vem de baixo, da base, do chão.


Na semente acha-se presente uma grande força de crescimento...

A força da vida, contida na semente, envelhecerá e se extinguirá se não hou-ver quem confie nela, e arrisque a sua terra, seu tempo e seu trabalho.

Quando a semente é enterrada na terra, ela já conhece o seu caminho; ela avança passo a passo, seja durante as horas em que as circunstâncias lhe são mais favoráveis, porque é de dia e existe luz e calor em abundância, seja porque é de noite, e o ambiente para seu crescimento já não é tão propício.

Escondida ali, debaixo da terra, envolvida pelo absoluto silêncio, a semen-te germina e vai crescendo. O talo, a espiga e os frutos conduzem toda a vitalidade da minúscula semente até a maturidade da árvore. E cada árvore vive intensamente o tempo que lhes cabe viver, o tempo suficiente para produzir frutos em abundância.



As sementes são muito pequenas e colocadas na terra, desaparecem. Submergidas na terra as sementes vivem um lento processo até poder liberar uma vida nova e abundante. No entanto, contém uma vitali-dade oculta que as leva a germinar. O fundamental não é seu tamanho senão a enorme força transfor-madora que contém e sua grande fecundidade.

Na fecundidade há espaço para o “mistério”. A fecundidade tem lugar no oculto, nas entranhas da terra. A fecundidade supõe confiança e abandono, uma atitude aberta e serena, sem ansiedade nem tensão, sem deixar-se desanimar pela insignificância dos primeiros resultados.

Viver em chave de fecundidade supõe aceitar ritmos, tempos longos como se dão na natureza. As plantas necessitam tempo para florescer e meses para crescer. Isto supõe excluir toda impaciência.

A fecundidade tem a ver com a capacidade para acolher o gratuito, com a capacidade para assumir que, por muito que tenha trabalhado, o resultado é dom gratuito.

A natureza tem imperfeições e fracassos; nem todos os frutos que produz são os melhores. No campo, junto ao trigo, aparece a cizânia e ambos co-existem até o final (Mt. 13,24-30). Nem todos os frutos são de primeira categoria. O espírito de fecundidade acolhe as debilidades, pois não cabe a ninguém julgar.

A fecundidade perdura e aumenta com os anos, embora as força se debilitem.



Na experiência espiritual nos é pedido que mergulhemos no “chão da vida”, como as raízes na obscu-ridade da terra, na presença do silêncio. Aqui o caminho para Deus é “descer” ao nosso próprio chão e viver a comunhão universal. Subimos rumo ao Transcendente quando descemos ao nosso chão da vida.

O movimento de enterrar profundamente as raízes possibilita alcançar a seiva, o pulsar da vida e o equilíbrio.  Somos terra. Temos a Terra dentro de nós. Somos a própria Terra que na sua evolução chegou ao estágio de sentimento, de compreensão, de vontade, de responsabilidade e de veneração.

Vivificados pelo Espírito, somos Terra que pensa, sente canta e ama.

Sentir que somos Terra faz-nos ter os pés no chão e viver em comunhão com a comunidade das criaturas;

faz-nos perceber tudo da Terra: seu frio e calor, sua força que ameaça bem como sua beleza que encanta. Sentir a chuva na pele, a brisa que refresca, o tufão que assusta. Sentir na respiração o ar que nos entra, os odores que nos embriagam, as cores que nos assombram.



Sentir a Terra é acolher seus nichos ecológicos, captar a originalidade e a riqueza de cada criatura, inserir-se num determinado lugar percebendo sua sacralidade.

Ser Terra é sentir-se habitante de certa porção de terra. Ser Terra significa nossa base firme, nosso ponto de contemplação do todo, nossa plataforma para poder alçar vôo para além dessa paisagem e desse peda-ço de terra, rumo ao Todo infinito. Sentir-se Terra é perceber-se dentro de uma complexa comunidade de seres vivos. Para todos a Terra produz condições de subsistência, de evolução e de alimentação, no solo, no subsolo e no ar. Terra, nosso lar comum.

Sentir-se Terra nos faz lançar raízes no mais profundo do humano e despertar todas as energias criativas, todas as grandes motivações adormecidas, toda bondade aí presente, toda decisão de assumir-se como cooperador e artífice de um novo tempo.



Pertencemos à Terra; somos filhos e filhas da Terra. “Somos Terra”.

O ser humano vem de húmus. Viemos da Terra e voltaremos à Terra. A Terra não está à nossa frente como algo distante e diferente de nós mesmos.

Não há, portanto, distância entre nós e a Terra. Formamos uma mesma realidade complexa, diversa e única. Humanidade e Terra, formamos uma única realidade esplêndida, reluzente, frágil e cheia de vigor. Somos formados com as mesmas energias, com os mesmos elementos físico-químicos dentro da mesma rede de relações de tudo com tudo, há mais de 15 bilhões de anos.

Os elementos químicos da Terra circulam por todo o nosso corpo, sangue e cérebro. Temos no corpo, no sangue, no coração, na mente e no espírito os “elementos-Terra”.

Dessa constatação, nasce a consciência de profunda unidade e identificação com a Terra e com sua imensa diversidade. Somos um com ela.



A experiência espiritual cristã implica “mergulhar os pés na terra”  (Lev. 25,1-24).

É na obscuridade da terra que a planta vai buscar a força que a manterá viva, que lhe dará condição de ex-pandir sua copa em direção à imensidão do céu. As raízes mergulham na terra de modo profundo, silen-cioso e lento. Expressões do nosso cotidiano como “pôr os pés no chão”, “estar com os pés na terra”, significam  enraizar-se e comprometer-se com a realidade que nos afeta.

No “chão”, à primeira vista, estão todas as sujeiras, os detritos e as coisas em decomposição. Mas, para as raízes, tudo isso significa a origem da vida.

Um “chão” é sempre mais do que um simples chão: cada “chão” revela lembranças, referências, ansie-dades, medos, saudades...; cada “chão” guarda histórias, presenças e tem força de memória. Há vidas, pessoas, caminhos, acontecimentos, experiências...

Chão amplo é convite a sonhar alto, a pensar grande, a aventurar-se... ousar ir além, lançar por terra nosso modo arcaico de proceder, romper com os espaços rotineiros e cansativos.

“Chão humano e humanizante” porque carregado da presença divina.

É o ser humano mesmo o verdadeiro chão a partir do qual Deus se encontra e se dá a conhecer; cada pessoa é o autêntico chão da eterna presença de Deus.



Texto bíblico:  Mt. 13, 24-43



Na oração:  - “Eu penso e sinto a partir do lugar onde meus pés estão plantados”. Onde seus pés estão planta-

                                                                                                                                                     dos?