quinta-feira, 14 de julho de 2011

Onde seus pés estão plantados?

Daqui, deste chão inspirador de Itaici, segue uma primeira contribuição para rezar
o evangelho do próximo domingo.
Por enquanto, continuo com o mesmo endereço eletrônico.
Um abraço a todos
Pe. Adroaldo sj


CADA CHÃO, UMA EMOÇÃO



“Se não houver frutos, valeu a beleza das flores...

Se não houver flores, valeu a sombra das folhas...

Se não houver folhas, valeu a intenção da semente...” (Henfil)




 

As parábolas são um relato provocativo e aberto, que envolvem o ouvinte ou leitor; elas não exigem explicações mas uma resposta pessoal, vital. O objetivo das parábolas é substituir uma maneira de ver o mundo, míope e limitado, por outra, aberta a uma nova realidade cheia de sentido e de esperança.

As imagens de sementes, árvores, chão..., dão o que pensar; questionam nossa maneira de ser, nos convi-dam a descer ao nosso chão existencial, a olhar o mais profundo de nós mesmos e a descobrir ali ricas possibilidades.

Cada planta procura seu chão. Não se desenvolve em qualquer lugar. Exige nossa atenção: temos que conhecer o chão onde plantamos.Temos de observá-lo. Cuidá-lo.

Cada chão tem uma palavra a nos dizer, uma palavra sobre a planta que melhor fruto pode dar.

O novo vem das raízes. Vem de baixo, da base, do chão.


Na semente acha-se presente uma grande força de crescimento...

A força da vida, contida na semente, envelhecerá e se extinguirá se não hou-ver quem confie nela, e arrisque a sua terra, seu tempo e seu trabalho.

Quando a semente é enterrada na terra, ela já conhece o seu caminho; ela avança passo a passo, seja durante as horas em que as circunstâncias lhe são mais favoráveis, porque é de dia e existe luz e calor em abundância, seja porque é de noite, e o ambiente para seu crescimento já não é tão propício.

Escondida ali, debaixo da terra, envolvida pelo absoluto silêncio, a semen-te germina e vai crescendo. O talo, a espiga e os frutos conduzem toda a vitalidade da minúscula semente até a maturidade da árvore. E cada árvore vive intensamente o tempo que lhes cabe viver, o tempo suficiente para produzir frutos em abundância.



As sementes são muito pequenas e colocadas na terra, desaparecem. Submergidas na terra as sementes vivem um lento processo até poder liberar uma vida nova e abundante. No entanto, contém uma vitali-dade oculta que as leva a germinar. O fundamental não é seu tamanho senão a enorme força transfor-madora que contém e sua grande fecundidade.

Na fecundidade há espaço para o “mistério”. A fecundidade tem lugar no oculto, nas entranhas da terra. A fecundidade supõe confiança e abandono, uma atitude aberta e serena, sem ansiedade nem tensão, sem deixar-se desanimar pela insignificância dos primeiros resultados.

Viver em chave de fecundidade supõe aceitar ritmos, tempos longos como se dão na natureza. As plantas necessitam tempo para florescer e meses para crescer. Isto supõe excluir toda impaciência.

A fecundidade tem a ver com a capacidade para acolher o gratuito, com a capacidade para assumir que, por muito que tenha trabalhado, o resultado é dom gratuito.

A natureza tem imperfeições e fracassos; nem todos os frutos que produz são os melhores. No campo, junto ao trigo, aparece a cizânia e ambos co-existem até o final (Mt. 13,24-30). Nem todos os frutos são de primeira categoria. O espírito de fecundidade acolhe as debilidades, pois não cabe a ninguém julgar.

A fecundidade perdura e aumenta com os anos, embora as força se debilitem.



Na experiência espiritual nos é pedido que mergulhemos no “chão da vida”, como as raízes na obscu-ridade da terra, na presença do silêncio. Aqui o caminho para Deus é “descer” ao nosso próprio chão e viver a comunhão universal. Subimos rumo ao Transcendente quando descemos ao nosso chão da vida.

O movimento de enterrar profundamente as raízes possibilita alcançar a seiva, o pulsar da vida e o equilíbrio.  Somos terra. Temos a Terra dentro de nós. Somos a própria Terra que na sua evolução chegou ao estágio de sentimento, de compreensão, de vontade, de responsabilidade e de veneração.

Vivificados pelo Espírito, somos Terra que pensa, sente canta e ama.

Sentir que somos Terra faz-nos ter os pés no chão e viver em comunhão com a comunidade das criaturas;

faz-nos perceber tudo da Terra: seu frio e calor, sua força que ameaça bem como sua beleza que encanta. Sentir a chuva na pele, a brisa que refresca, o tufão que assusta. Sentir na respiração o ar que nos entra, os odores que nos embriagam, as cores que nos assombram.



Sentir a Terra é acolher seus nichos ecológicos, captar a originalidade e a riqueza de cada criatura, inserir-se num determinado lugar percebendo sua sacralidade.

Ser Terra é sentir-se habitante de certa porção de terra. Ser Terra significa nossa base firme, nosso ponto de contemplação do todo, nossa plataforma para poder alçar vôo para além dessa paisagem e desse peda-ço de terra, rumo ao Todo infinito. Sentir-se Terra é perceber-se dentro de uma complexa comunidade de seres vivos. Para todos a Terra produz condições de subsistência, de evolução e de alimentação, no solo, no subsolo e no ar. Terra, nosso lar comum.

Sentir-se Terra nos faz lançar raízes no mais profundo do humano e despertar todas as energias criativas, todas as grandes motivações adormecidas, toda bondade aí presente, toda decisão de assumir-se como cooperador e artífice de um novo tempo.



Pertencemos à Terra; somos filhos e filhas da Terra. “Somos Terra”.

O ser humano vem de húmus. Viemos da Terra e voltaremos à Terra. A Terra não está à nossa frente como algo distante e diferente de nós mesmos.

Não há, portanto, distância entre nós e a Terra. Formamos uma mesma realidade complexa, diversa e única. Humanidade e Terra, formamos uma única realidade esplêndida, reluzente, frágil e cheia de vigor. Somos formados com as mesmas energias, com os mesmos elementos físico-químicos dentro da mesma rede de relações de tudo com tudo, há mais de 15 bilhões de anos.

Os elementos químicos da Terra circulam por todo o nosso corpo, sangue e cérebro. Temos no corpo, no sangue, no coração, na mente e no espírito os “elementos-Terra”.

Dessa constatação, nasce a consciência de profunda unidade e identificação com a Terra e com sua imensa diversidade. Somos um com ela.



A experiência espiritual cristã implica “mergulhar os pés na terra”  (Lev. 25,1-24).

É na obscuridade da terra que a planta vai buscar a força que a manterá viva, que lhe dará condição de ex-pandir sua copa em direção à imensidão do céu. As raízes mergulham na terra de modo profundo, silen-cioso e lento. Expressões do nosso cotidiano como “pôr os pés no chão”, “estar com os pés na terra”, significam  enraizar-se e comprometer-se com a realidade que nos afeta.

No “chão”, à primeira vista, estão todas as sujeiras, os detritos e as coisas em decomposição. Mas, para as raízes, tudo isso significa a origem da vida.

Um “chão” é sempre mais do que um simples chão: cada “chão” revela lembranças, referências, ansie-dades, medos, saudades...; cada “chão” guarda histórias, presenças e tem força de memória. Há vidas, pessoas, caminhos, acontecimentos, experiências...

Chão amplo é convite a sonhar alto, a pensar grande, a aventurar-se... ousar ir além, lançar por terra nosso modo arcaico de proceder, romper com os espaços rotineiros e cansativos.

“Chão humano e humanizante” porque carregado da presença divina.

É o ser humano mesmo o verdadeiro chão a partir do qual Deus se encontra e se dá a conhecer; cada pessoa é o autêntico chão da eterna presença de Deus.



Texto bíblico:  Mt. 13, 24-43



Na oração:  - “Eu penso e sinto a partir do lugar onde meus pés estão plantados”. Onde seus pés estão planta-

                                                                                                                                                     dos?

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