COMO INTEGRAR “JERUSALÉM-NAZARÉ” NO AMBIENTE FAMILIAR?
“Os pais de Jesus iam todos
os anos a Jerusalém... Jesus desceu com seus pais para Nazaré” (Lc. 2)
O Evangelho de hoje relata a segunda visita
de Jesus ao templo em Jerusalém (a primeira foi por ocasião da circuncisão).
Trata-se do seu ingresso oficial na comunidade hebraica, inaugurando sua maioridade.
Em Jerusalém, no templo, Jesus adolescente realiza seu primeiro e
solene ato de revelação.
É
nessa ocasião que Ele pronuncia as primeiras palavras registradas pelos
evangelhos. E a primeira pala-vra,
na prática, é “Pai”, dirigida a Deus; “Pai” será também a última palavra pronunciada por Jesus,
ainda em Jerusalém, mas no novo templo do Calvário: “Pai,
em tuas mãos entrego meu espírito”
(Lc. 23,46).
Nas primeiras palavras de Jesus temos a afirmação condensada do que foi
a sua vida, a revelação do seu mistério mais profundo. A relação com o Pai é aquela que determina todas as
suas atitudes e ações.
Para Jesus é uma “necessidade”
realizar na história concreta de sua vida o desígnio salvífico do Pai. Ela tem
uma prioridade absoluta. Sobrepõe-se a todos os outros deveres, inclusive ao
dever sagrado da pieda-de para com os pais. Porque não se pertence a si mesmo, Jesus também não
pertence a seus pais terres-tres. Ele – sua pessoa, sua vida e sua missão –
pertencem inteiramente ao Pai.
Estas
primeiras palavras de Jesus nos revelam onde está o centro de sua identidade e
de sua missão: na escuta atenta e na
comunhão com o Pai.
Jesus
voltará a Jerusalém outras vezes; aí
vai morrer e ressuscitar, porque Jerusalém é o sinal da vida e da morte, das
lágrimas e da beleza, do sangue e da luz.
Em
Jerusalém, Jesus encontrará alegria
e dor, morte e vida, acolhimento e rejeição.
Jerusalém
é a cidade da história humana e da história salvífica: lá está a “casa”
do templo, a “casa” do Senhor, e a “casa” da dinastia de Davi, da qual
descende o Cristo.
Na
“perda e encontro” de Jesus no Templo se condensa toda sua vida, que é buscar a
Vontade do Pai.
De Jerusalém a Nazaré:
dois espaços geográficos que
integram a missão de Jesus.
Nazaré,
um lugar desconhecido e insignificante, mas reconhecido pelos profetas,
protegido pela Antiga Aliança. Nazaré
está no traçado do retorno-êxodo de Jesus do Egito.
Enfim,
de modo mais específico, Ele vai morar “numa cidade chamada Nazaré”. Nazaré é o sinal da epifania de Deus na rotina do dia-a-dia, é o
sinal da palavra divina escondida nas vestes humildes da vida simples; é a
escuta atenta ao pai que fala na simplicidade
dos atos e das pequenas coisas, próprios de um ambiente familiar.
Jesus
nos convida a entrar em sua casa para
aprender d’Ele e com Ele os valores do Evangelho.
É
difícil compreender a “normalidade” da vida de Jesus
Cristo; parece até que o Reino não tem exigênci-
as
sobre a sua Vida. Identificando-se com a vida
de todo mundo mostrava que a salvação
não consistia em coisas extraordinárias e em gestos fantásticos, mas na “adoração do Pai
em espírito e verdade”.
Jesus gasta
praticamente toda sua Vida nesta humilde condição; passou desapercebido como
Messias.
O Reino
se revela no pequeno, no anônimo e não no espetacular, no
grandioso.
Ele está misteriosamente se realizando
entre nós.
Podemos
dizer que esta página é, em certo sentido, a apologética do cotidiano, das horas, dos meses, dos anos
escondidos, da vida monótona, provinciana, não-escrita, de Jesus.
Para o plano
de Deus é importante inclusive quem vive em Nazaré, de onde não pode vir nada de bom ou que seja digno de ficar
registrado nos anais da história.
Essa atenção à
simplicidade do cotidiano, à
natureza da Galiléia, à mensagem que Deus esconde nas pessoas, nas coisas, nas
horas, na natureza... é uma constante na pregação de Jesus.
Tanto
em Nazaré quanto na vida pública, Jesus nos comunica uma
profunda união com o Pai. Jesus recorre em seu íntimo ao Pai, numa oração confiante e de entrega.
Jesus
sente quando o Pai o chama a mudar o estilo
de vida escondido. Ele está atento aos “sinais dos tempos” e sabe discernir
nesses sinais a Vontade do Pai que o chama a mudar de caminho, a deixar sua
terra, a lançar-se numa aventura. Começa uma vida itinerante, missionária,
despojado de tudo.
A
vida de Nazaré coloca os critérios
evangélicos na nossa cabeça e no nosso coração.
A
vida de Nazaré chega à nossa vida em
muitos momentos (serviços ocultos, doença,
rotina...). Nazaré pode transformar-se em
Jerusalém quando, quem a habita,
deixa-se possuir pela totalidade do amor no coração. A
“vida oculta” coloca em evidência nossas motivações e nossos valores
mais profundos.
É
a importância do não importante. O importante é ser significativo e não importante!
Jesus nos ensina,
em Nazaré, o valor das coisas
corriqueiras, quando são feitas com dedicação e carinho.
É
uma teologia do trabalho! O fazer,
seja qual for, segundo suas motivações, é redentor!
Não
são as coisas que nos fazem importantes,
mas nós que fazemos qualquer coisa ser
importante!
É o sentido que damos à nossa vida e à
nossa ação que fazem com que estas sejam significativas ou não.
Somos nós que damos significado às coisas e não o contrário!
Quando
são “as
coisas importantes” que nos fazem importante,
e se “essas coisas”, um dia desapare-cem, parece como se a própria
vida perdesse seu sentido. Na escola da vida, Jesus também foi
aprendiz.
Aprender é consequência básica da dinâmica da
Encarnação. Lucas o confirma:
“Jesus
crescia em sabedoria e em graça, diante de Deus e diante dos homens” (Lc. 2,40.50).
Portanto, Jesus viveu a vida como um processo
lento e progressivo, a partir da própria condição humana no meio dos seus,
no meio do povo e em vista do Reino de Deus, graças a uma criatividade transformadora.
Texto bíblico: Lc.
2,41-52
Na
oração:
viva em sua família a grandeza de ser
plenamente humano;
descubra o significado profundo da vida
cotidiana mais sim-ples: trabalhos, relações, família... O ambiente
familiar, quando espaço humanizador, integra a vida cotidiana de Nazaré com
os desafios de Jerusalém (família que se alarga, sai de si, se
compromete, abre-se a causas humanas...)
Na vida de todos nós há momentos em que Deus intervém, tirando-nos de Nazaré para a vida
pública (Jerusalém). Ainda que o itinerário de Na-zaré pareça pobre, se o percorremos com fidelidade e amor, ele
se insere no projeto de Deus, fica iluminado e nos impulsiona a ter amplos hori-zontes.
Para atravessar a Nazaré cotidiana é preciso aprender a
dimensão perfeita do amor, que é
doação silenciosa, é oblação alegre e livre.
* como é sua família?
Vive comprometida buscando uma sociedade melhor e mais humana, ou fechada
exclusivamente em seus próprios interesses? Educa para a solidariedade, a paz,
a sensibilidade para com os necessitados... ou só ensina a viver para o consumo
insaciável, o máximo lucro e o esquecimento dos outros?
* No seu
ambiente familiar cuida-se da fé, dos valores do Evangelho... ou se favorece
apenas um estilo de vida superficial, sem metas nem ideais...? É espaço
instigante, de crescimento, aberto ao novo e diferente... ou ambiente atrofiante,
sufocante...?