terça-feira, 11 de dezembro de 2012

3º Domingo do Advento.



ADVENTO: passagem do “fazer” ao “ajudar

“As multidões perguntavam a João: ‘Quê devemos fazer?’” (Lc. 3,10)

 “O povo estava na expectativa...”: uma bonita maneira de indicar uma atitude positiva de espera diante de João Batista que, sob o impulso da Palavra brotada no deserto, tocou o coração de muitas pessoas; seu chamado à conversão e seu apelo a uma vida mais fiel a Deus despertou em muitas delas uma pergunta concreta: “Quê devemos fazer?”.  Com algumas pinceladas João reforça a necessidade de mudar a maneira de pensar e de agir; isto é, desatar o que já está presente em nosso coração: o desejo de uma vida mais justa, digna e fraterna.
João não fala do cumprimento minucioso das normas legais ou dos ritos religiosos. Em nenhum caso faz alusão à religião; o que ele pede a todos é melhorar a convivência humana. De fato, uma religiosidade que não se alarga em direção aos outros não é a religiosidade que Deus deseja.
Ou seja, não se trata propriamente de fazer coisas nem de assumir deveres, mas ser de outra maneira, viver de forma mais humana; trata-se de que, a partir do centro de cada pessoa, aquilo que é o verdadeiramente humano, flua humanidade em todas as direções. Que todo o ser se mova na perspectiva do amor oblativo.


No entanto, corremos o risco de transformar o “fazer” em simples ativismo, ou seja, uma ação desprovida de sentido e de direção. De fato, vivemos mergulhados numa cultura de resultados, distraídos e perdidos na variedade de luzes, cores, sensações fugazes, vivências superficiais... A existência inteira faz-se maquinal e rotineira.
O cotidiano torna-se convencional e, não raro, carregado de desencanto, pesado, estressante...  Corremos o risco de sermos apenas imitadores ou repetidores, pois tememos nos perder na busca do novo; as respostas são confirmadas e as perguntas silenciadas.
Vivemos a “compulsão da utilidade”, preocupando-nos unicamente com o fazer habitual” que não tem maior impacto na realidade social-eclesial,  não muda nada...
De fato, muitas vezes vivemos, no cotidiano da vida, o drama da desintegração: atividades soltas, des-providas de inspiração e criatividade, num ritmo burocrático e sem o exercício da avaliação das mesmas. Falta uma referência e um horizonte que unifique tudo, que possibilite reorientar e canalizar nossas potencialidades, impulsos, inspirações, que desperte nossa paixão e dê novo sentido à nossa missão.
Com isso, nossa missão se transforma em pura “fazeção”, ou seja, fazer por fazer, fazer para afirmar-se, fazer para brilhar, fazer para produzir, fazer para se impor...

Para integrar bem os diversos dinamismos da vida, é decisivo centrar no horizonte que inspira nossa missão e nos motiva a fazer o que fazemos e como fazemos. E o horizonte é “ajudar”.
 “Ajudar” é, para a espiritualidade do Advento, o horizonte e a chave de integração de nossa vida.
“Ajudar”, como atitude pessoal e comunitária, é o equivalente evangélico “servir”. Um “ajudar” (servir) que brota da experiência de ser “ajudado” (servido) por um Deus servidor.
No “ajudar” dão-se as mãos o amor a Deus e o amor à pessoa humana, a experiência interior e a ação cotidiana, a ação e a contemplação; nele se expressa a profundidade e o enraizamento da pessoa nas exi-gências cotidianas da vida; nele convergem a busca de Deus e o compromisso com o mundo.
“Ajudar” nos remete a uma espiritualidade ativa, mas que não consiste meramente em “fazer”, nem se acomoda com qualquer forma de fazer; ele nos permite olhar o global e comprometer-nos com o particu-lar. “Ajudar” pede um coração magnânimo, ou seja, grandeza de sonhos, de ânimo e de desejo; mas, ao mesmo tempo ele nos convida à humildade, ou seja, abrir-nos às necessidades do outro, descer ao nível do outro, renunciando nossos próprios critérios, modos fechados de viver...
 “Ajudar” é oposto do ativismo, que é um fazer “insensato”, sem sentido e sem direção. “Ajudar” é fazer com inspiração, com horizonte de sentido; é perguntar-nos continuamente: “por que fazemos isso? para quem fazemos?... “Em quê posso ajudar?” (D. Luciano M. de Almeida)
“Ajudar” nos permite “trabalhar descansadamente”, encontrando prazer e humor naquilo que fazemos, porque iluminado por um horizonte que nos atrai.

Para “ajudar” de verdade, é necessário em primeiro lugar, que nosso fazer esteja atravessado de visão (de Deus, de ser humano de mundo), de escuta, de atenção, de compaixão e contemplação da realidade na qual estamos inseridos, e das pessoas a quem somos chamados a ser presença solidária; que não seja, simplesmente, a aplicação de um plano ou esquema pré-estabelecido, pensado a partir de nós mesmos.

“Ajudar” não vai na linha do impor, senão do propor. Trata-se, isso sim, de propor com qualidade, com firmeza, com proximidade, com compromisso pessoal, tendo cuidado especial na arte do acompanha-mento. Isso requer presença gratuita, desinteressada, centrada no bem da outra pessoa, sem criar depen-dências, mas fazendo o outro crescer em liberdade.
“Ajudar”  implica possibilitar ao outro  ser protagonista de seu processo, devolver ao outro a autoria, a autonomia... No “fazer” o centro somos nós, no “ajudar” é o outro; no “fazer” medimos a quantidade, no “ajudar”, a qualidade de nossa ação. No “ajudar” há parceria (mão dupla): na medida em que ajudamos, somos ajudados; na ajuda há um enriquecimento e crescimento mútuo.
“Ajudar” não é substituir os outros naquilo que eles podem e tem de fazer, ou dizendo o que tem de ser feito, mas colocá-los em condição de que eles mesmos se experimentem ajudados, descubram por isso o Deus que ajuda a todos e sintam o impulso para ajudar a todos como ideal de suas vidas.
A prioridade da atenção aos outros nos obriga a pensar, a inovar, a propor de uma outra forma, a mudar... Só assim, quando nosso fazer é dinâmico, ele se transforma em “ajudar”. O carinho e a sensibilidade para com os outros, o desejo profundo e sincero de “ajudar” é o que vai nos mobilizar.
Se a lógica profunda do nosso fazer é “ajudar, devemos fazer mais por aqueles que mais ajuda necessi-tam, por aqueles mais desvalidos, que são mais fracos, que estão mais desprotegidos...

 Além disso, “ajudar” tem maior visibilidade quando a missão é vivida em grupo, quando a colaboração com outros e a partilha em comum tornam-se um “modo de proceder”, esvaziando-nos de toda pretensão de sermos proprietários para sermos simples servidores.
“Ajudar” os outros, inspirados e animados pelo Espírito de Jesus, é o que torna “espiritual” nossos atos, nossos pensamentos e orações, nossos trabalhos, nossa vida inteira.
“Ajudar”  faz “espiritual” nossa vida, toda nossa vida.
Quem vive o clima do Advento não é prisioneiro da “cotidianidade”; toda a nossa vida se transforma na história de uma espera e de um encontro surpreendente. Nessa espera vislumbramos detalhes decisivos: a vivência da ternura, a reinvenção da vida em cada amanhecer, a gratuidade amorosa, a alegria descon-trolada, o despertar de sonhos... Espera-se Jesus vivendo os valores que Ele encarnou: o cuidado dos pobres, o coração dilatado no serviço, o cuidado terapêutico, a ajuda gratuita...
Nessa atitude de espera o cristão pode dar sabor à sua vida: nos pequenos gestos ela floresce e aponta para um sentido novo.

Texto bíblico: Lc. 3,10-18

Na oração: sua missão como seguidor(a) de Cristo: simples ativismo burocrático ou espaço de ajuda criativa?
* Como cristãos, como podemos responder frente ao chamado tão simples e tão humano de João Batista?

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