quarta-feira, 28 de março de 2012

Oficina de velas - 01/04/2012

Teremos uma Oficina de Velas em RAVENA- Sítio da Veridiana e do Giovane, neste domingo, (1 de abril) a partir das 9h. O almoço será partilhado, levar o que vai comer e beber. Crianças são bem vindas.

Toda a Comunidade é convidada.

Para rezar o Domingo de Ramos.


JESUS “ENTRA” EM JERUSALÉM

Para uma “espiritualidade urbana”

Galiléia foi a primeira decisão importante que Jesus tomou no início de sua vida pública.
Ele viu claramente que o melhor lugar onde Ele poderia e deveria comunicar sua mensagem era preci-samente fazer-se presente nos povoados, nas pequenas vilas, nos campos e à beira-mar, lugares habitados por humildes camponeses e pescadores, pessoas pobres e marginalizadas, doentes e excluídos.
O fato é que Jesus, para realizar sua missão de Mestre, não se dirigiu à capital, Jerusalém, nem à impor-tante província da Judéia. Para comunicar uma “boa notícia” à sociedade de seu tempo, não buscou con-quistar para si os notáveis e as classes abastadas, nem procurou os postos de privilégios, nem o favor dos mais influentes, e nem, muito menos, os que detinham o poder e o dinheiro nos grandes centros urbanos.

Todos sabemos que as “mudanças profundas e duradouras” na sociedade não vem de cima, mas de baixo, a partir da solidariedade e da identificação de vida com os últimos deste mundo. Ali, nas periferias e nas margens, há uma esperança latente e alentadora daqueles que se empenham por imprimir um movimento novo à história; é nele que está a semente de uma vida diferente, criativa e mais promissora. 
E Jesus foi o ponto de partida de uma ousada mudança na história da humanidade.
Os evangelistas sinóticos relatam a vida pública de Jesus como uma subida das “periferias” até a capital política e religiosa. E Jesus “entra” em Jerusalém, montado num burrinho e aclamado por seus seguido-res. Escolhe um burrinho como símbolo de um messianismo de paz e simplicidade. Nada, portanto, de uma manifestação espetacular; Ele rompe com a imagem de um triunfador e despoja-se de todo indício de poder. Jesus, presença de vida nos povoados, vilas e campos, quer levar vida a uma cidade que carre-gava forças de morte em seu interior. Ele quer pôr o coração de Deus no coração da grande cidade; deseja re-criar, no coração da capital, o ícone da nova Jerusalém, a cidade cheia de humanidade e comu-nhão, o lugar da justiça e fraternidade...

O gesto profético de Jesus de “entrar em Jerusalém” nos convida a contemplar nossas cidades e nos desafia ser presença evangélica, transformadora, portadora de vida nos nossos grandes centros urbanos.
                    * Como ser portador de Boa Notícia nas grandes cidades?
                    * Como ser sinal de comunhão e do Amor misericordioso do Deus da Vida?
                    * Como transformar a vida das grandes cidades?

Cada cidade revela em seu interior uma vocação e um mistério: são muitas as maneiras de olhar a cidade e de deixar-se afetar por seus encantos e por seus desafios.
A cidade é o lugar das contradições e ambigüidades; ela é caracterizada pela mobilidade, pelo plura-lismo de culturas, pela distância econômica entre as pessoas, pelo ritmo acelerado das informações e conhecimentos...; ela oferece um espaço de socialização a partir da rua, do trabalho, da escola, da academia, do shoping center, etc...; ela é também o espaço das inovações, dos riscos, dos experimentos e da busca do novo. Nela se encontra o lugar dos sonhos, dos desejos, da liberdade e autonomia. Ao mesmo tempo, o ritmo urbano força as pessoas a viverem em contínuos deslocamentos, sem firmar relacionamen-tos profundos e alimentando o medo do outro, a auto-suficiência, a insensibilidade, o individualismo...

Por causa de seu tipo de vida e de sua espiritualidade, o seguidor de Jesus desenvolve uma relação espe-cífica com o espaço urbano. Para ele, a cidade é também o espaço para a busca e o encontro de Deus.
Podemos falar de um “típico modo de proceder cristão” em sua referência ao espaço urbano.
A cidade é um fato humano que pode e deve ser iluminado pelo Evangelho, sustentado pela graça, ani-mado pela esperança da vinda do Reino. É necessário aprender a ler a cidade com os olhos caridosos, paci-entes, misericordiosos, amigos, fecundos, cordiais.
É preciso reconhecer o bem profundo que habita o coração de tantas pessoas da cidade; é necessário perceber e sentir a força da ação do Espírito em cada canto da cidade e em cada rosto anônimo que encontramos.
Deus constrói a cidade perene, a cidade sem muralhas, a cidade da plenitude e da amizade, a cidade da fraternidade na qual todos se reconheçam como irmãos e irmãs sob um único Nome e sob um único Céu. Deus é o grande arquiteto; é Ele quem constrói, para a humanidade, a imensa cidade na qual todos se reconhecem fraternos, próximos, ternos...

O mundo urbano é, certamente, área de missão da Igreja e dos cristãos. Sua principal preocupação é a defesa integral da vida  e de seu sentido último, o mundo dos valores éticos que iluminam o homem e a mulher na sua ação no mundo.
Para concretizar essa missão, os cristãos devem assumir uma atitude testemunhal, tendo como proposta uma ética comunitária, fundada no valor sagrado da pessoa humana e de suas relações, sobretudo com o mais fraco e pobre como interpelação do Deus vivo.
O missionário na cidade, para tornar eficaz sua ação, deve estar sempre na porta de saída, com o olhar voltado para as necessidades do interior das cidades. Sua função é ser “fermento na massa”. É aquele que ultrapassa todas as fronteiras, com uma alternativa sempre nova: a Boa Notícia. O Evangelho ilumi-na a vida das cidades e exige dos  evangelizadores atitudes novas, propostas ousadas...

Como seguidores de Jesus, é preciso voltar a pôr o coração de Deus no coração da grande cidade, para renová-la a partir de dentro.
Faz-se necessário uma opção por adentrar e viver imersos, com todas as consequências, no interior dos grandes centros urbanos, em seu coração, para aí descobrir o verdadeiro coração de Deus,  que pulsa ao ritmo dos despossuídos,  dos excluídos,  dos sofredores  e dos sedentos por uma vida mais digna.
Nosso zêlo e amor pelo Evangelho e pela semente do Reino que nele está contida, deve favorecer o advento de uma “Nova Jerusalém”; é preciso cuidar o coração do “do ser humano urbano”, esvaziá-lo, limpá-lo, aquecê-lo, transformá-lo em humilde receptáculo, para que o Espírito do Senhor possa pousar-se e habitar nele como num ninho acolhedor, transmitindo-lhe vida, luz, calor, paz, ternura...
Uma das tarefas prioritárias do cristão de hoje é ajudar as comunidades cristãs a criar espaços fraternos de silêncio, de oração, pulmões que impedirão a asfixia de nossas grandes cidades;
* encontrar lugares de silêncio pacificador” na vida pública;
* nossas instituições devem ser escolas do silêncio habitado”.
A espiritualidade urbana deve nos possibilitar “paradas” com a finalidade de olhar em profundidade e “ler” tudo à luz da Palavra de Deus. A cidade é o lugar por excelência do discernimento, porque é o espaço de decisão onde se constrói o futuro comum. Lugar da política, da cultura, da educação, da saúde...  onde se forjam as mudanças, a capacidade de criar novos modos de existir, de romper com as estruturas que desumanizam e buscar o diferente, o novo, o desconhecido...

No meio das cidades encontramos homens e mulheres “especiais” que carregam alegremente, e muitas vezes com um profundo sentido crítico e político, a dor da humanidade, e se convertem assim em fator essencial de esperança para um futuro humanizador; são pessoas que prestam sua vida, sua acolhida e seus cuidados aos pobres, aos deficientes, aos toxicômanos, aos meninos de rua, aos anciãos...
Somos convidados a viver a mística dos profetas nas grandes cidades. O místico não se cansa de ser sinal de esperança e testemunha do Deus da Vida no meio das contradições da cidade. Na cidade somos chamados a abrir nossas casas e estarmos sempre prontos para receber os desafios que vem da rua.
A ação profética é sempre a busca permanente do outro, além das paredes da própria casa.

Este é um dos grandes desafios na grande cidade. Romper com o individualismo e o poder que marcam as relações entre os homens e as mulheres, para criar um marco novo, humanizador e aberto a Deus Pai, através de pequenas comunidades. Comunidades daqueles que confessam o seu amor comum pelas mesmas coisas – as mesmas esperanças,  os mesmos sonhos, a mesma utopia do Reino.
É, sobretudo, em tôrno da mesa que uma comunidade se constitui; com o gesto do “re-partir” se estabelece uma rede de relações entre as pessoas que aceitam conspirar, co-inspirar, em tôrno do fascínio da proposta de Jesus. Na verdade, a Eucaristia vivida é o sal, o levêdo, a luz e a alma da cidade.

Texto bíblico:  Mc. 11,1-10

Sugerimos uma “caminhada contemplativa” pelos espaços urbanos cotidianos, olhando, escutando, observando e sentindo o pulsar da vida nas pessoas, nas plantas, pássaros e animais.
Procure descobrir “sinais do Reino de Deus” no meio do ritmo frenético de sua cidade.
Traga à mente nomes de pessoas corajosas e criativas que contagiam e fazem crescer a esperança na sua cidade.

sexta-feira, 23 de março de 2012

MISSA DE SEGUNDA.

Prezados amigos;

O Colégio Loyola comemora 69 anos no próximo domingo, 25 de março. Em Ação de Graças por mais um ano de trabalho e caminhada fraterna, alunos, famílias, colaboradores e companheiros de obras apostólicas da Companhia de Jesus em Belo Horizonte se reúnem na próxima segunda-feira para celebrar a Eucaristia. Será um momento de louvor e gratidão a Deus pelo bem recebido em todos esses anos. O encontro está marcado para as 19h15, na Quadra Irmão Patrício.

Contamos com a presença amiga de todos nesta celebração imensamente especial.
Abraços Fraternos.

Eliene Mendes
ASSOCIAÇÃO DE PAIS DO COLÉGIO LOYOLA
Av. Contorno 7919, Cidade Jardim - BH MG
apl@aployola.com.br  |  3337.7700
 

terça-feira, 20 de março de 2012

Sugestão para rezar o quinto domingo da Quaresma-Pe. Adroaldo sj


UMA VIDA CONSUMADA FAZ FECUNDA A MORTE

“A tragédia não é quando um homem morre; a tragédia é aquilo que morre
dentro de um homem enquanto ele ainda está vivo” (Albert Schweitzer)

O sentido da vida: não há pergunta que se faça com maior angústia, e parece que todos são por ela as-
                                sombrados de vez em quando: “vale a pena viver?”
Ninguém tem uma razão  pela qual viver se não tem ao mesmo tempo uma razão  pela qual morrer.
O ser humano tem necessidade de uma causa, de canalizar todas as suas forças, seus desejos, energias, im-pulsos vitais e recursos internos e externos em direção a um objetivo no qual acredita apaixonadamente. E a ele dedicar-se com tudo que é e possui. Com intensa paixão.

A vida tem fome e sede de significado. A questão do “sentido da vida” ou a “vida com sentido” é fundamental na existência humana.
- Por quê vivemos? Para quê vivemos? Quanto vale uma vida e o quê vale na vida?
- Quem quer ficar ancorado? Quem não aspira preencher a própria vida de relatos, encontros, paixões,
  gestos, lições, projetos, idéias e sentimentos?
Sabemos que, para viver uma vida verdadeiramente humana, precisamos de sentido. Segundo Nietzsche, “aquele que tem um porquê pelo qual viver pode tolerar praticamente qualquer como”.
Ao perder o sentido de sua origem e do seu fim, o ser humano perde o sentido da própria vida.

Por trás do ritmo acelerado e stressante dos nossos tempos, esconde-se um enfraquecimento do sentido da existência. A crise pós-moderna que vivemos revela este traço sinistro: as pessoas não percebem mais razões e causas pelas quais se entregar, pelas quais dar a vida. E assim não encontram igualmente motiva-ções para viver intensamente. Segundo S. Inácio, uma pessoa vale pela causa à qual se entrega.
Muitas vezes, nossas fomes viscerais, nossos desejos que nos devoram as entranhas, nossos sonhos que nos inquietam... não encontram canais amplos para jorrar. E então se atrofiam, permanecendo reféns de uma triste mediocridade.
Surge então a “normose” que mina as forças, atrofia os sonhos e mata a criatividade. E o pior de tudo: anestesia a paixão. Se não há paixão naquilo que fazemos, tudo vira rotina cansativa, não há empenho e nem compromisso possível. “Viver a fundo” é não passar pela superfície da vida, é não perder a capa-cidade de amar, de vibrar, de buscar... Aqueles que são movidos pela paixão apostam que o ser humano tem potencial criador e foi feito para voar alto, para tentar, mil e uma vezes, alcançar cumes distantes.
“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, es-quivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade” ( C. Drummond de Andrade)

A vida humana é fecunda, é potencial humano, é explosão de criatividade... Assim como na semente há vida latente espe-rando a oportunidade de expandir-se, também no ser humano encontram-se ricas possibilidades, esperando a morte do “eu mesquinho”, para se plenificarem.
Alguém já teve a ousadia de afirmar que a morte é mais universal que a vida; todos morrem, mas nem todos vivem, porque incapazes de re-inventar a vida no seu dia-a-dia. Uma vida pensada sem “mortes” perde-se, no final, na total irresponsabilidade. E viver significa esvaziar-se do ego para deixar transpa-recer o que há de divino em seu interior. O grão de trigo que não morre, apodrece, e não multiplica as mil possibilidades latentes em seu interior.
A morte do falso eu é a condição para que a verdadeira vida se libere.
O “depois da vida” é um grande encontro onde seremos perguntados: “o quanto você viveu sua vida?”

Há um dado que nos afeta a todos nestes tempos pós-modernos: a incapacidade cultural de abordar os limites, perdas, fracassos, mortes... Vivemos uma cultura na qual a dor e a morte foram expulsas da experiência humana. É algo feio, de mau gosto, algo a ser eliminado da vida cotidiana.
Vivemos uma das grandes mentiras de nossa cultura, ou seja, a morte já não está presente no cenário cotidiano, já não existe. A morte é distante e virtual, que não afeta à nossa própria sensibilidade.
Vivemos como se tivéssemos que ser imortais. Sempre é assunto dos outros, mas nunca pode ser assunto “meu”. Quando ela está perto, as pessoas se afastam dela, ou então, ela é afastada para locais específicos. É o fracasso radical de uma cultura fundada sobre o êxito e o sucesso e, quando sente-se a presença da morte, tudo fica desestabilizado.

Mas o confronto com a morte não precisa desembocar em um desespero que possa destituir a vida de todo sentido. Ao contrário, ela pode ser uma experiência que nos faz despertar para uma vida mais intensa.
Ela nos faz reingressar na vida de uma maneira mais rica e apaixonada; ela aumenta a consciência de que esta vida, nossa única vida, deve ser vivida intensa e plenamente, acumulando o mínimo de arrependimen-to possível. Paul Theroux disse que a morte é tão dolorosa de se contemplar que nos faz “amar a vida e valorizá-la com tal paixão que ela poderia ser a causa verdadeira de toda felicidade e de toda arte”.
A experiência da morte pode servir como uma experiência reveladora, um catalisador extremamente útil para grandes mudanças na vida. “A morte, menos temida, dá mais vida”.
Pensadores mais antigos nos lembram da interdependência entre vida  e  morte.
Eles nos ensinaram que aprender a viver bem é aprender a morrer bem, e que, reciprocamente, aprender a morrer bem é aprender a viver bem. Quanto mais mal vivida é a vida, maior é a angústia da morte; quanto mais se fracassa em viver plenamente, mais se teme a morte.
S. Agostinho escreveu que “é apenas perante a morte que o caráter de um homem nasce”.
Muitos monges medievais mantinham uma caveira humana em suas celas para concentrar os pensamen-tos na mortalidade e para servir de lição à condução da vida. Montaigne sugeriu que a mesa de trabalho de um escritor deve oferecer uma boa visão do cemitério para estimular o pensamento.

E a morte não é o fim da vida, mas sua plenitude, quando esta é vivida com sentido.
A vida não deve ser corroída pela tirania do egoísmo mesquinho: vida é encontro, interação, comunhão...
Desperdiçar a vida é estragar a existência. É trágico que a pessoa jogue fora a vida. Quem conhece o valor da vida não pode degradá-la.
E a morte é processo permanente de esvaziamento do ego para viver a entrega aos outros. Este esva-ziamento não significa a anulação da “pessoa”, mas sua potenciação. Na medida em que os aspectos que a limitam diminuem, aumenta o que há de plenitude.
O essencial não é encontrar um caminho para alcançar a imortalidade, mas aprender a “morrer em Cristo”.
A vida aumenta quando compartilha e se debilita quando permanece no isolamento e na comodidade.
De fato, aqueles que mais desfrutam da vida são os que deixam a segurança da margem e se dedicam apaixonadamente à missão de comunicar vida aos outros.
O Evangelho de hoje nos ajuda a descobrir que o cuidado doentio da própria vida atenta contra a qualidade humana e cristã dessa mesma vida. Aqui descobrimos outra lei profunda da realidade: alcança-se a maturidade da vida à medida que ela é entregue para dar vida a outros.

Texto bíblico:  Jo. 12,20-33

Na oração: Somos grãos de trigo na grande seara do mundo; e o grão de trigo eterniza-se na sua entrega-doa-
                     ção para que outros matem suas fomes e vivam com sentido.
                      Aprendamos a morrer para nossos interesses mesquinhos para que os outros vivam.

Missa do dia 19/03/12 com a presença do Padre Provincial Smyda

                                                    Padre Germano e Padre Smyda.

                                           Tivemos a alegria de rever o  Padre Gui.

                                                          A Capela estava lotada.



                                                As crianças se divertiram.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Sugestão do Padre Adroaldo para rezar o evangelho do próximo domingo.


OU DEUS, OU A VIDA: o dilema que nos desumaniza

“Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho Unigênito, para que não morra todo aquele
que n’Ele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo. 3,16).

O contexto do Evangelho de hoje é a conversa noturna de Jesus com Nicodemos, uma autoridade religio-as, membro do Sinédrio. Nicodemos representante da religião judaica, Jesus portador de vida.
De fato, muitas pessoas que crêem, com freqüência, estabelecem uma separação entre Deus e a vida; ou seja, Deus e vida como realidades dissociadas e, muitas vezes, contrapostas.
São muitos aqueles que vêem na vida, com seus males, seus sofrimentos e suas contradições, a grande dificuldade para acreditar que existe um Deus infinitamente bom e misericordioso. E, em sentido contrá-rio, outros vêem em Deus o grande obstáculo para viver, desenvolver e desfrutar a vida em toda sua plenitude; pois o Deus que lhes é anunciado é o Deus que manda, proíbe, ameaça e castiga.
Tem-se a impressão que, para viver a vida com todas as suas possibilidades e suas riquezas, é preciso prescindir de Deus.



Na realidade, o que acontece é que, muitas vezes, em Nome de Deus, reprime-se tudo aquilo que na vida significa dinamismos, impulsos, forças... enfim, tudo aquilo que o ser humano mais deseja e necessita: viver com segurança, com dignidade, respeitado em seus di-reitos, acolhido em suas diferenças, com a possibilida-de real e concreta de viver prazerosamente.
Com isso, a religião e a vida entram em conflito, porque a religião complica a vida de muitas pessoas que levam a sério sua experiência de Deus. E a vida, com seus dinamismos, seus direitos e seus instintos mais básicos, é vista com suspeita, como um perigo que impede fazer uma experiência de Deus. 
Daí as conseqüências funestas desta confrontação entre Deus e a vida: a centralidade do sacrifício e da renúncia, a repressão dos instintos da vida, a violência contra os dinamismos afetivos, a agressão ao prazer e à alegria de viver...

No entanto, o Evangelho de hoje deixa muito claro que a mediação entre os seres humanos e Deus é a vida, não a religião. A religião é uma expressão fundamental da vida e deve estar sempre a seu serviço.
Como conseqüência, a religião é aceitável só na medida em que serve para potenciar e dignificar a vida, inclusive o prazer e a alegria de viver. Quando a religião é vivida de maneira a agredir à vida e à dignidade das pessoas, ela se desnaturaliza e se desumaniza, e acaba sendo uma ofensa ao Deus revelado por Jesus.
De fato, para Jesus, o primeiro é a vida e não a religião. Ele colocou a religião onde deve estar: a serviço da vida, para dignificá-la. Ele tomou partido da vida, contra aqueles que, a partir da religião, cometiam todo tipo de agressão contra a vida.
Jesus se deixou conduzir pelo Espírito do Senhor para aliviar o sofrimento humano, levar a Boa Nova aos pobres, devolver a vista aos cegos, dar a liberdade aos presos e oprimidos, dar vida àqueles que tinham a vida massacrada ou diminuída, devolver a dignidade da vida àqueles que eram encurvados pelo peso da opressão e do legalismo.

É bom lembrar que no Evangelho de João o substantivo “vida” aparece 24 vezes; todos os “sinais” (milagres) que ele escolheu se referem à vida, pois são ações de Jesus que dão vida, que devolvem a vida a quem a tem limitada ou perdida.
Ele alegra a vida numa festa de casamento, fazendo com que as pessoas bebessem um excelente vinho (Jo. 2,1-11); devolve a saúde a um jovem que está morrendo (Jo. 4,46-54); cura um pobre paralítico que leva trinta e oito anos sem poder mover-se (Jo. 5,1-9); alimenta milhares de pessoas que, no deserto, não tem o que comer (Jo. 6,1-14); recupera a visão a um cego de nascimento (Jo. 9,1-38); e, mais significativo ainda, devolve a vida a morto em processo de decomposição (Jo. 11,1-46).

Em todas estas situações o que está em jogo é a vida. Não “outra” vida, mas a “vida”.
Para o evangelista João, a “vida” é uma totalidade, que é já a vida presente, a vida atual, mas uma vida que tem tal plenitude que, com toda razão, podemos chamá-la de “vida eterna”, enquanto que é uma vida com tal força e tão sem limites, que nem a morte mesma poderá com ela.
Para fazer-se presente neste mundo, Deus não se pôs a dar-nos doutrina e a ensinar-nos verdades, mas  apresentou-se a nós na vida de um Homem que nasceu pobre, que viveu entre os excluídos e que “morreu de tanto viver”.
Por isso, o sinal decisivo de que alguém crê no Deus de Jesus está na vida que leva; ou seja, está na experiência de viver como viveu Jesus de Nazaré. Isso quer dizer que o sinal de que uma pessoa encontrou o Deus é quando ela se deixa invadir pelo humano e é sensível a toda expressão de vida; ela “aproxima-se da luz” (Jo. 3,20) quando de verdade se relaciona com os outros como Jesus se relacionou, sente o que Jesus sentiu, vive o que Jesus viveu.

A surpresa e a riqueza de cada momento vivido intensamente, já é antecipação do que será a vida plena. Viver a vida neste mundo, em comunhão com todas as expressões de vida, é conhecer a alegria de viver como se fôssemos eternos. Podemos “viver de modo eterno” vivendo as experiências que são eternas: amar, perdoar, ajudar, compreender, aceitar, consolar...
Podemos falar de uma plenitude de vida, que com toda verdade, pode-se chamar “vida eterna”, porque transcende os limites deste mundo. Quem não encontra a Deus “nesta” vida, não o encontrará jamais.
A nos revela que fomos feitos por mãos celestiais, chamados à vida, para a liberdade, para a bondade, para a amplidão dos céus. Confessamos que a vida é de Deus e, como Ele, é eterna.
A espiritualidade que o Evangelho apresenta não é um projeto que centra o sujeito em si mesmo, em sua própria perfeição, ou na aquisição de determinadas virtudes, mas um projeto centrado nos outros, orienta-do aos demais, com a intenção de aliviar o sofrimento alheio. É um projeto centrado na defesa e no respeito à vida, na luta por sua dignidade.
Deste modo, aparece claro que na espiritualidade cristã, funde-se e confunde-se a causa de Deus com a causa da vida; os cristãos encontram a Deus somente na medida em que defendem, respeitam e dignificam a vida.

Texto bíblico: Jo. 3,14-21

Na oração:  “Senhor, saiba eu caminhar sob o impulso da Vida, aceitando crescer graças ao diferente.
                        As cordas da minha vida sejam dedilhadas pelo delicado sopro de vosso Espírito.
Há uma força vital que nos une a todos.
E então dê graças a Deus por tantas vidas, por fazer parte de um mar de vida, que às vezes é tormentoso e outras, pacífico, mas sempre incrivelmente belo”.