quarta-feira, 28 de março de 2012

Para rezar o Domingo de Ramos.


JESUS “ENTRA” EM JERUSALÉM

Para uma “espiritualidade urbana”

Galiléia foi a primeira decisão importante que Jesus tomou no início de sua vida pública.
Ele viu claramente que o melhor lugar onde Ele poderia e deveria comunicar sua mensagem era preci-samente fazer-se presente nos povoados, nas pequenas vilas, nos campos e à beira-mar, lugares habitados por humildes camponeses e pescadores, pessoas pobres e marginalizadas, doentes e excluídos.
O fato é que Jesus, para realizar sua missão de Mestre, não se dirigiu à capital, Jerusalém, nem à impor-tante província da Judéia. Para comunicar uma “boa notícia” à sociedade de seu tempo, não buscou con-quistar para si os notáveis e as classes abastadas, nem procurou os postos de privilégios, nem o favor dos mais influentes, e nem, muito menos, os que detinham o poder e o dinheiro nos grandes centros urbanos.

Todos sabemos que as “mudanças profundas e duradouras” na sociedade não vem de cima, mas de baixo, a partir da solidariedade e da identificação de vida com os últimos deste mundo. Ali, nas periferias e nas margens, há uma esperança latente e alentadora daqueles que se empenham por imprimir um movimento novo à história; é nele que está a semente de uma vida diferente, criativa e mais promissora. 
E Jesus foi o ponto de partida de uma ousada mudança na história da humanidade.
Os evangelistas sinóticos relatam a vida pública de Jesus como uma subida das “periferias” até a capital política e religiosa. E Jesus “entra” em Jerusalém, montado num burrinho e aclamado por seus seguido-res. Escolhe um burrinho como símbolo de um messianismo de paz e simplicidade. Nada, portanto, de uma manifestação espetacular; Ele rompe com a imagem de um triunfador e despoja-se de todo indício de poder. Jesus, presença de vida nos povoados, vilas e campos, quer levar vida a uma cidade que carre-gava forças de morte em seu interior. Ele quer pôr o coração de Deus no coração da grande cidade; deseja re-criar, no coração da capital, o ícone da nova Jerusalém, a cidade cheia de humanidade e comu-nhão, o lugar da justiça e fraternidade...

O gesto profético de Jesus de “entrar em Jerusalém” nos convida a contemplar nossas cidades e nos desafia ser presença evangélica, transformadora, portadora de vida nos nossos grandes centros urbanos.
                    * Como ser portador de Boa Notícia nas grandes cidades?
                    * Como ser sinal de comunhão e do Amor misericordioso do Deus da Vida?
                    * Como transformar a vida das grandes cidades?

Cada cidade revela em seu interior uma vocação e um mistério: são muitas as maneiras de olhar a cidade e de deixar-se afetar por seus encantos e por seus desafios.
A cidade é o lugar das contradições e ambigüidades; ela é caracterizada pela mobilidade, pelo plura-lismo de culturas, pela distância econômica entre as pessoas, pelo ritmo acelerado das informações e conhecimentos...; ela oferece um espaço de socialização a partir da rua, do trabalho, da escola, da academia, do shoping center, etc...; ela é também o espaço das inovações, dos riscos, dos experimentos e da busca do novo. Nela se encontra o lugar dos sonhos, dos desejos, da liberdade e autonomia. Ao mesmo tempo, o ritmo urbano força as pessoas a viverem em contínuos deslocamentos, sem firmar relacionamen-tos profundos e alimentando o medo do outro, a auto-suficiência, a insensibilidade, o individualismo...

Por causa de seu tipo de vida e de sua espiritualidade, o seguidor de Jesus desenvolve uma relação espe-cífica com o espaço urbano. Para ele, a cidade é também o espaço para a busca e o encontro de Deus.
Podemos falar de um “típico modo de proceder cristão” em sua referência ao espaço urbano.
A cidade é um fato humano que pode e deve ser iluminado pelo Evangelho, sustentado pela graça, ani-mado pela esperança da vinda do Reino. É necessário aprender a ler a cidade com os olhos caridosos, paci-entes, misericordiosos, amigos, fecundos, cordiais.
É preciso reconhecer o bem profundo que habita o coração de tantas pessoas da cidade; é necessário perceber e sentir a força da ação do Espírito em cada canto da cidade e em cada rosto anônimo que encontramos.
Deus constrói a cidade perene, a cidade sem muralhas, a cidade da plenitude e da amizade, a cidade da fraternidade na qual todos se reconheçam como irmãos e irmãs sob um único Nome e sob um único Céu. Deus é o grande arquiteto; é Ele quem constrói, para a humanidade, a imensa cidade na qual todos se reconhecem fraternos, próximos, ternos...

O mundo urbano é, certamente, área de missão da Igreja e dos cristãos. Sua principal preocupação é a defesa integral da vida  e de seu sentido último, o mundo dos valores éticos que iluminam o homem e a mulher na sua ação no mundo.
Para concretizar essa missão, os cristãos devem assumir uma atitude testemunhal, tendo como proposta uma ética comunitária, fundada no valor sagrado da pessoa humana e de suas relações, sobretudo com o mais fraco e pobre como interpelação do Deus vivo.
O missionário na cidade, para tornar eficaz sua ação, deve estar sempre na porta de saída, com o olhar voltado para as necessidades do interior das cidades. Sua função é ser “fermento na massa”. É aquele que ultrapassa todas as fronteiras, com uma alternativa sempre nova: a Boa Notícia. O Evangelho ilumi-na a vida das cidades e exige dos  evangelizadores atitudes novas, propostas ousadas...

Como seguidores de Jesus, é preciso voltar a pôr o coração de Deus no coração da grande cidade, para renová-la a partir de dentro.
Faz-se necessário uma opção por adentrar e viver imersos, com todas as consequências, no interior dos grandes centros urbanos, em seu coração, para aí descobrir o verdadeiro coração de Deus,  que pulsa ao ritmo dos despossuídos,  dos excluídos,  dos sofredores  e dos sedentos por uma vida mais digna.
Nosso zêlo e amor pelo Evangelho e pela semente do Reino que nele está contida, deve favorecer o advento de uma “Nova Jerusalém”; é preciso cuidar o coração do “do ser humano urbano”, esvaziá-lo, limpá-lo, aquecê-lo, transformá-lo em humilde receptáculo, para que o Espírito do Senhor possa pousar-se e habitar nele como num ninho acolhedor, transmitindo-lhe vida, luz, calor, paz, ternura...
Uma das tarefas prioritárias do cristão de hoje é ajudar as comunidades cristãs a criar espaços fraternos de silêncio, de oração, pulmões que impedirão a asfixia de nossas grandes cidades;
* encontrar lugares de silêncio pacificador” na vida pública;
* nossas instituições devem ser escolas do silêncio habitado”.
A espiritualidade urbana deve nos possibilitar “paradas” com a finalidade de olhar em profundidade e “ler” tudo à luz da Palavra de Deus. A cidade é o lugar por excelência do discernimento, porque é o espaço de decisão onde se constrói o futuro comum. Lugar da política, da cultura, da educação, da saúde...  onde se forjam as mudanças, a capacidade de criar novos modos de existir, de romper com as estruturas que desumanizam e buscar o diferente, o novo, o desconhecido...

No meio das cidades encontramos homens e mulheres “especiais” que carregam alegremente, e muitas vezes com um profundo sentido crítico e político, a dor da humanidade, e se convertem assim em fator essencial de esperança para um futuro humanizador; são pessoas que prestam sua vida, sua acolhida e seus cuidados aos pobres, aos deficientes, aos toxicômanos, aos meninos de rua, aos anciãos...
Somos convidados a viver a mística dos profetas nas grandes cidades. O místico não se cansa de ser sinal de esperança e testemunha do Deus da Vida no meio das contradições da cidade. Na cidade somos chamados a abrir nossas casas e estarmos sempre prontos para receber os desafios que vem da rua.
A ação profética é sempre a busca permanente do outro, além das paredes da própria casa.

Este é um dos grandes desafios na grande cidade. Romper com o individualismo e o poder que marcam as relações entre os homens e as mulheres, para criar um marco novo, humanizador e aberto a Deus Pai, através de pequenas comunidades. Comunidades daqueles que confessam o seu amor comum pelas mesmas coisas – as mesmas esperanças,  os mesmos sonhos, a mesma utopia do Reino.
É, sobretudo, em tôrno da mesa que uma comunidade se constitui; com o gesto do “re-partir” se estabelece uma rede de relações entre as pessoas que aceitam conspirar, co-inspirar, em tôrno do fascínio da proposta de Jesus. Na verdade, a Eucaristia vivida é o sal, o levêdo, a luz e a alma da cidade.

Texto bíblico:  Mc. 11,1-10

Sugerimos uma “caminhada contemplativa” pelos espaços urbanos cotidianos, olhando, escutando, observando e sentindo o pulsar da vida nas pessoas, nas plantas, pássaros e animais.
Procure descobrir “sinais do Reino de Deus” no meio do ritmo frenético de sua cidade.
Traga à mente nomes de pessoas corajosas e criativas que contagiam e fazem crescer a esperança na sua cidade.

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