terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Curso de Especialização em Teologia


Caro amigo,
O Centro Loyola e a FAJE - Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - oferecem um Curso de Especialização em Teologia(Pós-graduação Lato Sensu). Trata-se de um aprofundamento da fé em diálogo com o mundo contemporâneo, destinada a agentes de pastoral, líderes paroquiais, professores de ensino religioso de escolas confessionais, catequistas e pessoas que desejam amadurecer sua fé.
As aulas são ministradas às segundas e quartas-feiras, das 19h30 às 21h30, no Centro Loyola, durante três anos.
Veja mais detalhes do curso no link abaixo:
http://pos-graduacaoemteologia.blogspot.com.br/

As matrículas estão abertas. Maiores informações pelo: 3342-2847.

Equipe de Coordenação do Centro Loyola-BH.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Texto para o próximo Domingo.



A “AUTORIDADE” DO GRANDE MESTRE

“Ele ensinava nas suas sinagogas e todos o elogiavam” (Lc. 4,15)

Lucas nos apresenta Jesus como o grande Mestre: seu ensinamento é novo, pois, ao mesmo tempo que ensina, liberta. O Evangelho de hoje marca o início da missão de Jesus: conduzido pela força do Espírito,  Ele começa justamente lá onde “ninguém era capaz de dirigir o olhar e o coração”.
Não há dúvida que Lucas persegue um objetivo claro: fazer deste discurso em Nazaré o programa daquilo que vai ser toda a atuação de Jesus na Galiléia.
A cena na Sinagoga em Nazaré é impactante. Não é casual que Lucas a eleja como ponto de partida de todo o ministério de Jesus. Chama a atenção, antes de tudo, a “ousadia” de Jesus: ele, o carpinteiro do povo, sem qualificação alguma, se levanta na sinagoga de seu próprio povo e se reveste da função do escriba, se apresenta como mestre, diante da admiração e espanto de todos.
Lucas descreve com todo detalhe o que Jesus faz na sinagoga: põe-se de pé, recebe o livro sagrado, ele mesmo busca uma passagem de Isaías, lê o texto, fecha o livro, o devolve e senta-se. Todos  escutam com atenção as palavras escolhidas por Ele, pois revelam a missão à qual se sente chamado por Deus.
Diferentemente dos mestres da Lei e dos escribas, cujo ensinamento está centrado em “decorar” e conservar a Lei, o ensinamento de Jesus parte da realidade humana de sofrimento, exclusão, preconceito...
Aqui estamos numa sinagoga em dia de sábado: lugar e dia de comunhão, de encontro, de festa... No entanto, na mesma sinagoga Jesus convida a ter um olhar mais amplo para a realidade da exclusão.
Surpreendentemente, o texto não fala em organizar uma nova religião, de impor a carga de uma nova lei ou de implantar um culto mais digno... mas de comunicar libertação, esperança, luz e graça aos mais pobres e excluídos da terra.

A primeira coisa que se destaca, no evangelho de hoje, é a apresentação que Lucas faz de Jesus como alguém que é movido “pela força do Espírito”. Nem sempre somos conscientes das “forças” que nos movem em nosso viver cotidiano, nem das motivações reais que nos impulsionam e nem do sentido daquilo que fazemos (para quê? para quem?).
No entanto, o que chama a atenção em Jesus é a clareza de suas motivações e a coerência com as mesmas: é o homem íntegro e verdadeiro, lúcido e transparente. Deixa-se conduzir pelo mais profundo de si mesmo, pelo Espírito; deixa que Deus viva nele; deixa Deus ser Deus nele.
Conduzido pelo Espírito de Deus, Jesus se sente enviado aos pobres, orientando toda sua vida para os mais necessitados, oprimidos e humilhados. Esta é a orientação que Ele quer imprimir à história humana. Os últimos serão os primeiros a conhecer essa vida mais digna, livre e ditosa que Deus quer, desde agora, para todos seus filhos e filhas.

A missão de Jesus é a de aliviar o sofrimento humano; Ele reconstrói o ser humano ferido, fragilizado, privado de sua dignidade, sem poder dar direção à sua própria vida. Jesus “desce” em direção a tudo o que desumaniza as pessoas: os traumas, as experiências de rejeição e exclusão, as feridas existenciais, a falta de perspectiva frente ao futuro, o peso do legalismo e moralismo, a força de uma religião que oprime e reforça os sentimentos de culpa, as instituições que atrofiam o desejo de viver...
Enfim, tudo aquilo que prejudica as pessoas, provoca miséria, tira a dignidade do homem  e da mulher.
Lucas destaca que “todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos n’Ele”.
E ao “fixar os olhos n’Ele” os ouvintes são movidos a ampliar o olhar e voltar-se para aqueles que são vítimas do sistema social e religioso de seu tempo.
As pessoas percebem n’Ele um novo Mestre, cujo ensinamento desperta o assombro e a admiração.

Na pregação e na prática de Jesus nós nos deparamos com uma espiritualidade que vem de “baixo”,  que brota do seu encontro com a fragilidade humana. Ele, conscientemente, se compromete com os publi-canos e pecadores, com os pobres e doentes, com os presos... porque sente que eles estão abertos ao amor de Deus.
Por isso, a partir do homem Jesus de Nazaré, o conceito de Deus mudou, como também mudou a maneira de encontrá-Lo. Não podemos encontrar Deus senão fazendo o que Ele fez, ou seja, se Deus se humanizou em Jesus, “o único meio de encontrar a Deus é fazer-nos profundamente humanos”.
Acontece que, para muitas pessoas, é mais fácil amar a Deus que amar alguém muito concreto, com seu nome, seu rosto, seus defeitos e suas limitações; devem aventurar-se a compartilhar alegrias e sofrimen-tos, renunciando a muitas coisas às quais seguramente não estão dispostas a renunciar.
Portanto, o sentido de nossa existência cristã não está em “divinizar-nos”, mas em “humanizar-nos” (descermos até o fundo de nossa condição humana). Porque o “ponto de encontro” entre Deus e os seres humanos não foi só o “divino”, senão o “divino humanizado”.
A questão fundamental é perguntar se nosso Deus quer, antes de tudo, o culto do templo e seus sacrifícios ou prefere, antes de mais nada, que se ponha em prática o programa das bem-aventuranças (traços daquilo que de mais humano existe em nós).
Jesus é tão entranhavelmente humano que nos desconcerta a ponto de parecer estranho, extravagante e, para muitos, escandaloso. Mas, precisamente dessa maneira Ele nos revela, não só sua profunda humani-dade, senão o grau de “desumanização” a que podemos submeter os outros, sem darmos conta disso.
Quando dizemos que “Deus se fundiu com o humano”, na verdade estamos afirmando que o humano é o único meio e a única possibilidade para termos acesso ao divino.

Texto bíblico:  Lc. 1,1-4; 4,14-21

Na oração: Antes de começar a narrar a atividade de Jesus, Lucas quer deixar muito claro a seus leitores qual é a paixão que impulsiona Jesus e qual é o horizonte de sua atuação. Os cristãos devem saber em quê direção o Espírito de Deus conduz Jesus, pois segui-Lo é precisamente caminhar em sua mesma direção.
Não é possível viver e anunciar Jesus Cristo se não é a partir da defesa dos últimos e da solidariedade com os excluídos. Se o que fazemos e proclamamos, como cristãos, não é captado como algo bom e libertador pelos que mais sofrem, quê Evangelho estamos anunciando? A quê Jesus estamos seguindo? Quê espiritualidade estamos promovendo? Estamos caminhando na mesma direção que Jesus caminhou?
Esse mesmo Espírito que atuou em Jesus está atuando sempre em cada um de nós. E sob a força do Espírito seremos deslocados para as “margens” da exclusão. Conectemos com essa energia divina que já está dentro de nós, e a espiritualidade será o mais espontâneo e natural de nossa vida.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Texto para o próximo domingo.



ELES NÃO TEM MAIS VINHO

Nós cristãos temos sacralizado coisas, templos, objetos, títulos..., nos quais pensamos encontrar Deus e nos relacionar com Ele. No entanto, como seguidores de Jesus e enraizados no Evangelho, precisamos urgentemente caminhar para a “sacralização”  do ser humano.
É chegado o momento de assumir de verdade uma questão capital. O vazio dos templos, o pouco apreço e a baixa estima das práticas piedosas, dos dias religiosos, das coisas da religião... é a ocasião privilegiada que os “sinais dos tempos” nos servem de bandeja, para que caiamos na conta de que está acontecendo um “deslocamento” do sagrado, uma autêntica “metamorfose” do sagrado, que não é um atentado contra a religião e contra Deus. Trata-se, pelo contrário, de uma “recuperação” do sagrado no sentido autêntico dado por Jesus e que se encontra no cristianismo nascente.
O verdadeiramente sagrado, que é preciso respeitar e dignificar, é o ser humano, que está no centro da atividade e ensinamento de Jesus e acima das instituições religiosas.

A questão está clara. Jesus deslocou Deus dos lugares sagrados, O separou dos objetos sagrados, dos tem-plos sagrados... e O colocou em cada ser humano, O revelou no meio da vida, das relações, do trabalho, da luta, das festas...
Este “deslocamento” de Deus é percebido claramente na cena das “Bodas de Caná”,  (Jo. 2,1-12).
Em quê consistiu o primeiro “sinal” realizado por Jesus, no evangelho de S. João?
Mergulhando mais a fundo na cena damo-nos conta de que a água que Jesus transformou em vinho não era água para os usos domésticos ou, mais precisamente, para usos “profanos”; em outras palavras, não era “água para a vida” (beber, preparar refeições, lavar-se, regar...), mas era “água para a religião”.
O Evangelho diz isso expressamente: “Havia ali seis talhas de pedra para a purificação dos judeus, com capacidade de setenta a cem litros cada”.
Portanto, seiscentos litros de água, armazenadas em talhas de pedra. Expressa-se, assim, em linguagem metafórica, a enormidade e o peso da religião judaica; representa todo o sistema da observância ritual judaica, que impedia as pessoas viverem mais plenamente.

Jesus, na primeira oportunidade que teve, suprimiu a “água da religião”  e transformou-a em vinho, no generoso “vinho da vida”, sinal da abundância de vida e do prazer de viver.
Definitivamente, o que Jesus quis dizer, mediante o primeiro dos “sinais”  que realizou em sua vida, foi que a velha ordem religiosa havia terminado. A partir de então, Deus manifesta sua “glória”  de outra maneira. Jesus traça e marca uma nova ordem: Deus deixou de impor e exigir rituais religiosos e purifica-ções sagradas. Em vez disso, Deus se comunica “na vida”, no prazer da vida, na alegria de saborear a vida e a festa, em tudo o que, de maneira espontânea, evoca o melhor vinho que nós, humanos, podemos beber neste mundo.
Jesus “des-sacralizou” o templo, o sábado, o sacerdócio, as instituições religiosas judaicas, e “sacralizou” a festa como tempo e espaço de humanização.
A “glória de Deus”, a partir de Jesus, não se manifesta mais no Templo, nos sacrifícios e nas solenidades litúrgicas, mas no prazer da festa e na alegria dos amantes que compartilham o melhor vinho.
Isso é muito humano! E exatamente por isso é tão divino.

Não nos esqueçamos de que tudo isso aconteceu em uma festa de casamento.
Essa é a razão pela qual é tão difícil converter-se ao Evangelho.
De uma forma ou de outra, todos nós ouvimos, a todos nós chegou a mensagem da religião que prega a ética do dever e da renúncia, da moral, do sacrifício e da mortificação, da superação, da paciência, da privação de todo bem e, acima de tudo, a negação do prazer proporcionado pelo amor entre as pessoas.
Ao abolir o “sagrado” das instituições religiosas e do culto, abafadores de tantas injustiças, Jesus inaugura a normalidade do profano, do secular, da vida cotidiana, da vida partilhada e festiva...
Nossa cultura e nossa religião nos educaram nessa mentalidade. E não nos explicaram que o verdadeira-mente difícil é amar buscando sempre a felicidade da outra pessoa, sua realização, sua alegria, sua liberdade, sem pretender jamais dominá-la, nem fazê-la à nossa imagem e semelhança, em jamais pedir algo em troca. Amar assim, com tal transparência de sentimentos e de intenções, isso é pureza de coração. Por essa razão, aí nos deparamos todos com o grande obstáculo para nos deixarmos deslumbrar pela “glória” do Senhor.

Por essa razão, a grande revolução trazida por Jesus, na história das tradições religiosas e da humanidade, consistiu em demonstrar que precisamente a divinização do ser humano consiste em sua mais profunda e radical humanização.
Jesus entendeu e viveu a religião “de outra maneira”. Jesus entendeu a religião de um modo que sua forma de praticá-la não se ajustou ao modelo estabelecido até então. Jesus foi um leigo, que não fundou nenhum templo, nem levantou altares, nem organizou uma classe sacerdotal, nem impôs jejuns e privações ascéticas, nem dispôs cerimônias rituais ou pu-rificações sagradas. De nada disso falam os Evangelhos.
Pelo contrário, os relatos evangélicos atestam muitas vezes que Jesus teve sérios conflitos com a religião sagrada de seu tempo, a ponto dos sacerdotes daquela religião verem n’Ele um perigo, uma ameaça; ou seja, o perigo e a ameaça que os “sinais” representavam para o “lugar santo” (templo) e sua religião em geral. Sabemos que Jesus disse a uma mulher samaritana que havia chegado a hora em que Deus não é mais adorado neste ou naquele templo. O que Deus quer é a adoração “em espírito e em verdade”.
O Deus de Jesus está deveras no templo de sempre: no ser humano.
Não podemos imaginar Deus distante do humano, ou, pior ainda, em oposição ao humano e até rival do mais humano que há em nós.
Nós cristãos cremos no mistério da “encarnação”. Quando falamos desse “mistério”, estamos nos refe-rindo não só à divinização do ser humano, mas igualmente à humanização de Deus.
Jesus nos revela um Deus tão profundamente humano que n’Ele fica desterrada qualquer forma de manifestação de desumanidade. E somente podemos crer no Deus de Jesus na medida, e só na medida, em que sejamos profundamente humanos.

Na oração: “Encontrar Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus”; “Ver Deus em tudo e tudo
                    em Deus”; “Em tudo amar e servir”... são expressões inacianas que revelam uma atitude con-templativa perante a vida.
- Sua experiência de Deus é vivida somente nos tempos de oração-celebração, ou também é sentida no ritmo
  cotidiano de sua vida?
- Quem é o Deus em quem você crê? É o Deus da lei, do sacrifício, cuja presença atrofia  de tudo o que é hu-
  mano... ou é o  Deus de ternura, o Deus da vida e da festa...?

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Para rezar o Batismo de Jesus e o nosso compromisso batismal. Um abraço a todos Pe. Adroaldo sj



BATISMO: Jesus mergulha nas “águas da humanidade”

“O céu se rasgou e viu-se o Espírito descer sobre Ele” (Lc. 3,21-22)

Terminado o “tempo natalino”, começamos hoje o “tempo comum” (Ano C), ou seja, a vida pública de Jesus, sua missão como Filho em favor dos filhos. O relato do batismo – que marca a passagem da vida em Nazaré para a vida peregrina – faz referência a uma experiência fundante de Jesus: confirmado pelo Pai, impulsionado pelo Espírito, Ele descobre o sentido de sua vida e a missão que devia realizar.
O batismo de Jesus implica uma profunda experiência espiritual, muito ligada à sua atitude humilde de a-proximar-se do rio Jordão, onde as pessoas simples do povo buscam no batismo de João uma purificação de suas vidas.
Jesus “desce” ao Jordão, gesto que condensa sua descida do céu à terra, sua “kénosis”,  a radicalização de sua Encarnação. É uma “descida” às águas da humanidade
Nesse sentido, o batismo não é a prova da divindade de Jesus, mas a prova de uma verdadeira huma-nidade; Jesus “desce” ao Jordão, submerge na vida e na condição humana e ali faz a experiência de ser conduzido pelo Espírito em favor da humanização de todos.

Ao sair do Jordão, Jesus experimenta uma “teofania” (manifestação) que revela seu mistério mais profun-do: o Céu deixa de estar em silêncio, o Céu não se compraz na Lei e no Templo, o Céu se compraz em Jesus que, a partir de sua profunda percepção do Deus de Israel como Ternura e Fonte da Vida, converte sua vida em uma Boa Noticia para os abatidos da casa de Israel.
O céu se abre e sobre a terra começa a caminhar um Homem cheio do Espírito. Esse Espírito que desce sobre Ele é sopro de Deus que cria vida, a força que renova e cura a humanidade ferida, o amor que trans-forma tudo. Sob o impulso do Espírito Jesus se dedica a libertar a vida, a curá-la e a fazê-la mais humana.
Por isso, o grande protagonista da liturgia de hoje é o Espírito. A missão de Jesus não pode ser entendida a não ser pela experiência de deixar-se conduzir pelo mesmo Espírito.
Quando consideramos profundamente a vida de Jesus, o que Ele faz, o que Ele sente e o que Ele diz, temos esta evidência: este homem é inexplicável sem o Espírito.
Sem esse Espírito tudo se apaga no cristianismo. A confiança em Deus desaparece. A fé se debilita. Jesus fica reduzido a um personagem do passado, o Evangelho se converte em letra morta. O amor se esfria e a Igreja não passa de uma instituição religiosa a mais.
Sem o Espírito de Jesus, a liberdade se atrofia, a alegria se apaga, a celebração se converte em costume, a comunhão se esfacela. Sem o Espírito a missão é esquecida, a esperança morre, os medos crescem, o se-guimento de Jesus desemboca na mediocridade religiosa (cf. Patriarca Atenágoras).

No batismo, Jesus rompe com a “normalidade” de sua vida cotidiana e começa a ver tudo a partir de um horizonte mais amplo. Ele sente um chamado real a olhar a humanidade, com suas feridas e possibili-dades, a partir da consciência de uma fraternidade ampla. Ao descer às margens do Jordão, Jesus desloca-se para as margens da huma-nidade, rompe fronteiras, abre os olhos a uma realidade mais ampla...
Ao “entrar na fila dos pecadores” Jesus descobre novos rostos, novos dramas, novas histórias... e se deixa empapar (banhar) por esta realidade carente de sentido e de horizontes. Ao conectar-se com esta realidade, Jesus carrega a própria história de um hori-zonte diferente, na qual cabem outras possibilidades e outras res-ponsabilidades. Descobre uma perspectiva mais ampla que o aju-da a formular melhor o sentido de seu chamado e de sua própria missão.

A festa do batismo de Jesus é uma ocasião especial para repensar nosso batismo, um convite permanente para relançar-nos em Sua aventura, de deixar-nos invadir pelo Seu Espírito, de comprometer-nos com Seu Reino.
Na vivência cristã, nosso maior risco é o esquecimento de Jesus e o descuido de seu Espírito. É preciso voltar ás fontes, à raiz, recuperar o Evangelho em toda sua pureza e verdade, deixar-nos batizar pelo Espírito de Jesus. Se não nos deixamos reavivar e recriar por esse Espírito, nós cristãos não teremos nada importante a contribuir com a sociedade atual, tão vazia de interioridade, tão incapaz para o amor solidário e tão carente de esperança.

Sabemos que todo ser humano sente em seu interior a força do Espírito que rompe as barreiras de seu egoísmo, que o expande para além de si mesmo, que o arranca de seus “lugares estreitos”...
Nesse sentido, o batismo significa uma experiência de rompimento  de fronteiras profundas, de desloca-mento para novos horizontes, de alargamento do coração... um movimento de expansão de todo o ser. “Experiência” que implica emoção e descoberta, com sabor do risco,  da criatividade, da ousadia...
Da experiência batismal emerge uma pessoa internamente reconstruída, com vontade de sair daquilo que a limita, empobrece, degrada...; é a experiência de alguém que é impelido a lançar-se, a assumir novos riscos, a deslocar-se para as novas encruzilhadas de si mesmo e da história.
Para “viver o batismo”, é preciso tornar-se velejador de mar aberto, livre e desprendido, abrir-se para o novo e diferente, deixando-se conduzir pela correnteza do rio... e “passar para a outra margem”.
Essa “travessia” exige mudança de atitude, pôr-se a caminho, êxodo, sair-de-si... Sair da margem conhecida, velha, rotineira... para encontrar a nova margem da relação, do compromisso, dos sonhos...;
lugar provocador de mudanças, de onde brotam as grandes experiências, as intuições, os ideais vitais...
“Não basta fazer viagens, de vez em quando, às fronteiras, levar uma doação, fazer uma reporta-gem impactante e lançá-la na torrente midiática que se expande pelo mundo inteiro. Nem sequer é suficiente permanecer ali por algum tempo. É necessário fincar raízes profundas nas realidades fron-teiriças para estar solidamente enraizados, para pertencer a esse mundo, para ser daí” (Benjamín G. Buelta sj).

Textos bíblicos:   Lc. 3,15-16.21-22

Na oração: Ao “descer” junto às margens do nosso Jordão, podemos atingir experiências imprevistas e surpre-
                     endentes, ou reconhecer, através do murmúrio das águas, “vozes novas” que nos incitam a peregri-nar para as regiões desconhecidas do nosso próprio interior. Só assim, poderemos vislumbrar o outro lado e tocar as raízes  mais profundas que dão sentido e consistência ao nosso viver.
Recordar (lembrar com o coração) dimensões da vida que precisam ser ampliadas a partir da vivência do batismo. Recordar medos, entraves, obstáculos... que limitam sua vida batismal.