Esse é o cantinho da Comunidade que participa da Jornada Inaciana de Acolhida do Colégio Loyola de Belo Horizonte.
quinta-feira, 30 de maio de 2013
quarta-feira, 29 de maio de 2013
Amigos e amigas, próximo domingo reiniciamos o tempo litúrgico conhecido como "Tempo Comum"; este ano (Ano C) estamos seguindo o evangelista Lucas. Será uma longa caminhada contemplativa (até o Advento), tendo "os olhos fixos em Jesus" e deixando-se ensinar por Ele. Segue uma sugestão para rezar o Evangelho do próximo domingo. Um abraço Pe. Adroaldo sj
JESUS: A FORÇA E A SEDUÇÃO DE SUAS PALAVRAS
“...não sou
digno de que entres em minha casa, mas dize uma palavra e o meu servo
ficará curado”
O centurião romano atribui força e eficácia à palavra de Jesus. Por sua experiência do mundo militar ele sabe que
tal “palavra” realiza o que expressa, independentemente da presença de quem a
profere; por si só a palavra tem uma
força expansiva e um dinamismo criativo.
De fato, no princípio não está o silêncio de uma noite primordial, mas
a Palavra criadora de Deus, inau-guradora
da Criação. Deus comunica sua Palavra e o que Ele diz é Criado. O mundo foi criado porque foi dito: “Que exista a luz!
E a luz começou a existir”. A Criação é um acontecimento que surge da Palavra.
“No princípio era a Palavra”, diz o
prólogo de S. João. Deus é Palavra
e, em Jesus, ela se faz carne.
Chegada a plenitude dos tempos, Deus disse sua Palavra
definitiva e insuperável em Jesus.
Ele, em sua vida e
missão, prolonga a Palavra criativa
de Deus; começa a
falar uma Palavra sedutora a partir da margem geográfica,
cultural, religiosa e econômica.
A partir
das periferias do mundo surge um canto de vida nova, a sabedoria
oculta a muitos sábios e expertos. É uma sabedoria que vem de Deus,
desconcertando a sabedoria exibida a partir do centro.
Suas palavras revelam
uma força ressurreicional,
que é o sentido belo do viver; através delas Jesus põe em movimento a
realidade, reconstrói pessoas feridas em sua dignidade, comunica saúde onde há
enfermidade, faz emergir a vida onde impera a morte.
Na Bíblia, “uma palavra é sempre mais que uma palavra”. Ela é acontecimento relacional na vida
origi-nal de cada um; no interior de quem a escuta, ela é vida, movimento...
ela tem um sentido particular, único...; não há começo nem fim, mas movimento
permanente, interação sempre mais profunda...
Jesus, no encontro com a realidade, extrai palavras
significativas, previamente cinzeladas e incorporadas no seu interior, onde
elas revelam dinamismo, sentido e alteridade; sua palavra brota de uma
vida inte-rior fecunda e conduz a uma vida comprometida.
“Nós somos palavra”. A palavra
adquire a sua força vital no interior da relação dialogal, na singu-laridade de
cada um, no seu ritmo, no seu tempo... Quando não
existe a troca de palavras, ditas e ouvidas, a vida é mutilada nas suas
expressões mais vitais, as espirituais.
As palavras pesam. Talvez porque sejam a
mais genuína invenção humana.
Nosso mundo está repleto de “palavras”. Em todos os lugares
aonde vamos somos cercados por elas:
palavras
murmuradas com suavidade, proclamadas em altas vozes ou berradas irritadamente;
palavras
faladas, recitadas ou cantadas; palavras em discos, em livros, em
muros ou no céu; palavras de muitos sons, muitas cores ou muitas formas; palavras
para serem ouvidas, lidas, vistas ou olhadas de relance; palavras que oscilam, se
movem devagar, dançam, pulam ou se agitam.
Palavras,
palavras, palavras! Elas formam o piso, as paredes e o teto de nossa
existência.
A palavra pode ferir ou curar, construir
ou destruir, distanciar ou aproximar... Proferida no calor aquecido por mágoas
ou ira, penetra como flecha envenenada. Obscurece a vista e instaura a solidão.
Mas a palavra também salva. Uma expressão de carinho, alegria, acolhimento ou amor, é como
brisa suave que ativa nossas melhores energias. É extraordinário perceber como
as palavras ditas com cuidado e amor (pedagogia de Jesus) produzem
efeitos benéficos para o ser humano. Essas palavras são bem-aventuradas,
pois são capazes de fazer crescer, sustentar, edificar as pessoas para o
convívio social, humano-afetivo, espiritual. São palavras que trazem luz
e calor, infundem confiança e segurança.
As palavras
jamais deixam as coisas como estão. Elas não se limitam a transmitir uma
mensagem; elas tem uma força operativa, desencadeiam um movimento... Quando
falamos algo acontece, muda alguma coisa dentro de nós e ao nosso redor.
Aparentemente nada mudou; mas é possível que tudo tenha muda-do. A palavra
foi além de sua vibração sonora. Ela contribui para criar o clima, o ar que
respiramos... um ambiente que nos plenifica, nos nutre, favorece o encontro e o
compromisso e abre possibilidade de viver
Às vezes temos a sensação de que
as palavras nos saturam: nas aulas,
na televisão, nos jornais, nas litur-gias, na Internet... Sem dúvida, em nossa
sociedade pós-moderna, a palavra cada vez tem menos rele-vância, cada
vez é menos significativa. Esvaziamos as palavras, adocicamo-las, manipulamo-las
ou as submetemos a uma violenta perda de significados segundo nossa
conveniência. E S. Inácio, nos Exercícios Espirituais, nos diz que “o amor consiste mais em obras do que em palavras”.
É verdade, mas pôr o amor nas
obras não impede pô-lo também nas palavras,
e isso implica compro-meter-nos a cuidar da qualidade das palavras. “Cuidar a
palavra é cuidar o mais específico do ser huma-no, enquanto que é através dela
que se expressa nosso mistério” (Melloni,
sj).
O fato é que há palavras que, mesmo que não sejam
necessárias, tem uma força enorme. Podemos pôr muito amor nas obras e também
empapar nossas palavras desse mesmo amor, porque nas palavras nos dizemos e nas obras nos realizamos.
Chegamos,
assim, ao “interno conhecimento” da palavra, à reverência para com
a palavra, por ser ela expressão externa da palavra interior escutada
no silêncio, por ser palavra “dirigida” a Alguém.
Talvez o que mais nos falte hoje
em dia seja dirigir nosso olhar sobre “a palavra”, prestar atenção à
pala-vra mesma a partir da nossa interioridade.
“Como os filólogos nos advertem, as palavras
estão grávidas de significados existenciais.
Nelas, os seres humanos acumularam infindáveis
experiências, positivas e negativas, experiênci-as de busca, de encontro, de
certeza, de perplexidade e de mergulho no Ser.
Precisamos desentranhar das palavras sua riqueza
escondida” (L. Boff)
Nesse
sentido, o silêncio é a arte de
cinzelar palavras. Talhada pelo
silêncio, mais significados elas possuem. O silêncio não é o contrário da palavra.
É sua matriz, lapidador de palavras sábias.
O tagarela
cansa os ouvidos alheios porque seu matraquear de frases ecoa sem consistência.
Já o sábio
pronuncia a palavra como fonte de
água viva. Ele não fala pela boca, e sim do mais profundo de si mesmo. Sabem os
místicos
que, sem calar o palavreado crônico, é impossível ouvir, no segredo do coração,
a Palavra de Deus que neles se faz
expressão amorosa e ressonância criativa.
No processo da oração, temos a oportunidade de
aproximar a palavra à experiência, para resgatá-la da
insignificância, do anonimato, fazê-la inédita, consciente e podê-la assim
confrontar com a Palavra que, feito
carne, entrou em nossa experiência histórica.
A palavra recém saída do forno da experiência está viva, quente...
transforma a vida.
Textos bíblicos: Lc. 7,1-10
Na oração: Cave palavras nas minas
do seu silêncio, palavras
carregadas de sentido e de ânimo.
Silêncio para
poder dialogar com seu eu profundo, para ver o que há atrás de suas palavras,
de seus sentimentos, de suas intenções... Silêncio para tentar ir ao coração de
sua verdade. Pois somente no silêncio poderão germinar as palavras-vida.
segunda-feira, 27 de maio de 2013
Amigos e amigas, segue uma sugestão de oração para vivenciar a festa de Corpus Christi. Um abraço a todos Pe. Adroaldo sj
EUCARISTIA: da comunhão de pão à comunhão de vida
“Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes,
elevou os olhos ao céu, abençoou-os, partiu-os..” (Lc. 9)
Comer e beber
com outras pessoas é a coisa mais simples e importante que podemos fazer para
reforçar nossa humanidade.
Comer é uma
experiência humana e espiritual; sentar-se
com outras pessoas em torno de uma
mesa é sagrado. Se por acaso pudermos ter alguns desconhecidos à mesa, melhor
ainda. O alimento possibilita a
conversa – é sinal visível do Amor. Lembremo-nos, é preciso tempo: “fast
food não nos faz bem!”
Tempo para saborear e sorver,
deliciar-se e conversar...
Tempo para uma longa e lenta digestão de tudo o que é
bom. O primeiro ingrediente é sempre o amor.
Em intervalos regulares, é
necessário festejar. É uma dessas
coisas que não se questiona. Sobreviver é animal; festejar é humano; ser um “animal festivo” é ser divinamente
humano. Deus adora festejar.
Cada
vez que comemos e bebemos, comungamos com o outro, com a terra, com todo o
Universo. O pão é vida concentrada;
vida em forma de alimento. No repartir do Pão
palpita a vida que transcende as
fron-teiras existenciais. Cada vez que comemos, o fazemos com profunda gratidão
e veneração ao que recebe-mos, e compaixão pelos que não podem comer.
Cada bocado que mastigamos é um
gesto sagrado: comungamos com o Todo, o Ser, a Vida. O que impor-ta é que seja
fruto da terra e do trabalho, sacramento da vida e do mundo novo. Comungamos
com a grande Comunhão ou com o Mistério de Deus. Viver é com-viver.
É preciso ir a fundo no
profundo significado e sentido desse gesto: partir o pão é o símbolo ancestral que nos revela as entranhas da
humanidade, ou seja, compartilhar a necessidade.
Isso
acontece em cada refeição, e a Eucaristia
não é nada mais do que isso, porque não pode haver nada maior que uma simples refeição. O simples é o pleno. O
cotidiano e natural é o mais sagrado.
Jesus de Nazaré sonhava e anunciava outro mundo possível e o
chamava “Reino de Deus”. E, para ex-plicar como seria esse outro mundo, já
neste mundo, não lhe ocorreu coisa melhor que organizar uma ale-gre refeição no campo: cada um levou e compartilhou
o pouco que tinha; todos se saciaram e ainda so-brou muito. O pão nas
mãos de Jesus era pão para ser partido, repartido e compartilhado.
Jesus anunciava o “Reino de
Deus” como uma grande mesa com abundante
pão e sem nenhum excluído.
Sua religião é a religião da refeição; na verdade Jesus rompeu com a
religião e com tudo aquilo que impedia que todos comessem juntos, que impunha
jejuns, que declarava impuros alguns alimentos e proibia compartilhar a mesa
com os chamados pecadores, que quase sempre eram os pobres.
Alguém teve a ousadia de
afirmar que mataram Jesus por seu modo de comer; em suas refeições
escanda-losas e provocativas Ele anulava as fronteiras entre santos e
pecadores, puro e impuro, sagrado e profano. Algo intolerável. Os dirigentes
religiosos e as “pessoas de bem” o chamavam de “comilão
e beberrão, amigo dos pecadores”.
Segundo os relatos dos Evangelhos, durante sua vida pública, Jesus
transitou por muitas refeições, propôs a grande mesa da inclusão e, para
culminar, organizou com seus amigos mais próximos uma ceia de despe-dida e de
esperança. Ali, ao partir o pão e passar o cálice, pediu que se recordasse dele
toda vez que comes-sem ou bebessem juntos, reavivando a esperança de construir o
mundo que todos esperavam. Eles se transfigurariam e o mundo se transformaria
em Comunhão toda vez que este gesto fosse repetido.
Assim fizeram seus seguidores: após
a Ressurreição Jesus foi “reconhecido ao partir o pão”; foi reconhecido
não porque estava no templo ou ensinava na sinagoga, mas porque partia o pão.
Jesus fez do universo seu corpo e se
faz pão para nós.
Por isso, no primeiro dia da
semana, reuniam-se todos nas casas, oravam juntos, recordavam a mensagem de
Jesus, comiam o pão, bebiam o vinho e a Vida ressuscitava. A isso chamavam, ‘ceia
do Senhor” ou “fração do pão”. Tudo era muito simples e despojado.
Séculos depois, a simples refeição foi se complicando. A casa se converteu em
templo, a refeição em “sacrifício”, a mesa em altar, o convite em obrigação, a partilha em exclusão... A festa de “Corpus Chris-ti” pode ser ocasião
propícia para voltarmos ao mais simples e pleno, para além
dos cânones, rubricas , pompas e indumentárias que não tem nada a vez com
Jesus.
Basta
nos reunir em um lugar qualquer, para recordar Jesus, compartilhar sua palavra,
tomar o pão e o vinho, ressuscitar a esperança e alimentar o sonho do Reino.
Essa
é a Missa verdadeira, a verdadeira missão.
A transformação das relações
humanas se dá através do partir o pão e do passar o cálice de vinho; como o pão é um, comer desse pão nos faz todos
um. A Eucaristia faz de todos nós Corpo
de Cristo. Daí o interesse da primitiva Igreja em que na Eucaristia comungassem
todos do mesmo pão partido, com a finalidade de fazer visível essa unidade de
todos.
Ninguém ceia sozinho. Há um
partir, um distribuir,
mãos que se tocam, olhares que se encontram.
E, em tudo isto, sensação como se fosse a de
uma “conspiração”.
Conspirar, com-inspirar, respirar com alguém,
juntos.
Conspiradores: respiram o mesmo
ar. Jesus e os discípulos, comendo o Pão e bebendo
o Vinho respiram o mesmo ar, o
mesmo sonho, a mesma utopia do Reino.
É assim a comunidade dos cristãos, a Igreja:
juntos, conspirando, mãos dadas, comem o pão, bebem o vinho e sentem uma
saudade/esperança sem fim...
Tomar o pão
e o vinho da Eucaristia é fazer
memória de uma presença que nos
compromete.
Discípulos de Jesus
somos quando aprendemos a partir o pão. Reconhecemos os cristãos
hoje quando partem o pão e não o armazenam. O pão armazenado, como o maná no
deserto, se corrompe, apodrece.
Compartilhar significa
não “monopolizar”, não permitir que haja necessitados entre nós.
O pão partido é a vida
compartilhada: meios, tempo, qualidades.
O cristão, além disso,
compartilha seus ideais, seu entusiasmo,
seu ânimo, sua fé, sua esperança.
Também hoje Jesus precisa de
nossas mãos para multiplicar os grãos; precisa de nossas mãos para triturar
esses grãos, amassar a farinha e fazer o pão. E precisa de nosso coração para
que o pão seja repartido.
O pão sem coração é pão
“monopolizado”. Pão indigesto, que engorda o egoísmo.
O pão sem coração gera divisões
e conflitos. Quantas guerras fraticidas provoca o pão sem coração!
Deus precisa de nosso coração para que o pão leve o sinal da
fraternidade, seja vitamina de solidariedade, alimento de comunhão, energia de
vida.
Textos bíblicos: Lc.
9,11-17 1Cor. 11,23-26
Corpo de Cristo
Olhos inquietos por verem tudo. Ouvidos atentos aos lamentos, aos gritos, aos chamados.
Língua disposta a falar verdade, paixão, justiça…
Cabeça que pensa, para encontrar respostas e adivinhar
caminhos, para romper noites com brilhos novos.
Mãos gastas de tanto servir, de tanto abraçar, de tanto
acolher, de tanto repartir pão, promessa e lar.
Entranhas de misericordiosas para chorar as vidas golpeadas
e celebrar as alegrias.
Os pés em marcha em direção a terras
abertas e a lugares de encontro.
Cicatrizes que falam de lutas, de feridas, de entregas, de
amor, de ressurreição.
Corpo de Cristo…
Corpo nosso. (José María Olaizola, SJ)
quinta-feira, 23 de maio de 2013
Amigos e amigas, próximo domingo é a festa da SS. Trindade. Segue uma sugestão para rezar e preparar-se para esta festa. Um abraço a todos Pe. Adroaldo sj
GLÓRIA À TRINDADE
SANTA, GLÓRIA AO DEUS BENDITO
“Tudo o que o Pai possui é meu; por isso vos disse:
Espírito receberá do que é meu e vos anunciará”
Nem sempre é fácil, como
cristãos, relacionar-nos de maneira concreta e viva com o mistério de Deus
confessado como Trindade. A festa da Trindade nos recorda que
não se trata de entender, ou simples-mente de pensar e estudar o Mistério das Três Pessoas divinas. O decisivo é viver
o Mistério a partir da adoração e da partilha fraterna.
A
Trindade é Mistério para nós na
medida em que nunca conseguiremos compreendê-lo e apreendê-lo pela razão. É o
desconhecido que nos fascina e nos atrai para conhecê-lo mais e mais, e, ao
mesmo tempo, desperta o assombro e a reverência. A Trindade é o mistério que liga e religa tudo, que deixa transbordar
seu Amor criativo no coração de toda a humanidade e no universo inteiro.
O
Mistério da Trindade sempre está aí (vivemos submergidos n’Ele),
permanentemente nos esbarramos n’Ele (dentro de nós e na realidade) e buscamos conhecê-lo;
mas ao tentar conhecê-lo percebemos que nossa sede e fome de conhecer nunca se sacia. Por isso, diante da presença
do Mistério Trinitário, afogam-se as
palavras, desfalecem as imagens e morrem as referências. Só nos restam o
silêncio, a adoração e a contemplação. “O ser humano que não tem os olhos abertos ao Mistério passará pela vida
ser nunca ver nada” (Einsten)
A festa da Trindade
nos mobiliza para uma nova maneira de viver e de se relacionar com o Deus de Je-sus, cuja presença preenche o cosmos, irrompe na
vida, habita decididamente no interior de cada pessoa e é vivido em comunidade. É preciso deixar claro que o Mistério da Trindade
não é um enigma a ser decifrado, ou seja, como conjugar três “individualidades”
em uma Unidade, mas é a proclamação de que Tudo
é Relação. A Trindade não é uma
especulação teórica sobre três pessoas “abstratas” em Deus, mas a maneira de
ser de Deus, como Amor que se
expande, em si e fora de si, de uma maneira “reden-tora”, inserindo-se na história
da humanidade.
De Deus
não sabemos nem podemos saber absolutamente nada. Temos que retornar à
simplicidade da linguagem evangélica e utilizar a parábola, a alegoria, a
comparação, o exemplo simples, como fazia Jesus. A realidade de Deus não pode
ser compreendida, não porque seja complicada, senão porque é absolutamente
simples; a nossa maneira de conhecer é que analiza e divide a realidade. Deus
não é dividido em partes para que cada um delas possa ser analizada por
separado.
A Trindade chega até nós, não cada uma
das “pessoas” por separado.
Ninguém poderá
encontrar-se só com o Filho, ou só com o Pai, ou só com o Espírito Santo. Nossa
relação será sempre com o Deus UNO
(“Deus é Um mas não está só”).
É necessário
tomar consciência de que quando falamos de qualquer uma das Três Pessoas relacionando-se conosco,
estamos falando de Deus. Nem o Pai
só cria, nem o Filho só salva, nem o Espírito Santo só santifica. Tudo é sempre
obra do Deus Uno e Trino.
Tudo em
nós é obra do único Deus. Dizer que é preciso ter devoção a cada uma das
pessoas, é uma “piedosa” interpretação do dogma. Quê sentido pode ter, dirigir
as orações ao Pai crendo que é diferente do Filho e do Espírito?
O Deus de Jesus não é uma verdade para
pensar mas uma Presença a ser vivida. Não é um idéia para quebrar nossa
cabeça, mas a base e fundamento de nosso ser. O povo judeu não era um povo
filósofo mas vitalista. A
Trindade quer expresar o mistério da
VIDA mesma de Deus que nos é
comunicada.
Uma profunda vivência da mensagem cristã será sempre uma
aproximação do mistério Trinitário.
Será, em definitiva, a busca de um encontro vivo com
Deus. Não se trata de demonstrar a existencia da luz, mas de abrir os olhos
para ver. O verdadeiramente importante foi sempre a necessidade de viver essa presença
do Deus, comunhão de Pessoas, no interior de cada ser humano.
Quando
nos abrimos à comunhão com a Trindade, Ela
entra em comunhão conosco na forma sutil de um perfume. Não força, não invade,
mas cria um ambiente agradável, perfumado, que nos eleva e nos suscita alegria
interior. Tal como o perfume, a Trindade derrama sua Graça sobre toda a Criação
e a humanidade inteira. Quê há de mais suave, reconfortante e realizador do que
sentir a Trindade a partir do coração?
Jesus, o Mistério de Deus
feito carne no Profeta da Galiléia, é o melhor e único ponto de partida para
reavivar uma fé simples no Deus Comunidade
de Pessoas. Ele quis trasmitir-nos que, para experimentar Deus, o ser
humano precisa aprender a:
Olhar dentro de si
mesmo (Espírito), olhar os outros (Filho) e olhar o transcendente (Pai).
Desde sua própria
experiência de Deus, Jesus convita seus seguidores a relacionar-se de maneira
confiada com Deus Pai, a seguir fielmente seus passos de Filho de Deus
encarnado, e a deixar-se guiar e alentar pelo Espírito Santo. Ensina-nos assim a abrir-nos ao mistério de
Deus.
“Só n’Ele (Jesus Cristo) a Trindade se comunica
a nós e somos revelados pela Trindade. Jesus é o Mestre porque é a voz da
Trindade para nós e a nossa voz para a Trindade. Jesus Cristo é a porta através
da qual a Trindade passa até nós e nós até a Trindade. Jesus Cristo é o caminho
que nos leva à Trindade e através da qual a Trindade chega até nós. Jesus
Cristo é a Vida, porque n’Ele a Vida da Trindade corre em nós e a nossa pobre
vida corre na vida da Trindade eterna de Deus” (Bruno
Forte).
Deus que
está acima de nós (Pai); Deus que se faz um de nós (Filho); Deus que se
identifica com cada um de nós (Espírito). Estão nos falando de um Deus que não se fecha em si mesmo,
senão que se relaciona doando-se totalmente a todos e ao mesmo tempo permanecendo
Ele mesmo. Um Deus que está acima do uno e do múltiplo.
Aproximar-se de Deus é descubrir a Trindade. E em cada um de nós a Trindade deixa-se refletir. Viver a
experiencia do Deus Trino implica saber com-viver; fomos feitos para o
encontro e a comunicação. Estamos falando de uma única realidade
que é relação.
Portanto, Trindade é a
glória de Deus que se expressa na vida da humanidade, em especial nos mais
pobres e excluídos; é o Amor mútuo, a comunhão pessoal, de Palavra (Filho) e de
Afeto (Espírito Santo). Assim é a Trindade na terra: quando todos os seres
humanos compartilham a vida e se amam.
Não crê
na Trindade quem simplesmente professa que há “em Deus três pessoas”, ou quem
faz mecanicamente o sinal da Cruz, mas aquele que vive o impulso e a expansão
do Amor Redentor, que se expressa
como compaixão, reconciliação e compromisso. Crer na Trindade é amar de um modo
ativo, como dizia S. Agostinho. Contempla-se a Trindade ali onde se ama e se
compromete com a libertação do próximo. Estamos envolvidos pelo movimento do Amor sem fim que parte do Pai, passa
pelo filho e se consuma no Espírito.
Só quem
tem coração solidário adora um Deus Trinitário, pois no compromisso libertador
torna-se presença trinitária.
Texto
bíblico: Jo.
16,12-15
Na oração: No interior de cada um, a Trindade está atuando, está convidando
a que ponha em movimento
toda a capacidade de
admiração e quer ensinar a ler e interpretar Sua presença em todas as coisas.
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