quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Evangelho do dia 29 de setembro de 2013 Lc 16,19-31


QUANDO AS PARÁBOLAS TIRAM O VÉU DE NOSSOS OLHOS

 

 “Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava sentado à porta do rico”  (Lc 16,20)

 

Toda vez que Jesus tem uma coisa importante para comunicar, ele cria uma história e conta uma parábola.

Sabemos que, em toda parábola, o ouvinte passa por uma transformação interior; ele se abre porque ela o fascina, e, sem que perceba, a narrativa o leva a outro nível. De repente, o ouvinte se sente envolvido na cena. Algum aspecto seu, que até então havia permanecido no escuro, é iluminado; agora é capaz de se ver de modo diferente.

Uma parábola “dá o que pensar”. Por isso, é importante prestar atenção até nos seus mínimos detalhes. Dizem os especialistas que, quando Jesus contava parábolas, apelava aos sentimentos mais primários de seus ouvintes (muitas vezes adversários) para fazê-los mudar. Assim, ao contar a parábola da ovelha perdida, do filho pródigo que retorna à casa, estaria dizendo aos seus adversários: “Vocês não sentem compaixão por essa pobre gente? Não sentem revirar suas entranhas?”.

Talvez ao contar a parábola do “rico e de Lázaro”, estaria nos dizendo: “Vocês não se envergonham de viver em um mundo assim, de ricos e de lázaros, de milionários e de famintos?...

Se esta parábola não provoca em nós nenhum tipo de incômodo, se não desperta nossa vergonha, se não  nos faz sentir afetados  pelo que ali há  de insulto ao pobre, se não nos mobiliza para uma superação desse escândalo..., é sinal que a desumanização chegou ao fundo do poço.

 

Na parábola do evangelho de hoje aparecem três personagens: o pobre Lázaro, o rico sem nome e o pai Abraão. De um lado, a riqueza agressiva. Do outro, o pobre sem recurso, sem direitos, coberto de úlceras, impuro, sem ninguém que o acolhe, a não ser os cachorros que lambem suas feridas. O que separa os dois é a porta fechada da casa do rico.

A coexistência de riqueza e pobreza é, em si mesma, ruptura fundamental da solidariedade humana, negação de humanidade; é uma flagrante violação da convivência humana, ou seja, da própria natureza do fundamento dos direitos humanos.

“O luxo de uns converte-se em insulto contra a miséria das grandes massas” (Puebla 28).

O “rico e Lázaro” constituem um enorme escândalo em nosso mundo. É uma ofensa que se faz aos pobres pelo simples fato de serem indigentes ao lado de opulentos.

O foco para compreender o sentido da parábola é o pobre Lázaro, sentado à porta. Ele representa o grito calado dos pobres do tempo de Jesus e de todos os tempos. Deus vem até nós na pessoa do pobre, sentado à nossa porta, para nos ajudar a transpor o abismo intransponível que a riqueza criou.

 

A parábola é cheia de ironia. Para começar, o rico aparece sem “nome”: não ter nome naquela cultura era praticamente sinônimo de não existir; às vezes o rico é designado como “epulão”, mas é um adjetivo, que tem sua raiz no costume romano dos “épulos” ou banquetes; o pobre, pelo contrário, se chama “Lázaro”, ou seja, “Deus ajuda”. Ele tinha identidade; O rico era tão pobre que só tinha bens.

Com sua morte, o mendigo “é levado pelos anjos para o seio de Abraão”; o rico, pelo contrário, “morreu e foi enterrado”. O “seio de Abraão” é a fonte de vida, de onde nasceu o povo de Deus. Lázaro, o pobre, faz parte do povo de Abraão, do qual era excluído enquanto estava à porta do rico. O rico pensa ter fé e ser filho de Abraão; mas só há um jeito de estar com Abraão: abrir a porta ao necessitado. A salvação para o rico não é Lázaro trazer uma gota de água para refrescar-lhe a língua, mas é ele, o próprio rico, abrir a porta fechada para o pobre e, assim, transpor o grande abismo que os separa.

A chave de compreensão da parábola podemos encontrá-la justamente nesta expressão:“um grande abis-mo”. Um abismo que se revela não só após a morte, mas que ficara visível na indiferença do rico frente á presença do pobre à sua porta. Ele não tinha feito mal ao necessitado; simplesmente não o tinha visto. O rico não vê o pobre, não vê a Deus; não escuta o pobre, não escuta a Deus. Não está contra Deus , nem contra o pobre; unicamente está cego. A riqueza o cega e o impede de viver para o outro; a riqueza endu-rece seu coração e o torna insensível. Esse “não ver” (“olhos que não veem, coração que não sente”) é o que cria um abismo intransponível em nossas relações pessoais, em nossos países e em nosso mundo.

 

Por que caímos tão facilmente na indiferença? A indiferença diante dos outros e diante do mundo, esconde, sem dúvida, uma maior ou menor insensibilidade. Uma sensibilidade bloqueada ou endurecida isola a pessoa, deixa-a encapsulada em sua própria armadura egocêntrica e a instala em uma atitude indiferente – oposta à compaixão -, que está na origem das injustiças que diariamente vemos em nosso mundo. Em sua redoma protetora, o rico não vê os outros a não ser quando necessita deles, considerando-os como se fossem “objetos” a seu serviço; sua capacidade de amar fica bloqueada.

A compaixão é o sinal mais claro da maturidade humana; a indiferença, pelo contrário, revela  imaturidade e atrofia nossa humanidade.

A vivência da compaixão requer uma sensibilidade limpa e uma afetividade livre. Tanto o endurecimento (ou petrificação) da sensibilidade como o bloqueio afetivo impedem sentir-com-os-outros.

 

A conclusão de tudo isso parece clara. Para viver a compaixão, precisamos, an-tes de mais nada, despertar nossa sensibilidade diante dos outros, sobretudo aqueles que estão à nossa porta e não os vemos.

A cegueira diante dos outros, sintoma de uma sensibilidade rígida ou congela-da, torna impossível a compaixão. Precisamos restabelecer o contato com nossos sentimentos; despertada nossa capacidade de sentir, poderemos depois sentir-com-os-outros, ou seja, experimentar compaixão.

A transformação do coração exige uma renovação de nossa sensibilidade. O discípulo de Cristo, com sua sensibilidade cristificada, não fugirá da realidade das pessoas e da natureza, mas se relacionará com elas, buscando também nelas a presença de Deus. Nesse sentido, a sensibilidade cristificada é o motor da nossa vida e da nossa conduta. E os “abismos” serão superados.

Portanto, mediante uma acolhida contemplativa da Parábola, vamos transfigurando nossos sentidos e convertendo nossa sensibilidade, para aproximar-nos da realidade como Jesus se aproximava, com uma sensibilidade cada dia mais parecida com a d’Ele.

À medida que vai se realizando esta conversão de nossa sensibilidade, nós nos fazemos capazes de nos fazer presentes junto aos mais necessitados à maneira de Jesus de Nazaré, abrindo a porta de nossa casas para acolhê-los.
 
 

 

 Texto bíblico:  Lc 16,19-31

 

Na oração: diante do mundo da exclusão e da miséria, quê sentimentos prevalecem: indiferença, compaixão,

                       insensibilidade, espírito solidário...?

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Texto para rezar o evangelho de Lc 16,1-13


QUEM É O SENHOR QUE MOVE O MEU CORAÇÃO?

 

“Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13)

 

Estamos diante de mais uma parábola "escandalosa" de Jesus, ou seja, um relato impactante e provocativo, que ajuda a “despertar” o ouvinte ou o leitor.

Mas o que se trata na parábola não é da injustiça cometida nem da desonestidade do administrador, senão de sua astúcia. O objeto de louvor por parte de Jesus é a esperteza, a audácia e o empenho com que o administrador tira partido de uma situação presente tendo em vista garantir o futuro; Jesus elogia o admi-nistrador não porque roubou, mas porque teve presença de espírito, soube calcular bem as coisas e encon-trar uma saída honrosa, enquanto havia tempo. E a “saída” do administrador, ameaçado de desemprego, foi fazer “amigos” para depois.

Não devemos imitá-lo na sua injustiça, mas na sua previdência. O administrador infiel é um filho deste mundo; deixa-se guiar pelo cuidado de sua existência terrena. Com esperteza, com decisão e sem escrúpulos, aproveita o que lhe pode proporcionar vantagem para garantir sua vida futura.

E é aqui onde encontramos a chave de compreensão do relato: como “filhos da luz” precisamos agir de um modo inteligente, utilizando todos os recursos em favor da vida. Quem são nossos “amigos para de-pois”? São os cegos, os excluídos, os pobres em geral. Temos amplas oportunidades de usar o “vil dinheiro” para conquistar estes amigos.  Essa Vida não é outra coisa que as “moradas eternas” de que fala o texto.

 

A parábola e as sentenças a seguir trazem à tona a questão da riqueza no caminho espiritual, com um destaque fundamental: diante do risco de absolutizá-la (endeusá-la), requer-se lucidez (astúcia) para usá-la como instrumento a serviço da vida.

O risco é grande e tem uma dupla fonte: a necessidade de segurança e o caráter vazio do ego. Na rea-lidade, as pessoas não buscam o dinheiro, mas a sensação de segurança associada a ele. Porque podemos prescindir do dinheiro, mas não da segurança.

Ora, enquanto busquemos a segurança no “ego inflado”  será impossível alcançá-la. Porque o ego é vazio, essencialmente inconsistente e, por isso mesmo, radicalmente incapaz de sustentar-nos. Absolutizar o dinheiro é sintoma de permanecer identificados com o ego e fechados na ignorância.

 

O mais característico do ego é dizer “meu”. E onde se diz “isto é meu”, a visão se estreita e o comportamento se faz ego-centrado. A divinização do dinheiro não é nada mais que a divinização do ego.

Desde que o primeiro ser humano da história disse “isto é meu”, fez surgir a rivalidade entre os homens e a luta por ter. O dinheiro representa a capacidade de ter coisas. Mais dinheiro, mais coisas, até que a ânsia de ter coisas se converte em uma dependência doentia (vício). É possível que esta seja a dependência mais antiga da humanidade (“afeição desordenada”). Ela é a origem das guerras, ódios, vinganças, violên-cias, roubos, enganos, mentiras, abusos, injustiças, dominação sobre os outros, etc.

Assim chegamos a classificar os seres humanos em duas categorias: ricos e pobres. Mais ainda, temos associado a felicidade com o ter. Consideramos feliz quem tem, e quem não tem é um infeliz. O ter se converteu, sobretudo nesta sociedade de consumo, em um princípio categórico de vida.

Isto nos conduziu a uma desigualdade, cada dia mais escandalosa, tanto no nível pessoal como social, o qual faz crescer as fontes de conflitos de todo tipo. Com a passagem dos anos comprovamos como, longe de alcançar mais igualdade e mais equilíbrio social e pessoal, acontece justamente o contrário.

Sem reverter esta tendência é impossível construir um mundo em equilíbrio onde haja um mínimo de justiça, de paz verdadeira, de igualdade e de direitos humanos básicos para todos os habitantes do planeta.

 

Quando nossa verdadeira identidade se expande em direção ao outro (eu oblativo), perceberemos o engano de etiquetar algo como “meu” e nos capacitaremos para usar o dinheiro a serviço de todos.

“Viver mais simplesmente para que outros possam, simplesmente, viver”

Desse modo, na linguagem da parábola, o “dinheiro injusto” se converte em meio para “ganhar amigos” e ser recebidos nas “moradas eternas”. Porque “eternidade” não faz referência a um futuro projetado indefinidamente. A Vida eterna é a vida plena que experimentamos, aqui e agora, como Presença.

Jesus via muito claramente qual era o verdadeiro futuro para a humanidade, e por isso apela aos seus seguidores para que evitem todo tipo de cobiça; “não podeis servir a Deus e ao dinheiro”.

Na sua perspectiva, há uma incompatibilidade radical entre a paixão pelas riquezas e a paixão pelo Reino. Não é possível amar a Deus, isto é, amar a generosidade, a entrega, a solidariedade, a com-paixão, a misericórdia, e ao mesmo tempo amar o dinheiro, isto é, amar ou tomar tudo para si, a a-

cumulação que é base de toda injustiça e de todo desamor: fome, violência, exclusão, exploração...

A fidelidade ao Deus único fica interditada e o seguimento de Cristo fica fragilizado.

Aquele que centra sua vida no apego ao dinheiro, põe ali seu coração, seu interesse, sua força e sua afetividade. O dinheiro tem um tal poder de atração que ele se torna rival de Deus. Como todo ídolo, o dinheiro provoca o fascínio, a adoração e as identificações mais perniciosas.

O apego aos “bens” apresenta-se como uma das tentações mais poderosas para todo seguidor de Jesus.

O dinheiro satisfaz desejos, dá segurança, confere prestígio, seguramente fama e, acima de tudo, abre portas, soluciona problemas e concede poder.

 

Sabemos das conseqüências que a sedução do dinheiro exerce e da capacidade que ele tem de obscurecer e distorcer percepção correta da realidade.

A afeição ao dinheiro gera auto-suficiência e distorce o sentido criatural do ser humano. A pessoa mo-vida pela ânsia do dinheiro e fundamentada nele, não necessita da mão amorosa e providente de Deus. O dinheiro é o suporte de suas seguranças e auto-suficiências.

O dinheiro distorce a visão do ser humano sobre si mesmo e sobre as demais coisas criadas. A pessoa deixa de entender-se como dom de Deus, não percebe mais a sua vida como graça recebida; portanto, já não é mais capaz de reconhecer a presença e a atuação de Deus, que a sustenta a cada instante. Deus não é reconhecido como o Senhor que a cuida através de Seu amor providente.

O dinheiro também distorce a percepção das outras pessoas, pois fecha o coração à generosidade. O desejo de dinheiro é competitivo, pois é satisfeito à custa da exploração de outras pessoas.

 

Enfim, o dinheiro só perde seu poder maléfico quando, quem o possui, exerce o senhorio de si e o coloca no fluxo da dinâmica do amor, ou seja, na dinâmica da partilha, da comunhão com os demais, especial-mente com os que menos tem. E a vida não se ordena enquanto o fator dinheiro, desestabilizador por seu caráter acumulativo e competitivo, não se situa no seu devido lugar. Assim fazendo, ele perde sua condição de senhor, e os bens e posses voltam a ser o que sempre foram: meios para colaborar a que o ser humano atinja a meta de sua vida.

Quando a força do Evangelho possibilita esta consciência, produz-se o saneamento libertador das relações distorcidas e desordenadas para com o dinheiro, e a orientação fundamental da vida passa da “posse” à entrega, do autocentramento à solidariedade, da acu-mulação ao serviço desinteressado...

 

Textos bíblicos:  Lc 16,1-13

 

Na oração:    *  Meu compromisso com o Reino afeta meu “bolso”?

                           *  Sei e sinto a força de sedução que o dinheiro exerce e da capacidade que ele tem de atrofiar

                              minha sensibilidade diante da realidade e dos outros?

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Lc 15,1-31- Evangelho de domingo- dia 15/09/13


O CONTEXTO DAS TRÊS PARÁBOLAS DOS PERDIDOS 

 

“Todos os publicanos e pecadores aproximavam-se dele para ouvi-lo” (Lc 15,1)

 

“Jesus em más companhias”: Esse título expressa de maneira exata o que foi e o que significou a vida de Jesus desde o nascimento até a morte. E ao longo de toda a vida pública viveu continuamente rodeado de pessoas marginalizadas: pobres, pecadores, prostitutas, publicanos, doentes...

Essa conduta de Jesus é descrita nos três versículos introdutórios às três parábolas dos perdidos: Jesus está rodeado pelos marginalizados e excluídos da sociedade, “os cobradores de impostos e os pecadores”, que se aproximam dele para escutá-lo. Se estas pessoas se aproximam é porque junto a Ele encontram compreensão, compaixão, respeito, acolhida... e, jamais escutam uma reprovação, nem sequer uma desconfiança ou suspeita.

 

As três parábolas adquirem o caráter de defesa, feita pelo próprio Jesus, do seu modo de vida, do seu comportamento, particularmente do seu relacionamento com os extraviados e excluídos. O Evangelho que Jesus proclama com palavras e ações é a Boa Nova da salvação para os perdidos; e é, ao mesmo tempo, apelo à conversão dirigido aos que se consideravam “justos”, mas se fechavam ao amor e ao perdão.

As três parábolas da misericórdia são, na verdade, as parábolas dos perdidos.

O que Jesus quis proclamar ao contá-las foi que o amor, a misericórdia, o perdão e a comunhão são oferecidas por Deus aos “perdidos”.

As três parábolas expressam, com uma força insuperável, dois temas particularmente acentuados por Lucas e vinculados entre si: o tema da misericórdia e do perdão oferecidos por Deus a todos os “perdidos”, e o tema da alegria de Deus quando os perdidos são encontrados.

 

O que escandaliza os destinatários das três parábolas contadas por Jesus, que se consideravam justos e servidores exemplares de Deus, não é propriamente a conduta dos pecadores, mas a conduta de Jesus com relação a eles; Ele permite que os pecadores se aproximem dele, recebe-os de coração aberto, toma a iniciativa de ir ao encontro deles e senta-se com eles à mesma mesa.

Os escribas e fariseus não podiam suportar que Jesus proclamasse que Deus acolhe e perdoa incondicio-nalmente a todos, que tem um carinho especial, um amor de predileção pelos perdidos; um Deus que vai ao encontro dos perdidos e que transborda de alegria quando os encontra.

Esse Deus “novo” anunciado por Jesus era um Deus “desconcertante”, “escandaloso”, totalmente incompatível com o “deus” legalista dos escribas e fariseus. Por isso, a pregação e o comportamento de Jesus são intoleráveis para eles.

 

O comportamento de Jesus é uma “parábola viva” do comportamento de Deus com os pecadores.

Ao contar as três parábolas, Ele explica e justifica o modo de proceder do Deus Pai-Mãe.

As três parábolas nos revelam os sentimentos e as ações do “Abbá de Jesus” que não pode passar sem  os filhos perdidos. Por isso os busca até que os encontra. E os acolhe incondicionalmente quando retornam: sem reprovar-lhes nada, sem pedir-lhes explicações, sem ameaças, sem juízo nem castigo...

A trama das três parábolas desvela e revela a presença de Deus onde nunca imaginávamos encontrá-Lo: junto aos rejeitados e afastados; Ele os acompanhando com sua presença misericordiosa, aproxima-se deles e os convida à festa do seu perdão, libertando-os da sua exclusão e isolamento.

Mais ainda, quando Deus encontra os extraviados, exulta de alegria, carrega-os em seus ombros, convoca todos para poderem se alegrar com Ele, e organiza um banquete festivo.

 

As três parábolas condensam toda a história de nossa salvação. Elas contém a quinta-essência do Evangelho do Reino do Pai proclamado por Jesus, da história do amor de Deus para com a humanidade.

Justamente por serem o Evangelho condensado, estas parábolas contadas por Jesus devem ser incessante-mente ouvidas e contempladas por todos nós. E depois de contempladas e experimentadas, devemos contá-las, proclamá-las e testemunhá-las, sempre de novo, a todos os homens e mulheres que Deus ama.

Elas são as parábolas da nossa vida, da nossa história, de cada um dos nossos caminhos.

Elas são, enfim, as parábolas da nossa origem e do nosso destino.

Assim é o Deus em quem nós cremos. Não vale a pena parecer-se com o Deus de Jesus?

 

Esta é a experiência de Deus que Jesus comunica em suas parábolas mais comovedoras, e a que inspira toda sua trajetória profética. Certamente, as “três parábolas dos perdidos” são as mais belas, as que Jesus mais trabalhou, e provavelmente as que mais repetiu, para contagiar as pessoas com a experiência de um Deus compassivo.

Jesus viveu e comunicou uma experiencia sadia de Deus: Ele não projetou sobre o rosto de Deus, medo, juízos, fantasmas… que todas as religiões costumam projetar em Deus.

Jesus não experimenta Deus por cima ou à margem da história humana do sofrimento e da exclusão.

Ele sente e vive a realidade insondável de Deus como um mistério de compaixão. O que define a Deus não é o poder senão suas entranhas maternais de Pai.

A compaixão é o modo de ser de Deus, sua maneira de olhar o mundo e de reagir diante de suas criaturas.

Jesus repete sempre: “sede compassivos como vosso Pai do céu é compassivo”, e introduz um horizonte totalmente novo na história da humanidade. Jesus não nega a santidade de Deus, mas deixa claro que, o que qualifica e define o Deus santo é sua compaixão; Deus é grande, é santo, não só conosco; Ele não porque rejeita os pagãos, os pecadores e os impuros, precisamente porque em seu coração santo cabem todos. Deus não exclui ninguém; todo aquele que dele se aproxima será acolhido, Deus ama sem excluir ninguém.  

 

A compaixão de Deus é descrita por Jesus não simplesmente para nos mostrar como Deus está pronto a sentir por nós ou a perdoar nossos pecados e nos oferecer uma vida nova e felicidade, mas também a nos convidar a nos assemelhar a Deus e a mostrar a outros a mesma compaixão que Ele tem por nós. Vemos agora que as mãos que perdoam, consolam, curam e oferecem uma refeição festiva tem de ser as nossas.

O Deus da compaixão é o Deus que se oferece a si mesmo como referência e modelo para todo o com-portamento humano.

É essa a pedagogia do Deus Pai-Mãe: ensinar a ver as coisas não a partir do moralismo da perfeição, mas da compaixão. À luz da parábola de Jesus, pode-se chamar humano somente quem é compassivo, indulgente, misericordioso. Quem tem a coragem de aceitar a própria fragilidade e fracasso.

 


Texto bíblico:  Lc 15,1-31

 

Na oração:  O Deus no qual eu creio é um PAI-MÃE que, desde o início da Criação, tem estendido seus braços

                          numa bênção compassiva, nunca se impondo a quem quer que seja, sempre esperando, nunca deixando cair seus braços em desespero, sempre aguardando que seus filhos voltem e deixem seus braços cansados repousar sobre os seus ombros.

                               - Contemplar cada um dos GESTOS do “amor louco”  de Deus por nós.

Pedir a graça:  pedir a graça de sentir sobre nossos ombros as mãos  paternas/maternas de Deus que nos dão

                               segurança.

Ser pai-mãe: deixar transparecer em nós os traços paternos e maternos de Deus; as mãos que perdoam, conso-

                       lam, curam, acariciam e oferecem uma refeição festiva devem ser as minhas mãos;

                       contemplar minhas mãos: foram dadas para serem estendidas no direção dos outros, para ofere-

                       cer a bênção, para socorrer, ajudar...