terça-feira, 26 de agosto de 2014

Programação da semana- Centro Loyola.




Caro amigo,
O Centro Loyola inicia nesta sexta, dia 29, às 19h30, os "Encontros Poéticos", com a professora de literatura da PUC-Minas, Raquel Beatriz J. Guimarães. Os participantes também podem trazer poemas para leitura e partilha coletiva. 
No sábado, dia 30, temos a seguinte programação:
- Curso sobre "Salmos para contemplar a ternura inesgotável de Deus", com o Pe. Ulpiano Vasquez Moro SJ, de 08h30 às 12h00. 
O tema será: “O Senhor é o pastor que me conduz, não me falta coisa alguma.”(Sl 23).
- Tarde de Espiritualidade, de 14h30 às 18h00com o tema: "“No fundo de tudo há a alegria”. A orientadora será "Fátima Fenati".
Mais detalhes da programação você encontra em nosso site ou pelo fone: 3342-2847. 
Abraços fraternos,
Equipe do Centro Loyola de BH.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A RENÚNCIA QUE NOS HUMANIZA “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24)



A RENÚNCIA QUE NOS HUMANIZA

“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24)

O tema do seguimento é central em todos os Evangelhos. Trata-se de abandonar qualquer outra maneira de se relacionar com Deus e com os outros, e entrar na dinâmica espiritual que Jesus manifesta em sua vida. É identificar-se com Ele em sua entrega total aos outros, sem buscar para si nada que possa ter cheiro-resquício de poder e glória.
Jesus é realista. Como todos os mestres espirituais, mostra a senda da vida, que nos permite escapar da confusão e do sofrimento, para reconhecer-nos na nossa verdadeira identidade, espaço de verdade, de liberdade, de unidade e de comunhão.
A oferta de Jesus é um chamado à liberdade: “se alguém quer me seguir...” Caminhar com Ele nos liberta da auto-suficiência estéril e do auto-centramento que nos fecha. O seguimento de Jesus pede “descentrar-nos” de nós mesmos para sermos agentes do novo e criadores de futuro.

Aqui está o sentido da expressão “renunciar a si mesmo”, erroneamente interpretada como autonega-ção, automutilação e auto desprezo. Mas não é disso que Jesus fala. A palavra grega “aparneisthai”signi-fica“dizer não, recusar-se”. Aquele que o segue precisa dizer não às tendências egocêntricas do seu interior, que querem fechá-lo em si mesmo, atrofiando e travando o impulso de vida.
Portanto, a expressão “renunciar a si mesmo”, não significa negar o que somos, mas o que julgamos ser e não somos. “Renuncar a si mesmo” não é negar a vida, nem inclui uma atitude de resignação, auto-sacrifício ou morte em vida. Jesus era um homem profundamente vital e defensor da vida.
“Renunciar a si mesmo” significa renunciar aquilo que nega a vida. Para ganhar a vida é necessário perdê-la, e“perder a vida”significa“perder o eu”,ou seja, deixar de alimentar o “ego”. Porque, de outro modo, quando vivemos para ele, estamos perdendo a vida, entrando na confusão e no sofrimento.
A experiência verdadeira do seguimento de Jesus só é possível se abrirmos mão do nosso ego, se não deixarmos que ele determine a nossa vida; se seguir Jesus serve apenas para aumentar o nosso ego, nos tornamos cegos e nos perdemos.

A mensagem de Jesus não pretende desumanizar-nos, mas conduzir-nos à verdadeira plenitude humana.
A vida quer fluir, e quando não flui, ela se atrofia. No entanto, no mais profundo de cada um de nós habi-ta uma pretensão básica de querer “ser deus” – “sereis comodeuses”. É o pecado de raiz já dos nossos primeiros pais. É a tentação de querer ser outro, de não aceitar ser dependente, de não aceitar-se como criatura, como humano (frágil e limitado).
“Renunciar a si mesmo” é não deixar que o impulso para a vaidade, a soberba... predomine; não deixar que o centro seja o “eu”, mas Deus. Isso implica em “descer”, humildemente, ao próprio húmus.
Viver para o eu é gastar a vida para algo que vai morrer, porque é só uma identidade relativa ou transitória. Descobrimos a Vida quando temos acesso à nossa identidade mais profunda, aquela que nunca morrerá.“Perder a sua vida por causa de mim”equivale a reencontrar-nos nessa identidade quecompartilhamos com Jesus e com todos os seres. “Perdemos” o eu, deixamos de viver egocentrados e nos descobrimos seres em relação, inseparáveis dos outros.

Para entrar na escola de Jesus, precisamos nos distanciar de toda ambição pessoal, daquela tendência que deseja possuir, dominar, usar tudo para seus próprios fins, que sempre gira em torno de si mesmo e que até tenta instrumentalizar o próprio Deus. Quem vive fixado em seu pequeno eu, na realidade está interessado apenas por sua autoproteção e na pretensão de “bastar-se a si mesmo”.
“Renunciar a si mesmo”significa a morte do ego ou, com mais propriedade, o final de nossa identificação com ele. O ego ou eu não é negativo; mais ainda, teremos que cuidar para que seja um eu psicologicamente integrado. O que torna enganoso e destrutivo é identificar-nos com ele.
Brota, então, uma compreensão de que oeu se plenifica na medida em que rompe os laços do seu isolamento, se alarga em direção aos outros, na doação, no serviço e no compromisso solidário.
Na linguagem inaciana, a morte do ego significa “sair do seu amor próprio, querer e interesse”.

O evangelho de hoje nos instiga também a “tomar a cruz”. Da mesma forma, muitos têm interpretado erroneamente a imagem de “carregar a própria cruz”.
“Carregar a sua cruz”, porém, significa acolher aquilo que diariamente cruza o meu caminho, ela é um símbolo para a unidade de todos os pólos opostos (dentro de nós atuam o trigo e o joio, o risco e a covar-dia, o desejo e o medo, o santo e o pecador...)

Tomar a cruz significa: aceitar-me com todas as minhas contradições.Tomar acruz significa abraçar-me com todas as minhas forças e todas as minhas  fraquezas: os aspectos saudáveis e os doentios, as qualidades vistosas e as feias, as partes imaculadas e as manchadas, os sucessos e os fracassos, as coisas vividas e as coisas perdidas, o consciente e o inconsciente...
Nesse sentido, a cruz deixa de ser um “peso morto”, ou seja, uma cruz vazia, sem sentido, in-sensata..., pois ela fecha a pessoa em si mesma, no seu sofrimento e angústia; não aponta para o futuro, nem abre um horizonte de vida.
Fazer o caminho contemplativo junto a Jesus que leva a Cruz da fidelidade nos ajuda a romper com as cruzes que nos afundam no desespero, nos fracassos, nos traumas das experiências frustrantes...

Portanto, num primeiro nível, a cruz é a consequência de sermos fiéis à nossa verdadeira identidade de seguidores de Jesus. Em outro nível, podemos dizer que ela revela simplesmente o destino do eu.
A sabedoria consiste em que nosso eu seja “crucificado” em lugar de ser dono de nossa existência. E o crucificamos na medida em que tomamos distância dele, o esvaziamos de toda soberba e de toda preten-são de poder e prestígio, de modo que não leve as rédeas de nossa vida.
Ao crucificá-lo, deixamos de viver egocentrados e nos abrimos à verdade de quem somos nós.




Texto bíblico:Mt 16,21-27

Na oração: “fazer memória” das cruzes da vida: elas
nos recordam que o dom da vida nos é dado não para que o guardemos e o preservemos, mas para que se consuma e se expanda no serviço aos outros.

sábado, 23 de agosto de 2014

VELAS.


                                                                Queridos amigos!
                                                O nosso estoque de velas na APL acabou,
                                     pedimos aos grupos que se reúnam e montem suas oficinas
                                                  e compartilhem conosco as velinhas.
                                                                        Obrigada.


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A ROCHA SOBRE A QUAL CONSTRUIR A VIDA “Tu és pedra, e sobre esta rocha eu construirei minha Igreja” (Mt. 16,18)



A ROCHA SOBRE A QUAL CONSTRUIR A VIDA

“Tu és pedra, e sobre esta rocha eu construirei minha Igreja” (Mt. 16,18)

Nos Evangelhos,Pedro é o pescador que, impactado pela presença e pelo convite de Jesus, vai entrando, aos poucos, em sintonía com Ele. Um encontro que vai crescendo em adesão à proposta do Reino; um caminho de seguimento que tem seus momentos de obscuridade e de crise, sobretudo ao ver o fracasso do Mestre condenado pelas autoridades religiosas e políticas.
Pedro é o protótipo do cristão que vai se convertendo, abrindo-se à presença desconcertante de Deus na conduta histórica de Jesus. Em Pentecostes, Pedro fala em nome dos primeiros discípulos, cuja fé vem a ser normativa para todas as gerações que se sucedem na história da igreja.  Ele confessa o artigo central e original da fé cristã: “Jesus Cristo é o Filho de Deus vivo”. E se a Igreja se mantém firme nessa confis-são, nada nem ninguém a destruirá.
Entre os discípulos de Jesus, Pedro foi sem dúvida o mais atirado, o mais impulsivo, com o perigo que isso implica. Era o líder do grupo, o primeiro a falar em qualquer circunstância, sem medo de repreender Jesus quando este anuncia sua paixão, sem medo de levar uma reprimenda quando Jesus quer lavar os pés ou quando anuncia que todos o trairão. O fato de ser tão lançado o situa também no lugar mais perigoso, o da negação de Jesus. Mas, ele mesmo termina confessando depois da ressurreição: “Tu sabes tudo, tusabes que te amo”.  Não é novidade que Jesus o visse como o líder natural do grupo depois de sua morte e ressurreição.

No evangelho de hoje nos encontramos num destes momentos em que Pedro, com sua habitual ousadia e rapidez, responde à pergunta que Jesus lhes dirige sobre sua identidade:“Tu és o Messias, o Filho do Deusvivo”.Diante da pronta confissão Jesus o chamou, em hebraico, “Kephas”.
Mateus faz um sugestivo jogo de palavras entre dois nomes gregos comuns: “petros” (pedra) e “petra” (rocha). “Petros” só é usado como nome próprio no NT: fala-se de “Simão Pedro” ou simplesmente de “Pedro”. No AT “petros” tem o significado de pedra comum, pedregulho, algo que se pode pegar e lançar.No entanto, tanto no Antigo como no Novo Testamento não há confusão com a palavra “petra” que sempre significa rocha, sobre a qual se assenta um edifício.
Agora podemos conhecer em seu justo significado o famoso texto de Mateus. Este faz uma sugestiva comparação-oposição entre a fragilidade e a pequenez da pedra frente à segurança e robustez da rocha.
A pessoa de Pedro em sua fragilidade, em sua cabeçudagem e até em sua covardia é, ao mesmo tempo, símbolo de fortaleza e de segurança pela confissão de fé que fez para a pessoa de Jesus.
Pedro é “pedra” em sua fragilidade humana, mas é “rocha” em sua manifestação de fé.
Portanto, este é o significado das palavras que Jesus diz a Pedro e a toda a comunidade cristã: “Tu ésPedra, e sobre essa Rocha vou edificar minha comunidade”. A rocha não é a pessoa de Pedro, mas a fé de Pedro. Sobre essa rocha-fé de Pedro Jesus deseja edificar sua comunidade de seguidores.

Pedro aparece, então, como o primeiro discípulo que manifesta sua fé pessoal em Jesus. E o evangelho faz um convite para que cada pessoa, cada seguidor, expresse para si mesmo qual é sua fé em Jesus.
Como consequência, essa mesma fé que aflorou na primeira comunidade cristã é a que emerge e se prolonga, ao longo dos séculos, em cada seguidor de Jesus. Com sua fortaleza (petra-rocha) e, ao mesmo tempo, com sua fragilidade (petros-pedra); sem dogmatismos nem doutrinas, mas com a modesta manifes-tação de alguém que se sente interpelado e animado pela forma como Jesus viveu e pelos estímulos que Ele lhe deu para caminhar na direção da nova humanidade.
“Petros”é o que em nós é fragilidade, incoerência, vulnerabilidade, limitação... “Petra”, ao contrário, é o que é sólido, firme, consistente, sobre o qual fundamentamos a vida.  “Carregamos um tesouro em vaso debarro” (2Cor. 4,7). O ser humano é a integração de “petros” e “petra”.
Nossa própria interioridade é a rocha consistente e firme, bem talhada e preciosa que cada pessoa tem, para encontrar segurança e caminhar na vida superando as dificuldades e os inevitáveis golpes na luta pela vida.O “eu profundo” constitui-se como um centro sólido, consistente e estável de nosso ser, radicalmente diferente das experiências fluidas que o atravessam. Existem camadas sólidas da experiência do “eu” que devem contrapor-se às experiências passageiras de sentimentos vazios, desejos periféricos, sonhos sem paixão.
É no “eu mais profundo”  que as forças vitais se acham disponíveis para ajudar a pessoa a crescer dia-a-dia, tornando-a aquilo para o qual foi chamada a ser. Trata-se da dimensão mais verdadeira de si, a sede das decisões vitais, olugar das riquezas pessoais,onde ela vive o melhor de si mesma, onde se encon-tram os dinamismos do seu crescimento, de onde partem as suas aspiraçõese desejos fundamentais, onde percebe as dimensões do Absoluto e do Infinito da sua vida.


Vivemos um contexto social e cultural no qual se constata um modo de vida que não favorece o contato com a nossa rocha interior. Seduzidos por estímulos ambientais, envolvidos por apelos vindos de fora, cativados pela mídia, pelas inovações rápidas, magnetizados por ofertas alucinantes... nós nos esvaziamos, nosdiluimos, perdemos a interioridade e... nos desumanizamos. Tudo se torna líquido:o amor, as relações, os valores, a ética, as grandes causas... (cf. Bauman).
Diante desta “cultura líquida” é urgente gerar espaços que facilitem o acesso à rocha da interioridade, possibilitar o retorno à “base interior” onde é gestada a nossaidentidade e as nossasopções mais firmes.
Somos um mistério no meio de mistérios, em um mundo de surpresas e de assombros.

Texto bíblico:Mt 16,13-20

Na oração: Busque, na oração, cavar mais profundamente, até atingir a rocha de seu ser, o fundamento
original e consistente de sua personalidade.
- Quais são os valores perenes, as visões ousadas, as experiências fundantes, as opções duradouras... que
constituem a rocha inabalável, sobre a qual construir sua vida?

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

ASSUNÇÃO: “estamos abastecidos de futuro” “Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judéia”



ASSUNÇÃO: estamos abastecidos de futuro

“Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judéia”

A vida de Maria na terra foi um percurso, um itinerário para a plenitude humana, em comunhão com todos os outros, através de seu filho Jesus. Pois bem, cumprido esse percurso vital, que havia começado no seu nascimento, Maria foi assumida (assunta) à glória de Deus, que se identifica com a Ressurreição e Ascenção de Cristo. Maria “foi aspirada para dentro de Deus”, absorvida pela Vida.
Este dogma afirma que Maria culminou sua vida em Deus, por meio de Jesus, “em corpo e alma”, ou seja, como pessoa histórica, em comunhão com as demais pessoas que estiveram e continuam estando implicadas em sua vida.
A plenificação da vida de Maria na Assunção não é triunfo da passividade, mas do amor solidário e da preocupação pelos outros. A Assunção é o céu da ternura maternal, a proximidade amistosa, o serviço gratuito... Por um lado, Maria chegou ao cume: contempla Deus face a face, vive no interior da família divina. Por outro lado, Maria está assumindo uma nova função: ela começa sua tarefa de ajuda maternal em favor de todos os homens e mulheres, especialmente dos mais pobres e frágeis.

Na festa de hoje a Igreja nos revela a plenificação final da obra de Deus na mulher que não opôs nenhuma resistência à sua ação. Deus havia empreendido um caminho de salvação e ela, com seu sim, consentiu a esse projeto salvífico. Sua original maneira de colaborar consistiu em deixar Deus fazer, e por isso reco-nhece: “O Poderoso fez em mim maravilhas”.
A Assunção não é um privilégio excepcional exclusivo de Maria, mas o símbolo de nosso próprio destino, quando seremos “assumidos” na vida definitiva.Este dogma pode ser entendido desde um duplo enfoque: com ela acontece algo único, e com ela acontece aquilo para o qual todos estamos destinados.
Ela é a Humanidade que já chegou à plenitude e é a vida que vence a morte. Sua Assunção é como uma ampliação da grande Ascenção de Jesus. Maria, como Imaculada e Assunta, é um ícone de esperança. Com isso, nossa vida se torna caminho de esperança jubilosa; com Maria já entramos, de algum modo, no céu de Deus, no futuro da ressurreição plena.
O próprio Papa Pio XII deixou isso claro ao proclamar este ensinamento solene em 1950: “O essencial damensagem é reavivar a esperança na própria ressurreição”, que consiste em ser assumido no mistério original da Vida da vida.
A Assunção não é só um mistério de elevação da Mãe de Deus. É também um mistério de “descida”, pois ela continua sendo humanidade, mas é humanidade carregada de Deus, integrada no mistério trinitário.
Assunção é vida plena antecipada.

Ao falar da Assunção nos referimos à plenitude final e à culminação do processo vital de Maria. Mas a meta supõe sempre um caminho, um percurso.
O Evangelho de hoje nos apresenta Maria, desde o começo, “caminhando depressa”, de Nazaré da Gali-léia até às montanhas da Judéia para chegar à casa de Isabel e ajudá-la; naquela primeira “meta” de seu percurso recebeu dos lábios da prima a primeira bem-aventurança:“Feliz é tu que acreditaste...”Eaquelasaudação foi uma antecipação da felicitação que Maria recebeu no final definitivo de sua trajetória.
Toda a vida de Maria consistiu em dirigir-se apaixonadamente para essa meta definitiva que não podia ser outra coisa que a prontidão para o serviço a quem dela precisasse. É oportuno recordar o que dizia o Vat. II: Maria é o modelo e exemplar mais acabado de toda vida cristã. Foi aquela que mais conheceu, amou e seguiu Jesus Cristo.

Quando falamos de Assunção, empregamos um termo que desperta imagens de movimento, de atração para o alto, de impulso ascensional; nosso olhar é atraído para a altura, e vemos Maria elevada para essa dimensão que chamamos “céu”. Essa maneira de vê-la, no entanto, não a afasta de nossa experiência, senão que nela se faz transparente o destino da humanidade inteira: em Maria vemos agora o cumprimento antecipado da transfiguração de nossa existência.
Ela foi “assunta” porque assumiu tudo o que é humano, porque “desceu” e se comprometeu com a história dos pequenos, dos pobres e excluídos... Maria foi glorificada porque se fez radicalmente “huma-na”.Por isso, Deus a engrandeceu plenamente.
Crer na Assunção de Maria implica crer na exaltação dos pequeninos e humilhados, dos pobres esquecidos, dos injustiçados sem voz, dos sofredores sem vez, dos abandonados sem proteção, dos mise-ricordiosos descartados, dos mansos violentados...
Vivemos já a Assunção quando não nos deixamos determinar por uma vida estreita e atrofiada, presa pelos apegos... Somos “assuntos” quando sonhamos, buscamos e ativamos todos os dinamismos humanos de crescimento e de expansão em direção aos outros. Nós nos “elevamos” quando “descemos” em direção à humanidade ferida e excluída. O “subir” até Deus passa pelo “descer” atè às profundezas da realidade pessoal e social, sendo presença servidora.

Somos chamados a nos situar, como Maria, diante do olharsalvífico de Deus: “... porque Ele olhou para a humildade de sua serva”; deixar-nos “olhar” por Deus para sentir-nos acolhidos e envolvidos em sua ternura, seu perdão e seu amor incondicional;deixar que seu olhar faça cair os fardos que carregamos às costas e nos possibilite experimentar a assombrosa liberdade de não ter que representar papéis, nem acumular méritos, nem dissimular fragilidades; sentir-nos envolvidos na proteção cálida de um amor que nos acolhe e desata em nós ricas possibilidades de existência e crescimento; emigrar dos velhos “chãos” que sustentavam nosso eu, para encontrar-nos ancorados em outro centro e respirando outro ar; fazer a experiência da relação filial que nos pacifica e expande o coração. A partir daí, tomar de novo contato com a realidade e nos dirigirmos a ela com um olhar novo e um coração acolhedor: a de quem se sabe “filho” e “irmão”. E quem se reconhece filho sob o olhar do Pai, todos se tornam irmãos.
Celebrar o mistério da Assunção de Maria, portanto, é também um convite a viver nessa dinâmica do compromisso e não da resignação, da esperança solidária e não da “espera passiva”.
Este mistério celebrado por toda a Igreja é um mistério profunda-mente enraizado no coração do ser humano, que quer viver sempre, permanecer, ser imortal. Por isso somos convidados a continuar nesse “deslocamento” contínuo a serviço da vida.
Assunção é missão.







Texto bíblico:  Lc 1,39-56

Na oração:Que esta festa nos convide a olhar Maria com novos olhos,
para que seja um estímulo quenos levea descobrir a proxi-midade do divino em todas as circunstâncias da vida. A meta de todo ser humano é a mesmo que Maria já alcançou e que hoje celebramos. Deus está fazendo grandes coisas em cada um de nós, embora, muitas vezes, vivemos sem nos dar conta disso. Criar um clima de ação de graças.