sexta-feira, 2 de março de 2012

Amigos e amigas, segue uma sugestão para rezar, subindo o Monte da Transfiguração. Um abraço a todos Pe. Adroaldo sj


A EXPERIÊNCIA DO TABOR DES-VELA NOSSA IMAGEM VERDADEIRA

“Transfigurar-se é ascender a ladeira íngreme do Tabor até mergulhar a cabeça na nuvem do não-saber. É um aspirar sem querer, acreditar sem ver, esperar sem ter, dar-se sem possuir. É reduzir todos os pontos cardeais do ego ao seu núcleo central: o amor” (Frei Batto).

Todos os grandes personagens bíblicos fizeram sua experiência de Montanha (lugar de intimidade com Deus; de escuta e discernimento; lugar onde receberam uma “missão” e foram abençoados). Do alto da Montanha esta bênção vai se espalhando e atingindo a todos; experiência pessoal de alcance universal.
Também Jesus, o homem dos “vales” (lugar do compromisso, serviço...) sabia reservar momentos de Montanha (comunhão e escuta do Pai); ali Ele busca sentido e força para a sua missão.
No Monte Tabor Ele deixa “trans-parecer” seu coração; diante do olhar assombrado dos discípulos Ele “des-vela” aquilo que a visão superficial não capta: Ele é todo compaixão, bondade, acolhida, amor...
Jesus de Nazaré foi o homem que não pôs obstáculos ao Mistério para que se expressasse n’Ele; Ele foi pura transparência da Fonte originante, revelação do Rosto do Pai.

Como seguidores de Jesus, devemos saber criar em nossas vidas, espaço e momentos de Montanha (plenitude, silêncio, interioridade, escuta, discernimento); isso possibilita uma prática eficaz, um compro-misso duradouro, uma decisão enraizada, uma presença transformadora nos “vale da vida”.
Subir à Montanha nos possibilita ler os horizontes e perceber se estamos caminhando na direção certa; isso implica tomar distância do ritmo diário, descobrir novos caminhos e novas decisões...
A Montanha nos faz perceber (a partir do alto) certos aspectos do vale que passam desapercebidos.
Permanecer no vale, sem ter momentos de Montanha, é fechar-se, cair na rotina, não perceber novos horizontes, não abrir a cabeça e o coração, não ampliar a visão das coisas, da realidade, da história...
Nossa ação  no vale deve ser fruto do discernimento acolhido na Montanha. A Montanha nos devolve ao vale com outra visão, outro dinamismo; a Montanha ilumina, dá sentido e sabor à nossa vida no vale.
O vale é o lugar do compromisso, do trabalho, da construção... mas iluminado pela experiência da Mon-tanha. Todo gesto no vale tem plenitude, tem ressonâncias... a partir da Montanha.
A Montanha também nos revela que Deus está “trabalhando” no vale e nos impulsiona a “trabalhar” com Ele na mesma direção.

A Montanha não é lugar só do encontro íntimo com o Senhor, mas também lugar do encontro com o melhor de nós mesmos, nosso ser essencial; no silêncio do monte poderemos perceber quem somos nós. Por isso a transfiguração é também descoberta do “eu”, da própria realidade pessoal, do Mistério que habita em nós. É nessa manifestação divina que “descobrimos a nós mesmos”. Começamos a desco-brir o nosso ser ( único, original, sagrado...) quando “mergulhamos”  no misterioso relacionamento com Deus e quando permitimos que o “mistério experimentado” se torne fonte de nossa identidade.
Nossa vocação é “trans-figurar-nos”, superar nossa própria figura, ir além de nossa aparência para captar nossa originalidade e riqueza interior, nosso “eu original”.
Essa é a nossa verdadeira identidade; em certo sentido, é como se recordássemos quem somos e, ao recordá-lo, iniciamos um caminho de volta à casa (as “três tendas”). “Voltar à casa” é deixar transpa-recer aquilo que é mais nobre em nós; é reconhecer que somos Plenitude que transborda, Fonte inesgo-tável de sonhos, criatividade, inspirações...
Cair na conta de nossa condição de “filhos/as amados/as” equivale a reconhecer-nos como transfigura-dos. E é isso mesmo que se pode afirmar de cada ser humano: cada um de nós é “filho amado”, nascido daquela mesma Fonte e, ao mesmo tempo, transparência dela.

Todo ser humano possui dentro de si uma profundidade que é o seu mistério íntimo e pessoal; trata-se do “eu original”, aquele lugar santo, intocável, onde reside o lado mais positivo da pessoa, que só uma experiência de transfiguração é capaz de des-velar.
É aqui, onde a pessoa encontra a sua identidade pessoal; trata-se do coração, da dimensão mais verda-deira de si, da sede das decisões vitais, lugar das riquezas pessoais, onde ela vive o melhor de si mes-ma, onde se encontram os dinamismos do seu crescimento, de onde partem as suas aspirações e dese-jos fundamentais, onde percebe as dimensões do Absoluto e do Infinito da sua vida.

Trans-figurar é deixar trans-parecer toda essa riqueza interior. E isso não é fácil; normalmente cobrimos nossa verdade com máscaras ou com um papel que interpretamos. Vivemos uma quantidade de expe-riências rápidas, amontoadas, sem possibilidade de avaliação (ativismo, rotina, angústias, trabalho sem sentido; mundo fechado, sem horizontes, sem direção...)
O cotidiano faz-se rotineiro, convencional e, não raro, carregado de desencanto. Frequentemente vive-mos o cotidiano com o anonimato que ele envolve; e isso nos des-figura, desumanizando-nos.
Por debaixo somos... como realmente somos. Mas o ocultamos por medo de expor-nos aos outros, de não sermos compreendidos, de não valermos nada...; frequentemente preferimos ignorar partes de nós mesmos, apagar da consciência episódios pessoais; nosso “eu” se dissocia e se desintegra.

No entanto, a experiência do amor incondicional de Deus pode derrubar grossos muros, arrancar nossas máscaras, revelar-nos quanto valemos aos Seus olhos e dar-nos uma nova liberdade para sermos nós mesmos.
Na Montanha somos olhados por Ele em profundidade e  esse olhar revela nossa verdade mais original.
Trata-se de um olhar de aceitação, de amor, que nos faz descobrir o quanto valemos, que nos chama à vida; que nos livra do mundo de sombras, medos e inseguranças; que nos faz descobrir o gosto de viver sem máscaras, como alguém respirando ar puro.



Nos caminhos das Montanhas, sentimo-nos livres de horários fixos, apegos, modas, propagandas, violências, normoses, incompreensões e intolerâncias, e aprendemos o serviço e a entrega incondicional aos outros. É a partir das Montanhas que devemos colocar as bases firmes para edificar uma cidade fraterna e livre. Na Montanha, nunca se conjugam os verbos: escravizar, desprezar, irritar, estafar, odiar, tiranizar, encadear, encarcerar, impôr, fazer calar, humilhar, não aceitar nem compartilhar...
Acima, sobre os cumes, brilha sempre o Sol, que queima os farisaismos, egoísmos, violências e injus-tiças, que costumam ser produtos da cidade.
Subir uma Montanha exige força de vontade e esquecer-se da comodidade, droga atual que tanto debilita a colaboração, a solidariedade, a compreensão e a entrega, pedras angulares de toda sociedade livre.
A experiência da Montanha não é para permanecermos aí, isolados e acomodados, mas para “descer” à vida cotidiana, com todos os seus desafios, e viver ali o que vimos, a partir de uma atitude de bondade, compaixão e serviço.

Texto bíblico:   Mc. 9,2-10

Na oração: - sentir como Deus nos conhece e nos ama como somos;
- quê máscaras você usa habitualmente? quê papéis você representa?
- como você se sente quando atua com essas máscaras? 
 A oração faz emergir à consciência uma nova imagem de nós mesmos e indica com o dedo uma área  da nossa personalidade que necessita ser trans-figurada com criatividade; ela  promove um desenvolvi-mento criativo, eliminando a distancia entre a imagem real e as falsas imagens que habitam o nosso interior.
Através do encontro com o Senhor, no silêncio da montanha, a oração revela quem somos realmente, e amplia nossa vida para além de nossas pequenas fronteiras. Com efeito, orar é aproximar-nos da “verda-de que nos faz livres”; livres para sermos “nós mesmos”, chegar a ser aquilo para o qual somos cha-mados a ser.

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