quarta-feira, 27 de julho de 2011

Reportagem do Jornal de Pará de Minas sobre a Ordenação do Geraldo.

Jesuíta patafufo será ordenado amanhã, no santuário
08/07/2011


Ainda neste mês acontecerá uma importante cerimônia religiosa em Pará de Minas, mas poucos pará-minenses sabem. Trata-se da ordenação de um religioso de uma das mais importantes e conhecidas ordens da igreja Católica, a Companhia de Jesus, fundada em 1534 e que se tornou muito conhecida historicamente por ter sido a principal ferramenta na Contra Reforma, o movimento reacionário à Reforma Protestante. Fora isso, foi também a responsável pela catequização dos índios brasileiros e pela implantação do cristianismo no Brasil. Atualmente, os jesuítas formam a maior ordem religiosa da Igreja Católica, contando com 19.216 membros espalhados por 112 países e 6 continentes. Apesar dessa ordem não está presente na cidade, o futuro padre jesuíta pará-minense, Geraldo Lacerdine Américo, 34, escolheu sua terra natal para se tornar oficialmente um religioso. Filho de Luzia Lacerdine e Antônio Américo, Geraldo reside em São Paulo/SP de onde se prepara para a ordenação que acontecerá amanhã, sábado, dia 9, no Santuário da Piedade, a partir das 19 horas. Enquanto isso, ele divide seu tempo entre orações, estudos e a profissão de jornalista que ele desempenha dentro da ordem. Como não poderia deixar de ser, a reportagem GP entrou em contato com o jesuíta pará-minense que falou com exclusividade de sua vida, sua vocação e sobre a ordem. Confira os melhores momentos.
“Nasci em Pará de Minas, mas ainda pequeno, 6 anos, minha família foi morar em um sítio chamado Rozio que tinha sido de meu avô, homem do campo. Tive uma excelente infância, correndo pelas pastagens verdes do sítio de meus pais. Por não ter brinquedos, a vida me obrigou a ser criativo. As minhas invenções eram mirabolantes: de foguetes intergalácticos a submarinos blindados de sal. Coisa de menino! Dividi infância com meu irmão mais novo que acompanhava minhas proezas em risos e brigas intermináveis”, relembra o jesuíta Geraldo.

QUERIA SER PADRE? - “De jeito algum, isso não fazia parte do meu horizonte! Aos 17 anos, me deparei com a necessidade de justificar a minha vida. Contudo, desejava uma profissão que pudesse ajudar as pessoas. Pensei em ser médico, até fiz o vestibular na UFMG, quando passei na 1ª etapa, mas fui reprovado na 2ª. Minhas indagações continuavam: Para que eu existia? Para quem? Que diferença eu fazia no mundo e na vida das pessoas? Qual era o sentido do trabalho que eu realizava e do dinheiro que ganhava, entre outros questionamentos. Foi nesse contexto de crise que recebi um convite para participar um voluntariado juvenil no sertão mineiro. Não pensei duas vezes... larguei emprego, família e tranquei matrícula na faculdade. Parti para uma aventura totalmente nova que poderia me dar respostas. Passei 6 meses vivendo, trabalhando e comendo com os pobres. Essas pessoas viviam abaixo da linha de pobreza, tendo, muitas vezes, apenas uma refeição diária. Confesso: minha família nunca foi rica, mas nunca sentimos falta de nada e nem fome. Ali, naquele lugar, vi gente que sofria dores de fome, de abandono... de tudo. Foi nesse lugar, vivendo, trabalhando, sofrendo, rindo, confraternizando com esse povo, que senti, pela 1ª vez, o desejo de ser padre. Não para resolver os problemas que eles tinham, mas para escutar, para mostrar a eles a dignidade perdida pela exclusão, para ajudá-los a perceber o imenso amor que Deus manifestava no Cristo, por razão deles. Senti fortemente no Cristo o desejo de ser como Ele, no meio do povo”.

MÚSICA E RÁDIO - “Quando voltei a Pará de Minas eu tinha claro o que eu queria fazer da minha vida. Só necessitava aprender mais, saber mais sobre Cristo, sobre a vida, o povo... eu tinha ânsia por aprender para ensinar e viver com mais qualidade. Eu era um típico jovem que vai à missa para ficar na porta da igreja flertando com as meninas. Também ajudava em algumas manifestações pontuais como o teatro de Semana Santa, festas, etc. Tudo isso até descobrir a música. Foi ela quem me levou para dentro da Igreja, de uma maneira muito mais atuante e forte. A música revelou a mim uma linguagem totalmente nova, onde Deus se comunicava por meio dela. Em um 1º momento, fui para o seminário da Diocese em Divinópolis/MG, onde fiquei por um ano. Contudo, percebi que não era essa a vida que eu buscava, diante de minha 1ª experiência no sertão mineiro. Daí, saí do seminário, voltei a Pará de Minas decidido a estudar e trabalhar. Aí, fiz vestibular de Comunicação na UFMG, passei e arranjei trabalho na Radio Espacial, onde trabalhei por uns dois anos como locutor com o pseudônimo de Dinho Ferraz, sugerido pelo colega de trabalho Ailton Santos. Durante esse tempo, conheci os jesuítas e o trabalho que eles desenvolviam no mundo, através de um grande amigo: padre Geraldo Meneses. Quanto mais eu lia, mais eu me encantava pela missão destemida desses homens. O principio básico da missão dos jesuítas é: “Homens bem formados nas artes e nas letras para melhor servir na missão de Cristo”. Esse principio torna a missão muito diversificada e aproveita o que o jesuíta, em particular, pode fazer de melhor no campo da Antropologia, Ciência, Medicina, Direito, Teologia, Filosofia, Artes, Sociologia, Pedagogia e Espiritualidade, entre outros. Os campos principais de atuação hoje são: trabalho com refugiados, apostolado intelectual, apostolado social (África, China, Índia, América Latina, etc), educação (universidades, colégios, centros de reflexão de fé e cultura), educação popular, paróquias, missões e além fronteiras”.

DISPONIBILIDADE - “Atualmente, sou responsável pela comunicação da Companhia de Jesus no Brasil. Gerencio o Núcleo de Comunicação, com sede em São Paulo/SP, onde trabalham 50 profissionais da área. Ajudo na formação de jovens no Anchietanum (casa de formação juvenil da Cia. de Jesus) e ministro os sacramentos na paróquia São Luis. É assim o meu dia a dia: às 6H30, faço uma hora de natação e uma hora de oração pessoal; às 8H30, trabalho no Núcleo de Comunicação; às 18H celebro a missa; das 19H30 às 22H40, tenho aula de mestrado na Escola Superior de Propaganda e Marketing. Na Companhia de Jesus tenho que estar disponível a qualquer tipo de missão que a Igreja queira me confiar. Sou especialista em comunicação, mas se há necessidade de outros trabalhos em qualquer parte do mundo, estou disponível. Esse é o fundamental de minha vocação: ir para qualquer parte, onde Deus e a Igreja queiram me enviar. Em lugares de fronteiras, aí está o jesuíta”.

POR QUE AQUI? – “A cerimônia de ordenação é belíssima! E o significado que isso tem para minha vida a faz ainda mais bela, pois é uma oportunidade de reunir todas as pessoas que me acompanharam nesses 12 anos de preparação para o sacerdócio. Acredito que será emocionante compartilhar esse momento com a comunidade dos cristãos local. Eu costumo dizer que é um momento perfeito para dividir um pedaço de mim com as pessoas que eu amo e com o povo de Pará de Minas. Afinal, é a cidade onde nasci, cidade que amo e onde estão minhas raízes profundas. É aqui que eu me encontro e me fortaleço, ao lado dos amigos, família e do povo pará-minense. Acredito que Pará de Minas melhorou em vários aspectos, desde que me mudei daqui (estrutura urbana, transporte, lugares públicos, etc.). Adoro essa cultura da gentileza que o povo daqui desenvolveu: a parada dos motoristas na faixa de pedestre, o ajudar as pessoas que carregam embrulhos, o dar lugar aos idosos, etc. Tudo isso é muito bacana! Outra coisa que gosto muito por aqui é a acolhida e a hospitalidade do povo pará-minense. Aqui, sempre se tem aquela boa impressão de estar em família”!

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