terça-feira, 10 de janeiro de 2012

DECISIVAS PERGUNTAS



“Quê estais buscando?” (Jo. 1,38)



Perguntar e responder são atributos do ser humano; ele se define mais pelo perguntar do que pelo responder. Perguntar é buscar; buscar sentido. Quem pergunta procura descobrir a verdade.

Por outro lado, em toda resposta, por mais objetiva que seja, ainda resta o inexplicável; em toda clareza persistem as sombras, em toda convicção permanece uma dúvida.

A pergunta nos faz descobrir a grandeza no pequeno e o mistério naquilo que é óbvio; ela nos faz ficar assombrados pela percepção do extraordinário presente naquilo que é cotidiano.

O perguntar é ousado, instigante; perguntar contém desafio, provocação; leva dose de irreverência.

Perguntar é interpelar; coloca dúvida nas certezas; perguntar é processo que transparenta a verdade.

“Perguntar é mergulhar no abismo” (Exupèry). As perguntas tem uma força que não encontramos nas respostas. Somente enquanto perguntamos por algo, palpita em nós um impulso, um interesse que não se apaga enquanto não sacia nossa curiosidade. Perguntar-se na vida é o que nos mantém em busca...

A pergunta é movimento; e só quando pergunta é que emerge a novidade, pois a pergunta move à busca de uma resposta criativa. Mais ainda, perguntar põe em crise certas convicções, idéias fechadas, modos arcaicos de viver...






Nem todas as perguntas são iguais. Ás vezes surge uma pergunta, algo que nos interessa e que queremos saber... e basta uma busca rápida, um “click”, para satisfazer esta pergunta.

O importante é situar-nos frente a outro tipo de perguntas, as mais decisivas e essenciais, aquelas que não podem ser respondidas com um “click” e nos movem a uma tomada de decisão. São perguntas que atu-am a um ritmo diferente e tem a ver com o núcleo escondido das pessoas e da vida.

É neste nível que surge a pergunta de Jesus aos dois discípulos de João. Jesus propõe a pergunta fundamental, “e vós, o que estais buscando?”; uma pergunta exigindo que eles se examinam a sério, que tomem consciência do que pretendem, que explicitem as reais motivações da busca por Ele.

A pergunta é desafiadora, e não simples curiosidade e inquietação, e se dirige a todos. Cada um tem de dar sua resposta. Ela exige uma tomada de posição, um ato de fé. Por isso, o processo da busca dos dois discípulos se amplia, despertando nos outros igual movimento de busca; um encontro não termina em Quem encontra: a partilha da descoberta faz brotar uma “reação em cadeia”.

Porque buscam, os dois discípulos movem os outros à busca.



Não fomos educados a elaborar perguntas, mas quase sempre a conservar respostas. Introjetamos respostas de perguntas que não foram feitas.

Jesus, com sua pedagogia fundada em perguntas, nos coloca diante do mistério de Sua vida e de Suas opções. Responder à pergunta “quem é Ele” é comprometer-se com Ele, é assumir o caminho d’Ele, é arriscar-se n’Ele.

Uma pessoa que se define tem força para interrogar, para arrastar, para mobilizar pessoas... Jesus é o ho-mem que se definiu e sua “pergunta arrasta” porque oferece um mundo novo, uma proposta nova.

A vida de Jesus se torna norma, uma maneira de proceder, um estilo próprio de ser e de viver...

Jesus Cristo é o homem das “grandes viradas”, ou seja, é Aquele que muda os paradigmas e introduz novos parâmetros e referenciais, em torno dos quais se criam “coisas novas” ou se renovam rumos e sentidos de coisas válidas do passado.



Jesus aproxima-se das pessoas. Não procura convencer, argumentar, ou fazer seguidores à base de discur-sos. Suas perguntas ousadas colocam em crise visões distorcidas, falsas concepções e idéias pré-concebidas a respeito d’Ele. Com sua pergunta Jesus provoca uma radical decisão pró ou contra Ele, uma clara opção pró ou contra o Reino.

Aos olhos de Jesus nada é mais perigoso para o espírito humano do que vidas “satisfeitas”, acomodadas, sem inquietações e buscas, sem a aflição das esperas e sem as conseqüências de um compromisso; cora-ções quietos, medrosos, petrificados... não tem lugar no seu grupo. Somente vidas repletas de razões, de criatividade, de entusiasmo e vitalidade... podem fazer o caminho com ele e correr o risco da Cruz.



A pergunta de Jesus aos dois discípulos também ressoa em nosso interior: o que, ou quem você busca? Por que busca? Tem sentido e valor o que você busca? Para onde o leva a força da busca?...



Estas perguntas ficam ali, continuamente presentes em um rincão de nossa vida; mas enquanto permane-cem vivas são como brasas que voltam a acender-se cada vez  que a vida as sopra.

Estas perguntas nos fazem humanos e são tão importantes como o ar que respiramos.

Perguntar-se é também um fenômeno inteligente para reativar as decisões pessoais

“Questionar-se” é provocar a interioridade e descobrir-se na interioridade; questionar-se é ser profundo, é tocar a intimidade mais sagrada de si mesmo, é captar a essência criativa da existência.

Por isso, questionar-se é reconhecer-se como pessoa profunda e não superficial, inquietar-se com as “res-postas” tradicionais e vazias, entrar no movimento de novas buscas...



“Questionar-se” é um gesto ousado para despertar o sentido da vida pessoal, para buscar um objetivo mais sério, é ser mais humano. O cristão deve perguntar-se sempre a respeito da vida, da missão, da sua experiência de fé, da adesão à pessoa e ao projeto de Jesus Cristo...

Quando a pessoa não se questiona, é porque prefere o desânimo, a acomodação, a permanecer em seus “hábitos normóticos”. Por isso, interrogar-se é possuir sabedoria, ciência, arte, ética...

Com as perguntas fazemos história, e a história é abertura para a aventura... E o seguimento de Jesus, é a maior das aventuras.



Somos continuamente desafiados diante da grandeza da vida. No enfrentamento desse desafio está escon-dida uma sabedoria que cria as condições para se compreender o rumo certo do caminho e a abertura dos horizontes novos. Por isso, buscar torna-se um hábito de vida.

Não é a busca de uma coisa qualquer. Busca-se pela força do amor. É a força do amor multiplicando o desejo dessa busca. Na raiz está o amor. Só o amor faz buscar o que vale a pena encontrar. Quem busca por amor encontra o essencial, o tesouro. Compreende que, para além dos limites da própria inteligência, o amor revela o sentido da busca pela riqueza do encontro. Só encontra quem por amor busca o que é importante e indispensável encontrar e conservar no coração.

Uma lógica de contínua busca deve permear o coração do cristão, para aprender a viver da busca d’Ele, o Senhor, e da busca de todos os outros, colocando-se a serviço da vida, unicamente por amor.

Estar em busca é sair de nosso ser atrofiado pelas preocupações individuais para mover-nos num hori-zonte maior de pré-ocupação pelo outro; estar em busca é perguntar-nos, é estar aberto para ser tocado pela mais profunda das graças: a gratidão diante de Deus.



Texto bíblico:  Jo. 1,35-42



Na oração:  sinto vivas em mim as perguntas radicais?

                        Quais são minhas inquietantes e decisivas perguntas?


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