terça-feira, 3 de janeiro de 2012

OS MAGOS, PORQUE BUSCAM, PÕEM-SE A CAMINHO



 “Uma vida sem busca não é digna de ser vivida” (Sócrates)



Viver é desafiador na medida que viver é buscar. A dinâmica da busca marca a caminhada humana e define os rumos da vida. Vive-se em permanente busca e só à medida que se vive para buscar  é que a vida se torna, de verdade, vida, com mais sabor e sentido. O que se busca define e determina o que é a vida da pessoa. “Diga-me o que buscas e dir-te-ei quem és”.

No interior de cada um ficou aguçada a dinâmica da busca, aquela que mantém a vida de todo coração e o incita na busca do que vale, do que conta e do que é essencial. O coração humano foi feito para encontrar a razão mais profunda do seu viver; há uma inquietude latente em seu interior que o faz peregrino do sentido. Tão fundamental como é o respirar, toda pessoa precisa assumir sua condição de navegadora do infinito. Somos, por natureza, eternos buscadores e garimpeiros do novo.

A vida se torna mais vida na medida que se vive para dar razão a essa busca. Uma busca que exercita o coração e o modula na sinfonia amorosa do coração de Deus. Ele é a única e completa razão da busca do coração humano.



Todo ser humano é aventureiro por essência; com ardor, ele anseia por uma causa última pela qual viver, um valor supremo que unifique a multiplicidade caótica de suas vivências e experiências, um projeto que mereça sua entrega radical. Para dar sentido à sua vida e realizar-se como pessoa, o ser humano necessita da auto-transcendência, isto é, viver para além de si mesmo, de seus impulsos, caprichos, desejos...

Carrega dentro de si a sede do infinito, a criatividade, a capacidade de romper fronteiras, os sonhos, a luz...

Portador de uma força que o arrasta para algo maior que ele... não se limita ao próprio mundo; traz uma aspiração profunda de ser pleno, de realização, de busca do “mais”...

O desejo do encontro é força determinante para se manter acesa a chama da dinâmica da busca. É uma chama que se mantém acesa em proporção ao sentido e à importância grande de quem ou do que se busca. Vale a pena buscar o que é importante e encontrar Aquele que responde às razões mais profundas da busca.



É importante ter claro o que é que se busca. No supermercado da vida pode-se buscar tudo. As ofertas são muitas. Há força de sedução nas ofertas de busca. Viver para buscar  “outras coisas” é correr o risco de perder o rumo, priorizar o menos importante, apegar-se ao que é passageiro, não perceber o que é e onde está o essencial. Busca-se também por outras tantas razões. Muitas dessas razões geram prejuízos graves porque a busca desemboca em algo sem sentido, vazio.

É difícil a tarefa de buscar quando nossa realidade é viver um “carpe diem” entendido como a despreocu-pação por um projeto de vida. É difícil a tarefa de buscar quando alguém se encontra acomodado e satisfeito de tudo e, ao mesmo tempo, de nada. Então, para quê buscar? Como despertar e alimentar a fome e sede da busca?

A força da busca que move o próprio coração exige cuidado e especial atenção. Toda busca inclui a purificação de motivações para permitir, como resultado da busca, o encontro de tudo o que garante e promove a vida. É exercício de discernimento constante: “o quê busco? Por quê busco? Tem sentido e valor aquilo que busco? Para onde me leva a força da busca?...

É preciso buscar sempre. Importa, pois, buscar o que dá garantias de fecundidade para a vida.



Uma das passagens bíblicas mais belas que descrevem o sentido, o valor e a dinâmica desta busca é aquela relatada por Mt. 2,1-12. De fato, todo o relato e todos os protagonistas são pessoas que estão em busca: Herodes e toda Jerusalém, os sumos sacerdotes e os escribas do povo e, obviamente, os Magos. Todos envolvidos na inquieta busca do Messias.

No entanto, quanta diferença nas motivações e nos êxitos desta busca.

Herodes não é somente o cínico e perverso rei que teme pela estabilidade do seu trono. É também aquele que vive na mentira e que tem medo da verdade. Quer, portanto, buscar a verdade, mas para eliminá-la radicalmente da face da terra. Tudo faz para conservar egoisticamente o seu poder. Este é o seu ídolo e este é o seu verdadeiro deus.

Os sumos sacerdotes e os escribas sabem onde buscar a verdade, tem a Escritura, são “experts” em indagar e investigar a verdade, mas permanecem fechados e resistentes em sua posição. No fundo estão a serviço do poder e tem medo de perder seu lugar.







Quão diferente, contrastante e diametralmente oposto é a atitude de busca dos Magos!

Estes sábios do Oriente, com humildade perscrutam por entre as pegadas da ciência em busca da verdade e quando descobrem um vestígio dela, põem-se em movimento.

Viram a estrela e partem, seguindo seu caminho; e no seu trajeto se informam, procuram, indagam, retomam o caminho. Com a paciência do diálogo, com a humildade da espera, com a alegria da esperança, esses vão ao encontro da Verdade.

E não é ingenuidade o fato de ir perguntar ao rei da Judéia onde nasceu o Rei dos judeus. É, antes de tudo, o desejo de envolver os outros na própria busca da verdade.

Não viram grandes prodígios, mas experimentaram uma grande alegria. Compreenderam que a aventura da busca não se dá nas alturas, mas no encontro com a humanidade.

Liberdade e verdade são um binômio inseparável; livre, os Magos buscam e encontram a verdade, e esta os faz livres.



O cristão é alguém que vislumbrou a “estrela”, aponta-a e, junto com os outros, desloca-se seguindo sua direção. O ca-minho da vida é marcado por percalços, dúvidas, fracas-sos... mas seu coração é portador da força insubstituível da busca.  




Como os Magos, porque busca, desperta nos outros o “ser buscador” que está escondido.

No processo da experiência cristã, a busca é um dinamismo determinante da mente e do coração da pessoa. Aquele que busca, movido por uma razão, quando encontra vibra de alegria, como a parábola do buscador de pérolas.

                    “Se eles (magos) percorreram um caminho tão longo para vê-lo recém-nascido, que desculpa terás tu

                     se nem sequer fores ao bairro ao lado para visitá-lo enfermo e encarcerado”? (S. João Crisóstomo).



Na oração:



- Há alguma “estrela” abrindo horizontes para você?

- O que há de “herodiano” em sua realidade e em seu mundo interior? quais são as causas, as manifestações e

  os efeitos das suas inseguranças, do fixismo em torno do próprio eu, dos seus medos?



Petição: pedir a graça de ser libertado das atitudes e comportamentos que geram resistência e acomodação;

                  e graça de saber descobrir e discernir no céu, na história e em si mesmo os sinais externos, as moçõ-

                  es interiores e os caminhos que levam ao Deus da Vida e à Vida plena  das pessoas que Deus ama.




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