quarta-feira, 9 de julho de 2014

TEMPO DE SEMEADURA: “des-velar” o divino em cada ser humano “O semeador saiu para semear” (Mt 13,3)



TEMPO DE SEMEADURA: des-velar” o divino em cada ser humano

“O semeador saiu para semear” (Mt 13,3)

Antes de contar a parábola do semeador que “saiu a semear”, o evangelista nos apresenta Jesus que “sai de casa” para encontrar-se com as pessoas, para “sentar-se” sem pressas e dedicar-se durante “muito tempo” a semear o Evangelho entre elas. Segundo Mateus, Jesus é o verdadeiro semeador.  Ele está em movimen-to, percorrendo diferentes campos da realidade, lançando as sementes na terra, ou seja, ajudando as pessoas a descobrirem o que há de “divino” escondido nelas.
Toda parábola é um relato provocativo e aberto, que espera uma resposta do próprio ouvinte ou leitor.
O característico da parábola de hoje parece ser uma dupla mensagem: o esbanjamento do semeador e a certeza de uma colheita superabundante.
- Por uma parte, o relato mostra um interesse claro ao sublinhar o comportamento do semeador que, sem se importar com o resultado, semeia por todos os lugares, inclusive naqueles onde se sabe que a semente não poderá germinar, como os caminhos e os espinhos...
A parábola original fala, antes de mais nada, de Deus como Gratuidade, Excesso e Esbanjador… Podemos adivinhar, entre linhas, o gesto de Jesus dizendo: “Deus é assim”.
- O segundo traço que a parábola acentua é só uma consequência: o fruto terminará sendo também um excesso. Para uma terra como a Palestina, onde falar de uma colheita de sete por um já era considerada excelente, falar de um rendimento de trinta, sessenta e cem por um equivalia a ultrapassar a previsão mais otimista, um “exagero” conscientemente provocativo.

A verdadeira “semente” é o que há de Deus em nós.
Em nossa terra interior já está semeada a presença de Deus; é como a semente enterrada que permanece fértil debaixo da terra desértica pela seca prolongada, e o olhar de Deus é como a chuva que ao cair des-perta a vida presente na semente. Também gerará novidades em nós, convertendo-nos em vidas germinais.
Deus se derrama em todos e por todos da mesma maneira, não como produto elaborado, mas como semente, que cada um tem que deixar frutificar. O decisivo é tomar consciência do divino que nos habita e viver em harmonia com essa realidade. O fruto seria uma nova maneira de se relacionar com Deus, consigo mesmo, com os outros e com as coisas.

Deus é Doação permanente e gratuita: só sabe e só pode doar-se. Isso é o que “constitui” seu ser: não é um “Indivíduo” separado, criado à nossa imagem; é um “Doar-se” permanentemente – mais verbo que substantivo -, que em tudo manifesta sua presença.
Tantas vezes O temos diminuído, formatando-O segundo nossos critérios e reduzindo-O a um grande Legislador ou pervertendo-O com traços ameaçadores e cruéis.
Numa ocasião, no grupo de catequese, uma menina perguntou à catequista: “Por que Deus é sempre Deus,e nós não podemos ser “deus” ao menos uma vez por semana?”
A catequista, após um susto inicial, respondeu à menina: “O dia em que você for amor, e nada mais queamor, você será Deus.”
Este é o Deus do qual fala Jesus. Um Deus que é “sementeira” permanente de amor.
Para que isso se faça realidade em nós só é preciso “escutar”:“quem tem ouvidos que ouça”.
É preciso abrir os olhos, os ouvidos, cair na conta... O “Excesso” ou “Esbanjador” de tudo o que é nos alcançará na medida em que nos abramos a Ele; Sua presença expande e multiplica o melhor de nossa vida.Ao contrário, quando permanecemos reclusos na identificação com nosso ego, irremediávelmente, dia após dia, nossa existência se atrofiará e se empobrecerá.

De Jesus temos que aprender também hoje a semear: ir ao encontro dos diferentes “terrenos” para desvelar o divino presente em cada um.
O primeiro é sair de nossa casa. É o que pede sempre Jesus a seus discípulos: “Ide por todo o mundo...”, “ide e fazei discípulos...”. Para semear,temos de sair de nossa segurança e nossos interesses; semear im-plica“deslocar-nos”, buscar o encontro com as pessoas, comunicar-nos com o homem e a mulher de hoje, não viver fechados em nosso pequeno mundo eclesial.
Esta “saída” para os outros não é proselitismo, nem imposição de uma doutrina ou de uma verdade.“AIgreja não cresce por proselitismo, mas por atração” (papa Francisco). Não tem nada de imposiçãoou reconquista. É oferecer às pessoas a oportunidade de encontrar-se com o Deus vivo e presente na própria vida, que o acolham e se deixem conduzir por Ele, para poderem viver melhor, de maneira mais acertada e sadia. Isso é o essencial.

É fora de dúvida que, dentro de cada um de nós, continua existindo “caminhos” endurecidos, “terrenos pedregosos” com pouca profundidade, “espinhos” asfixiantes e atrofiantes...  que limitam a liberdade de Deus em atuar em nós. Mas, o ponto de partida é que comecemos por reconhecer esses terrenos e aceitá-los, reconciliando-nos com toda nossa realidade interior, abraçando-a com humildade.
Desse modo, ao crescer em unificação – integrando também os aspectos mais obscuros e vulneráveis de nossa própria sombra -, um bom “húmus”estará se disponibilizando e constituindo a “terra boa” onde a semente brotará por si mesma. Devemos descobrir em cada um de nós a terra dura, os espinhos, as pedras que impedem a semente germinar. No mesmo terreno há terra boa, pedras e espinhos...

O Reino também tem seu ritmo e seu momento. Não o acelera a impaciência de uns nem o paralisa o fracasso de outros. Não somos nós que levamos o Reino em nossas mãos, mas é nossa missão ajudar a descobrí-lo (desvelá-lo) na vida humana como o dinamismo mais profundo da existência. O Reino alcança a todos, ninguém fica excluído, ele não está fechado nos limites da igreja ou das religiões.
Não temos a exclusividade dele, e por isso mesmo temos que viver constantemente despertos para desco-bri-lo e acolhê-lo ali onde se faz presente, seja onde for.
O “novo” sempre nasce pequeno, frágil, oculto e a partir de baixo.As sementes, muito pequenas, são colocadas na terra e desaparecem. No entanto, contém uma vitalidade oculta que as leva a germinar. O fundamental não é seu tamanho senão a enorme força transformadora que contém e sua grande fecundidade.
Como as sementes na terra, percebemos que somos convidados a atuar a partir de dentro, transformando a realidade a partir de meios simples, mas com criatividade e audácia.
Submergidas na terra as sementes vivem um lento processo até poderem liberar uma vida nova e abundante. Mas para que isto aconteça sofrem uma certa morte: para gerar vida entregam sua vida.

Texto bíblico:Mt 13,1-23

Na oração:Nesta realidade tão distinta e complexa, impõe-se
uma séria reflexão encaminhada a revisar nossas presenças e nossa missão evangelizadora. Somos convidados a abrir-nos ao novo, a semear em outros lugares... Onde semear neste momento da história?
Ao contemplar nossa terra, com suas injustas e sangrentas desigualdades, facilmente surge em nós a sensação forte de impotência. Quê podemos fazer para que a justiça triunfe sobre o sofrimento e a miséria?
É necessário ter uma visão ampla e de longo alcance: para que algo novo germine em nossa terra, temos de discernir o que vamos semear hoje.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

“Vinde a mim vós que estais cansados..., e vos darei descanso” (Mt 11,28)



JESUS, PRESENÇA QUE DESCANSA E PACIFICA

“Vinde a mim vós que estais cansados..., e vos darei descanso” (Mt 11,28)

Todo esforço precisa seu descanso, toda atividade pede uma parada.Não há tensão que não exija um relaxamento, nem atividade continuada que nãopeça uma recreação. Os cansaços acabam nos revelando que em nossa vida ativa estamos amputando certas dimensões do humano.
Precisamos de “paradas”, mas paradas com argumento interior. Elas devem ser algo assim como um retorno contemplativo, uma “re-flexão” em direção à raiz de nossas motivações.
A vida tem necessidade de “con-sideração”, “avaliação”, “fundamentação”... Do contrário, ela perde densidade e, sobretudo, desperdiça sua própria beleza.
Assim, o descanso, em seu sentido nobre, impede que nos convertamos em meros trabalhadores estressados; ela nos arranca de nossa existência maquinal.
O descanso permite sintonias profundas conosco mesmo e com a profundidade das circunstâncias habituais que fazem parte do nosso cenário cotidiano.
Ele desperta uma predisposição pessoal que pode ser decisiva para redescobrir o valor e o sentido do cotidiano no qual voltamos a mergulhar. O descanso inspira, nos faz criativos, porque toca as profundezas de nós mesmos e das atividades rotineiras.

O descanso nos conserva humanos; ele ajuda a recuperar um ritmo de vida mais humanizante (recupera a pessoa e sua capacidade de estabelecer relações gratuitas com outras pessoas, com a natureza e seus ritmos...). Não basta simplesmente poder folgar; ter acesso ao verdadeiro descanso é recuperar o sentido da gratuidade das nossas atividades e que melhoram a vida e a convivência.
O descanso pode ser um bom tempo para retomar a vida com mais liberdade e para realizar atividades mais humanizantes. Nesse sentido, o objetivo principal do descanso é recuperar nosso lugar e nossa condição de homens e mulheres, afastando de nós o endeusamento e as fantasias de onipotência.
No descanso, voltamos a pisar a terra (húmus – humildade) para recuperar uma relação desinteressada e sadia com os outros, com o mundo e com Deus.
Viver uma vida ativa descansadamente é viver com os pés na terra e contemplando as “coisas do alto”.

As palavras “repouso”, “descanso” e suas variantes tem, para Jesus, um sentido e um peso próprios.
Jesus não é presença cansativa, pesada, impositiva; ao contrário, ao entrar em sintonia e comunhão com aqueles que suportam o fardo da opressão política e religiosa, Jesus os pacifica e os harmoniza. O único “jugo” de Jesus é o amor; e o amor não pesa, mas dá asas ao coração e desata as ricas possibilidades presentes no outro.
O “fardo” de Jesus não trava a vida e se expressa no serviço aos outros. Não é o fardo da obrigação, mas o da liberdade; não é o fardo da imposição mas o da oferta. O “jugo” de Jesus humaniza as pessoas porque está centrado na vida e não no ritualismo religioso.
O descanso é o melhor em Jesus, o prazer da vida, a graciosidade da misericórdia, a celebração da sua presença no meio dos excluídos. O descanso de Jesus é sua presença pacificadora, acolhedora.
E eis que o descanso d’Ele se abre para como oferta: “eu vos darei descanso”.Trata-se de um descanso tão amplo que podemos entrar nele. Ele nos envolve, nos atrai, enche-nos com a sua bênção.
“Viver descansadamente” é encontrar um descanso, uma paz interior, uma quietude, uma consolação, uma satisfação na vida e nas atividades, e que tem sua raiz na comunhão com Deus que trabalha e descansa. A vida do “contemplativo na ação” é uma vida ativa vivida “descansadamente”, ou seja, na presença de Deus, com o coração centrado n’Ele, fazendo somente Sua Vontade...

Nesse sentido, o descansonão é um simples reabastecimento, mas uma regeneração na qual se recompõe a interioridade, o espírito criativo, a disposição de coração...O descanso não é uma “des-conexão” , senão uma “conexão” com aquilo que é o impulso fundamental de nossa vida cotidiana.
E só no gratuito é que descansamos.
Queiramos ou não, “descansamos” na medida em que ampliamos nosso mundo próximo.
O lugar comum, o repetitivamente particular, a rotina normótica, nos esgota.
O olhar de curto alcance e os horizontes estreitos embotam o gosto pelas mesmas coisas cotidianas.
Por sua própria dinâmica repetitiva e por suas limitações humanas inegáveis, a cotidianidade vicia nosso juízo, diminui nossa visão objetiva, mata a criatividade, apaga o elán vital...
Os ares tornam-se rarefeitos e quase irrespiráveis ali onde tudo permanece dentro do ciclo infinito do “sempre foi assim e o “sempre aqui”.

Com isso, o descanso, como as demais dimensões de nossa vida, encontra seu lugar adequado a partir de nossa condição de filhos e filhas de Deus e seguidores de Jesus.
Como cristãos, o descanso é a ocasião propícia para realçar “quem somos nós”, o que são os outros, e a primazia de Deus. Portanto, “tempo para ser”.
O descanso verdadeiro tem a ver com uma certa“transgressão” do ritmo cotidiano e com um certo exercício de “universalização”, com uma amplitude do olhar...
“Descansamos” quando descobrimos mundos novos e visões diferentes.
O espírito humano não é exclusivamente sedentário: ele é mais humano na medida em que se move.
Precisamos ter acesso a outras situações, a outros ambientes, a outras maneiras de conceber a vida, e experimentar então o verdadeiro tamanho de nossos desejos e de nossos sonhos.
Precisamos conhecer outras referências, outros pontos de vista...
Nossa identidade não se constrói somente por meio do domínio de nosso próprio mundo; desenvolve-se também quando acolhemos o diferente, nos abrimos ao novo...
Desarmados de nossos pré-conceitos e de nossas falsas seguranças, o descanso nos faz estremecer diante da realidade que sempre nos surpreende.


Textos bíblicos:Mt 11,25-30

Na oração:O descanso é uma forma de relacionamento:
ele pode ser compreendido como um mo-mento privilegiado no qual cultivamos os valores da gratui-dade: a alegria de fazer-se presente, o sabor da comu-nhão que realiza o maior prazer, o prazer de conviver, desfrutar com os outros as pequenas coisas, o serviço mútuo, a natural simplicidade, a sensibilidade despojada, a serenidade benfazeja...
Nessa relação contemplativa e jubilosa consiste o descanso “cristificado”.
“Diga-me como você descansa e eu lhe direi como você trabalha e trata os outros”. Muitas vezes os outros são obrigados a pagar a fatura do nosso cansaço, do nosso ativismo. Tornamo-nos “cansativos”.
- Sua presença, pacifica o ambiente, harmoniza as pessoas...?

quinta-feira, 26 de junho de 2014

RE-AVIVAR A CHAMA DO AMOR PRIMEIRO “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?” (Jo 21,15)



RE-AVIVAR A CHAMA DO AMOR PRIMEIRO

 “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?” (Jo 21,15)

O relato da última aparição de Jesus ressuscitado aos seus discípulos tem uma cena belíssima. Novamente juntos à praia e entre redes, como no começo; novamente diante de um trabalho cansativo e ineficaz, como tantas vezes; novamente a dureza de cada dia, em um cotidiano sem Jesus, como antigamente.
Há algumas brasas, que recordam aquela fogueira em torno da qual, alguns dias antes, o velho pescador jurou não conhecer Jesus, negando-o três vezes. Agora, junto ao fogo irmão, Jesus lavará com misericórdia a fraqueza de Pedro, transformando para sempre seu barro frágil em “pedra” fiel.

O verdadeiro milagre não é uma rede que se enche; o maior milagre é a traição covarde que se transforma em confissão de amor. Até três vezes o confessará. A traição desumanizou Pedro, fez com que ele fosse fundo no fracasso, obrigando-o a dizer com os lábios o que seu coração não queria. A fidelidade e o amor de Jesus, sua graça sempre pronta, o humanizará de novo, reconstruindo sua vida e reativando em Pedro a liderança para o serviço. Sem ironia, sem indiretas, sem pagamento de dívidas atrasadas. Por pura graça, gratuitamente
O Pedro que emerge deste contato terapêutico com Jesus é um Pedro corajoso, decidido, mas também muito mais amoroso, capaz de superar preconceitos antigos. Jesus percebe que por debaixo das cinzas da negação e da traição de Pedro está escondida a nobreza de um homem que precisa ser ativada.
A cura das feridas emocionais é antes de tudo um caminho novo, que envolve afeto, amizade, amor.
A vida de Pedro se transforma quando ele se deixa impactar por aquela pergunta tão desconcertante que Jesus lhe faz: TU  ME AMAS?
Jesus não examina Pedro sobre teología, Sagrada Escritura ou Direito Canônico, nem pergunta por suas qualidades organizativas do grupo ou se tem capacidade de exercer liderança. Jesus o examina somente em uma coisa, a que é essencial para todo seu seguidor e para toda a Igreja: se é uma pessoa com um coração “grande para amar”. Ele quer examinar o quanto Pedro se distingue por sua capacidade de amor.

A pescaria do lago Tiberíades aponta para a missão; o pastoreio cobrado de Pedro já visa a posteriores cuidados “pastorais”. O pastor precisa de um olhar amoroso que vai além de seu curral, e o pescador precisa de um olhar apurado para o discernimento diante da multidão dos peixes e da amplitude do mar.
Ao entardecer, Pedro se torna novamente pescador e sai da terra firme para o mar.
A comunidade eclesial vive concomitantemente a pescaria e o pastoreio, a missão em alto-mar e o cuidado pastoral em terra firme. Juntar as ovelhas e guardar os peixes são tarefas permanentes da Igreja.
O dom da rede cheia do pescador, no fim da noite, torna-se tarefa para o dia do pastor: discernimento, cuidado, partilha, testemunho, anúncio.

No nosso mundo existem muitas fogueiras e lugares onde Deus e os irmãos são traídos e, agindo assim, somos desumanizados, quebrados. Mas há outras brasas, aquelas que Jesus prepara ao amanhecer das nossas escuridões e depois das nossas fadigas, e nela nos convoca a uma nova intimidade com Ele, trans-formando-nos em humanidade cuidadora. Lá, permite-nos voltar a começar, na alegria do milagre da sua misericórdia transbordante. É a última pesca estéril, a das nossas fadigas e cansaços.
Feliz quem tiver olhos para reconhecê-lo, como João, e quem se deixar renascer, como Pedro!

O itinerário Pedro é um itinerário de humanização, encontro com a própria humanidade, uma aventu-ra para descoberta do “mundo interior”,  que é o coração, onde acontece o mais importante e decisivo em cada pessoa. Este é o nível da graça, da gratuidade, da abundância de dons e riquezas, onde a pessoa experimenta a unidade de seu ser e o sentido de sua existência. “Quem sou eu? Para quê vivo? Para quem? Qual é o meu lugar e missão no mundo?”
O coração de cada um está habitado de sonhos de vida, de futuro, de projetos; sente-se seduzido pelo que é verdadeiro, bom e belo; busca ardentemente a pacificação, a unificação interior, a harmonia com tudo e com todos...; sente ressoar o chamado da verdade, o magnetismo do amor, da plenitude; sente-se atraído por um desejo irreprimível de auto-transcendência, de crescimento, de maturidade...
“A pessoa amadurece constantemente no conhecimento, amor e seguimento de Jesus Mestre, se aprofunda no mistério de Sua pessoa, de Seu exemplo e de Sua doutrina (Doc. Aparecida, n. 277,c)

A Graça de Deus pode atingir-nos pelos caminhos mais variados e inesperados: penetrando pelas racha-duras de nossas quedas, pelas brechas abertas em nós pelas fragilidades e pelas grandes decepções ou soprando as últimas brasas que, sob as cinzas da desilusão, ainda permanecem acesas.
Não poucas vezes é por meio do vazio deixado em nós pelas crises e perdas que Deus se introduz em nossas vidas e acaba por transformá-las radicalmente.
A verdadeira questão é se permanece ainda suficiente fogo debaixo das cinzas para suscitar a energia necessária a fim de tornar nossa vivência cristã mais autêntica.
Cair na conta disso nos estremece profundamente. Todos e cada um de nós que vivemos hoje somos portadores do novo fogo. O novo sempre vem e sempre nos surpreende.
Para vislumbrar o amanhã, o que temos de fazer é olhar para nós mesmos e perguntar-nos:
“brota uma energia profunda no nosso coração? Percebe-se nele o desejo de um compromisso
com o Evangelho? Aí há lugar para a audácia, a coragem, o fogo novo...?
Ou se apagou o antigo fogo? É a vida agora simplesmente questão de suportar os dias
e agir por inércia ou ela é lugar da criatividade, do risco...?

Texto bíblico:  Jo 21,15-19

Na oração:  Só o “olhar amoroso” de Deus, que nunca desiste de buscar-
                      nos para reconstruir-nos, conhece as lonjuras dos caminhos que temos de percorrer para que nossos olhos sejam abertos.
Só o coração de Deus conhece a hora e o lugar em que nossos corações, mesmo estando duros e desesperançados, podem ser enternecidos e entusi-asmados de novo.
Sejam quais forem os motivos que nos levaram ao afastamento do Senhor, Ele vem ao nosso encontro percorrendo exatamente os mesmos caminhos que percorremos para nos afastarmos d’Ele.
Fazer “memória” dos momentos mais difíceis do nosso caminho onde Deus se revelou presente, reconstruindo a nossa história e dando sentido à nossa vida.