segunda-feira, 8 de setembro de 2014

CRUZ: expressão máxima da ternura de Deus “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito...” (Jo 3,16)



CRUZ: expressão máxima da ternura de Deus

“Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito...” (Jo 3,16)

Diante do mistério da “exaltação da Santa Cruz”, o mistério do “esvaziamento” e “descida” do Ver-bo de Deus até as últimas conseqüências, muitos questionamentos brotam naturalmente:
- O ser humano pós-moderno, que absolutiza o bem estar, o prazer, o consumo, pode ainda encontrar,
na contemplação de um Crucificado, a chave para entender sua própria vida?
- Quê sentido tem um Deus que se esvazia de suas prerrogativas e “desce”, deixando-se encontrar entre
   os últimos e excluídos?
- a Cruz é sinal de solidariedade ou sinal de impotência, sinal de libertação ou sinal de opressão, sinal de
rebeldia ou sinal de submissão, sinal dos vencidos ou sinal dos vencedores...?

A Cruz é um produto terrível da maldade, se a encaramos da perspectiva humana; e é manifestação do amor levado até as últimas conseqüências, se a olhamos da perspectiva de Deus.
A festa da “exaltação da Santa Cruz” nos des-vela o verdadeiro rosto do Deus de Jesus:  rosto feito de amor e não de ira; de vulnerabilidade e não de distancia; de perdão e não de castigo; de benção e não de maldição.
A primeira coisa que descobrimos ao contemplar a Cruz é a força destruidora do mal, a crueldade do ódio e o fanatismo da mentira. Mas é precisamente aí que nós, seguidores de Jesus, vemos o Deus identificado com todas as vítimas de todos os tempos. Está na Cruz do Calvário e está em todas as cruzes onde so-frem e morrem os mais inocentes. A partir da Cruz, Deus não responde o mal com o mal; Ele não é o Deus justiceiro, ressentido e vingativo, pois prefere ser vítima de suas criaturas antes que verdugo.
A Cruz e o Crucificado nos revelam que não existe, nem existirá nunca um Deus frio, insensível e indiferente, mas um Deus que padece conosco, sofre nossos sofrimentos e morre nossa morte.
Despojado de todo poder dominador, de toda beleza estética, de todo êxito político e de toda auréola religiosa, Deus se revela a nós, no mais puro e insondável de seu mistério, como amor e somente amor.
Nós cristãos contemplamos o Crucificado para não esquecer nunca o “amor louco” de Deus para com a humanidade e para manter viva a recordação de todos os crucificados da história.Tudo está atravessado pelo dinamismo vivificante do Amor de Deus que transpareceu em Jesus com seu amor até o fim.O seu Amor é um Amor que em sua fidelidade sofrida nos sustenta e conforta em nossas noites.

De fato, a Redenção está na Luz e não na cruz. Esta – com minúscula – foi imposta pelos carrascos e, de nenhum modo, foi querida ou imposta pelo Pai, como expiação.
Só podemos escrever Cruz – com maiúscula – quando ela se converte em Luz, deixa de ser ensangüentado patíbulo para serevelar como progressivo Caminho de salvação. O Deus dos cristãos se fez humano para indicar-nos o Caminho da Luz, ou seja, da humanização da pessoa e do mundo.
Abraçar e dar sentido à Cruz supõe uma real e firme adesão aos valores pelos quais o Crucificado preferiu morrer a desertar e trair. Está aíuma multidão de mártires para comprovar isso.
A Cruz é a revelação da “escada de luz” que o Filho desceu até o fundo do poço da degradação na qual o ser humano estava (e está) metido. Só se regenera e se salva quem se empenha em subir por essa escada, vivendo os valores que o Crucificado viveu. Nem sacrifícios, nem méritos, nem pagamentos. Puro amor gratuito de um Deus que é Amor!

“Deus amou tanto o mundo...” O mistério da Santa Cruz nos sensibiliza e nos capacita para aproximar-nos do nosso mundo com uma visão mais contemplativa. Em outras palavras,a contemplação da Cruz ativa em nós uma maneira contemplativa de viver no meio do mundopara rastrear a presença de Deus, oculto nos lugares da fragilidade. O “subir” até Deus passa pelo “descer”até às profundezas da humanidade.
O seguidor de Jesus oscila entre o mundo e Deus. É tão familiar com Deus que admira a variedade e a multiplicidade do mundo, e não teme o mundo com toda a sua complexidade. E é tão familiar com o mundo que sente o Espírito de Deus, que trabalha no mundo, em todos os lugares e da maneira mais inesperada.
Em Jesus cristo fica claro, de uma vez para sempre, que Deus é do mundo e o mundo é de Deus . “Meu solo e o solo de Deus são o mesmo solo” (Mestre Eckhart)
A terra já não é um vale de lágrimas mas o lugar onde Deus armou sua tenda.
A pessoa contemplativa, movida por um olhar novo, entra em comunhão com a realidade tal como ela é. É olhar o mundo como “sacramento de Deus”.Um olhar capaz de descobrir os sinais de esperança que existem no mundo; um olhar afetivo, marcado pela ternura, pela compaixão e por isso gerador de misericórdia; um olhar que compromete solidariamente.

Na Cruz de Jesus, portanto, nos é oferecida uma nova forma de sentir o mundo: “tende em vós os mes-mos sentimentos deCristo Jesus”.O madeiro onde Jesus de Nazaré morreu não é belo aos olhos humanos, nãogratifica nossos sentidos; não é a marca de um “país católico”, nem a divisa da cristandade... É e será sempre fonte origem de um novo modo possível de ver e ouvir o mundo, de olhar quem somos e como é Deus.
A Cruz, com seu mistério fascinante e tremendo, com seu mistério sempre maior, não só é fonte de salvação eterna, mas princípio de uma nova sensibilidade para um novo modo de se fazer presente neste mundo.
Não podemos venerar a Cruz e adorar o Crucificado vivendo de costas ao sofrimento de tantos seres humanos destruídos pela fome, miséria e exclusão. Se ao contemplar o rosto do Crucificado nos esquecemos das vítimas, seja qual for sua raça, cultura ou religião, então é que nosso olhar não é o olhar da fé.Segundo Jon Sobrino, a fé no Crucificado implica em fazer descer da Cruz aqueles que estão dependurados nela.

Na Cruz, Jesus Cristo “desceu” ao nível mais baixo da condição humana, de maneira que todo aqueles que caírem, caiam n’Ele.
Associar-nos ao Cristo em sua “descida”para “subir” com Ele significa, também, arrancar de nosso próprio coração a cumplicidade com todo tipo de morte e deixar-nos possuir pela glória de Deus.
“Descer” com Ele para aquilo que também está morto em nós (no nível corporal, afetivo, espiritual, social). A luz da presença de Cristo ilumina tudo o que é sombrio em nosso interior. Ali estão presentes germes de vida que ainda não tiveram possibilidade de irromper e crescer.



Texto bíblico:  Jo 3,13-17

Na oração: quando levantamos nossos olhos
até o rosto do Crucificado, con-templamos o Amor insondável de Deus; se O contemplamos mais atentamente, logo descobriremos nesse Rosto o rosto de tantos outros crucificados, longe ou perto de nós, reclamando nosso amor solidário e compassivo.
- Diante do Crucificado, trazer à memoria os crucificados de hoje: isto nos afeta? nos deixa inquietos? nos incomoda?

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Programação da semana- Centro Loyola.




Caro amigo,
O Centro Loyola inicia nesta sexta, dia 29, às 19h30, os "Encontros Poéticos", com a professora de literatura da PUC-Minas, Raquel Beatriz J. Guimarães. Os participantes também podem trazer poemas para leitura e partilha coletiva. 
No sábado, dia 30, temos a seguinte programação:
- Curso sobre "Salmos para contemplar a ternura inesgotável de Deus", com o Pe. Ulpiano Vasquez Moro SJ, de 08h30 às 12h00. 
O tema será: “O Senhor é o pastor que me conduz, não me falta coisa alguma.”(Sl 23).
- Tarde de Espiritualidade, de 14h30 às 18h00com o tema: "“No fundo de tudo há a alegria”. A orientadora será "Fátima Fenati".
Mais detalhes da programação você encontra em nosso site ou pelo fone: 3342-2847. 
Abraços fraternos,
Equipe do Centro Loyola de BH.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A RENÚNCIA QUE NOS HUMANIZA “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24)



A RENÚNCIA QUE NOS HUMANIZA

“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24)

O tema do seguimento é central em todos os Evangelhos. Trata-se de abandonar qualquer outra maneira de se relacionar com Deus e com os outros, e entrar na dinâmica espiritual que Jesus manifesta em sua vida. É identificar-se com Ele em sua entrega total aos outros, sem buscar para si nada que possa ter cheiro-resquício de poder e glória.
Jesus é realista. Como todos os mestres espirituais, mostra a senda da vida, que nos permite escapar da confusão e do sofrimento, para reconhecer-nos na nossa verdadeira identidade, espaço de verdade, de liberdade, de unidade e de comunhão.
A oferta de Jesus é um chamado à liberdade: “se alguém quer me seguir...” Caminhar com Ele nos liberta da auto-suficiência estéril e do auto-centramento que nos fecha. O seguimento de Jesus pede “descentrar-nos” de nós mesmos para sermos agentes do novo e criadores de futuro.

Aqui está o sentido da expressão “renunciar a si mesmo”, erroneamente interpretada como autonega-ção, automutilação e auto desprezo. Mas não é disso que Jesus fala. A palavra grega “aparneisthai”signi-fica“dizer não, recusar-se”. Aquele que o segue precisa dizer não às tendências egocêntricas do seu interior, que querem fechá-lo em si mesmo, atrofiando e travando o impulso de vida.
Portanto, a expressão “renunciar a si mesmo”, não significa negar o que somos, mas o que julgamos ser e não somos. “Renuncar a si mesmo” não é negar a vida, nem inclui uma atitude de resignação, auto-sacrifício ou morte em vida. Jesus era um homem profundamente vital e defensor da vida.
“Renunciar a si mesmo” significa renunciar aquilo que nega a vida. Para ganhar a vida é necessário perdê-la, e“perder a vida”significa“perder o eu”,ou seja, deixar de alimentar o “ego”. Porque, de outro modo, quando vivemos para ele, estamos perdendo a vida, entrando na confusão e no sofrimento.
A experiência verdadeira do seguimento de Jesus só é possível se abrirmos mão do nosso ego, se não deixarmos que ele determine a nossa vida; se seguir Jesus serve apenas para aumentar o nosso ego, nos tornamos cegos e nos perdemos.

A mensagem de Jesus não pretende desumanizar-nos, mas conduzir-nos à verdadeira plenitude humana.
A vida quer fluir, e quando não flui, ela se atrofia. No entanto, no mais profundo de cada um de nós habi-ta uma pretensão básica de querer “ser deus” – “sereis comodeuses”. É o pecado de raiz já dos nossos primeiros pais. É a tentação de querer ser outro, de não aceitar ser dependente, de não aceitar-se como criatura, como humano (frágil e limitado).
“Renunciar a si mesmo” é não deixar que o impulso para a vaidade, a soberba... predomine; não deixar que o centro seja o “eu”, mas Deus. Isso implica em “descer”, humildemente, ao próprio húmus.
Viver para o eu é gastar a vida para algo que vai morrer, porque é só uma identidade relativa ou transitória. Descobrimos a Vida quando temos acesso à nossa identidade mais profunda, aquela que nunca morrerá.“Perder a sua vida por causa de mim”equivale a reencontrar-nos nessa identidade quecompartilhamos com Jesus e com todos os seres. “Perdemos” o eu, deixamos de viver egocentrados e nos descobrimos seres em relação, inseparáveis dos outros.

Para entrar na escola de Jesus, precisamos nos distanciar de toda ambição pessoal, daquela tendência que deseja possuir, dominar, usar tudo para seus próprios fins, que sempre gira em torno de si mesmo e que até tenta instrumentalizar o próprio Deus. Quem vive fixado em seu pequeno eu, na realidade está interessado apenas por sua autoproteção e na pretensão de “bastar-se a si mesmo”.
“Renunciar a si mesmo”significa a morte do ego ou, com mais propriedade, o final de nossa identificação com ele. O ego ou eu não é negativo; mais ainda, teremos que cuidar para que seja um eu psicologicamente integrado. O que torna enganoso e destrutivo é identificar-nos com ele.
Brota, então, uma compreensão de que oeu se plenifica na medida em que rompe os laços do seu isolamento, se alarga em direção aos outros, na doação, no serviço e no compromisso solidário.
Na linguagem inaciana, a morte do ego significa “sair do seu amor próprio, querer e interesse”.

O evangelho de hoje nos instiga também a “tomar a cruz”. Da mesma forma, muitos têm interpretado erroneamente a imagem de “carregar a própria cruz”.
“Carregar a sua cruz”, porém, significa acolher aquilo que diariamente cruza o meu caminho, ela é um símbolo para a unidade de todos os pólos opostos (dentro de nós atuam o trigo e o joio, o risco e a covar-dia, o desejo e o medo, o santo e o pecador...)

Tomar a cruz significa: aceitar-me com todas as minhas contradições.Tomar acruz significa abraçar-me com todas as minhas forças e todas as minhas  fraquezas: os aspectos saudáveis e os doentios, as qualidades vistosas e as feias, as partes imaculadas e as manchadas, os sucessos e os fracassos, as coisas vividas e as coisas perdidas, o consciente e o inconsciente...
Nesse sentido, a cruz deixa de ser um “peso morto”, ou seja, uma cruz vazia, sem sentido, in-sensata..., pois ela fecha a pessoa em si mesma, no seu sofrimento e angústia; não aponta para o futuro, nem abre um horizonte de vida.
Fazer o caminho contemplativo junto a Jesus que leva a Cruz da fidelidade nos ajuda a romper com as cruzes que nos afundam no desespero, nos fracassos, nos traumas das experiências frustrantes...

Portanto, num primeiro nível, a cruz é a consequência de sermos fiéis à nossa verdadeira identidade de seguidores de Jesus. Em outro nível, podemos dizer que ela revela simplesmente o destino do eu.
A sabedoria consiste em que nosso eu seja “crucificado” em lugar de ser dono de nossa existência. E o crucificamos na medida em que tomamos distância dele, o esvaziamos de toda soberba e de toda preten-são de poder e prestígio, de modo que não leve as rédeas de nossa vida.
Ao crucificá-lo, deixamos de viver egocentrados e nos abrimos à verdade de quem somos nós.




Texto bíblico:Mt 16,21-27

Na oração: “fazer memória” das cruzes da vida: elas
nos recordam que o dom da vida nos é dado não para que o guardemos e o preservemos, mas para que se consuma e se expanda no serviço aos outros.

sábado, 23 de agosto de 2014

VELAS.


                                                                Queridos amigos!
                                                O nosso estoque de velas na APL acabou,
                                     pedimos aos grupos que se reúnam e montem suas oficinas
                                                  e compartilhem conosco as velinhas.
                                                                        Obrigada.


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A ROCHA SOBRE A QUAL CONSTRUIR A VIDA “Tu és pedra, e sobre esta rocha eu construirei minha Igreja” (Mt. 16,18)



A ROCHA SOBRE A QUAL CONSTRUIR A VIDA

“Tu és pedra, e sobre esta rocha eu construirei minha Igreja” (Mt. 16,18)

Nos Evangelhos,Pedro é o pescador que, impactado pela presença e pelo convite de Jesus, vai entrando, aos poucos, em sintonía com Ele. Um encontro que vai crescendo em adesão à proposta do Reino; um caminho de seguimento que tem seus momentos de obscuridade e de crise, sobretudo ao ver o fracasso do Mestre condenado pelas autoridades religiosas e políticas.
Pedro é o protótipo do cristão que vai se convertendo, abrindo-se à presença desconcertante de Deus na conduta histórica de Jesus. Em Pentecostes, Pedro fala em nome dos primeiros discípulos, cuja fé vem a ser normativa para todas as gerações que se sucedem na história da igreja.  Ele confessa o artigo central e original da fé cristã: “Jesus Cristo é o Filho de Deus vivo”. E se a Igreja se mantém firme nessa confis-são, nada nem ninguém a destruirá.
Entre os discípulos de Jesus, Pedro foi sem dúvida o mais atirado, o mais impulsivo, com o perigo que isso implica. Era o líder do grupo, o primeiro a falar em qualquer circunstância, sem medo de repreender Jesus quando este anuncia sua paixão, sem medo de levar uma reprimenda quando Jesus quer lavar os pés ou quando anuncia que todos o trairão. O fato de ser tão lançado o situa também no lugar mais perigoso, o da negação de Jesus. Mas, ele mesmo termina confessando depois da ressurreição: “Tu sabes tudo, tusabes que te amo”.  Não é novidade que Jesus o visse como o líder natural do grupo depois de sua morte e ressurreição.

No evangelho de hoje nos encontramos num destes momentos em que Pedro, com sua habitual ousadia e rapidez, responde à pergunta que Jesus lhes dirige sobre sua identidade:“Tu és o Messias, o Filho do Deusvivo”.Diante da pronta confissão Jesus o chamou, em hebraico, “Kephas”.
Mateus faz um sugestivo jogo de palavras entre dois nomes gregos comuns: “petros” (pedra) e “petra” (rocha). “Petros” só é usado como nome próprio no NT: fala-se de “Simão Pedro” ou simplesmente de “Pedro”. No AT “petros” tem o significado de pedra comum, pedregulho, algo que se pode pegar e lançar.No entanto, tanto no Antigo como no Novo Testamento não há confusão com a palavra “petra” que sempre significa rocha, sobre a qual se assenta um edifício.
Agora podemos conhecer em seu justo significado o famoso texto de Mateus. Este faz uma sugestiva comparação-oposição entre a fragilidade e a pequenez da pedra frente à segurança e robustez da rocha.
A pessoa de Pedro em sua fragilidade, em sua cabeçudagem e até em sua covardia é, ao mesmo tempo, símbolo de fortaleza e de segurança pela confissão de fé que fez para a pessoa de Jesus.
Pedro é “pedra” em sua fragilidade humana, mas é “rocha” em sua manifestação de fé.
Portanto, este é o significado das palavras que Jesus diz a Pedro e a toda a comunidade cristã: “Tu ésPedra, e sobre essa Rocha vou edificar minha comunidade”. A rocha não é a pessoa de Pedro, mas a fé de Pedro. Sobre essa rocha-fé de Pedro Jesus deseja edificar sua comunidade de seguidores.

Pedro aparece, então, como o primeiro discípulo que manifesta sua fé pessoal em Jesus. E o evangelho faz um convite para que cada pessoa, cada seguidor, expresse para si mesmo qual é sua fé em Jesus.
Como consequência, essa mesma fé que aflorou na primeira comunidade cristã é a que emerge e se prolonga, ao longo dos séculos, em cada seguidor de Jesus. Com sua fortaleza (petra-rocha) e, ao mesmo tempo, com sua fragilidade (petros-pedra); sem dogmatismos nem doutrinas, mas com a modesta manifes-tação de alguém que se sente interpelado e animado pela forma como Jesus viveu e pelos estímulos que Ele lhe deu para caminhar na direção da nova humanidade.
“Petros”é o que em nós é fragilidade, incoerência, vulnerabilidade, limitação... “Petra”, ao contrário, é o que é sólido, firme, consistente, sobre o qual fundamentamos a vida.  “Carregamos um tesouro em vaso debarro” (2Cor. 4,7). O ser humano é a integração de “petros” e “petra”.
Nossa própria interioridade é a rocha consistente e firme, bem talhada e preciosa que cada pessoa tem, para encontrar segurança e caminhar na vida superando as dificuldades e os inevitáveis golpes na luta pela vida.O “eu profundo” constitui-se como um centro sólido, consistente e estável de nosso ser, radicalmente diferente das experiências fluidas que o atravessam. Existem camadas sólidas da experiência do “eu” que devem contrapor-se às experiências passageiras de sentimentos vazios, desejos periféricos, sonhos sem paixão.
É no “eu mais profundo”  que as forças vitais se acham disponíveis para ajudar a pessoa a crescer dia-a-dia, tornando-a aquilo para o qual foi chamada a ser. Trata-se da dimensão mais verdadeira de si, a sede das decisões vitais, olugar das riquezas pessoais,onde ela vive o melhor de si mesma, onde se encon-tram os dinamismos do seu crescimento, de onde partem as suas aspiraçõese desejos fundamentais, onde percebe as dimensões do Absoluto e do Infinito da sua vida.


Vivemos um contexto social e cultural no qual se constata um modo de vida que não favorece o contato com a nossa rocha interior. Seduzidos por estímulos ambientais, envolvidos por apelos vindos de fora, cativados pela mídia, pelas inovações rápidas, magnetizados por ofertas alucinantes... nós nos esvaziamos, nosdiluimos, perdemos a interioridade e... nos desumanizamos. Tudo se torna líquido:o amor, as relações, os valores, a ética, as grandes causas... (cf. Bauman).
Diante desta “cultura líquida” é urgente gerar espaços que facilitem o acesso à rocha da interioridade, possibilitar o retorno à “base interior” onde é gestada a nossaidentidade e as nossasopções mais firmes.
Somos um mistério no meio de mistérios, em um mundo de surpresas e de assombros.

Texto bíblico:Mt 16,13-20

Na oração: Busque, na oração, cavar mais profundamente, até atingir a rocha de seu ser, o fundamento
original e consistente de sua personalidade.
- Quais são os valores perenes, as visões ousadas, as experiências fundantes, as opções duradouras... que
constituem a rocha inabalável, sobre a qual construir sua vida?