quinta-feira, 8 de março de 2012

Amigos e amigas,segue sugestão para rezar o Evangelho do terceiro domingo da Quaresma.Um abraço a todos. Pe. Adroaldo sj

JESUS, O HOMEM DAS “GRANDES VIRADAS



Jesus, na sua vida pública, nos revela que Deus não é propriedade de nenhuma religião ou sacerdócio e que ninguém pode reduzi-Lo a uma verdade única, porque Ele se mostra no amor mútuo e na entrega da própria vida. Ao mesmo tempo, Jesus denuncia o “deus” manipulado pelos representantes religiosos e que justificava os seus poderes sobre as consciências das pessoas.

Os fariseus e sacerdotes queriam um Deus e um céu que não se contaminassem com os deserdados desta terra; queriam um Templo como lugar de pureza e de perfeição, legitimado por uma ordem que se constrói sobre o sofrimento e a exclusão. Eles não queriam um Templo que fosse a casa dos impuros, dos abatidos e excluídos, dos encurvados e oprimidos, dos leprosos, cegos e coxos...

O Templo, como não pode ser o lar dos filhos e filhas afligidos da casa de Israel, será destruído.

O lugar da Presença que alimentava as esperanças de Israel se converteu em cova de bandidos; o Templo passou a ser gerido pelos traficantes da dor, aqueles que fazem sofrer em nome de Deus.



Tal denúncia desestabilizou o sistema religioso sobre o qual a instituição sacerdotal se sustentava.

Esta foi a principal fonte de conflitos de Jesus com os fariseus e sacerdotes que, em nome de Deus, exerciam o poder e a dominação sobre as pessoas e sobre o mais íntimo que há em cada um: sua cons-ciência e sua liberdade para tomar decisões na vida e expressar sua fé em Deus. 

O conflito de Jesus foi o conflito com o poder, mas o poder levado até sua raiz última: o “poder religi-oso”. Por isso, Jesus compreendeu que, para mudar o comportamento dos dirigentes do Templo, a pri-meira coisa a fazer era desmontar o “ídolo” que legitimava o poder autoritário daqueles que oprimiam o povo indefeso. No fundo, o que preocupava Jesus era o problema de “Deus”; e Deus não era como os dirigentes imaginavam e que estava de acordo com seus critérios e sua posição social.

Jesus desmontou o “seu deus” e atirou por terra “seus podres poderes”.



Este é o círculo infernal que Jesus quis rom-per.

Templo de Jerusalém! Não ficará pedra sobre pedra. Jesus não quer que se negocie com a dor dos mais pobres e excluídos, os preferi-dos do Pai. Jesus não quer sangue, nem in-censo; quer compaixão, ternura, quer justiça, quer que o ser humano viva, e viva intensamente.

O Deus que Jesus nos revelou é o Deus que se faz presente no pequeno, no simples, naqueles que não tem voz e nem vez neste mundo. Não é o Deus do poder absoluto, nem o Deus que exige obediência e submissão àqueles que se apresentam como representantes  do divino.

O Deus de Jesus é o Deus que responde e corresponde aos anseios de respeito, dignidade e felicidade, que todos trazem inscritos no sangue de suas vidas e nos sentimentos mais autênticos e nobres.

O Deus Misericordioso não impulsiona ninguém a desejar poderes, por mais divinos que sejam. Ele é o Deus que só legitima a identificação e até a fusão com o destino das vítimas deste mundo.



Este confronto de Jesus com os poderes religiosos ficou evidente na cena da “expulsão dos vendilhões do Templo”. Este é o momento mais tenso da atuação de Jesus: com seu gesto Ele atinge o centro do poder religioso, encarnado no Templo; Ele arremessa diretamente contra o Templo, pois este não dá frutos e nunca dará.

O Templo já não é mais a morada de Deus, pois Ele foi desalojado pelo poder sacerdotal. O Templo, o sacerdócio, a lei, não deram frutos libertadores para o ser humano Estão aí, secos e estéreis, e não servem para a realização humana; por isso, Jesus expulsa seus representantes

Jesus colocou o ser humano acima da Lei e diz “não” a uma aliança fundada no culto externo ou ritual.

Rompe com todo o ritualismo e legalismo anterior  e nos oferece uma alternativa encarnada na vida. Não se trata mais de uma imposição baseada na Lei, mas algo que todos podemos experimentar.

Não se realiza no Templo, mas fora do Templo, em nossas casas abertas, em nossas ruas e estradas, onde todos têm acesso e a partilha criativa possibilita que todos tenham vida.

Jesus, literalmente, “virou as mesas”, e a nova mesa que Ele propõe está fora do Templo, aberta a todos.

O “ser humano” é agora o centro desse culto, que consiste na entrega aos outros.

Não é mais a Lei que impera, mas o amor; não é condenação, mas a acolhida e a compaixão.

O templo é a própria pessoa que está acima da lei e do culto.

A relação com Deus não necessita intermediários e a relação entre as pessoas é horizontal.

“Outro Deus é possível”.



Há um traço na personalidade de Jesus que os Evangelhos destacam: Ele era um “transgressor”.

Rompeu com a família, afastou-se da vida normal que todos levavam, rompeu com as tradições de seu povo, violou a lei do sábado, não respeitou as hierarquias, a ordem estabelecida, revelou-se livre perante o Templo, o culto... Sua transgressão decorria da percepção de situações extremamente injustas vigentes na sociedade e das quais as primeiras vítimas eram os excluídos. Jesus optou por ficar do lado das vítimas.

Jesus ousou transgredir. E transgrediu fronteiras que pareciam intocáveis.

Transgrediu o sábado e considerou a vida como prioridade. “O sábado foi feito para o homem, e não o

                                                                                                 homem para o sábado” (Mc. 2,27).

Transgrediu a Lei de Moisés e não permitiu que a mulher adúltera fosse apedrejada (Jo. 8,3-11).

Transgrediu a prioridade do “sacrifício”. “Misericórdia é que eu quero, e não sacrifício” (Mt. 9,13).

Jesus transgrediu fronteiras judaicas e mostrou que o projeto de Deus ultrapassa limites geográficos.

Aquele “dia de entrada no Templo” foi uma autêntica manifestação de desafio; Jesus transgrediu ousadamente ao “expulsar os vendedores e cambistas” instalados no Templo. E essa foi a “sua hora”: desmascarar a manipulação e extorsão com as quais o poder religioso tinha oprimido o povo.

Quando os chefes religiosos perguntam a Jesus com que autoridade desafia o poder estabelecido, Ele responde: “Destruí este Templo e em três dias o reedificarei”. E o evangelista acrescenta: “Ele se referia à própria pessoa”.

O sujeito do culto não é mais o poder, mas a pessoa mesma.

O templo e a lei devem ficar submetidos e devem estar a serviço do ser humano; portanto, este não pode ser objeto de nenhuma manipulação.

Jesus diz que o autêntico templo de Deus é a pessoa e que esse templo não há quem o destrua. Ele revela que o ser humano é o grande valor querido por Deus, e que o sábado, a lei e o Templo são meios para facilitar a humanização; é a vida humana está revestida de sacralidade e não os altares, os templos e os costumes antigos.



Texto bíblico:  Jo. 2,13-25  



Na oração:  As portas do “novo Templo”, que é Jesus, estão abertas para todos; ninguém está excluído.

                        Podem entrar nele os pecadores, os impuros, os excluídos, os marginalizados da religião...

O Deus que habita em Jesus é de todos e para todos.

Somos também o “novo templo”, morada do Espírito, presença que alarga nosso interior para que todos possam ali ter acesso.

Quem são os “frequentadores”  do seu “templo interior”?

terça-feira, 6 de março de 2012

sexta-feira, 2 de março de 2012

Amigos e amigas, segue uma sugestão para rezar, subindo o Monte da Transfiguração. Um abraço a todos Pe. Adroaldo sj


A EXPERIÊNCIA DO TABOR DES-VELA NOSSA IMAGEM VERDADEIRA

“Transfigurar-se é ascender a ladeira íngreme do Tabor até mergulhar a cabeça na nuvem do não-saber. É um aspirar sem querer, acreditar sem ver, esperar sem ter, dar-se sem possuir. É reduzir todos os pontos cardeais do ego ao seu núcleo central: o amor” (Frei Batto).

Todos os grandes personagens bíblicos fizeram sua experiência de Montanha (lugar de intimidade com Deus; de escuta e discernimento; lugar onde receberam uma “missão” e foram abençoados). Do alto da Montanha esta bênção vai se espalhando e atingindo a todos; experiência pessoal de alcance universal.
Também Jesus, o homem dos “vales” (lugar do compromisso, serviço...) sabia reservar momentos de Montanha (comunhão e escuta do Pai); ali Ele busca sentido e força para a sua missão.
No Monte Tabor Ele deixa “trans-parecer” seu coração; diante do olhar assombrado dos discípulos Ele “des-vela” aquilo que a visão superficial não capta: Ele é todo compaixão, bondade, acolhida, amor...
Jesus de Nazaré foi o homem que não pôs obstáculos ao Mistério para que se expressasse n’Ele; Ele foi pura transparência da Fonte originante, revelação do Rosto do Pai.

Como seguidores de Jesus, devemos saber criar em nossas vidas, espaço e momentos de Montanha (plenitude, silêncio, interioridade, escuta, discernimento); isso possibilita uma prática eficaz, um compro-misso duradouro, uma decisão enraizada, uma presença transformadora nos “vale da vida”.
Subir à Montanha nos possibilita ler os horizontes e perceber se estamos caminhando na direção certa; isso implica tomar distância do ritmo diário, descobrir novos caminhos e novas decisões...
A Montanha nos faz perceber (a partir do alto) certos aspectos do vale que passam desapercebidos.
Permanecer no vale, sem ter momentos de Montanha, é fechar-se, cair na rotina, não perceber novos horizontes, não abrir a cabeça e o coração, não ampliar a visão das coisas, da realidade, da história...
Nossa ação  no vale deve ser fruto do discernimento acolhido na Montanha. A Montanha nos devolve ao vale com outra visão, outro dinamismo; a Montanha ilumina, dá sentido e sabor à nossa vida no vale.
O vale é o lugar do compromisso, do trabalho, da construção... mas iluminado pela experiência da Mon-tanha. Todo gesto no vale tem plenitude, tem ressonâncias... a partir da Montanha.
A Montanha também nos revela que Deus está “trabalhando” no vale e nos impulsiona a “trabalhar” com Ele na mesma direção.

A Montanha não é lugar só do encontro íntimo com o Senhor, mas também lugar do encontro com o melhor de nós mesmos, nosso ser essencial; no silêncio do monte poderemos perceber quem somos nós. Por isso a transfiguração é também descoberta do “eu”, da própria realidade pessoal, do Mistério que habita em nós. É nessa manifestação divina que “descobrimos a nós mesmos”. Começamos a desco-brir o nosso ser ( único, original, sagrado...) quando “mergulhamos”  no misterioso relacionamento com Deus e quando permitimos que o “mistério experimentado” se torne fonte de nossa identidade.
Nossa vocação é “trans-figurar-nos”, superar nossa própria figura, ir além de nossa aparência para captar nossa originalidade e riqueza interior, nosso “eu original”.
Essa é a nossa verdadeira identidade; em certo sentido, é como se recordássemos quem somos e, ao recordá-lo, iniciamos um caminho de volta à casa (as “três tendas”). “Voltar à casa” é deixar transpa-recer aquilo que é mais nobre em nós; é reconhecer que somos Plenitude que transborda, Fonte inesgo-tável de sonhos, criatividade, inspirações...
Cair na conta de nossa condição de “filhos/as amados/as” equivale a reconhecer-nos como transfigura-dos. E é isso mesmo que se pode afirmar de cada ser humano: cada um de nós é “filho amado”, nascido daquela mesma Fonte e, ao mesmo tempo, transparência dela.

Todo ser humano possui dentro de si uma profundidade que é o seu mistério íntimo e pessoal; trata-se do “eu original”, aquele lugar santo, intocável, onde reside o lado mais positivo da pessoa, que só uma experiência de transfiguração é capaz de des-velar.
É aqui, onde a pessoa encontra a sua identidade pessoal; trata-se do coração, da dimensão mais verda-deira de si, da sede das decisões vitais, lugar das riquezas pessoais, onde ela vive o melhor de si mes-ma, onde se encontram os dinamismos do seu crescimento, de onde partem as suas aspirações e dese-jos fundamentais, onde percebe as dimensões do Absoluto e do Infinito da sua vida.

Trans-figurar é deixar trans-parecer toda essa riqueza interior. E isso não é fácil; normalmente cobrimos nossa verdade com máscaras ou com um papel que interpretamos. Vivemos uma quantidade de expe-riências rápidas, amontoadas, sem possibilidade de avaliação (ativismo, rotina, angústias, trabalho sem sentido; mundo fechado, sem horizontes, sem direção...)
O cotidiano faz-se rotineiro, convencional e, não raro, carregado de desencanto. Frequentemente vive-mos o cotidiano com o anonimato que ele envolve; e isso nos des-figura, desumanizando-nos.
Por debaixo somos... como realmente somos. Mas o ocultamos por medo de expor-nos aos outros, de não sermos compreendidos, de não valermos nada...; frequentemente preferimos ignorar partes de nós mesmos, apagar da consciência episódios pessoais; nosso “eu” se dissocia e se desintegra.

No entanto, a experiência do amor incondicional de Deus pode derrubar grossos muros, arrancar nossas máscaras, revelar-nos quanto valemos aos Seus olhos e dar-nos uma nova liberdade para sermos nós mesmos.
Na Montanha somos olhados por Ele em profundidade e  esse olhar revela nossa verdade mais original.
Trata-se de um olhar de aceitação, de amor, que nos faz descobrir o quanto valemos, que nos chama à vida; que nos livra do mundo de sombras, medos e inseguranças; que nos faz descobrir o gosto de viver sem máscaras, como alguém respirando ar puro.



Nos caminhos das Montanhas, sentimo-nos livres de horários fixos, apegos, modas, propagandas, violências, normoses, incompreensões e intolerâncias, e aprendemos o serviço e a entrega incondicional aos outros. É a partir das Montanhas que devemos colocar as bases firmes para edificar uma cidade fraterna e livre. Na Montanha, nunca se conjugam os verbos: escravizar, desprezar, irritar, estafar, odiar, tiranizar, encadear, encarcerar, impôr, fazer calar, humilhar, não aceitar nem compartilhar...
Acima, sobre os cumes, brilha sempre o Sol, que queima os farisaismos, egoísmos, violências e injus-tiças, que costumam ser produtos da cidade.
Subir uma Montanha exige força de vontade e esquecer-se da comodidade, droga atual que tanto debilita a colaboração, a solidariedade, a compreensão e a entrega, pedras angulares de toda sociedade livre.
A experiência da Montanha não é para permanecermos aí, isolados e acomodados, mas para “descer” à vida cotidiana, com todos os seus desafios, e viver ali o que vimos, a partir de uma atitude de bondade, compaixão e serviço.

Texto bíblico:   Mc. 9,2-10

Na oração: - sentir como Deus nos conhece e nos ama como somos;
- quê máscaras você usa habitualmente? quê papéis você representa?
- como você se sente quando atua com essas máscaras? 
 A oração faz emergir à consciência uma nova imagem de nós mesmos e indica com o dedo uma área  da nossa personalidade que necessita ser trans-figurada com criatividade; ela  promove um desenvolvi-mento criativo, eliminando a distancia entre a imagem real e as falsas imagens que habitam o nosso interior.
Através do encontro com o Senhor, no silêncio da montanha, a oração revela quem somos realmente, e amplia nossa vida para além de nossas pequenas fronteiras. Com efeito, orar é aproximar-nos da “verda-de que nos faz livres”; livres para sermos “nós mesmos”, chegar a ser aquilo para o qual somos cha-mados a ser.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Convite- Oficina de velas.

Queridos companheiros de jornada. Com a proximidade de mais uma JIAC vamos precisar de muitas velinhas, portanto, estamos organizando uma oficina de velas neste domingo, dia 04/03, em nosso sítio em Ravena (Para aqueles que ainda não conhecem o sítio fica a 19 km do anel rodoviário sentido Vitória). O convite é extensivo aos filhos que poderão usufruir da piscina. Aguardo confirmações para organização do dia.

Veridiana.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Celebração Especial na Segunda-feira.

Amigos da Comunidade Loyola,
Na próxima segunda feira, dia 05/03, às 19h15, teremos uma celebração especial: a "Missa de Abertura do Ano Acadêmico". A solenidade será realizada pelo nosso querido Padre Germano, no Passo das Artes. Logo após teremos um lanche especial, portanto, pedimos a todos que tragam lanche para a partilha.

Contamos com a presença amiga de todos!

Abraços fraternos.



Ana Carolina Paiva

ASSOCIAÇÃO DE PAIS DO COLÉGIO LOYOLA
Av. Contorno 7919, Cidade Jardim - BH MG
apl@aployola.com.br  |  3337.7700

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Um bom carnaval a todos e uma santa "travessia quaresmal". Um abraço Pe. Adroaldo sj




          QUARESMA: quem é o “senhor” que move o meu coração?

“Rasgai o coração e não as vestes” (Jl. 2,13)

QUARESMA: tempo litúrgico forte de reconstrução de si e da comunidade; tempo que coloca em ques-
                       tão a razão de ser da vida – para que vivemos? qual a finalidade do ser humano?
                      sobre quê está fundamentada a nossa vida? para onde caminhamos?
Nesse sentido dizemos que quaresma é um tempo forte de conversão; para isso ela tem sua linguagem, sua celebração, seus exercícios e seus ritos de conversão...
Na perspectiva inaciana, conversão não é simples mudança exterior no modo de ser e agir, mas “mu-dança de senhor”;  quaresma é tempo de troca de comando, tempo forte para consultar o interior e verificar qual é o “senhor”  que move o nosso coração. É neste contexto de conversão que se situam as práticas quaresmais: oração, jejum e esmola. Através de uma vivência mais radical dessas práticas começa a acontecer um deslocamento dos “falsos senhores” que habitam o nosso coração e, ao mesmo tempo, amplia-se o espaço interior para a presença e ação do “verdadeiro Senhor”.

A oração, o jejum e a esmola são como um resumo da vida cristã; condensam o sentido da vida. A vida é um mergulho no mistério de Deus (oração), um abrir-se aos outros (esmola) e capacidade de ordenar e dirigir a própria existência (jejum). Tais “exercícios quaresmais” só tem sentido se nos levam a uma identificação com Jesus Cristo; são exercícios que alimentam e sustentam nosso seguimento de Cristo.
E aqui poderíamos recuperar o sentido original bíblico de “sacrifício”, que não significa simplesmente imolação, destruição, penitêntica... “Sacri-ficar” (do latim, “sacrum facere” ) é “tornar santo”. Tanto o Primeiro como o Segundo Testamento nos ensinam que a melhor coisa que podemos transformar em “sacrifício”, em coisa santa para oferecer a Deus, é a própria vida e tudo o que fazemos. Nesse sentido, a referência máxima de “sacrifício” foi o próprio Jesus. Ele é o sacrifício, a “realidade santa” por excelên-cia, por sua verdade, sua fidelidade e disposição para fazer a Vontade do pai e exercer a sua missão. O que faz o sacrifício é a oblação, a entrega, deixar Deus ser Senhor da nossa vida.

1. ORAÇÃO: toda a nossa vida deveria ser uma oração, ou seja, um “encontro” com Deus em todas as coisas e
                       em todas as circunstâncias.
A oração é passar do vazio de si à plenitude em Deus. O “sair de si mesmo” por meio de uma íntima relação pessoal com Deus é a dinâmica central da transformação do “eu” na vivência quaresmal.
                        “Cada um deve persuadir-se que na vida espiritual tanto mais aproveitará quanto mais
                           sair do seu próprio amor, querer e interesse” ( S. Inácio - EE. 189).
A oração passa a ser a “irrupção” do divino no mais profundo do “eu” humano.
    Des-centrada de si mesma, a pessoa deixa-se conduzir pela ação providente de Deus.
    Na quaresma, a Igreja evoca o Cristo em oração diante do Pai no deserto e nas montanhas.

2. JEJUM: o jejum é a capacidade de “ordenar” a própria vida para um fim (serviço e louvor de Deus); ao
                  mesmo tempo é expressão de solidariedade e comunhão com os outros: é um chamado à partilha.
Somos livres quando podemos nos dispôr de nós mesmos, ou seja, quando nos libertamos dos “afetos desor-denados”, dos apêgos... O importante, no jejum, não é o que nós fazemos, mas o que Deus faz. Não estamos fazendo algo, mas estamos deixando-nos fazer por Deus. Na tradição dos Padres do Deserto, o jejum é o meio que nos possibilita criar um “espaço vazio” no qual o Espírito possa repousar, permitindo-nos distinguir o essencial do supérfluo.
Portanto, o jejum é um tempo em que damos maior liberdade a Deus para agir em nós, “ordenando” nossos afetos e orientando nossos impulsos instintivos. No seu relacionamento com a natureza criada o ser humano é chamado a ser livre, a ser senhor da criação. Por isso, a melhor penitência é “abrir espaço para Deus”; em outros termos, “jejuar é dar espaço para outras fomes” (N. Bonder).
O alimento e a bebida tornam-se símbolo de tudo quanto nos envolve. Porque é na ação do comer e do beber que o ser humano mais se apodera e apropria das coisas, correndo o risco de ser escravizado por elas.  A atitude de liberdade diante do alimento torna-se símbolo de sua liberdade para com tudo quanto o envolve: bens materiais, poder, prazer absolutizado, idéias fechadas, uso do tempo, dos meios eletrônicos...

3. ESMOLA: a esmola atinge o relacionamento com o próximo na virtude teologal da caridade. O ser humano
                       recebeu tudo de seu Criador; tudo é dom para todos. Neste sentido, a esmola significa a atitude
de doação gratuita, de serviço ao próximo com generosidade e desprendimento. É todo este mistério de aber-tura e acolhida em favor do próximo, sem esperar recompensa, na imitação de Jesus Cristo que deu sua vida pelos seus. É viver a partilha não só de bens materiais, mas o tempo, o interesse, o serviço, a aceitação...

Durante o tempo quaresmal, corresponde a cada pessoa encontrar sua ascese, ou seja, encontrar a manei-ra de ir esvaziando-se, despojando-se, para deixar espaço aos outros e ao Outro e chegar a viver em “esta-do de união”.
É urgente fomentar uma “cultura da solidariedade, da comunhão, da partilha...”, se não queremos nos desumanizar e nem desumanizar o planeta.
A ascese nos capacita para sensibilidade cósmica; o ordenamento de nossos desejos nos permite escutar os desejos dos outros. Quanto mais vivemos em Deus, menos somos nós o centro, menos dependentes das coisas e mais receptivos aos outros.

Textos bíblicos:   Mt. 6,1-6.16-18   Joel 2,12-18

Na oração: - qual é o seu estado de ânimo para viver a “travessia quaresmal”?
                  - Páscoa é passagem do “eu estreito” ao “eu expansivo e solidário”: quê setores de
                     vida precisam passar por esta transformação?

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O EFEITO TERAPÊUTICO DO PERDÃO


O EFEITO TERAPÊUTICO DO PERDÃO

“Deus é Criador, e dos escombros constrói novidades surpreendentes”

Nos Evangelhos encontramos uma estreita vinculação entre perdoar e curar. O perdão tem um indubitável efeito terapêutico, e a cura dos enfermos é revelação da presença da misericórdia de Deus. Em seu caminho Jesus cura perdoando os pecadores e dando vida aos que estão envolvidos nas amarras da enfermidade e da morte. A experiência de sentir-se perdoado impulsiona o enfermo para além da sua situação vivida. É, portanto, um elemento prévio à cura.
No NT, alguns textos nos fazem perceber que o perdão reconciliador de Deus é necessário para vivenciar e reconhecer a cura. Ex: paralítico toma seu leito e caminha curado como sinal do perdão dos pecados (Mc. 2,1-12). A reconciliação é um dom que gera harmonia e paz.

Em Jesus, as curas se convertem em resposta de Deus à dura realidade da condição humana marcada pelo sofrimento e exclusão e que clama uma contínua re-criação por parte de Deus.
Jesus é presença visível da misericórdia re-criadora de Deus. Nesse sentido, perdoar é re-criar. Deus re-cria o ser humano a cada instante. Cada dia que passa é um perdão sempre novo, pessoal, criativo, mas também discreto e silencioso. Um perdão que abre um futuro cheio de possibilidades; um dom que permite o ser humano ir além de si mesmo.
Só o amor misericordioso de Deus reestrutura as pessoas por dentro, abrindo-lhes horizontes maiores de coragem, responsabilidade e compromisso.
O perdão aparece, no ministério de Jesus, como elemento terapêutico de uma práxis de regeneração que faz com que o ser humano viva, apesar do pecado, e cujo primeiro suposto terapêutico é a misericórdia.
Para além de sua autoridade, os milagres mostram a reação de Jesus frente à dor dos pobres e fracos.
A misericórdia é n’Ele virtude e princípio de sua atuação ética; é ela que quase “obriga” Jesus a curar.
Os milagres são sinais poderosos que surgem da dor de Jesus diante do sofrimento alheio, em especial os enfermos. À luz de Jesus a misericórdia é mais que compaixão pela desgraça, é ternura diante de um alguém gestado nas entranhas do Deus Pai-Mãe.
Jesus percorre a Galiléia e cura toda enfermidade e dolência, cura a situação de solidão de uma multidão desamparada. Cura, em definitiva, a carência de Deus.

Jesus insiste fortemente sobre o perdão, porque este é uma necessidade vital quando a vida foi ferida.
O perdão re-situa as pessoas na grande corrente da vida; busca restabelecer um vínculo positivo entre vidas feridas, vidas que se ferem e a vida que as rodeia.
O perdão é uma experiência forte que nos re-conecta com a vida; ele quer abrir uma porta à vida, em um muro fechado de dores, de sentimentos feridos, de auto-agressividade. O perdão busca estabelecer uma aposta pela vida. É um ato de realismo, em profundidade e a longo prazo.
Jesus vive comprometido com a vida saudável, e faz a vida crescer de forma integral, sem divisões. Ele devolve às pessoas a saúde em seus corpos, em suas emoções, projetos e relações. Jesus vê nas enfermida-des uma ocasião para a manifestação da atividade salvífica de Deus.
Para as palavras saúde e salvação o latim utiliza um mesmo termo: “salus”. A saúde não é alheia à salvação que Jesus traz. A recuperação da saúde e a salvação que Deus desperta estão em íntima relação com as fontes de energia curativas e a capacidade interna de regeneração do próprio ser humano.
A proximidade de Jesus põe em movimento grandes dinamismos de vida do doente; debaixo do costume paralisado do enfermo, existe uma possibilidade de vida nova nunca posta em movimento. Jesus recons-trói “pessoas quebradas”. As obras que Ele realiza consistem em libertar o ser humano de sua inati-vidade e dar-lhe capacidade de ação.
Podemos chamar Jesus de terapeuta do perdão: com seu perdão ativo desencadeia o processo de conversão, mobiliza todas as dimensões da pessoa, reestrutura o universo relacional e abre a interioridade à alteridade. Como presença visível da misericórdia, Jesus se dirige a cada com a força da torrente que jorra para a vida eterna e quer arrastar a todos para aquela Fonte de comunhão que o Pai deseja, a fim de que toda a vida esteja exposta ao seu amor.
Em última análise, o perdão é um ato de fé na bondade fundamental do ser humano.

O paralítico do evangelho de hoje é um homem afundado na passividade: incapaz de mover-se por si mesmo e sem liberdade para desenvolver-se como ser humano; não fala, não diz nada; deixa-se conduzir pelo outros; vive preso ao seu leito, impedido de ser plenamente humano.
Toda a cena se desenrola “em casa”, não no templo. O templo era o paradigma da instituição, mas havia deixado de ser o lugar da presença de Deus, porque seus dirigentes fizeram dele lugar de exploração e violência aos mais fracos e excluídos.
Jesus passa da sinagoga, lugar oficial da religião judaica, à casa, lugar onde se vive a vida cotidiana junto àqueles mais queridos. Nessa casa vai-se gestando a nova família de Jesus.
A casa não é lugar onde se vive a Lei, mas o lar onde se aprende a viver e conviver de maneira nova, à maneira de Jesus.

Sabemos que a enfermidade e o sofrimento tem muito a ver com a fragmentação, a dispersão e a divisão.
Há muitos enfermos que, além da dor física, sofrem com sentimentos de culpabilidade, impotência, fragilidade, solidão... A reconciliação contribui a diminuir o sofrimento e potencia a saúde na dupla direção: integração pessoal e comunhão com os outros, tal e como fez Jesus.
Ser curado por Jesus gera harmonia, equilíbrio saudável, unificação interior e reconciliação com a vida, com o que se é e com o que foi:
“Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa” (Mc. 2,11). Jesus rompe as amarras da enfermi-dade que paralisa a pessoa, liberando o potencial humano presente em cada um. Ele desperta em cada enfermo a responsabilidade frente à própria saúde. É um chamado a evitar as atitudes patogênicas. Assumir este compromisso com a própria vida gera liberdade.

O valor terapêutico e reconciliador do perdão é central para restabelecer as fraturas da relação do ser humano consigo mesmo, com os outros, com a natureza e com Deus.
Disse-lhe Jesus: “Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa!”
O paralítico levantou-se imediatamente e, carregando o leito, saiu diante de todos.
A ordem de vida é dada por Jesus. O homem obedece. Não sabe quem é Jesus, mas pressente que Aquele que lhe fala é portador de vida. O paralítico poderia ter perfeitamente permanecido deitado, mas adere à ressurreição. Jesus não o toca, como faz com outros enfermos; não o toma pela mão, para ajudá-lo a levantar-se, pois a cura desse homem passa, precisamente, pela recuperação da confiança em sua própria identidade. O doente deve escolher levantar-se por si mesmo; deve reencontrar seu desejo de viver.
As três ordens que Jesus dá ao paralítico já dizem tudo: “levanta-te” (coloca-te de pé, recupera tua dignidade, libera-te daquilo que paralisa tua vida); “toma o teu leito” (aprende com o passado e abre-te ao futuro com fé renovada); “vai para tua casa” (aprenda a conviver).

O leito também não é abandonado imediatamente. É pedido ao homem curado “carregá-lo” e não jogá-lo fora. Carregar seu leito é um ato interior preciso; eis um verbo ativo, opondo-se à passividade do “estar deitado” e “ser carregado”. Deixa de ser “peso morto” para ser “companheiro” de estrada.
Carregar seu leito é inverter o movimento, mudar de direção, substituir um movimento de morte por um movimento de vida. Antes, o leito o carregava; agora é o homem curado que carrega seu leito.
Isto significa que o enfermo não partiu do nada, não partiu do zero, mas ergue-se, coloca-se em marcha a partir do passado. Carregar seu leito é romper com a prisão a seu mal. É tomar consciência de seus verdadeiros problemas, livrar-se do “vitimismo” e não mais esperar que os outros o carreguem.
Terá ele um trecho do trajeto a perfazer, carregando seu leito. Depois, virá o tempo de lançá-lo fora e, então, tornar-se-á livre da dependência que lhe fizera tanto mal.

Na oração:  não é possível seguir Jesus vivendo como “paralíticos” que não sabem como sair do imobilismo, da
                        inércia ou da passividade; há muitas atitudes petrificadas, traumas paralisantes, feridas não cicatri-zadas que nos impedem viver “como Deus manda”.
Só o perdão terapêutico de Deus reequilibra nossa existência a nos impulsiva a viver a comunhão.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Retiros.

Queridos retirantes, retirados e em retirada...
Para conhecimento e divulgação para outras pessoas que vocês julgam com perfil para passar pela experiência. Estas são as datas dos retiros oferecidos pela Equipe de Formação Cristã do Colégio Loyola:

I) Retiros em IV etapas (a maioria de vocês já fizeram, mas pode ser que um ou outra queira repetir...).
Início Sexta-feira, 20:00 e término Domingo 16:00. Número de vagas: 30 (15 para dormir).
1a Etapa: 30 e 31/março a 1/abril
2a Etapa: 1 a 3 de junho
3a Etapa: 24 a 26 de agosto
4a Etapa: 26 a 28 de outubro

II) Retiros Inacianos temáticos (um aprofundamento para quem já fez as etapas; são 15 vagas e as pessoas devem ficar na casa para dormir, isto é, uma experiência de maior recolhimento).
1a possibilidade: de 6 a 10 de junho (feriadão de Corpus Christi, iniciando na noite do dia 6)
2a possibilidade: de 1 a 4 de novembro (feriadão de finados; iniciando na noite do dia 1).

A ABERTURA DE INSCRIÇÕES SERÁ FEITA OPORTUNAMENTE, VALERÁ A ORDEM DE CHEGADA, E RESPEITAREMOS O LIMITE DE VAGAS.

Um abraço, bom ano! Paz. Pe Germano

Pe. Germano Cord Neto, SJ
Reitor
COLÉGIO LOYOLA - Jesuítas
(31)  2102-7048

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Nada melhor que iniciarmos o ano recebendo bênçãos, não é mesmo?
Por isso, convidamos os pais e toda a comunidade para a primeira missa de segunda feira de 2012, dia 6 de fevereiro, às 19h15, no Passo das Artes.
Esta missa especial será celebrada pelo nosso querido Padre Germano.
Contamos com a presença amiga de todos!

Desde já agradeço;
Beijos com gostinho de saudade!!
Eliene Mendes
Associação de Pais do Colégio Loyola
3337-7700 //2102-7040//9614-6870

Sugestão do Padre Adroaldo para rezar o evangelho do próximo domingo.

A AUTORIDADE TERAPÊUTICA DE JESUS

“E Ele curou muitos doentes de diversas e enfermidades...” (Mc. 1,34)

Nos Evangelhos, Jesus aparece particularmente atento à realidade dos enfermos que saem ao seu encon-tro ou que são levados até Ele; Ele se comove e se compadece dos sofredores, situa-se no lugar destes e sente como própria a dor deles, tem consciência que a enfermidade , qualquer que seja sua gravidade, diminui a vida humana, a restringe em suas possibilidades de relação plena consigo mesmo, com os outros e também com Deus.
Pela sua Encarnação, Jesus “desce” ao mais profundo da condição humana, até o extremo da dor, da doença, da exclusão...; pela sua presença junto aos mais marginalizados e sofredores Ele deixa clara sua missão: “aliviar a dor humana”. Jesus é um bió-filo (amigo da vida), pois revela uma especial cuidado e zelo pela vida, seja da natureza, seja do ser humano.

Em Marcos, encontramos uma estreita relação entre evangelizar e cura dos enfermos. A evangelização mesma tem um evidente efeito terapêutico. É visível o amor com que Jesus se entregou aos enfermos e marginalizados, devolvendo-lhes a dignidade pessoal. “Jesus evangeliza fazendo-se presente ali onde a vida aparece mais ameaçada, deteriorada e inclusive fracassada e aniquilada” (Pagola)
Jesus assumiu uma estratégia terapêutica de “inclusão”, que buscava fazer emergir o ser humano sadio.
Contemplar Jesus e sua atitude diante das pessoas é perceber um sinal indicativo que nos mostra onde está Deus e onde devem situar-se seus seguidores.
A dor dos pequenos e humilhados é sua causa, seu destino e seu lar. Jesus sabe e mostra em sua ação curativa que não são as leis que importa ao Pai, mas a ação que visa aliviar o sofrimento das pessoas.

Na sua missão, Jesus mostrou que o mais urgente é remediar o sofrimento daqueles que carecem de uma vida digna e plena. Pois o Deus que Ele nos revelou não é o Deus que nos complica a vida com normas e leis, senão o Deus que se humanizou para humanizar nossa vida. E assim nos indicou que só na medida em que nos fazemos mais humanos, nos fazemos mais semelhantes a Ele, aliviando o sofrimento huma-no, comprometendo-nos com os que sofrem, até identificar-se com eles.
É importante salientar que a autoridade de Jesus não é uma “autoridade doutrinal”, para afirmar verdades e condenar erros, senão que se trata de uma “autoridade terapêutica”, para curar doenças e aliviar o sofrimento humano. Jesus, submergindo-se no mar da dor, assume o infortúnio dos inocentes, dos perdedores, das vítimas; em vez de fustigar os pecadores para que tivessem consciência do iminente juízo divino, Ele se dedica a curar enfermos, a socorrer os pobres, a acolher a multidão marginalizada, a conviver com pessoas de má conduta, a emocionar-se com ternura visceral diante das pessoas simples que, a juízo dos dirigentes religiosos, não conheciam a Lei e estavam excluídas da salvação.

O decisivo aqui é compreender que o Reino de Deus, no ministério de Jesus, se relaciona com o sofri-mento humano. Quando Jesus anuncia a proximidade do Reino de Deus não se refere ao castigo, nem à ameaça ou juízo, mas à vida e à esperança.
Quando os Evangelhos revelam como Jesus proclamava a proximidade do Reino, afirmam que isso estava unido à cura dos males e enfermidades do povo (Mt. 4,23-24; Mt. 9,35-36).
Aqui não se faz menção nem de pecados, nem de juízo, nem de ameaça alguma.
Jesus não estava preocupado com os pecados, o juízo e o castigo de Deus. O que Jesus sentia, ao ver a multidão, era compaixão profunda, que o impulsionava a curar os males e enfermidades, as doenças e sofrimentos daquele povo desamparado.
Sua atuação compassiva é uma atuação a partir da radical gratuidade.
Tudo se resume em dar vida, erradicar as dores, devolver a dignidade aos que a perderam.

Jesus, em seu ministério terapêutico, não pregou sobre a saúde, mas gerou saúde, transformando a vulnerabilidade em possibilidade, a fraqueza em força, a dor em alegria...: “passou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos pelo diabo” (At. 10,38).
 “Therapeuo” é o verbo mais freqüente no NT; junto com o substantivo “therapeía” expressam o duplo sentido de “cuidar”  e “curar”. Sua presença e sua intervenção nos revelam o compromisso com a vida, a afirmação da dignidade e da sacralidade de cada pessoa, bem como a reintegração  dos excluídos na comunidade humana.
Podemos definir a ação curativa de Jesus como “cristoterapia”: Ele é a fonte da vida e da saúde humana autêntica. A terapia é Ele mesmo.
“A terapia que Jesus põe em marcha é sua própria pessoa” (Wolf). Os relatos evangélicos revelam como a multidão procurava tocá-lo, porque d’Ele saía uma força que curava a todos (Lc. 6,19).

Seguindo a Jesus, sentimo-nos chamados não só a levar ajuda direta às pessoas que sofrem, senão também a reconstruir as pessoas em sua integridade, reincorporando-as à comunidade e reconciliando-as com Deus. Nossa missão encontra sua inspiração no ministério terapêutico de Jesus.
“Cuidar” e “curar” implica uma atitude “kenótica”, porque exige esvaziamento de nós mesmos para deixar o “mistério” do outro encontrar abrigo no nosso coração. “Cuidar” de alguém é cuidar do que é saudável nele, porque é a partir desse estado de saúde que se poderá integrar e curar as feridas e fragili-dades do outro. O cuidado mobiliza e potencia os recursos presentes no outro; é preciso despertar a cons-ciência que todo ser humano tem reservas de riquezas, criatividade, inspiração, intuição..., e que toda pessoa precisa encontrar uma presença capaz de ativar e despertar o seu mundo interior.
O cuidado é gesto amoroso para com o outro, gesto que protege e traz serenidade. Cuidar é envolver-se com o outro, mostrando zelo e preocupação. Mas é sempre uma atitude de benevolência que quer estar junto, acompanhar e proteger. Quer conhecer o outro com o coração e não com a cabeça.
Pelo cuidado aproximamo-nos dos outros para entrar em comunhão com eles, responsabilizar-nos pelo bem-estar deles e socorrê-los no sofrimento.
Se a vida pôde surgir num contexto de cuidado, é pelo cuidado permanente, ao largo de todo o tempo em que existir sobre a face da terra, que a vida se mantém e se plenifica.
Por isso precisamos do espírito de gentileza e ternura para captar e sentir o outro como outro, como original, para acolhê-lo na sua diferença. O amor é a expressão mais alta do cuidado, porque tudo o que amamos também cuidamos. E tudo o que cuidamos é um sinal de que também amamos.

Texto bíblico:  Mc. 1,29-39

Jesus, o biófilo, tocou as “vidas feridas” com delicadeza e ternura e as transformou. Seus gestos terapêuticos foram o prolongamento da ação criativa de Deus; com palavras e ações Ele inaugurou no meio de nós o Reino de Vida do Pai. Não só optou pela vida e se comprometeu com a vida, mas fez de sua Vida uma entrega radical a favor da vida.
De fato, para Jesus, o primeiro é a vida e não a religião. Ele tomou partido da vida, contra aqueles que, a partir da religião, cometiam todo tipo de agressão contra a vida.
Jesus se deixou conduzir pelo Espírito do Senhor para aliviar o sofrimento humano, levar a Boa Nova aos pobres, devolver a vista aos cegos, dar a liberdade aos presos e oprimidos, dar vida àqueles que tinham a vida massacrada ou diminuída, devolver a dignidade da vida àqueles que eram encurvados pelo peso da opressão e do legalismo.