terça-feira, 10 de abril de 2012

Convite da Paróquia Santo Inácio de Loyola.


Olá paroquianos e amigos.

Temos um encontro nesta sexta-feira, 13/4, a partir de 19,30h no Espaço Cidade Jardim, colado na igreja:

A Noite de Massas do EJC Encontro dos Jovens com Cristo.

Um momento de confraternização familiar, amena, com belas massas e molhos cedidos pela Vilma Alimentos, boa música e um bom vinho.
Ingressos no local a R$ 25,00  - exceto bebidas.
E teremos sobremesa!
Uma oportunidade de fomentarmos esse movimento jovem, dando-lhe apoio na construção de um novo e promissor caminho de nossa igreja do amanhã.
Vamos prestigia-los.     

Repasse para seus parentes e amigos. 
                                       Um abraço do Gege Angelino

domingo, 8 de abril de 2012

Uma Santa Páscoa - Padre Adroaldo.

RESSURREIÇÃO: a plenitude do cotidiano



Jo. 20,1-10: o túmulo vazio



* O que é viram e observaram os discípulos que visitaram o sepulcro por primeiro, para nos transmitir?

* Qual foi o primeiro detalhe que chamou a atenção dos discípulos?

* O que exatamente viram João e Pedro, alguns instantes antes de perceberem que o túmulo estava vazio?



João, o único a narrar o particular que nos interessa, frisa que foi o primeiro a chegar ao sepulcro, o primeiro a inclinar-se e ver “os panos de linho estendidos por terra... e o sudário dobrado, em um lugar à parte”. Porque motivo faz notar algo de uma importância aparentemente tão secundária?

- Quem é este Homem que por ocasião do maior acontecimento da sua vida, a ressurreição, encontra tem-

   po para recolher e dobrar o sudário?

- Por que, no dia em que lhe cabe a extraordinária ventura de retornar à vida, Ele se mantém atento aos

   detalhes que o circundam?

- Que importância pode ter um pedaço de tecido para quem se liberta dos braços da morte?



No entanto, o gesto de atenção ao sudário nos revela a personalidade de Jesus, nos faz entrever Jesus no mais íntimo do seu mundo humano. A atenção às coisas mínimas, pequeníssimas, ao que aparentemente se revela sem importância... é um traço essencial da personalidade de Jesus.

O detalhe de recolher o sudário, enrolá-lo e colocá-lo à parte não alude apenas à calma de quem efetuou tal gesto. Jesus revela-se como o homem que resgata e plenifica o aspecto ordinário da vida, o que é habitual e cotidiano. Qual pode ser o segredo da sua condição humana?

Jesus não permite que a vida de cada dia seja destruída. Sabemos que tudo aquilo que se repete todos os dias, tende a dissipar-se e a passar desapercebido.

O acontecimento singular e grandioso da Ressurreição não o afasta da dimensão real e simples da vida humana. A vida humana é simples em plenitude. É constituída de fatos e circunstâncias insignificantes, banais, óbvias, o mais das vezes desprovidas de importância.

Jesus não se deixa prender pelo “extraordinário”, porque sua vida encontra sentido no “ordinário”.



Jesus vence e resgata o sentido da vida, se revela humano precisamente naquilo que se apresenta sem atrativo, sem importância. O “extraordinário” não transforma a sua consciência, mas, ao contrário, é a sua consciência do que é a vida humana que transforma o ordinário em extraordinário.

Sua visão dos fatos permite-lhe entrelaçar o surpreendente com a realidade de sempre, feita aparentemente de coisas simples.

Jesus não se deixou dominar pela Ressurreição. Mesmo depois de ressuscitado, concedeu a si próprio o direito de penetrar na humilde vida de cada dia.

Quando se tem olhos somente para o que é grande, o horizonte de compreensão da vida se restringe.

Ignorando a importância das coisas mínimas, acaba-se por perder o sentido das grandes.

Os especialistas em coisas extraordinárias perdem os numerosos milagres da vida cotidiana. As coisas qualificadas como pequenas podem, efetivamente, revestir-se de uma importância decisiva na vida.



Com o gesto de “dobrar o sudário” Jesus revela-se como o homem da vida de cada dia, que não quer anular a realidade mais simples. O divino continua a atuar naquilo que pareceria desprovido de valor.

Jesus restitui à condição humilde da vida o seu caráter de realidade preciosa e esplêndida.

Através desse gesto elementar, Jesus honra e diviniza as realidades pequenas, as que podem passar desper-cebidas. Aos seus olhos nenhum aspecto da realidade é desqualificado. Ele está ciente de que a transcen-dência está misturada com a realidade. Vislumbra-se o invisível através do visível.

Tudo quanto parece incompleto, inacabado, imperfeito, pequeno... encontra acolhimento em Jesus. As coisas não são destituídas do próprio valor nem mesmo depois de usadas.

Se assim trata as “coisas” desprezíveis e irrisórias da vida, que tratamento Ele reservará à “existência” humana, em si mesma frágil, vulnerável, pobre, imperfeita...?

Quê lugar ou que espaço consagra à realidade desprezada e desarmada do ser humano?

Jesus não se afasta da existência limitada do ser humano. Ele faz tudo quanto é necessário para manter-se ligado a ela. Seu interesse pelo sudário é o espelho do seu interesse pela pessoa.



O ritmo da sociedade atual e, sobretudo, o culto à novidade, ao efêmero, ao superficial, ao consumismo, pede de nós recuperar a dimensão de profundidade em nossa vida cotidiana.

A expressão “viver a vida” não é exaltar uma vitalidade superficial, mas viver a vida em profundidade.

O chamado universal à santidade nos faz confiar profundamente na vida cotidiana, ou seja, no dia-a-dia da vida familiar, no exercício da profissão, nas relações da vida social, nas decisões éticas, na ação cida-dã, no campo dos direitos humanos, no campo da economia, na presença ativa da política, no mundo da cultura, no diálogo com os meios de comunicação, na navegação pela internet... como “lugares agraci-ados” de encontro com Deus e manifestações explícitas de compromisso cristão.

Tal experiência possibilita recuperar a jornada com uma crescente dimensão de profundidade, na qual a pessoa se sente com mais claridade, com um coração maior e um pouco mais livre.

Custa-nos muito descobrir a “espiritualidade da vida cotidiana”, a vida de cada dia nos parece sem sen-

tido, longe das grandes “moções”  espirituais que as consideramos como graças extraordinárias.

Precisamente a vida cotidiana é o lugar privilegiado para descobrir Deus (“por onde passa meu Se-nhor”), sentir esse “gostinho” que nos fica da Sua presença  durante o dia, ou, dito com frase do Evange-lho: “não sentíamos abrasar nosso coração?”



Nesse sentido, é necessário fazer a passagem de uma espiritualidade de momentos densos mas “pontuais” a uma espiritualidade de seguimento, vivido em todos os momentos e circunstâncias da vida, uma espiritualidade das chamadas “realidades temporais”, ou seja, viver no mundo e para o mundo.

É necessário superar a concepção de oração como espaço a ser preenchido, mas como atitude orante, ou melhor, “ser contemplativo na vida”: orar a partir dos jornais, das notícias, da conversação familiar, das tensões no trabalho, nos bares e mercados, ver o mundo...

Enfim, viver intensamente a espiritualidade de cada dia. Viver como “ressuscitados”.



Na oração:  Meus lugares cotidianos são “lugares sagrados” de encontro com o Senhor da Vida?

Encontrar a Deus no cotidiano significa que é preciso viver em um contexto vital no qual a pessoa se sinta estimulada a tomar decisões, a assumir responsabilidades, grandes e pequenas, a cuidar pessoalmente dos processos concretos da vida de cada dia.

Isto confere uma qualidade de vida: a experiência de Deus inspira um estilo de viver, uma capacidade de integração interior, uma simplicidade de vida, uma proximidade maior junto aos pobres, um sentido profundo de missão, uma força da gratuidade (contrária ao ativismo, possibi-litando espaços mais humanos de encontros, sem viver a obsessão pelo êxito e triunfo...), um sentido agudo de humor (sinal de uma sabedoria, bom lubrificante em nossas relações, pois facilita os encontros, relativiza as tensões...), um lugar para a festa (manifestação da alegria gratuita e contagiante)...

Suas atividades diárias formam parte do seu caminho para Deus? Você tem consciência que cada dia é um “tempo de graça”? Você “apalpa” a presença do Ressuscitado nas “rotinas diárias”?


quinta-feira, 5 de abril de 2012

Missa de Páscoa.

Amigos da comunidade Loyola,
Na próxima segunda-feira, 9 de abril, haverá uma celebração especial da vida nova em Cristo Jesus. A Missa da Páscoa será realizada na quadra Irmão Patrício, às 19h15min e contamos com sua participação neste momento.
Após a missa o Colégio Loyola e a APL oferecerão um lanche especial de confraternização. Traga sua alegria e entusiasmo.
Abraços Fraternos.
Licínio Andrade – Pai Voluntário
ASSOCIAÇÃO DE PAIS DO COLÉGIO LOYOLA
Av. Contorno 7919, Cidade Jardim - BH MG
apl@aployola.com.br | 3337.7700

Texto para o sábado santo.

UM LONGO E ESPERANÇOSO SÁBADO SANTO



* Como se pode passar da SEXTA-FEIRA SANTA ao primeiro DIA da semana sem unir-nos a Cristo no SÁBADO SANTO?

                           Sabemos que a vida da Igreja, como também a nossa vida pessoal, é feita de longos sába-dos santos, nos quais nem a dor da Paixão nem o consolo da festa Pascal marcam significativamente nossos dias e nossas noites, mas simplesmente a dura e paciente espera, na fé mais despojada, de um Senhor, que se faz esperar tanto que parece que já não vai chegar mais.

É o Sábado Santo de um credo pascal que sabe que amanhã florescerá a messe. Submergido no sepulcro do Senhor, espera-se simplesmente.

Ao sentir a própria incapacidade de levar adiante a exigência do Evangelho, o seguidor de Jesus se apresenta no sepulcro  de onde pode irromper a força transformadora da manhã da Ressurreição.

O Sábado Santo é um dia sem liturgia, em silêncio, não passa nada, não sucede nada, recorda a solidão do sepulcro, a tristeza das mulheres e dos discípulos, a desilusão diante do fracasso.

“O Rei dorme”, comenta uma antiga homilia sobre o Sábado Santo. O povo canta o Shabat mater, acompanha a Virgem dolorosa, espera com ela, em silêncio, a aurora pascal.



No entanto o Sábado Santo é seguramente o tempo da Igreja e da liturgia que nos toca viver mais longamente em nossa vida.

Sábado Santo é tempo não só de espera, mas de esperança, é deixar que o grão de trigo morto comece a dar fruto, é tempo de um inverno que tornará possível as flores da primavera, é tempo de imaginar, de criar, de abrir-se a algo novo e inesperado, de sonhar um mundo melhor e uma Igreja mais nazarena.

O Sábado Santo é ao mesmo tempo sepulcro e mãe, como diziam os Pais da Igreja, ao falar do batismo.

Este espaço de silêncio não é de morte senão de vida germinal, é noite que aponta à aurora, são as noites escuras da vida que desembocam na alegria da alvorada; é tempo de fé e de esperança, é momento de semear, mesmo que não vejamos os resultados, é tempo de crer que o Espírito do Senhor, criador e doa-dor de vida, está fecundando a história e a terra para seu amadurecimento pascal e escatológico, para a terra nova e o céu novo.



É preciso considerar o Sábado Santo como um tempo de luto e pranto: depois da dor intensa da Sexta-feira Santa dá-se lugar a uma dor silenciosa, contida, como a terra que vai se empapando até suas entra-nhas com a água caída torrencialmente sobre a superfície.

O que aconteceu na superfície da terra na Sexta-feira Santa, acontece nas profundezas da morte no Sá-bado Santo, para que no Domingo da Ressurreição sejam resgatados ambos acontecimentos.

É preciso saber acolher este silêncio surdo, que marca a passagem entre duas experiências intensas: a Sexta-feira de dor e o Domingo de Ressurreição.

No sepulcro, Jesus se faz solidário com toda a morte humana. E é preciso esperar com Ele. É preciso esperar em nossos projetos e sonhos, na libertação dos povos, em uma nova humanidade.

Em nossas vidas teremos muitas sextas-feiras santas de dor e dias de páscoa, mas, teremos muito mais sábados de espera.



Fazer memória do Sábado Santo nos faz compreender que, nos sábados santos da vida não podemos ter a pretensão de querer ver o significado de tudo o que vivemos, no mesmo momento que o vivemos. Muitas vezes, terão que passar muitos anos para poder ver o rosto do Deus vivo em situações vividas de dor e abatimento; além disso, temos que começar a entender que não podemos pretender chegar ao último dia com todas as interrogações resolvidas.

Saber viver neste tom vital é o que nos convida o Sábado Santo.

Em todo caminho espiritual é preciso passar pela “noite”, pela “ausência”, pelo “silêncio”, para amadurecer. É inevitável experimentar, durante algum tempo, alguma forma desconcertante de sentir a presença-ausência de Deus.

Esta terrível Noite Escura do Sábado Santo corresponde a um incontestável estágio espiritual, como dura mas inevitável “passagem” (Páscoa) para a Luz do Domingo.

Só atravessando a prova, a Noite Amarga se transforma em Noite Amável.



A partir da experiência sabática, a noite pode espantar, mas também pode ser chance para ver melhor; a morte pode ser ameaçadora, mas ela ensina a viver; o sepulcro vazio pode causar dúvida, mas ele aponta para a ressurreição; o infinito pode suscitar inquietação, mas consegue impulsionar para o além, até acen-der no coração uma chama persistente: a esperança.

O ser humano que espera não tem certeza, não fica seguro, não está satisfeito. Mas a esperança tem fundamento; não é uma ilusão e nem uma utopia; não é um sonho impossível e nem uma lembrança irre-cuperável; não é só futuro, mas permanece, disfarçadamente, presente; não é uma morada, mas um senti-mento sempre inédito. A esperança evita tropeçar no fracasso, no desânimo, na apatia e no silencioso desespero. Ela se acende à noite, vence na impotência; começa na limitação; é ousada na fragilidade.

A esperança é caminho e meta, posse e dom, destino e encontro, antecipação e cumprimento, expectativa e busca, risco e proteção, nó e liberdade.  A esperança é certa, mas não dá “garantias”.

       “O coração do cristão é inquieto, está sempre em busca, em espera: esta é a esperança...

        porque a esperança é aquela que faz caminhar, faz abrir estradas...” (Massimo Cacciari)

O ser humano-esperança é o peregrino que caminha, é o artífice que tece o existir.

Esperança é força prospectiva que suscita passos para a gênese da nova humanidade. Esperança é o ser humano nômade. Des-loca-se. Des-dobra-se. Inventa-se. Deixa de ser o que era para chegar a ser o que ainda não é. Na noite ela se acende; na impotência, ela vence; na finitude, ela impele a caminhar.

A esperança é brasa, é pés, é caminho, é narrativa, é assombro, é antecipação.

Não há esperança na solidão das próprias seguranças e das próprias expectativas. A esperança se realiza no encontro, que impele a sair, a caminhar,  a ir ao encontro, narrar aos outros o fogo que se acendeu por dentro. A esperança é o canto que empresta coragem frente os corredores escuros da história.



Poderíamos acrescentar que uma humanidade, incapaz de cultivar a esperança, não merece ser olhada, porque lhe faltaria a única razão pela qual vale a pena existir. Sem a esperança, a humanidade perde a iniciativa. Embota-se.

A vida sem desafios não é real; mas a vida sem espera, sem desejo, sem paixão, sem esperança, não é vida.

A esperança mora onde a deixamos entrar: onde lutamos, onde convivemos com o outro diferente de nós, onde a fragilidade e a transição podem desorientar, onde as trevas parecem mais fortes que a luz, onde a vida parece ser ameaçada pela morte, onde a violência pensa levar vantagem, onde o caminho é íngreme, onde a espera se confunde com a angústia...

A força da esperança está oculta precisamente na sua impotência.

A Cruz permanece em seu lugar, mas o sepulcro fica vazio para sempre!

É Ressurreição: vida plena antecipada.



Mas não basta ter esperança. É preciso ser esperança. O ser humano vive de esperança, acredita na esperança, mas, sobretudo é esperança. A esperança leva a querer algo mais. É “antecipação criadora”; ela tem “rosto novo”. É madrugada e não crepúsculo. Jamais “envelhece”. A esperança pascal antecipa aquilo que ainda não é realidade. É o futuro que ainda pode ser convertido em história nova.



Textos bíblicos:  Mc. 15,42-47   Jo. 19,38-42



Na oração: recordar os grandes silêncios da vida (perdas, fracassos, crises...) onde não há razões, não há uma

                       lógica..., mas no silêncio profundo, algo novo começa a germinar...


Texto para a sexta feira.

AS MULHERES QUE OLHAM O CRUCIFICADO, À DISTÂNCIA



“Permaneciam ali, olhando à distância, algumas mulheres...” (Mc. 15,40-41)



Os evangelistas nos falam delas muitas vezes; o relato da crucificação revela suas presenças como testemunhas e mediadoras. Os relatos de Mateus, Marcos e Lucas coincidem em indicar que as mulheres “contemplavam a cena de longe” . João, “que vê por dentro”, as coloca junto à cruz.

Mesmo não podendo estar tão próximas físicamente, elas são como as mães que podem “pré-sentir”, que sabem intuir “desde longe” o que acontece com seus filhos.

Estão ali, precedendo-nos no caminho, e não dizem nada. É seu corpo, são seus gestos, suas mãos, seus olhos, seu silêncio... que falam por elas. A linguagem delas é a linguagem da relação. Se elas podem permanecer nessas circunstâncias, é porque amaram muito. Elas nos falam de resistência e de fidelidade, de uma presença comovedora. Estão juntas, expostas a outros olhares, como comunidade de discípulas em torno a seu Mestre, que lhes ensina, agora sem palavras, uma sabedoria muito maior.

Em meio à impotência, não se afastam da dor experimentada ao ver sofrer a quem mais se ama, senão que se expõem ao olhar d’Aquele cujo rosto foi desfigurado.



* Quem são elas? De onde tiraram forças para permanecer ali quando outros se afastaram?

* Onde estas mulheres encontraram a força para segui-Lo por este caminho do Calvário? Que faziam elas ali,

   junto à cruz? Realizam alguma ação eficaz? Vão poder impedir a morte de  um inocente?

Algumas são chamadas por seu nome próprio, ou são identificadas por vínculos de parentesco, ou ainda por ter gerado e acompanhado outras vidas. São as mesmas mulheres que haviam seguido e servido a Jesus na Galiléia, e agora o farão também na Sua morte. Sobem com Ele ao lugar do abandono e da ingratidão, levantando uma ponte de proximidade e de solidariedade que cruza a totalidade da vida de Jesus.

Finalmente, observarão o sepulcro onde colocarão seu corpo (Mc. 15,47). Nem um só instante afastaram seus olhares d’Ele. E o que para uns é escândalo e para outros é loucura, para estas mulheres é uma força de Deus impressionante.

Elas acompanharam a vida de Jesus muito de perto, “à sombra”, e agora, a morte d’Ele lança uma forte luz sobre elas, tornando-as visíveis para que todos saibam quem são elas.

Elas tem a coragem de permanecer ali, acolhendo o acontecimento em toda sua crueldade e profundidade; elas estão de pé, enquanto outros desistiram ou se afastaram assustados.

A partir deste momento elas vão aprendendo a conviver com a morte, com a d’Ele, com a sua e com a dos outros. Vão aprendendo, precisamente em meio à morte, a “celebrar a vida”, mesmo intuindo que uma lança também as atravessará.

“Olhar a morte de frente e aceitá-la como parte da vida é como dilatar a vida... Pode parecer um paradoxo: excluindo a morte de nossa vida, não vivemos em plenitude, enquanto que acolhendo a morte no coração mesmo de nossa vida, dilatamos e enriquecemos esta” (Etty Hillesum).



Há duas palavras que nos ajudam  a compreender o sentido da presença das mulheres junto à Cruz, e, ao mesmo tempo,  nos ajudam a ver o sentido que deve ter, à luz dessa presença, nossa própria vida humana: compaixão e comunhão.

* Somos humanos na medida em que somos capazes de compaixão. A presença silenciosa junto à Cruz nos ensina a com-padecer, a abrir o coração e colocá-lo ao alcance do sofrimento e da dor humanas, a deixar-nos configurar por ela, afetar por ela, ser tocados por ela.  E deixar que a compaixão comande nossos atos e decisões. Com-paixão, padecer com: esse é o segredo da vida vivida em plenitude. Soli-darizar-se com o outro naquela situação onde ele ou ela não nos pode retribuir, pois está reduzido apenas a uma dor sem limites e sem redenção, a um sofrimento sem explicações.

* Somos humanos na medida em que somos capazes de comunhão. Comungar com o outro, com sua dor e sua alegria, com sua esperança e sua angústia.  Não querer ficar apartados ou distantes das situações que estão sendo vividas e sofridas pelo mais humilde e excluído de nossos semelhantes. É a solidari-edade levada a suas últimas conseqüências.  Tudo que afeta o outro, nos diz respeito e é nosso também: seus triunfos ou seus êxitos, seus fracassos, suas solidões, suas incompreensões, sua pobreza, sua dor e sua morte; ou seja, aquilo pelo qual ninguém o acompanha e que o torna tão repugnante que não pode atrair os olhares nem o interesse de ninguém.  Isso é a verdadeira comunhão e só os seres humanos são capazes disso.



O que aquelas mulheres “viram, ouviram e tocaram” se entranhou em sua interioridade e gerou nelas uma força de compaixão e comunhão. Olhando de longe, estavam junto a Ele, deixando-se imantar por Ele, vivendo privilegiadamente um mistério que se oferece a todos.

Daqui para a frente elas prestarão atenção aos corpos amados e feridos da história e se tornarão pedago-gas de um contato que gera humanidade; elas estenderão suas mãos sobre os necessitados, com o mesmo desejo com que Jesus as estendeu  para tocar voluntariamente as pessoas enfermas, selando uma aliança, um “pacto de ternura”, com todos os desprezados e excluídos.

Elas escolherão a melhor parte ao acolher, silenciosas, os desprezados, aqueles que são excluídos e retirados das cidades; ao expor-se frente àqueles que morrem indefesos, abandonados nas prisões, nos asilos, nos hospitais...; ao fixar seus olhos naqueles que não tem aparência humana que possamos estimar, nem conta corrente, nem nome...; e estão aí “por todos e para todos”.

Aprendemos de seus gestos que para abraçar o Crucificado não temos outro acesso que tocar os feridos, pedir a graça de beijar e ser beijados por aqueles que agora são “transpassados” como Ele.



Estas mulheres nos ensinam que “subir a Je-rusalém” é assumir o conflito e a rejeição por defender os pobres e pequenos; é saber que os grãos hão de cair em terra e germinar.

E é, também, subir animando a outros.

Precisamos que o feminino em nosso mundo nos desvele que é no coração da humanidade que continua crucificada onde vamos experimentar a salvação, que é nessas realidades mais necessitadas onde irrompem as ondas da reconciliação  e da vida, onde se revela a nós “Aquele de quem temos ouvido falar”.

Elas nos fazem adentrar na dimensão na profundidade de uma vida encarnada, vulnerável, como a de Jesus. Estão ali, dilatando nossa possibilidade de humanidade, sustentando-se mutuamente e permane-cendo de pé diante d’Aquele que entregou sua vida para nos levantar.



É na “escola dos desfigurados” que as mulheres nos convocam a deixar-nos educar a visão. É a seus pés e a seu lado onde somos instruídos e onde amadurecemos silenciosamente. Algo se tece por dentro que nos prepara para a Ressurreição. Não podemos “viver o Ressuscitado” se não nos atrevemos a olhar e a deixar-nos olhar pelos crucificados. Eles, em sua pobreza e dor, tem o Reino escondido no seu interior.

Os olhares das mulheres limpam e curam nossos olhares; seus olhares nos purificam de nossa cobiça, de nossa auto-suficiência e de nossos medos; desvelam nossa indigência e também nossa beleza.

Ali aprendemos a contemplar, a fazer sagrada a vida. Ali recebemos o Único Olhar frente o qual pode-mos ser quem somos e abandonar toda defesa. O olhar do Crucificado nos devolve nossa identidade.

É estando ali, à distância, que aliviamos o desamparado. Distância que não é distanciamento, mas pro-fundo amor, respeito e, ao mesmo tempo, proximidade íntima frente ao mistério do outro.

Somente permanecendo frente ao rosto daquele que se ama até o final.

Isso foram as mulheres para Jesus: companheiras, solidárias, compreensivas no sofrimento. E serão elas as primeiras em experimentar e anunciar a “Vida vestida de presença” , na manhã da Ressurreição.



Textos bíblicos:  Mc. 15,40-41  Mt. 27,55-56   Lc. 23,40

quarta-feira, 4 de abril de 2012

"Pontos" para ajudar a rezar a 5a. feira Santa: dia da Eucaristia. Padre Adroaldo.


A MESA ESCANDALOSA DE JESUS

Jesus quis resgatar a vida humana fazendo-se gente, sentimento, fome, alimento, isto é, ser encarnado na realidade humana. Seu caminho? A vida a partir da mesa, do pão e da festa da partilha.
Uma das chaves de compreensão da pessoa de Jesus é a relação d’Ele com a “mesa da refeição”, pois Ele passou de mesa em mesa, até se deixar fazer pão na grande mesa da Ceia Pascal.
Ele entrou na história a partir de uma mesa (cocho) e partiu para o Pai a partir de uma Ceia.
Em todos os encontros de Jesus com os excluídos do Reino, Ele sempre os incluiu em suas refeições.
Por isso, cada vez que nos reunimos em torno de uma mesa, fazemos memória das “refeições escanda-losas” de Jesus com os pecadores, pobres, doentes, marginalizados...




Ao participarmos da “mesa cristã” nos descobrimos solidários com todo o povo que caminha; ao mesmo tempo, a “mesa do Senhor” quebra em nós qualquer solidão ou muralha e nos aju-da a acolher as pessoas, a amá-las na sua diferença.

A partir do compromisso de Jesus com a “mesa da vida”, nossa refeição à mesa nunca mais foi a mesma, pois Ele elevou  e pleni-ficou de sentido a mesa e a refeição.
Se para nós, a mesa já era bendita, sagrada..., depois  de Cristo ela se tornou mais ainda um lugar de encontro no sacramento do pão partilhado. Desde então, cada vez que dela nos aproximamos para uma refeição, o Verbo feito carne continua sua ação salvífica, recriando cada vez mais a vida em expansão.
Quando um grupo de pessoas se reúne para comer o mesmo alimento, simboliza o propósito ou o desejo de participar da mesma situação, da mesma alegria, da mesma realidade.
Comer e beber juntos sempre foi uma forma de expressar a “aliança”, aproximação, união, fusão...
Quando tem convivas, o ser humano civiliza a refeição: já não senta à mesa apenas para matar a fome, mas para saciar outras necessidades mais profundas de seu ser social ou do seu ser-para-o-outro.
No ser humano não palpita apenas a necessidade de comer e de beber, mas também a necessidade de associar-se, de juntar-se. Os laços que antes existiam, talvez frágeis, reforçam-se com a participação à mesma mesa. Os obstáculos que impediam aproximações cedem frente ao dom que a mesa propicia. O co-nhecimento cresce e com ele crescem o envolvimento, a participação, a presença na vida da comunidade.

É na mesa, como lugar da morada do Sagrado, que podemos nos humanizar um pouco mais; tão rica é essa mesa que sua espiritualidade, vista como manancial da vida, não exclui nenhum momento: situações tristes, felizes, momentos de sofrimento, de luta, de vitória...
Nessa fonte sagrada, o sofrimento pode ser compartilhado, a tristeza transformada em alegria, as trevas em luz, o desejo em realidade, a esperança pode ser reacendida.
Sentar-se à mesa com o outro é descobrir-se vivo, corpo pulsante, saúde latente, carente.
Nela e com ela aprendemos a acolher o outro como dom. Aprendemos a nos doar, a partilhar, a receber, a escutar e a falar, a contemplar o outro em sua singularidade. A mesa é também o lugar onde acolhemos a dor e as tristezas do outro, com quem partilhamos nossa refeição. A mesa-refeição, portanto, é o lugar do suporte das relações, espaço que garante o sustento, que alimenta o corpo, o emocional, o psíquico, o espiritual e o social. Lugar fecundo, onde o imprevisível pode acontecer.

Quê fazia e quê queria fazer Jesus na Última Ceia?
A chave de resposta está no capítulo 13 de João; a única forma de compreender a Eucaristia é entender o Lava-pés. O gesto escandaloso de Jesus revela um enfoque nem sempre percebido em seu sentido último. Jesus não faz um gesto teatral; Ele revela aos apóstolos um “novo ângulo”  ou um novo modo de ver as coisas: não a partir do lugar dos comensais, mas a partir da perspectiva de quem não está sentado à mesa.
O gesto de Jesus nos convida a deslocar-nos, ou seja, ocupar o lugar da pessoa que não participa da mesa. Quê novidade percebemos a partir deste lugar?
“Fazer memória” dos que não estão junto à mesa significa ter presentes àqueles que estão afastados ou excluídos, porque não compartilham a mesma fé, ou o nível social, nossa formação religiosa, nossa ma-neira de pensar e de viver. Fazemos memória de Jesus quando, a partir desta perspectiva, nos pergunta-mos o que deveria ser feito de criativo por eles.
Como se pode fazer memória do desejo tão intenso de Jesus, de fazer sentar a todos como irmãos ao redor da mesa, sem abrir possibilidade para que essas pessoas possam se sentir como em casa?
Jesus adverte que não se pode entender sua vontade de que os excluídos participem na ceia se vemos as coisas como comensais e não como excluídos.
A refeição compartilhada deveria ser o “fiscal” permanente de nossa traição aos ideais de Jesus.
Se somos seguidores de Jesus não deveríamos mais falar de “marginalizados”, pois essa linguagem indica que nos situamos no centro, “perto” de Deus e colocamos os demais distantes de nós e “longe” de Deus.
Pareceríamos ao fariseu que perguntou a Jesus quem era seu “próximo” e o “distante” a quem devia ajudar (Lc. 10,25-37). Jesus lhe deu a entender que a questão estava mal colocada. Não se trata de buscar o “próximo” entre os marginalizados, mas de deslocar-se para a margem e colocar os outros no centro. Só dessa forma é possível olhar e aproximar-se do próximo.
A autêntica questão é de quem queremos  nos aproximar.

Recordar os excluídos da mesa permite recuperar o sentido profundo daquilo que se chama “sacrifício da missa”. Sacrificar significa transformar.
E aqui poderíamos recuperar o sentido original bíblico de “sacrifício”, que não significa simplesmente imolação, penitêntica... “Sacri-ficar” (do latim, “sacrum facere” ) é “tornar santo”. Tanto o Primeiro como o Segundo Testamento nos ensinam que a melhor coisa que podemos transformar em “sacrifício”, em coisa santa para oferecer a Deus, é a própria vida e tudo o que fazemos. Nesse sentido, a referência máxima de “sacrifício” foi o próprio Jesus. Ele é o sacrifício, a “realidade santa” por excelência, por sua verdade, sua fidelidade e disposição para fazer a Vontade do pai e exercer a sua missão.
O que faz o sacrifício é a oblação, a entrega, deixar Deus ser Senhor da nossa vida.

Nosso sacrifício de hoje nos deve colocar em atitude de poder transformar a situação daqueles que não tem lugar e nem amigos, dos “distantes”, dos “enfermos”, aqueles que “não são como nós”, ou não pensam como nós, os “marginalizados”...
Assim fica claro que não é normal que haja pessoas excluídas da refeição, quando todos fomos criados para sentarmos como irmãos na mesma mesa do Pai. Enquanto houver excluídos não será o banquete que quis Jesus, e portanto, é necessário dar-se conta da exigência de mudança para que todos eles possam participar. Somente fazendo-nos solidários da promoção e libertação daqueles que não se sentam à mesa comum poderemos realizar, na verdade, a prática do sacrifício de Jesus.
Esse era o desejo que habitava o mais profundo do coração d’Ele: reunir todos os homens e mulheres ao redor de uma mesa, sem exclusões e nem marginalizações.
Não é possível reconhecer o Corpo do Senhor presente na Eucaristia se não se reconhece o Corpo do Senhor na comunidade onde alguns passam necessidades. Pois, se fechamos os olhos às divisões e às de-sigualdades mentimos ao dizer que Cristo está presente na Eucaristia. “Enquanto houver fome em algu-ma parte do mundo, a Eucaristia estará incompleta em todas as partes do mundo” (Pedro Arrupe)
Enquanto não nos mobilizamos a mudar nossa sociedade de maneira que mais pessoas aceitem a alegria de compartilhar o pão e a vida, faltará algo em nossa Eucaristia. Essa “ferida” o cristão deve sempre tê-la presente.

Textos bíblicos:  Jo. 13,1-17  1Cor. 11,17-34

Na oração: - a quem fazemos sentar à nossa mesa: a mesa de nosso tempo, nossa amizade, nossos bens,...?
                       - a quem excluímos e por quê?