quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Amigos e amigas,segue uma sugestão para rezar o Evangelho do próximo domingo.Um abraço a todos.Pe. Adroaldo sj


SUA CRUZ NÃO ERA UM “PESO MORTO



“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt. 16,24



“Sou Padre católico e concordo plenamente com o Ministério Público de São Paulo, em querer retirar os símbolos religiosos das repartições públicas… Nosso Estado é laico e não deve favorecer esta ou aquela religião. A Cruz deve ser retirada! Aliás, nunca gostei de ver a Cruz em Tribunais, onde os pobres têm menos direitos que os ricos e onde sentenças são barganhadas, vendidas e compradas. Não quero mais ver a Cruz nas Câmaras legislativas, onde a corrupção é a moeda mais forte. Não quero ver também a Cruz em delegacias, cadeias e quartéis, onde os pequenos são constrangidos e torturados. Não quero ver, muito menos, a Cruz em prontos-socorros e hospitais, onde pessoas pobres morrem sem atendimento. É preciso retirar a Cruz das repartições públicas, porque Cristo não abençoa a sórdida política brasileira, causa das desgraças, das misérias e sofrimen-tos dos pequenos, dos pobres e dos menos favorecidos”. (Frade Demetrius dos Santos Silva)



Pedro se rebela só de imaginar Jesus Crucificado. Não quer vê-Lo fracassado; só quer seguir a Jesus vito-rioso e triunfante. Também nossa sociedade, marcada pelo imediatismo, competitividade, busca de resulta-dos e rejeição a todo tipo de fracasso, a presença da Cruz é um escândalo inaceitável.

De fato, nela mesma, a Cruz não tem sentido. Se a Cruz é de tal modo exaltada que a vida e a ação de Jesus acabam sendo reduzidas a ela, então acontece que ela se torna angustiante e aflitiva, incapaz de moti-var ao seguimento ou de acender a esperança.

A Cruz de Jesus e de seus seguidores não permanece confinada em si mesma; ela se insere no interior da paixão dolorosa do mundo e seu sentido mais profundo reside em sua solidariedade para com todos os crucificados da história.

A cruz e a morte só são dignas quando são conseqüência da luta contra a “cruz” e a “morte” impostas às pessoas e quando expressam solidariedade com os crucificados. Aqui há espaço de transformação.



A Cruz assumida por Jesus é “expansiva” porque é expressão de uma vida entregue; ao mesmo tempo, ela O projeta para a “margem” onde Ele revela uma presença despojada, vulnerável, que se identifica com a dor do mundo, com a marginalização dos excluídos e com a desgraça de todos os miseráveis da terra. Sua  Cruz  manifesta que Deus continua do lado do inocente sofredor; Deus não apenas se solidaridariza, mas sofre “em sua pele”.

Partindo da mensagem evangélica, o único “sofrimento” que Deus “quer” é o que brota da luta contra o sofrimento. Esse sim é o sofrimento que Deus deseja: aquele que nos faz mais livres e disponíveis para aliviar e suprimir o sofrimento causado pelo egoísmo humano, a não solidariedade e a desumanização; Deus “quer” o sofrimento somente quando é conseqüência de uma convicção e de um modo de viver que não suporta que os outros sofram. A experiência nos mostra que quem, hoje, se compromete na luta contra as causas do sofrimento há de enfrentar necessariamente a perseguição, a Cruz e até a morte.

Só assim as exigências da Cruz se situam em seu devido lugar.

Foi exatamente isso o que aconteceu com Jesus. E por isso o crucificaram.



Nesse sentido, a cruz de Jesus não é um “peso morto”; ela tem sentido porque é conseqüência de uma opção radical em favor do Reino. A Cruz não significa passividade e resignação; ela nasce de sua vida plena e transbordante; ela resume, concentra, radicaliza, condensa o significado de uma vida vivida por Jesus na fidelidade ao Pai que quer que todos vivam intensamente.

“Jesus morreu de vida”: de bondade e de esperança lúcida, de solidariedade alegre, de compaixão ousada, de liberdade arriscada, de proximidade curadora...

Existem cruzes que são vazias, sem sentido, in-sensatas..., pois elas fecham a pessoa em si mesma, no seu sofrimento e angústia; não apontam para o futuro, para a vida.

São cruzes que nós mesmos impusemos sobre nossos ombros ou que os outros nos impuseram. São cruzes que nascem dos fracassos, dos traumas, das rejeições, das experiências frustrantes... Tornam-se um “peso morto” pois não abrem um horizonte de vida; elas se fixam no passado, na morte... e nos deixam no túmulo. Fazer o caminho do seguimento de Jesus que assume a Cruz da fidelidade nos ajuda a romper com as cruzes que nos afundam no desespero.



Aquele que acompanha Jesus vai também tomando consciência que a opção pela vida o conduz à Cruz.

Mas não basta carregar a Cruz; a novidade cristã é carregá-la como Jesus. Essa é a nova maneira de carre-gar a Cruz que Jesus nos ensina: transformá-la em sinal e fonte de amor e de entrega.

A palavra “cruz” – em grego “staurós” – vem do verbo “ficar em pé”. “Tomar sua Cruz” não é, portanto, suportar passivamente sua vida, tornar-se escravo de um destino tirânico; significa prontidão, estado de vigilância... para passar de uma vida suportada para uma vida escolhida. 





Com a Cruz “descemos” com Jesus até à cruz da humanidade.

A solidariedade com os pobres, a fidelidade à vida evangélica, nos fazem descer aos porões das contradi-ções sociais e políticas, às realidades inóspitas, aos terrenos contaminados e difíceis, às periferias insalubres das quais todos fogem e onde os excluídos deste mundo lutam por sobreviver. Ali nos encontramos com o Crucificado, identificado com os crucificados da história.

Como diz Jon Sobrino, não podemos crer no Crucificado de um modo coerente se não estamos dispostos a fazer descer da Cruz aqueles que estão nela.



Os antigos Padres da Igreja consideravam a Cruz como “o grande livro da arte de amar”, simbolizando o ser humano aberto em todas as suas dimensões. Jesus testemunhou até que ponto somos amados.

O que é único, na tradição cristã, é que nada é perdido. A partir da Cruz tudo adquire uma nova luz, até mesmo os nossos fracassos.  “O que é a Cruz, senão a história de um fracasso?”

No horizonte da Cruz, o fracasso tem seu lugar. Ele pode ser percebido como chance para crescimento ou amadurecimento, ou pode ser integrado à luz de outras experiências positivas. Aprendemos mais pelos nossos fracassos do que pelos nossos êxitos.

A vida é constituída de momentos de luta e de coragem, de sonhos e de esperança, de vitória e de derrota. Este é o material com o qual são construídas as histórias e as vidas.

O fracasso, que em muitas ocasiões nos provoca medo, insegurança, mal-estar... é um espaço perfeitamente adequado para iniciar o movimento para uma maior maturação.

Mais ainda, muitas vezes são os fracassos que nos levam a iniciar uma mudança em nossas vidas, para uma maior realização pessoal e, portanto, para uma maior integração interior.

Para muitos, os fracassos os afundam num abismo de impotência e agressividade; para outros, ao contrário, os fracassos os convertem em seres incrivelmente sensíveis, compassivos, humildes, huma-nos... Os fracassos nos revelam aspectos novos de nós mesmos e nos ajudam a conhecer-nos mais.

“Há coisas que não se compreendem enquanto não se esteja definitivamente derrotado” (Péguy)

Os fracassos tem poder de revelação: ser o que a pessoa é e nada mais que aquilo que é. A experiência dos fracassos nos une a todos, nos iguala, é fonte de comunhão... Graças aos fracassos, a pessoa vai quebrando, pouco a pouco, seu instinto de posse, a auto-afirmação de si, a prepotência, a soberba...



Texto bíblico:   Mt. 16,21-27



* Como viver cristãmente o material aparentemente negativo de nossos fracassos?

* Onde e quando iremos transformar o fracasso em uma ocasião de tomada de consciência,
  de despertar para outras dimensões da vida?...

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