quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Segue uma sugestão para rezar o evangelho do próximo domingo.Um abraço a todos.Pe. Adroaldo sj


NO ENCONTRO COM O OUTRO DESCUBRO MEU ROSTO




“Quem não se alfabetiza no amor, na solidariedade e em ver o outro como uma extensão de si mesmo, fica privado de grandes tesouros da vida”.



O Evangelho deste domingo, que faz parte do “discurso comunitário”, revela uma preocupação especial pela vida interna da comunidade cristã; ela é formada pelos seguidores de Jesus que “se reúnem em seu no-me”, atraídos por Ele, animados por seu Espírito. Jesus é a razão, a fonte, o alento, a vida desse encontro.

O Evangelho nos adverte que não podemos partir de uma comunidade de “perfeitos”, mas de uma “comunidade de irmãos” que reconhecem suas limitações, fragilidades... e necessitam do apoio mútuo para superar as dificuldades e reforçar os laços internos.



O Evangelho de hoje aponta para esta realidade: nós nos constituímos como “humanos” pelas nossas relações; em outras palavras, só nas relações com os outros podemos crescer em humanidade.

Estamos sempre em contato com o “outro”. E o outro é pessoa. O outro revela certa magia, ao mesmo tempo sedutor e enigmático. O outro é plural, apresenta múltiplos rostos; é diferente, inédito...

Só seremos nós mesmos quando alguém nos descobre, nos acolhe, nos aceita... respeita nossa verda-deira identidade. O outro é a realidade que nos permite tomar consciência de nós mesmos.

Essa identidade se revela por meio das relações: ninguém cresce sozinho, precisamos dos outros; preci-samos viver relações sadias e maduras com os outros (família, amigos, trabalho, grupos, comunidades...).

Nesse sentido, uma pessoa encontra somente sua realização na interação com o ambiente que a cerca.

O ser humano está comprometido com os outros; por sua própria natureza, ele se torna pessoa humana somente em interação com os outros; ele possui impulsos naturais que o levam em direção ao convívio, à cooperação, à comunhão...; ele é reserva de humanidade e compromete-se com a dignidade humana.

O ser humano é um ser constitutivamente aberto, essencialmente em referência a outras pessoas: estabe-lece com os outros uma interação, entrelaça-se com eles, e forma um nós: a comunidade.



Como homem e como mulher trazemos esta força interior que nos faz “sair de nós mesmos” e criar   laços, construir fraternidade, fortalecer a comunhão. O olhar do outro é o fato originante da fraternidade.

- o ser humano não é feito para viver só; ele é chamado a viver em comunhão com todas as pessoas;

- ele necessita com-viver, viver-com-os-outros;

- é essencial descobrir o sentido e a vivência da relação com os outros, da fraternidade...

- o sentido da relação com os outros é um dom de Deus, que nos foi dado a todos.

Deus nos fez amor para o mútuo encontro, para a doação, para a comunhão...

Fomos criados “à imagem e semelhança” do Deus Trindade, comunhão de Pessoas (Pai-Filho-Espíri-   to Santo). Como criaturas, fomos atingidos pela marca trinitária de Deus. Quanto mais unidos somos, por causa do amor que circula entre nós, mais nos parecemos com o Deus Trindade. “Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu Amor em nós é perfeito” (1Jo. 4,12). Deus colocou em nossos corações impulsos naturais que nos levam em direção ao convívio, à cooperação, à acolhida, à solidariedade...

Deus é o ponto focal para enxergarmos o outro. Se há eu e se há tu, então a presença de Deus se revela.

A fraternidade, a vida em comum se mede pelo amor, por atos e gestos de doação, de perdão, por vivências de comunhão, por experiências de partilha do mesmo ser, da mesma vida, da entrega mútua...

O amor é olhar o outro com olhos tão limpos, bondosos, desinteressados, tão profundos... que só desejo que o outro seja o que é... Eu o aceito e o quero tal e como é... Alegro-me de vê-lo assim, tal como é...



Como viver relações comunitárias sadias e reconstrutoras?


Abrindo espaço para a “presença humanizadora” de Cristo na comunidade. Assim, a vida de Cristo vai se fazendo vida em cada membro. O Cristo contemplado como o Outro vai modelando a identidade de cada um.

Esta relação intensa em fazer caminho com Jesus se expande na vivência de novas relações com os outros e com a realidade que o cerca. Na verdade, Ele provoca as pessoas a saírem de seu isolamento e padrões alienados de relacionamento para expandir-se em direção a uma nova forma relacional com tudo o que existe; tal relação é a concretização do sonho do “Reino de Deus”.

É impressionante que o núcleo central das parábolas de Jesus é formado por imagens que “unem” e “comprometem”.  O fermento da relação correta e justa é que constitui o material do Reino de Deus.

O próprio Jesus atua como como presença que une, pois “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” .



Jesus, numa extraordinária abertura para uma diversidade de relações, mostrou que o processo de transformação deve estar enraizado na totalidade da vida.

Onde há autêntica comunidade, aberta e sedenta da “relação-serviço”, ela está tornando presente este Cristo, que põe em movimento uma dinâmica redentora. O autêntico seguimento de Jesus significa que a qualidade da comunidade possibilita encontros cheios de graça.

As duas realidades – pessoa e comunidade – se condicionam e se complementam.

              “A pessoa faz a comunidade e a comunidade faz a pessoa”.

A personalidade cristã tem que ser também promovedora de “corpo” – que para S. Paulo é a experiência da comunidade. O seguidor de Jesus não é uma “personalidade isolada”, mas aberta à comunhão e à partilha com os outros.

Uma comunidade cristã não é um fim em si mesma. Ela deve ser comunidade aberta, apostólica, reunir para o serviço todos os que, nas pegadas de Cristo, querem unir-se para trabalhar com Ele na mesma direção e no mesmo projeto.

A comunidade cristã é uma comunidade que vive o espírito das Bem-aventuranças; é uma comunidade “cons-piratória”: conspirar, com-inspirar, respirar com alguém, juntos.

“Conspiradores”: respiram o mesmo ar, o mesmo sonho, a mesma utopia do Reino.


Texto bíblico:  Mt. 18,15-20   Rom. 13,8-10    



Na oração: * Olhar cada uma das pessoas com quem convivo. Dar-me conta daqui-

                        lo que sinto para com cada uma delas, como as trato, como as acolho...

* Contemplar o outro respeitando-o em seu modo de ser, de agir, de pensar, de falar,

                     ajudando-o a ser mais humano no seu modo de ser, de pensar, de viver...

* Observar e descobrir seus valores, suas riquezas, sua originalidade, sua profundida-

                    de; lentamente, mas com um olhar sereno e profundo... tentar descobrir “algo mais” presente em cada pessoa com quem convivo (família, trabalho, comuni-dade);  vê-la com os olhos do coração: imagem de Deus, amada por Deus,  templo do Espírito, presença de Deus no mais profundo de seu ser.

* Não podemos esquecer que também cada um de nós é um “outro” para os outros.

   E poderíamos nos perguntar que espécie de “outro” temos sido para os outros.

   Ser “outro” é mandamento, é apelo à responsabilidade, à ajuda mútua, ao perdão re-construtor...  


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