sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Adorei esse texto!!

Leda Nagle: Viver junto é difícil, mas é possível.

Rio - Conviver, ver o outro, respeitar diferenças, partilhar. Durante esta semana, ouvi grandes relatos sobre viver junto,na arte e na vida, durante um debate sobre cultura brasileira organizado por Gustavo Pacheco, durante a Primeira Vitrine Cultural da Caixa. Neste encontro, a busca da convivência emocionou através do relato do sofisticado artista plástico Carlos Vergara, que falou de suas experiências e emoções mundo afora, sob o ponto de vista do “viver junto” da Turquia ao Bloco Cacique de Ramos. Na outra ponta, um homem simples, o artesão Valdeli Costa, contou a sua experiência na pequena cidade de Abaetetuba, no Pará, onde,desde os 12 anos, faz brinquedos usando como matéria-prima a palmeira de miriti. Ele e outras tantas famílias da sua comunidade convivem trabalhando e dividindo sonhos, em meio à floresta, com o que o miriti dá. As diferenças harmoniosas de um e de outro remetem ao mesmo ponto: conviver e respeitar é possível.

E um belíssimo exemplo disto está num documentário lançado também esta semana no Brasil, feito por uma jovem carioca de 30 anos: Julia Bacha. O filme já ganhou 15 prêmios, de Berlim a São Francisco. O título é ‘Budrus’ e mostra a resistência pacífica de árabes e israelenses contra a construção de um muro que dividiria a aldeia que dá nome ao documentário. Sem armas, usando as palavras, cantando, batendo palmas, gritando e reclamando, os palestinos da região começaram o protesto, impedindo as máquinas do Exército israelense de arrancar suas oliveiras, de dividir o cemitério da cidade, de instalar a guerra a 40 metros da escola municipal. Claro que a Cisjordânia é marcada pela guerra, pelas eternas diferenças entre árabes e judeus, mas o que os 1.500 habitantes de Budrus provaram é que a convivência e o respeito podem fazer a diferença.

É emocionante ver um persistente grupo de judeus e árabes ‘lutar’ lado a lado, sem uma única arma, contra um Exército comprovadamente competente e fortemente armado. É bonito ver a jovem árabe falando, sinceramente, que até o primeiro protesto em comum (e foram mais de 60) nunca pensou que poderia ser amiga de uma judia. É bonito ver os jovens judeus protegendo os árabes, desafiando seu próprio exército para defender o direito a paz entre os diferentes. Sim, porque a ideia da organização que o documentário mostra (www.justvision.org) é exatamente esta: conviver, respeitar diferenças e partilhar. Lutar, sim, mas por ideias, pelo viver junto. Como todos nós precisamos aprender a fazer. Nas grandes cidades, nas aldeias, nas ruas, nas famílias, nos morros e no asfalto. De certa forma, Budrus é aqui.

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