segunda-feira, 1 de julho de 2013

Para rezar: Lc 10,1-12.17-20


A PAIXÃO PELA MISSÃO NAS PERIFERIAS


 

“A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Lc. 10,2)

 

Em Jesus Cristo, Deus nos salva e, sempre respeitando nossa condição de homens e mulheres livres, nos convida a participar de sua obra: a construção do Seu Reinado neste mundo marcado pela dor e exclusão.

Deus convoca pessoas que tem espírito de audácia, de energia, de criatividade, de luta, de participa-ção, porque Ele não nos deu espírito de timidez, de covardia, de fuga... Nesse chamado dirigido a todos, cada um tem uma missão única, irrepetível e intransferível. O que está em jogo é a “messe do Senhor”:  “para quê e para quem trabalhamos?”; “o que nos motiva e nos inspira a trabalhar em favor do Reino?”

Para realizar essa missão, Deus nos cumula de qualidades necessárias, capacidades, criatividade..., enche o nosso coração de sonhos, projetos, desejos..., nos dá a liberdade que nos ajuda a construir o novo, a buscar o melhor, a realizar o maior bem, a tomar decisões sábias.

Mais ainda, Ele nos faz co-criadores, ou seja, colaboradores e criativos com Ele.

Trata-se de um chamado que “afeta” todo o nosso ser, com toda a nossa bagagem de inteligência, afetividade, qualidades e defeitos, influências e inclinações;  com todas as possibilidades que a vida nos oferece neste momento em que vivemos, diante das necessidades do mundo e da humanidade.

 

Na vivência desta missão, devemos ter sempre diante dos nossos olhos a pessoa de Jesus Cristo. Com sua vida e sua palavra, Ele descentraliza o mundo a partir da periferia, terra privilegiada, de onde podemos contemplar a história e a própria humanidade.

Cada passo na direção das periferias do mundo também é um passo contemplativo em busca do encontro com o Senhor da História, que nos chama de “baixo” e de “fora”.

Tendo Jesus se encarnado para sempre nas “periferias” deste mundo, porque deseja assumir toda a histó-ria a partir daí, também nós, seus seguidores, temos de voltar constantemente o olhar para as “novas periferias”, a partir de onde Ele continua nos questionando, nos chamando e nos enviando.

Isto quer dizer que o “centro” da história teve seu aparecimento na “periferia”.

A vida de Jesus é “ex-cêntrica”, porque não combina nem se ajusta com a construção social de todos aqueles que controlam o mundo a partir do centro.

Portanto, Jesus descentraliza a história para sempre e situa o surgimento da salvação nas terras excluídas.

O anúncio e a ação de Jesus provocam um deslocamento geográfico e social. O centro da história já não se encontra em Roma, nem em Jerusalém, mas sim na “margem”. Todo aquele que pretende encontrar-se com Jesus terá de voltar a cabeça e peregrinar em direção às massas excluídas.

 

Uma comunidade cristã não é aquela que, por medo, se distancia do mundo, mas é aquela que, movida por uma radical paixão, desce ao coração da realidade em que se encontra, aí se encarna e aí, “esvaziando-se”, participa ativamente da solidariedade de Deus com a humanidade, que é o centro da salvação.

A paixão pelo Reino mobiliza a pessoa a levar adiante a missão, a ir gratuitamente aos lugares do mundo onde há mais necessidade e ali realizar obras duradouras de maior proveito e fruto.

Para realizar esta nobre missão, não podemos permanecer sentados. Seguir Jesus exige uma dinâmica continuada, colocar-nos a caminho em direção às margens. Nada se pode comunicar a partir de uma cômoda instalação pessoal. A disponibilidade, o despojamento e a mobilidade são exigências básicas.

Corremos o risco de viver em mundos-bolha; podemos construir nossa vida encapsulada em espaços feitos de hábito e segurança, convivendo com pessoas semelhantes a nós e dentro de situações estáveis. É difícil romper e sair do terreno conhecido, deixar o convencional. Tudo parece conspirar para que nos mantenhamos dentro dos limites politicamente corretos. Todos podemos terminar estabelecendo fron-teiras vitais e sociais impermeáveis ao diferente.

Se isso acontece, acabamos tendo perspectivas pequenas, visões atrofiadas e horizontes limitados, ignorando um mundo amplo, complexo e cheio de surpresas. Muitas vezes “vemos” o diferente, mas só como notícia, como o olhar do espectador que sabe das “coisas que acontecem”, mas não sente e nem se compadece por elas.

 

O Evangelho de hoje nos convida a contemplar o mundo em suas fraturas e em suas possibilidades,  partindo da consciência de uma fraternidade ampla e do impulso a uma comunhão universal.

Só quando alguém começa a abrir-se, a remover-se por dentro, a “sair de si”, começa também a descobrir novos rostos, histórias e vivências, começa a pensar em círculos mais amplos e mais distantes, sente o im-pulso para o encontro e o compromisso com pessoas que estão em situações desumanizantes, passa a ter uma perspectiva diferente, começa a compadecer-se pelas feridas profundas que atravessam nosso mundo.

Aproximar-se das “periferias existenciais” é fazer como Moisés: descalçar-se frente a este terreno sagrado. A atitude de quem se aproxima destes contextos de exclusão não pode ser a do “salvador do mundo” que pensa que vai fazer milagres, nem a do turista que passa e registra tal realidade e não se deixa afetar pela dor alheia. Uma pessoa pode passar por diferentes lugares sem que estes lugares lhe deixem pegadas; ela pode tocar a superfície das coisas e das vidas sem que sua memória fique afetada.

Então não há encontro nem aprendizagem. Para que haja verdadeiro encontro, o deslocamento ex-põe quem se desloca, deixa-o vulnerável e “contaminado” pela realidade que encontrou. Quando alguém se desloca e se aproxima de realidades diferentes, é para encontrar, encontrar-se e aprender.

 

Encontrar outras vidas, outras histórias, outras situações…; escutar outros relatos que trazem muita luz para a nossa própria vida. Olhar desde um horizonte mais amplo, ajuda a relativizar nossos próprios abso-lutos e compreender um pouco melhor o valor das coisas. Escutar de tal maneira que o que ouvimos penetra na nossa própria vida; isso significa implicar-nos afetivamente, relacionar-nos com pessoas, não com etiquetas. Acolher na nossa própria vida outras vidas; abrir espaços para que as histórias dos excluí-dos encontrem morada nas nossas entranhas, na nossa memória e no nosso coração.

O encontro com o diferente possibilita também o encontro consigo mesmo, ou seja, encontrar a própria verdade. Isso implica em se perguntar pelo possível, pelo que deseja construir, viver de outra maneira, atuar conforme os valores que não estão em voga; implica também que se perguntar quê missão lhe toca a cada um viver neste mundo complexo e tantas vezes ferido.

Enfim, aprender, ou seja, carregar a própria história de um horizonte diferente, no qual cabem outras possibilidades e outras responsabilidades. Descobrir uma perspectiva mais ampla que ajude a formular melhor o sentido da própria vida.

 

O chamado e o envio de Jesus mobiliza  e expande a pessoa na direção dos outros; ela é convocada a “en-carregar-se dos outros”, encarregar-se das obras que solucionem os problemas das “maiorias excluídas”. Isso é o que significa paixão pelo Reino, paixão por levar adiante a missão, paixão por se fazer presente nas fronteiras (que não são apenas geográficas, sobretudo existenciais), ali onde os desafios são maiores, onde há mais necessidade e onde se espera maiores frutos…

Ante o clamor que vem da “margem”, como não sentir compaixão e solidariedade para com os “perde-dores” da história? A necessidade de olhar o excluído e de sentir sua exclusão como uma interpelação e um chamado, não é para nós moda nem sectarismo, mas o núcleo mesmo de nossa experiência espiritual tal como aparece no Evangelho.

Somos chamados a viver a solidariedade como um estilo de vida, fundado no modo de viver de Jesus.

A solidariedade significa encontrar-se com o “o mundo do sofrimento, da injustiça, da fome... e não ficar indiferente”. A solidariedade que nasce da compaixão leva a reconhecer no outro uma dignidade e uma capacidade criativa de superar sua situação.

Isso pede de todos nós uma atitude de abertura ao outro, o que implica colocar-nos em seu lugar, deixar-nos questionar e desinstalar por ele... Importa, pois, re-descobrir com urgência a solidaridade como valor ético e como hábito permanente de vida.

A certeza de que trabalhamos na “messe do Senhor” nos faz superar o medo de romper paradigmas e de vencer naturais resistências frente à mudança, bem como o não estar apegados ao costumeiro e rotineiro.

 

Texto bíblico: Lc 10,1-12.17-20

 

Na oração:  diante de Deus responda: como você vive  hoje sua missão na família, no trabalho, no seu ambi-

                          ente, na sua comunidade? Que sentido você quer dar à sua própria vida?... em quê gastar suas

                          forças, capacidades?  Com quê profundidade as “periferias existenciais” lhe afetam.

 

                             

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