“ESSES CRISTÃOS DE MÃOS LIMPAS...”
“Quando o
Deus da história vier, olhará nossas mãos” (Menapece)
O relato do evangelho deste domingo se abre
com a apresentação dos personagens. Jesus aparece como ponto de referencia frente
a dois grupos de indivíduos (“os fariseus e alguns letrados”)
representantes do poder religioso oficial, ou seja, grupos de piedosos que
exercem uma pressão religiosa sobre o povo em sua pretensão de submetê-lo a uma
existência marcada pelo rigorismo religioso.
Aqui, no embate com Jesus, eles não fazem nenhuma
referência ao anterior evento da “multiplicação dos pães” e nada dizem sobre a
refeição de Jesus com a multidão; eles não se preocupam com aqueles que não
comem, mas observam a compostura daqueles que comem. Sua visão míope foge do
essencial para permanecer no periférico. Desviam a atenção para o terreno de
seus domínios, uma moral superficial, descompromissada. Assim, pois, centram
sua atenção em alguns dos discípulos para captar uma irregula-ridade em sua
forma de comer, pois eles comem com “mãos impuras”.
Os líderes religiosos tem “mãos
limpas” porque não as usam para o serviço aos outros; são “mãos
assépticas” porque não se “contaminam” no contato com as pessoas. Eles se
mostram incapazes de ver as mãos como mediação para uma nova humanização,
reduzindo-as e atrofiando-as devido a seus esquemas religiosos e morais. Suas mãos
carregam censuras, traficam destruição, encarnam a falsidade... Suas mãos são
temidas porque fecham o futuro, excluem e espalham o medo, pesam porque julgam...
O coração é o lugar onde o ser humano se
revela. As mãos são expressão daquilo que está presente no coração; um
coração cheio de ternura, bondade, compaixão... se expressa através das mãos
ternas, bondo-sas, compassivas, que praticam a partilha... Um coração cheio de
violência, arrogância, ambições, malí-cias... se expressa através de mãos
violentas, maliciosas, fechadas... As mãos... o espelho da
alma.
O ser humano vale pelo que vale seu
coração, isto é, por aquilo que deseja, busca e ama desde o mais profundo de si
mesmo. É no coração – no mais íntimo de seu ser – que o ser humano acolhe ou
rejeita Deus e os outros. É o coração transformado que dirige a mão
santificada, delicada. É o coração agrade-cido que transforma as mãos em
instrumentos de graça.
Podemos fazer e dizer muitas coisas com
nossas mãos. Admiramos as mãos dos artistas, as mãos curati-vas dos
médicos, as mãos terapêuticas de quem transmite energia libertadora, as mãos de
uma mãe que amassam o pão e acariciam, as mãos eloquentes dos mudos, as mãos
calejadas do trabalhador, as mãos daqueles que abençoam, servem, partem e
repartem...
As mãos estão sempre associadas à ação, como a cabeça à razão e o coração
aos sentimentos.
As mãos, portanto, adquirem uma infinidade
de formas: mãos que levantam para abençoar, mãos que baixam para levantar o
caído, mãos que se estendem para amparar o cansado. São como as mãos de Deus
que criam, que guiam, que salvam... Quando estendemos os braços e as mãos e
tocamos o outro esponta-neamente descobrimos a compaixão e a riqueza
que existe em todos nós.
As mãos
são o instrumento mais universal de que o ser humano dispõe. Além de
instrumento, as mãos são ainda meio
de comunicação entre pessoas de línguas diferentes. Através das mãos comunicamos energia, nosso coração,
nossos sentimentos...
Benditas são as mãos que
se abrem, que quebram resistências e preconceitos; benditas são as mãos carre-gadas
de entusiasmo e que apontam para um horizonte. Somente uma mão aberta está em
condições de fazer-se encontro, de apertar, de acolher, de cuidar; somente uma
mão aberta se transforma em promessa de novo encontro.
Mas
também, através das nossas mãos,
podemos comunicar algo maior que nós e que não nos pertence. “Temos uma Mão na nossa mão”.
Encontramos
esta expressão em diferentes tradições religiosas: “a Mão de Deus”. Algumas
vezes podemos nos sentir guiados, como se tivéssemos uma Mão pou-sada em nosso
ombro, em nossa cabeça, nas nossas costas, para nos fazer avan-çar, para nos
manter de pé. Na nossa mão há a Mão da Vida; podemos traba-lhar e co-perar
com esta Mão. Nossas mãos são o prolongamento da Mão providente e
cuidadosa de Deus.
Mãos
abertas, estendidas, oferecidas
Olha tuas mãos. Toca-as com carinho: os
dedos, a palma, o reverso.
Quantas coisas podes fazer com as mãos.!!!
Mãos
que compartilham, que acariciam, mãos unidas no trabalho solidário, esforço
generoso.
Também mãos
abertas, necessitadas, que expressam confiança ao dirigir-se a Deus na oração.
Ao orar
elevamos nossas mãos ou as unimos.
Estende tuas mãos
ao Pai com confiança. Tu... chamado a ser “a mão amiga de Deus”.
Nossas mãos... uma maravilhosa linguagem.
Expressão de nosso calor de felicidade, alegria, amor, ajuda,
Temos mãos que saúdam ou aplaudem e felicitam o
que é bom nos outros; mãos que perdoam ou se abrem para compartilhar.
Expressamos um gesto de perdão e reconciliação
com o irmão mediante um aperto de mãos.
Mãos estendidas: Tua vida...
para dar a mão, levantar o caído, sustentar o fraco, curar o enfermo, guiar o
ce-
go, compartilhar com o pobre,
libertar o prisioneiro.
Onde há um necessitado... uma mão estendida. Dar
a mão... uma mão amiga.
Sem paternalismo que alimenta o ego de quem dá e
humilha a quem recebe.
Pensa em pessoas com quem tu podes
ser mão estendida.
Mão unidas: Darás sentido
à tua vida se constróis pontes de solidariedade e formas o círculo da
fraternidade.
A comunidade cristã... um
conjunto de mãos unidas. Os cristãos curam feridas, enxugam lágrimas, repartem
carícias, prestam serviços. Vives tu com as mãos unidas?
Mãos abertas: Chamado a
oferecer tua mão aberta, amistosa, desarmada, pacífica. Não os punhos fechados.
Mãos para acariciar. Mãos para proteger e
cuidar, não para submeter.
Mãos abertas para compartilhar. Mãos que não
retém o que o irmão necessita. Abrir a mão, abrir o coração, abrir as entranhas
de misericórdia. Caminhas tu pela vida com tuas mãos abertas?
Tuas mãos... sacramento de Deus. Fazem
presentes e visíveis as mãos de Deus.
Tens no coração o Amor de Deus. A força que te
leva a amar o pobre como Deus o ama.
Serás a mão amiga de Deus, sua mão boa e
carinhosa, sua mão forte e libertadora, sua mão criadora de vida, sua mão
generosa que protege e cuida a vida.
Mãos para
unir-se, criar, curar, compartilhar... como as de Jesus.
Quando apresentas tuas mãos para bendizer o
Senhor, ou abençoar os irmãos, não te preocupes se estão vazias ou cheias;
apresenta-as desgastadas.
(cf.
Revista Testimonio, n. 213)
Texto
bíblico: Mc.
7,1-8.14-15.21-23
Dá-me, Senhor, mãos como as tuas:
Mãos ternas para
acariciar epidermes e corações.
Mãos fortes para
sustentar os que já vergam.
Mãos enérgicas para
levantar os caídos e colocar de pé os paralíticos.
Mãos suaves para abrir
os olhos dos cegos e dar luz aos que caminham tateando.
Mãos misericordiosas para curar
toda dor e toda doença.
Mãos corajosas para
desvelar a injustiça dos homens.
Mãos atrevidas para
descobrir o que os corações ocultam.
Mãos acariciadoras para
despertar fibras adormecidas na vida dos homens.
Mãos trabalhadoras para
empregá-las onde faltam.
Mãos artesãs para modelar
a tua imagem e semelhança. (Antonio González Paz)
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