sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Para ajudar a rezar o Evangelho do próximo domingo.- Padre Adroaldo

A PREOCUPAÇÃO NOSSA DE CADA DIA (Mt. 6,24-34)

Jesus se dirige aos seus discípulos e revela o verdadeiro rosto de Deus e as suas entranhas de Pai-Mãe, que cuida dos próprios filhos, como também das flores do campo e dos pássaros do céu. O fundamento da segurança e da serenidade reside na consciência de estar nas mãos providentes de Deus.
O ser humano conhece bem a própria condição de precariedade e as muitas situações adversas que podem tornar o seu futuro incerto. A inevitável experiência da limitação tira as forças e dificulta o caminho.
Surgem, então, a preocupação e a ansiedade que tornam o seu rosto cansado e triste e, até mesmo apagar a alegria de viver em seu coração.
Por isso, o ser humano, instintivamente, busca algo ou  alguém que lhe dê segurança, e sente a necessidade inapagável de superar a angústia do limite e de respirar futuro. Sem futuro não há espaço de vida, não há esperança. Mas nada o preenche e o pacifica interiormente. A consequência é um rosto marcado pelas rugas da preocupação e do cansaço. A confiança depositada no bem-estar, a rejeição das próprias raízes, a incapacidade de sentir-se “filho”, obscurecem a horizonte do futuro.

A “pre-ocupação”, quando se torna hábito de vida, tem o efeito desastroso de comprometer a capacida-de de relação, dimensão fundamental que torna a existência fecunda e criativa. Segundo o Evangelho, a preocupação envolve duas necessidades básicas do ser humano: o alimento e o vestuário.
a) O alimento, indispensável para viver, não compreende só a nutrição, mas representa também tudo aquilo
    que é considerado necessário para manter a pessoa viva.
b) O vestuário não é somente aquilo que cobre e protege o corpo huma-
    no, mas exprime também proteção, dignidade, posição social e relação.
    O alimento e o vestuário, portanto, representam duas dimensões
    essenciais da existência humana: uma individual e outra relacional    

A preocupação que pode atormentar o coração do ser humano,
o me-do de perder aquilo que dá segurança e o temor de não ter acumulado suficientemente, fazem com que o alimento e o vestuário percam o seu significado mais amplo e a sua força evocativa.
Então, acontece que a preocupação com o alimento e com o vestuário prevaleçe sobre a própria vida, não mais acolhida como dom; do mesmo modo o corpo, não mais entendido como possibilidade e lugar de relação-encontro. Inevitavelmente, a dignidade da vida se degrada e a luz do rosto da pessoa se apaga.

Ao observar as aves do céu e a beleza dos lírios no campo, Jesus convida os discípulos a contemplarem, com admiração, o rosto paterno-materno de Deus: cada um deles é cuidado pela Sua mão providente.
Não se trata de colocar-se numa atitude de espera passiva, mas de estar cientes de que Alguém cuida, não só das menores criaturas, mas também da vida dos próprios filhos, como um tesouro do qual tem ciúmes.
Deus não descuida de nenhuma das suas criaturas, nem mesmo as mais frágeis – os lírios - ou as mais imprevisíveis – as aves. Ele tece, com incrível precisão, a forma, a cor e o perfume da flor, que desabro-cha pela manhã e à noite, murcha, é jogada ao fogo. Ele cuida dos filhotes dos pássaros, que não tem condições de semear e de colher, e nem de acumular; muito mais faz Deus pelo ser humano, criatura predileta e seu filho.
Tomando como exemplo os pássaros do céu e os lírios do campo, Jesus, implicitamente, une o céu e a terra, e recorda que o ser humano é formado do “húmus”  e do “sopro” de Deus.

A vida do ser humano não depende de suas forças ou de sua preocupação, mas de Deus, que em Jesus é Caminho, Verdade e Vida. É esta a relação fundamental, fecunda e criativa, que possibilita o “êxodo” de si mesmo e a acolhida do “advento” do Outro e dos outros.
Nesse sentido, a aceitação do próprio limite e da própria finitude não é mais uma atitude passiva, mas torna-se o momento do encontro, a soleira que introduz num futuro novo e carregado de esperança, aquela esperança que dá sentido ao verdadeiro trabalho, liberta o coração da preocupação, expulsa toda ansiedade e impulsiona a buscar o Reino. De fato, quem  busca o Reino com intensidade, não absolutiza as coisas, mas acolhe tudo e todos como um dom
O fiel discípulo de Jesus, descobrindo-se amado e protegido com a ternura providente, se sente sempre a caminho, isto é, pronto a acolher cada fragmento de luz e de vida, que fala da presença e da passagem do Pai. O presente, tecido de partilha, solidariedade, doação, misericórdia, mansidão, reveste o futuro de luz.
A verdadeira segurança cresce no coração e na confiança de sermos protegidos por um Deus que sabe o que precisamos e nos aguarda. A busca do Reino é o “pão” da vida e a roupa” da luz que nos envolve.

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