sexta-feira, 6 de maio de 2011

Uma sugestão para rezar o Evangelho do próximo domingo.Pe. Adroaldo sj

CAMINHO DE EMAÚS: uma Presença instigante (Lc. 24,13-35)

A prisão, o processo, a crucificação e a morte do Mestre na cruz deixaram os discípulos num incrível estado de desorientação. Dois deles decidiram ir embora, deixando Jerusalém, onde tinham acontecido aqueles eventos dramáticos e chocantes.
Ambos se distanciavam da Cidade e o dia escurecia... também dentro deles.
A caminhada dos discípulos que haviam abandonado Jerusalém, cidade da esperança, dirigindo-se para Emaús, realiza-se ao anoitecer: estava escurecendo, o coração se apagando, os pensamentos tristes, os pássos cansados, o horizonte obscuro. Conversavam, discutiam, mas não compreendiam o sentido dos fatos. Em seus rostos transparecia a obscuridade pela tristeza e decepção.
Os dois peregrinos tinham uma meta: Emaús, onde esperavam voltar à vida de antes ou conseguir come-çar a fazer algo de novo. São impelidos àquela meta unicamente pela desilusão, pela perdição, pelo pessi-mismo. Na verdade, ainda não eram livres e se sentiam oprimidos por uma esperança traída.

A vida de todo ser humano, que busca compreender o sentido dos fatos e das coisas, é como o caminho de Emaús. O fracasso da morte permanece no horizonte da vida de cada pessoa., tornando-se evidente nas coisas incompreensíveis ou nos fatos que não se consegue explicar.
Diante desta situação, apresentam-se duas tentações extremas: a fuga ou a indiferença.
Pode-se viver, fugindo de tudo o que acontece ou padecendo os eventos de modo fatal.
Jesus se torna um estranho – o único estrangeiro – para fazer entender o que aconteceu. No silêncio, deixa-os narrar. A seguir, tomando a palavra, explica as coisas “do seu modo”, à luz da Verdade.
Sem que eles percebam, Jesus os ajuda a ver os acontecimentos e a própria existência sob uma perspecti-va nova. Ele se torna Palavra viva, contemplada, ouvida. Fazendo memória das suas promessas, ele enche de sentido e de esperança o coração deles, fechado na tristeza.
Antes, sem saber e, depois, conscientes, começam a perceber um raio de luz na escuridão de seu coração.
Pelas palavras do Desconhecido, conseguem dar um nome aos próprios sentimentos, às próprias expectativas, aos temores que os perturbavam.
Pouco a pouco, a Palavra se torna gesto, se torna ceia, convite, partilha, pão repartido.
Assim, toda a vida humana é resumida nesses dois gestos, simples e essenciais: a bênção e a partilha.
Jesus partilha com eles o caminho, a dúvida, a decepção, a obscuridade, a escuta, a conversa, o pão.
Ele lhes concede uma esperança, repleta de memória e de profecia.
Enfim, diante de um gesto simples e familiar, o “partir do pão”, reconhecem um rosto, o Rosto. Mas Ele desaparece. O coração arde no peito e os olhos se abrem: finalmente compreendem e voltam a Jerusalém, a cidade onde se aperfeiçoa o encontro e o reconhecimento.

Jerusalém é a cidade que gerou a primeira esperança naqueles dois discípulos; depois se torna contexto no
qual explode a experiência da desilusão, do medo, da morte e da fracasso; agora, enfim, é, mais uma vez, o lugar que acolhe a exuberância do encontro e do reconhecimento.
Os dois discípulos, logo que reconheceram o Mestre, retornaram a Jerusalém: lá o haviam conhecido; de lá se afastaram, tentando esquecer a derrota da Cruz e a comunidade amedrontada dos discípulos; para lá, enfim, retornam, a fim de transmitir a alegria contagiante do reconhecimento.
Então, a noite não os amedronta mais. Correm na escuridão, sem temor, em direção àquela Jerusalém, que não era mais cidade da morte, da Cruz, da derrota, da desilusão.
O crepúsculo que acompanhava a sua fuga se tornara uma nova aurora, repleta de esperança. Jerusalém se torna  para eles Cidade da comunidade, lugar do memorial, tempo de partilha, tempo de profecia.

Assim, começa algo novo: das ruínas da derrota, do medo, da fuga, renasce uma cidade, uma comunidade nova. Os discípulos de Emaús deixam para trás o próprio passado e, junto com os Onze e os outros, que estavam em Jerusalém, começam uma vida nova.
Jesus, com os discípulos de Emaús, se faz estrangeiro e recomeça do zero: ajuda-os a reconhecer, a retomar o sentido perdido e oculto atrás da derrota e atrás da escuridão, da dúvida e da dificuldade de crer.
Sozinhos, os dois de Emaús, não teriam conseguido reconhecer: precisavam ser ajudados; o Anônimo toma a iniciativa, aproxima-se, acompanha-os, escuta-os, compartilhando, antes, o mistério do sentido das coisas, e, depois, o pão da partilha.
Agora, seus corações se tornam disponíveis à escuta, os olhos prontos a reconhecer, os pés prontos a correr, as  mãos  aprendem a repartir o pão da vida.
Ele desaparece, mas não se sentem sozinhos; a noite não é mais obscura; a mesa não está mais vazia; suas palavras narram o que viram; cada companheiro de estrada traz no rosto os sinais do Desconhecido.

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