Amigos e amigas,
segue sugestão para rezar o Domingo de Páscoa.
Uma "santa passagem" para todos.
Um abraço
Pe. Adroaldo sj
segue sugestão para rezar o Domingo de Páscoa.
Uma "santa passagem" para todos.
Um abraço
Pe. Adroaldo sj
PÁSCOA: “faz-se noite, no entanto
eu canto”
“...Maria
Madalena vai ao sepulcro, de madrugada, quando ainda estava escuro...” (Jo. 20,1)
Envolve-nos a noite
de uma crise global que não afeta a todos de maneira igual: a noite da
injustiça, da pobreza, da fome de milhões de seres humanos que provoca
migrações massivas; a noite da corrupção e da impunidade; a noite ecológica que
ameaça a vida do planeta; a noite da defesa real dos direitos huma-nos; a noite
das grandes utopias; a noite dos conflitos religiosos; a noite do
individualismo egocêntrico, da desconexão com os outros e com a Fonte da Vida;
a noite da falta de sentido, a noite da ausência de Deus.
Faz-se noite; no
entanto, tal como as águas, a noite tem um significado de fertilidade,
virtualidade, semente. Como estado prévio, não é ainda o dia, mas o promete e o
prepara.
A
partir da experiência pascal, a noite pode espantar, mas
também pode ser chance para ver melhor; a morte pode ser ameaçadora, mas ela
ensina a viver; o sepulcro vazio pode causar dúvida, mas ele aponta para a
ressurreição; o infinito pode suscitar inquietação, mas consegue
impulsionar para o além, até acender no coração uma chama persistente: a esperança.
Em meio à noite,
a Luz da Ressurreição nos facilita perceber lucidamente nossa própria realidade
e aquela que nos envolve, “tal como são”; ela nos mobiliza a cultivar uma consciência
lúcida para iluminar os rin-cões obscuros do nosso interior e do nosso
planeta, para fazer visível o lado escondido do mundo e da história. Tal noite
pede de nós cultivar uma espiritualidade de olhos abertos, de fidelidade para
com a rea-lidade concreta e para com a realidade que ainda está em esperança,
em potencialidade para desatar-se.
Para transitar na noite
de nosso tempo precisamos buscar na Ressurreição a Luz que a
ilumine e nos indique a direção e o sentido de nossa existência.
A noite pede pessoas
marcadas pela experiência da Ressurreição, capazes de ver a presença do
Ressusci-tado no meio das realidades simples e cotidianas, no profundo do coração
de cada ser humano, de cada realidade vivente, de cada palmo de nossa terra, no
mistério insondável do universo grávido de graça.
Precisamos cultivar não só
olhos que vejam a realidade, senão que sejam capazes de contemplar, no
meio da noite, a presença da Luz: uma luz que brota das profundezas da
realidade, do profundo do ser onde o Deus, fonte de vida, sustenta tudo; uma
luz que nos faz descobrir nosso ser essencial: filhos e filhas amados(as) e
irmanados(as) com todos e com tudo.
A luz da noite pascal reacende
a paixão pela vida, desafio mais urgente de nosso tempo; paixão por toda
expressão de vida, especialmente pelas vidas mais ameaçadas. Dar vida foi a
paixão de Jesus, expresso nestas palavras: “Eu vim para que todos tenham vida e vida
abundante” (Jo.
10,10). Dar vida, pro-tegê-la, curá-la,
cuidá-la, defender sua dignidade, denunciar tudo o que a ameaça e lutar contra
isso foi o que levou Jesus a perder sua própria vida. Jesus ressuscitou de
tanto viver.
Tal é a disposição que hoje
precisamos cultivar para iluminar a noite de nosso tempo.
A experiência da Ressurreição nos faz “passar” pela
noite e perceber no seu interior os segredos ali escondidos, as
surpresas que nos são reservadas. É a experiência da presença da “noite” no ritmo da vida: noite que
causa medo, provoca arrepios, impede a visão, paralisa...
Na noite, os objetos e as pessoas parecem
impalpáveis, os rostos indefiníveis, o tempo interminável...
Tudo
parece igual, confuso, próximo e, ao mesmo tempo, distante, inabarcável,
impossível.
Na
difícil tentativa de identificar aquilo que está fora, percebe-se mais
facilmente a si mesmo ou a pró-pria fragilidade: os passos incertos, as mãos
vagantes à procura de um contato, os olhos escancarados no esforço para
reconhecer alguma coisa, os ouvidos tensos a escutar o imperceptível, o coração
enlou-quecido saindo pela boca... Silêncio, desejo, espera, busca, pergunta:
tudo flui, trazendo mensagens, ora tranquilizadoras, ora interpeladoras.
No
entanto, é durante a noite que se
realizam os maiores “mistérios”, aqueles que não são compreendi-dos, mas que nos
fazem compreender, aqueles que não podem ser abarcados mas que nos envolvem.
Pois,
para quem tem a coragem de mergulhar na noite, no silêncio, na não evidência,
alguma coisa torna-se compreensível, reconhecível, narrável...
Lentamente,
o olhar
se faz penetrante, o ouvido se faz sensível, o tato
se faz delicado e o imperceptível se faz concreto; o longínquo torna-se
próximo, o desconhecido torna-se familiar, o extravio torna-se direção, a
solidão torna-se companhia, o ignorado torna-se revelação.
A noite é o tempo do mistério e da promessa,
é o lugar da espera e da realização, o espaço do desejo e do encontro, da
invocação e da revelação, do sofrimento e da paixão, do silêncio e da oração,
da vida e da morte...
Na noite o que conta, o que vale não se
diz, não se vê, não se sabe: deseja-se, espera-se, recebe-se, realiza-se. Não é
um simples eco aquela voz que
anuncia no escuro o início do cumprimento de uma promessa que vem de longe
e traz luz, festa, alegria, canto...
A
fidelidade da promessa ouvida na noite é uma semente. Existe, mas tem
necessidade de permanecer escondida. Realiza-se, mas exige habitar espaços de
penumbra.
Ainda não é dia, mas amanhece um tempo
novo, ressoam como ditas para nós as palavras de Isaías: “Eis que eu farei coisas novas
e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis” (Is. 43,19). É tempo de esperança.
Amanhece uma nova
consciência planetária, uma nova espiri-tualidade, uma nova maneira de intuir o
mistério de Deus, uma visão nova do ser humano e do mundo, uma nova
mentalidade... Estamos frente uma mudança de paradigma, uma transformação de
grandes dimensões: uma nova consciência holística, trans-histórica,
trans-pessoal, trans-religiosa. Amanhece uma sociedade global, planetária,
heterogênea, descentralizada, um ecumenismo planetário; um novo humanismo, uma
nova lógica cultural do movimento, inovação constante...
A pedra que fora removida do túmulo de Jesus indicou a
Maria Madalena uma novidade que seu coração buscava, uma novidade que espanta,
enche o coração do desejo de procura: “Ele vive”.
O caminho dela em
direção ao túmulo é símbolo da coragem de atravessar o escuro da madrugada para
ver resplandecer uma nova aurora em sua vida, pela força criadora da única
Presença que tudo sustenta, tudo recria e enche de amor. A presença do Cristo
Ressuscitado.
Na madrugada da Páscoa, Maria Madalena
vai ao sepulcro; ela é símbolo daquela comunidade que se movia entre a luz e a
obscuridade. Ainda vive focada no sepulcro (morte); por isso, “ainda estava
escuro”. Mas,
ao mesmo tempo, começava a clarear (“ao amanhecer”) e a “pedra estava
removida” (a
pedra da dúvida, da tristeza e da resignação fatalista). Tudo parece anunciar
algo definitivamente novo: é “o primeiro dia da semana”;
trata-se,
nada menos, que de uma nova Criação.
Segundo os evangelistas, as
mulheres são as primeiras testemunhas da ressurreição de Jesus Cristo, pois Ele
aparece primeiramente a elas. Segundo Tomás de Aquino o motivo desta
precedência é porque elas estavam melhor preparadas que os homens para entender
e acolher a maravilha da Vida.
E estavam melhor preparadas
porque O tinham amado mais.
Texto
bíblico:
Jo.
20,1-9
Oração: “Senhor, em meus horizontes,
a vossa utopia: desejo de viver a esperança com encantamento”.
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