BATISMO: “deixar-se
conduzir pelo Espírito”
“O céu se abriu e Jesus viu o
Espírito de Deus descendo como pomba...”(Mt 3,16)
Começamos o Tempo Comum do ano Litúrgico, seguindo o evangelista Mateus (Ano
A). Ao longo de todo o ano vamos tendo acesso aos mais importantes
acontecimentos da vida pública de Jesus. E o primeiro fato importante desse
caminho é seu batismo no Jordão por
João Batista.
Sem dúvida foi um momento decisivo para Jesus:sua
vida se alarga e, tomado pelo Espírito, parte para sua missão de evangelizador
dos pobres e libertador do mundo. O batismo de Jesus foi também muito importante
para os primeiros cristãos que tentavam compreender sua vida e milagres; o
batismo deixa claro que o motor de toda a trajetória humana de Jesus foi obra
do Espírito.
Jesus “desce ao Jordão”; esse
deslocamento revela, mais uma vez, o realismo da Encarnação: Jesus “desce” e
afunda os pés na humanidade ferida. Com o seu batismo Jesus “entra na fila dos
pecadores” e faz uma experiência única: os céus se abrem e Ele vê claro o que
Deus espera dele. Fiel ao Espírito, faz uma mudança radical em sua vida e se
dispõe a pregar o Reino de Deus. A partir deste momento, abandona sua vida em
Nazaré e dedica todo seu tempo ao anúncio e realização da Boa Nova. Começa sua
vida pública.
Os evangelhos fazem constante referência ao
Espírito para explicar quem é Jesus:“Concebido
pelo Espírito Santo”; “Nascido do Espírito Santo”; “Desce sobre ele o Espírito
Santo”; “Ungido com a força do Espírito”; “Eu batizo com água, Ele vos
batizará com Espírito Santo e fogo”; “O Espírito é o que dá a vida”; “O que
nasce da carne é carne, o que nasce do Espírito é Espírito”.
A alusão aos céus que se abrem
definitivamente, é a expressão de uma esperança de todo o AT. A distância
entre Deus e o ser humano fica superada para sempre. Os céus estavam
“fechados”. Uma espécie de muro invisível parecia impedir a comunicação de Deus
com seu povo. Ninguém era capaz de escutar sua voz. Já não havia profetas. Ninguém
falava impulsionado por seu Espírito.
Finalmente, em Jesus, o encontro
com Deus tornou-se possível. Sobre a terra caminhava um homem cheio do Espírito
de Deus.Esse Espírito que desce sobre Ele é o Sopro de Deus que cria a vida, a
força que renova e cura os viventes, o amor que transforma tudo. Por isso Jesus
se dedica a destravar a vida, a curá-la e fazê-la mais humana.
Jesus não é um sacerdote do
Templo, consagrado para cuidar e promover uma religião. Do mesmo modo, ninguém
o confunde com um mestre da Lei dedicado a defender um legalismo estéril. Os
camponeses e pobres da Galileia veem em seus gestos e em suas palavras de fogo a
atuação de um homem movido pelo espírito profético: “Um profeta grande surgiu entre nós”. Jesus, como os profetas de
Israel, não faz parte da estrutura política nem do sistema religioso. Não é
nomeado por nenhum poder. Sua autoridade não vem da instituição, não se
fundamenta nas tradições religiosas. Provém de sua experiência de Deus,
empenhado em guiar seus filhos e filhas pelos caminhos da justiça.
Segundo a mentalidade bíblica, este Espírito
faz Jesus viver a partir do alento vital de Deus, cheio de seu amor e de sua
força criadora, movido a libertar, transformar e potenciar a vida.
É este mesmo Espírito que há de alentar aqueles
que seguem os passos de Jesus.
Deixando-se conduzir pelo Espírito, Jesus se
encaminha para a plenitude humana e, dessa maneira, nos marca o caminho de
nossa própria plenitude. Mas temos que ser muito conscientes de que só nascendo
de novo, nascendo da água e do Espírito, poderemos desatar todas as nossas ricas
possibilidades humanas. Não seguindo a Jesus a partir de fora, como se se
tratasse apenas de um líder, mas entrando, como Ele, na dinâmica de vivência
interior, movido pelo Espírito.
“Descer” com Jesus ao Jordão para sermos batizados é “descer” em direção à nossa própria
humanidade e ser solidário com a humanidade de todos. Ao fazer, junto com Jesus Cristo, o caminho da “descida”, o ser humano vai ao encontro
de sua realidade e coloca-se diante de Deus para que Ele transforme em amor tudo quanto existe nele, para que
ele seja totalmente perpassado pelo Espírito de Deus.
O “subir” até Deus passa pelo “descer” até às profundezas da própria realidade
pessoal.
Toda pessoa
possui dentro de si uma profundidade
que é seu mistério íntimo e pessoal.
“Viver
em profundidade” significa “entrar” no âmago da própria vida, “descer”
até às fontes do próprio ser, até às raízes mais profundas; é “descendo”ao Jordão interior
que poderemos revitalizar a vida que se tornara vazia e ressequida.
Quem “desce” até sua própria
realidade, até os abismos do inconsciente, até a escuridão de suas sombras, até
a impotência de seus próprios sonhos, quem mergulha em sua condição humana e
terrena e se reconcilia
com ela, este sim, está subindo para Deus, faz a experiência do encontro com o Deus verdadeiro e
escuta a mesma voz que Jesus escutou: “Este é o meu(minha) filho(a)
amado(a), no qual eu pus a minha afeição”.
É no “eu
mais profundo” que as forças vitais se acham disponíveis para
ajudar a pessoa a crescer dia-a-dia, tornando-a aquilo para o qual foi chamada
a ser.
O ser humano é
torrente de riquezas, é expressão de
vida, êxtase, paixão, criatividade, impulso vital... Aberto à criatividade do
Espírito ele é capaz de alçar longos voos, de extrair ousadia de seu medo, de
romper seus estreitos lugares...
Aquele que se deixa
conduzir pelo Espírito faz-se “peregrino” do Absoluto.O ser humano
é itinerante por essência; ele “abre
suas asas” quando matura suas potencialidades, multiplica suas
capacidades, extrai riqueza e criatividade das profundezas de seu ser...No seu
Batismo ele realiza a grande Passagem, deixando seu estreito território
e enveredando pela terra que “mana leite e
mel”.
Deixa o território da apatia e da
neutralidade para o território da opção e do compromisso; deixa o território da
mentalidade conservadora e atua no território da mentalidade inovadora; deixa o
território que mantém aliança com a morte e caminha para o território que faz
germinar múltiplas formas de vida; saído território da rotina e da repetição e
ativa o território que gera o diferente e o alternativo. Desloca-se do
território da injustiça, violência e exclusão... para o território da justiça, da solidariedade,
compaixão...
Somos batizados para que o Espírito de Jesus possa ser nosso guia e
nossa força nos dias de dúvida e de incerteza. Somos batizamos para que sejamos
uma luz de esperança na noite angustiosa do mundo. Somos batizados para que
sejamos uma gota de água no caminho da vida. Somos batizados para que possamos
compartilhar com os outros a alegria e o amor que todos necessitamos. Somos
batizados para que vivamos a esplêndida aventura de sentir-nos filhos de um Pai
que nos ama desde sempre e para sempre.
Texto bíblico:Mt 3,13-17
Na
oração:Para realizar-nos e desenvolver toda a nossa
potencialidade, busquemos, na oração, cavar mais
profundamente,
até atingir as raízes de nosso ser, o núcleo
original de nossa personalidade. É no mais íntimo
de nós que o Espírito clama. É no mais profundo de nossa interioridade que sentimos o Sopro que nos faz criativos.
Deixemo-nos invadir pela luz e pela vida d’Aquele que “do caos cria o cosmos interior”.
- Rezar o
compromisso
batismal, na Igreja e no mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário