sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

NOVENA DE NATAL 2010
- construindo o Presépio para acolher Jesus –
9° dia


Oração de Acolhida

Senhor nosso Deus, que nos visitas assim, Menino.
Dá-nos aprender de vós a simplicidade
Que se faz brilho e beleza,
A fragilidade que se faz força e poder,
A serenidade que se faz ternura,
A quietude que se faz paciência

Transforma nosso coração em manjedoura
Que nossos braços e mãos possam ser, como os de Maria
Aconchego e cuidado com todos os meninos e meninas
De todas as idades, do mundo todo
Em especial os que nascem e vivem perto de nós

Que nosso olhar seja como o de José
Sereno e firme
Livre e confiante
Sabendo exatamente o que deve e precisa ser feito
Para o Natal, de verdade, acontecer.

Ilumina nosso caminho com o brilho da vossa estrela
Inspira em nosso coração a generosidade dos magos
A hospitalidade dos pastores
O calor dos animais que, na sua irracionalidade
Foram testemunhas silenciosas do milagre maior

Deus se fez um de nós
A eternidade vestiu-se de Tempo
O Todo Poderoso mergulhou em nossa limitada humanidade
E o Universo se fez Altar.

Diante da humildade do Presépio podemos vislumbrar em nós, com Ele
As centelhas de divindade que refulgem em nossa alma
Desde o Gênesis

Amém!
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Meditação do nono dia – “...E O VERBO SE HUMANIZOU”

“Não basta ajoelhar-se uma vez ao ano frente ao presépio para que a vida humana seja inundada da vida divina; antes, é necessário que toda a vida esteja em contato com Deus” (Edith Stein)


O ser humano é “capaz de Deus”!


No mistério da Encarnação afirmamos que Deus decidiu fazer-se “carne”, matéria visível e tangível; Deus se “exteriorizou”, “saiu de si”, “voltou-se para a terra”, “desceu”...
No Natal celebramos precisamente que Deus se fez “pele” e se deixou impactar por tudo aquilo que o rodeava. Tudo isso é Deus na nossa carne quente e mortal. Um Deus que “adentrou” na humanidade e de onde nunca mais saiu; um Deus que agora pode ser buscado em nossa interioridade e em tudo o que é humano. Na pobreza, na humildade da própria história pessoal, inserida na grande história da humanidade, torna-se possível acolher o dom do amor de Deus visível no Menino do Natal.
Celebrar o Natal, louvar e reverenciar o nascimento de Jesus, tem a ver também com poder honrar nossas raízes, despertar nossa criança escondida em nosso interior.
Deus aparece como Menino mostrando-nos que a verdadeira dimensão do ser humano é “fazer-se criança”. É preciso desbloquear em nós as fontes da inocência e da bondade. Para uma criança tudo é possível, é uma imensa e interminável disponibilidade.

“Em uma carne espiritual calosa, fossilizada, endurecida, Deus não pode vibrar. Deus vibra sempre no terno. O Natal evoca em nós aquele menino que fomos e aquela criança na qual, quando sonhamos, ainda captamos a presença de Deus... O menino é um olho aberto e maravilhado diante desta Presença” (A. Olivier).

Em Belém somos pacificados de nossas ansiedades e pressas de fazer mais e de conseguir mais, de nossa sede de poder e de acumular mais; e se permanecemos em silêncio ali, diante do menino deitado no presépio, brotará em nós um desejo profundo de sermos mais humanos, de sermos aquilo que já somos no rosto aberto daquele Menino; ao mesmo tempo, brotará um desejo de venerar cada ser humano, de contemplá-lo em seu interior, esse lugar ainda não profanado em cada pessoa, o lugar de sua infância e de sua paz.
Quando Deus se manifesta, aparece a “humanitas”, a humanidade.
“Humanus” não é unicamente humano; “humanus” significa também “ternura”. Uma pessoa humana é uma pessoa terna. Apareceu um Menino; apareceu a ternura e a doçura de Deus que salva.
A verdadeira compaixão sabe desta ternura e desta reverência diante do outro; não é unicamente uma qualidade do modo de ser de Deus, senão o Ser mesmo que ele é. É o que se entrega amorosa e delicadamente, e que para isso desce sempre mais abaixo, está abaixo.
Deus toma o caminho da “humilhação”, se faz “húmus”, terra fértil: possibilitador de tudo o que existe, discreto impulsionador da vida. Cria e se retira para deixar-nos ser.
Na Encarnação Deus não vacilou em tomar nossa condição humana, às vezes trágica e em muitos aspec-tos absurda. Ao humanizar-se Deus não mutilou o ser humano, mas divinizou-o. E não só a humanidade foi transformada pelo Filho, mas também o cosmos. “O Filho enobrece toda a criação, fazendo-a divina”.
Quando confessamos que o Verbo se fez carne, cremos que o desejo do ser humano de se tornar divino se concretizou, o utópico se tornou tópico. Cremos que o ser humano chegou a Deus porque Deus chegou primeiro ao ser humano. O ser humano se “divinizou” porque Deus se “humanizou”. Nosso grito por uma total plenitude é o eco da voz de Deus que ressoa dentro do coração de cada pessoa.
González Faus diz que a fé em Jesus “qualificou o cristianismo como diferente, ao mesmo tempo, de toda religião e de todo humanismo: de toda religião porque o que está em seu centro não é Deus senão o ser humano. E de todo humanismo porque a razão dessa centralidade do ser humano não se fundamenta no ser humano mesmo, mas só em Deus”.
O mistério da Encarnação nos revela que, além de não serem inimigos ou concorrentes, Deus e o ser humano permanecem inseparáveis. O Natal nos faz lembrar que não existe verdadeira humanidade sem abertura à Transcendência, que não há Deus vivo sem Encarnação. O finito e o infinito, o criado e o incriado, o céu e a terra, a forma e o sem-forma, Deus e ser humano, já não podem ficar separados.
Em nós, algo de bom, de inocente, de imaculado, continua a dizer “sim” ao incompreensível Amor... O ser humano é “capaz de Deus”. E isso não ocorreu outrora: a Encarnação continua.

Pe. Adroaldo Palaoro, sj

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