quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

NOVENA DE NATAL- 6º DIA

NOVENA DE NATAL 2010
- construindo o Presépio para acolher Jesus –
6° dia




Oração de Acolhida


Senhor nosso Deus, que nos visitas assim, Menino.
Dá-nos aprender de vós a simplicidade
Que se faz brilho e beleza,
A fragilidade que se faz força e poder,
A serenidade que se faz ternura,
A quietude que se faz paciência


Transforma nosso coração em manjedoura
Que nossos braços e mãos possam ser, como os de Maria
Aconchego e cuidado com todos os meninos e meninas
De todas as idades, do mundo todo
Em especial os que nascem e vivem perto de nós


Que nosso olhar seja como o de José
Sereno e firme
Livre e confiante
Sabendo exatamente o que deve e precisa ser feito
Para o Natal, de verdade, acontecer.


Ilumina nosso caminho com o brilho da vossa estrela
Inspira em nosso coração a generosidade dos magos
A hospitalidade dos pastores
O calor dos animais que, na sua irracionalidade
Foram testemunhas silenciosas do milagre maior


Deus se fez um de nós
A eternidade vestiu-se de Tempo
O Todo Poderoso mergulhou em nossa limitada humanidade
E o Universo se fez Altar.


Diante da humildade do Presépio podemos vislumbrar em nós, com Ele
As centelhas de divindade que refulgem em nossa alma
Desde o Gênesis


Amém!
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Meditação do sexto dia – “Paixão...”


“Maria estava prometida em casamento a José...
Lucas 1,27






Necessários diálogos


Vivemos tempos de contradição. Ela se expressa, entre outras coisas, no confronto entre eros e mística no território do sagrado. Da postura medieval, que satanizava o erótico, passamos a uma sacralização da sensualidade, com o prazer hedonístico colocado no altar dos nossos sonhos, como fim único e absoluto dos nossos desejos.
No campo das religiões, a sexualidade sempre foi um tema difícil. Apesar de tímidos avanços, boa parte da hierarquia da nossa Igreja Católica ainda vê o sexo, no seu discurso moral, exclusivamente como instrumento de procriação. Isso coloca sobre a instituição um rótulo de conservadora, preconceituosa e atrasada. A questão torna-se ainda mais complexa com as recentes e recorrentes denúncias de pedofilia, atribuidas a representantes da Igreja. Ela, então, seria também hipócrita.
É curiosa a nossa sociedade. Promove e estimula em filmes, novelas, propagandas, um erotismo massacrante que inunda os meios de comunicação, e depois posa de moralista, cobra respeito e dignidade no comportamento sexual das pessoas.
Pensando nessa força poderosa que é o sexo, nas fantasias que construímos em torno dela, lembrei-me de uma visita que fiz, tempos atrás, à uma exposição sobre Darwin, no MASP, em São Paulo. Nas suas pesquisas o revolucionário biólogo constatou, entre outras coisas, que o ser humano tem a sexualidade em comum com os outros animais. Ou seja, também para a Biologia, sexo é um mecanismo de procriação e perpetuação das diferentes espécies. E os animais cumprem rigorosamente seu papel. Usam o sexo como expressão dos seus instintos de reprodução e transmissão de gens. Um cão não procurará uma cadela para fazer sexo, a não ser que a natureza lhe diga que ela está no período de cio e lhe será receptiva.
O ser humano é mais complexo. Para nós, sexo é muito mais que procriação. Aliás, a maioria das relações sexuais entre humanos não resultam em procriação. Assim, não podemos reduzir o sexo somente a sua dimensão biológica, física. Nós o usamos também como expressão de sentimentos profundos, de partilha da nossa identidade e da nossa intimidade com alguém a quem amamos de modo especial.
Limitar o sexo a um instinto que precisa ser saciado é abrir caminho para aberrações como a pedofilia, que dentro ou fora da Igreja, será sempre uma aberração a ser combatida como tantas outras. E isso começa por uma visão profunda, sem preconceitos ou moralismos hipócritas, que nos ajude a compreender o papel da sexualidade na experiência humana. Afinal, o sexo abraça nossa vida como um todo, inclusive a nossa dimensão espiritual.
Pensando em tudo isso fui buscar no texto bíblico pistas para uma compreensão mais profunda da sexualidade como instrumento de aproximação amorosa entre as pessoas e não apenas a utilização do outro como um objeto descartável.
Començando pelo “começo”, o Gênesis, a primeira coisa que me chamou a atenção foi perceber que somos “imagem e semelhança” de um Deus que é, desde sempre, Amor. E um amor que se faz encontro e relação. Por isso Deus “quis” ser Trindade. Quem ama não pode ser solidão.
Há em nós, portanto, na nossa “identidade espiritual” um gene amoroso que nos faz buscar, no outro, a possibilidade do amar e ser amado, nas muitas formas que o amor tem para entrar em nossa vida.
Outra curiosa revelação; na linguagem bíblica, o ato sexual é associado ao verbo “conhecer”. Logo no capítulo 4 do Gênesis, está escrito que “Adão conheceu Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz Caim...”. No texto bíblico, sexo é um instrumento de conhecimento do outro com quem compartilho muito mais que a cama, mas os afetos, os desejos, a vida.
Há todo um livro bíblico em que a sexualidade é tratada de forma poética, sensual, erótica, no sentido mais profundo e belo. Sem nenhum traço de desrespeito, o amor sensual entre um homem e uma mulher é usado como matáfora para falar do amor de Deus pelo sua criação, pelo seu povo. É o livro do Cântico dos Cânticos.
E foi lendo e rezando o Cântico dos Cânticos que compus a oração que compartilho agora com vocês.
Eros e Mística


“É comum apreciarmos um pôr do sol, ou o brilho das estrelas na escuridão da noite, e sentirmos aí a presença amorosa de Deus.
É comum apreciarmos a delicadeza de uma flor, a imensidão do mar, a beleza das ondas quebrando na areia e aí sentirmos a presença amorosa de Deus.
Passarinhos cantando, mangueiras em flor, parreiras de uvas com cachos pesados, são maravilhas da natureza que nos falam da presença amorosa de Deus.
Campos cultivados de milho, feijão, trigo, são presentes da terra-mãe e do trabalho humano que nos falam da presença amorosa de Deus.
Nós te louvamos, Senhor, porque sentimos tua presença nessas tuas criaturas.
Já não é tão comum observarmos o trabalho árduo do pedreiro, empilhando tijolos e os firmando com cimento, a faina diária do executivo às voltas com as responsabilidades da empresa, e sentirmos aí a presença amorosa de Deus.
Já não é tão comum observarmos a mulher que tempera com gosto o feijão de cada dia, cuida dos filhos, assume cada vez mais seu lugar no mundo do trabalho, das profissões, e sentirmos aí a presença amorosa de Deus.
Já não é tão comum, num mundo que separou o Eros do Místico, perceber a presença amorosa de Deus no cenário simples das coisas comuns e profundas, como a ternura entrre um homem e uma mulher enamorados.
Precisamos perceber que Deus se manifesta em todo gesto que é profundamente humano. Ele está presente no desejo que desperta a atração entre um homem e uma mulher, nas carícias mútuas que se fazem uma mulher e um homem, no prazer que um homem e uma mulher se oferecem na união amorosa.
Ensina-nos, Senhor, a sentirmos também aí tua presença encarnada em nós, chamando-nos a erotizar a santidade e santificar o erótico, tornando sagrado o encontro entre um homem e uma mulher que se amam, se respeitam e se dão, um ao outro, prazer, alegria, realização intensa e serena no corpo e na alma, na alegria de quem sabe compartilhar a vida em todas as suas dimensões.
No amor apaixonado, sexo é também expressão do sagrado. O ato sexual se faz tão santo quanto a caridade fraterna. No amor, podemos santificar o sexo, e assim, rezar:
Eu quero te encontrar, Senhor, na beleza dos olhos da minha amada, no aconchego dos seus braços, na ternura das suas carícias, no calor do seu corpo, pronto para me receber como terreno fértil, que me possibilita semear a vida.


Eu quero te experimentar, Senhor, no firme e terno aperto dos abraços da minha amada; sentir-te no encontro dos nossos corpos; experimentar-te na sensação de acolhida que ela me faz e que eu lhe faço, quando nos fazemos hóspedes um do outro, e da tua ternura, e do teu amor que nos engrandece e nos fortalece, pois, em nossos corpos, amorosamente unidos, recebemos o teu coração.
Nós queremos te experimentar, Senhor, nosso Deus, que és amor-paixão, quando o desejo nos envolver e nossos corpos se entrelaçarem fazendo de nós não duas metades que se encontram, mas dois inteiros que se doam, e que generosamente acolhem e transbordam o amor semeado em nossos corações, desde sempre.


Amém.


Eduardo Machado

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