terça-feira, 21 de junho de 2011

ESPIRITUALIDADE DO CORPO



“Jesus: CORPO de Deus entre nós, CORPO que se dá aos homens, CORPO para os corpos,
como carne e sangue, pão e vinho. E o CORPO de Deus, Jesus Cristo, se expande,
 incha,
tomando o universo inteiro...

É bem aí, no CORPO, que Deus e o homem se encontram.

A humanidade  de Deus nos incomoda. Coisa que os primeiros cristãos
 descobriram com espanto.

Eles entenderam que para falar de Deus é necessário deixar de falar de Deus, e falar sobre um homem,
um rosto, uma vida... Foi então que eles ficaram cristãos.

Deus, para falar de si, tornou-se homem. Fala sobre Deus é fala sobre um homem.

          A PALAVRA se fez CARNE. Nosso irmão.
Um de nós. Nasceu, viveu, morreu... ressuscitou” (Rubem Alves)



“A festa de Corpus Christi quer nos fazer recordar que CORPO é cálice,
onde se bebe o vinho
da alegria e da salvação, inserido no CORPO místico e cósmico de Cristo.
Só haverá futuro
digno quando todos os CORPOS viverem em comunhão,
saciados da fome de pão e de beleza” ( Frei Betto).



Celebramos o “Corpo de Cristo”, uma das festas mais ricas que nos
faz pensar em seu conteúdo
 e sim-bolismo, mas que nos faz pensar também neste “Corpo de Cristo” no meio de
 tantos outros corpos.

Aceitamos, pela fé, a presença real de Cristo na Eucaristia; isso implica
comunhão bem maior
com sua vida, seu testemunho de amor, de partilha, solidariedade,
dedicação pela transformação
de tudo aquilo que não dignifica a vida ou não dignifica os “corpos”.

Participamos, com muita fé, dedicação e respeito,
das celebrações do “Corpo de Cristo”,  
mas pode ser que, às vezes, f
açamos uma profunda cisão ou ruptura entre o que celebramos
e a realidade que nos cerca, ou seja, os famosos “corpos”: e
xplorados, manipulados,
 usados, escravizados, destruídos...

Pode ser que, às vezes, tenhamos um profundo amor e respeito pelo “Corpo de Cristo vivo
e pre-sente na Eucaristia”,
e não o vejamos nos “corpos” que estão aí, aqui, ali, lá,
dos nossos lados...

Parece que não sabemos lidar muito bem com esse estranho
e (des)conhecido que são os nossos
 “cor-pos”.
Do corpo temos tido suspeitas e o temos olhado com desconfiança.

É preciso estabelecer o diálogo com o corpo.
Não se trata apenas de uma reconciliação amistosa, mas
de uma descoberta radical.
Ignoramos nosso corpo, apesar de tê-lo tão próximo;
é preciso dar-nos conta das riquezas que tem, o muito que sabe,
a importância do que tem a nos dizer, a necessidade de seu
apoio e a sabedoria de sua amizade.

Aqui está nosso melhor amigo, fielmente a nosso lado,
e nem sempre o percebemos.



A corporeidade penetra toda a nossa auto-realização como seres humanos.
O corpo não é simplesmente “organismo vivo” ou
mera “exterioridade” ou
mero “instrumento do espírito”.
O corpo não é o túmulo da alma, mas o templo do Espírito,
o lugar onde o “Verbo se fez carne”.

Por meio da Encarnação e por meio da Ressurreição de Jesus,
 a carne se converteu em espelho
da divindade. Assim, o corpo humano começou a ocupar um lugar central.

O corpo é de importância máxima para a experiência que temos de nós mesmos e para a
comunicação com Deus, com os outros e com a natureza.

A consciência do respeito e do valor ao corpo é necessária para a maturidade afetiva.
A desvalorização do corpo, por outro lado, resulta na mutilação da expressividade,
da comunicação de sentimentos e prejudica a maturidade afetiva-social-espiritual.

Uma relação negativa com a corporeidade equivale a uma relação negativa consigo mesmo,
com os outros e até mesmo com Deus. Não aceitar o corpo é atentar contra a vida.



A pessoa é uma totalidade unificada, um “todo espiritual”
e um “todo corpóreo”, tanto que
não existe fenômeno corpóreo que não tenha um reflexo no espírito, nem experiência espiritual
que não se reflita no corpo.
O corpo participa, de maneira imprescindível, na atuação do
eu espiritual e vice-versa.

A “linguagem espiritual” acompanha a “linguagem corporal”,
assim como a linguagem do corpo
reforça a linguagem espiritual.

O corpo fala por si mesmo, comunica, reage...
O corpo é expressão de nossa masculinidade
ou feminilidade, de nossa sexualidade integrada ou reprimida,
de nossa saúde ou doença,
de nossa alegria ou tristeza, realização ou frustração,
de nossa consolação ou desolação.

O corpo é expressão e comunicação daquilo que somos.



O próprio Deus se fez corpo, no corpo de uma mulher:
 “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.

A espiritualidade cristã é “encarnada”.



A Encarnação  foi o caminho que a Trindade
 escolheu para se aproximar da humanidade e fazer
história conosco. Nosso corpo humano,
 feito de barro – vaso frágil e quebradiço –
tornou-se o lugar privilegiado da chegada e da revelação do amor trinitário.

“Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós?” (1Cor, 6,19)

O nosso corpo é o “templo” santo e santificado, onde Deus Trino faz sua morada.



A Encarnação de Jesus não autoriza qualquer desprezo da corporeidade;
pelo contrário, valoriza o ser humano na sua totalidade (Mc. 2,9-11).

Jesus cura a pessoa toda a começar pelas doenças do corpo, doenças psicológicas e espirituais.

Cultivar o corpo para recuperar a saúde, combater o stres, harmonizar mente e corpo,
razão e emoção, isto é benéfico.
A deturpação desumanizante do corpo aparece quando
ele é visto como fim em si mesmo.

Temos muitas ofertas para o corpo: ginásticas, academias,
cosméticos, bioenergéticas, yoga, dança,
expressão corporal, cirurgias plásticas, implantes, massagem...

Cuidar sim, idolatrar não;
é preciso caminhar para a superação do medo do corpo,
mas sem idolatrá-lo.



O corpo se plenifica na comunhão com outros corpos,
com Deus e com o corpo da natureza.
Nosso humilde corpo é parte da Criação inteira e nosso bem-estar faz sorrir a natureza.







Nosso corpo é pura relação.
Nele ficam registradas todas as marcas de nossa vida, de nossa história.

A pele é a memória mais fiel de tudo o que nos acontece externamente.

O corpo é presença e linguagem - tudo nele fala: fala o rosto,
falam os olhos, falam os
movimentos e as posturas, falam os gestos,
 acompanhando, reforçando e expressando
a intenção íntima.

É no corpo que o eu da pessoa historicamente se constitui em relação aos outro e às suas escolhas.

E a relacionalidade expressa pelo corpo não deve ser compreendida
só em uma dimensão horizontal;
essa se entrelaça com uma relacionalidade de tipo vertical que a fundamenta
e a caracteriza em direção do Absoluto.



Texto bíblico:  Jo. 6,51-58



Na oração:  Nosso corpo é tocado pela encarnação de Jesus. 
E lembre-se de que Deus conhece
 nossa estrutura.
Ele sabe de que barro somos feitos.
Reze sua humanidade, seu corpo de homem ou mulher.
Leve para sua oração
os desafios do coti- diano, os imprevistos da vida.

Seja humano diante de Deus, deixe seu corpo falar a Deus.

Reze com seu corpo. E agradecido(a) bendiga sempre o Senhor.

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