quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Para rezar o evangelho do próximo domingo- Dia 11/12/11

A LUZ DA ESPERANÇA BRILHA EM NOSSA VIDA



“João veio como testemunha, para dar testemunho da Luz...” (Jo. 1,7)

“É expressamente proibido pecar contra a esperança”



O risco, a transição, a fragilidade, a incerteza, a dificuldade, o medo... parecem ser os fiéis companheiros de caminho do ser humano. Tão logo ele nasce, começa o confronto e o conflito com as trevas. Tão logo começa a viver, conhece a ameaça da morte. Tão logo toma consciência de si, percebe-se ameaçado pela presença desafiante dos outros. Tão logo se julga seguro, experimenta a impotência e a limitação.

A partir da experiência do Advento, a noite pode espantar, mas também pode ser chance para ver melhor; a morte pode ser ameaçadora, mas ela ensina a viver; o cotidiano pode parecer vazio, mas ele aponta para a eternidade; o infinito pode suscitar inquietação, mas consegue impulsionar para o além, até acender no coração uma chama persistente: a esperança.



O ser humano que espera não tem certeza, não fica seguro, não está satisfeito. Mas a esperança tem fundamento; não é uma ilusão e nem uma utopia; não é um sonho impossível e nem uma lembrança irre-cuperável; não é só futuro, mas permanece, disfarçadamente, presente; não é uma morada, mas um senti-mento sempre inédito. A esperança evita tropeçar no fracasso, no desânimo, na apatia e no silencioso desespero. Ela se acende à noite, vence na impotência; começa na limitação; é ousada na fragilidade.

A esperança é caminho e meta, posse e dom, destino e encontro, antecipação e cumprimento, expectativa e busca, risco e proteção, nó e liberdade.  A esperança é certa, mas não dá “garantias”.

       “O coração do cristão é inquieto, está sempre em busca, em espera: esta é a esperança...

        porque a esperança é aquela que faz caminhar, faz abrir estradas...” (Massimo Cacciari)

O ser humano-esperança é o peregrino que caminha, é o artífice que tece o existir.

Esperança é força prospectiva que suscita passos para a gênese da nova humanidade. Esperança é o ser humano nômade. Des-loca-se. Des-dobra-se. Inventa-se. Deixa de ser o que era para chegar a ser o que ainda não é. Na noite ela se acende; na impotência, ela vence; na finitude, ela impele a caminhar.

A esperança é brasa, é pés, é caminho, é narrativa, é assombro, é antecipação.

Não há esperança na solidão das próprias seguranças e das próprias expectativas. A esperança se realiza no encontro, que impele a sair, a caminhar, a ir ao encontro, narrar aos outros o fogo que se acendeu por dentro. A esperança é o canto que empresta coragem frente os corredores escuros da história.



Uma humanidade incapaz de cultivar a esperança não mereceria ser objeto de consideração, porque lhe faltaria a única razão pela qual valha a pena viver.

Poderíamos acrescentar que uma humanidade, incapaz de cultivar a esperança, não merece ser olhada, porque lhe faltaria a única razão pela qual vale a pena existir. Sem a esperança, a humanidade perde a iniciativa. Embota-se.

A vida sem desafios não é real; mas a vida sem espera, sem desejo, sem paixão, sem esperança, não é vida.

Certo dia, um discípulo perguntou ao Mestre: “Onde Deus habita?”

- “Deus habita onde O deixamos entrar”, foi a resposta. Do mesmo modo, a esperança mora onde a deixamos entrar: onde lutamos, onde convivemos com o outro diferente de nós, onde a fragilidade e a transição podem desorientar, onde as trevas parecem mais fortes que a luz, onde a vida parece ser ameaçada pela morte, onde a violência pensa levar vantagem, onde o caminho é íngreme, onde a espera se confunde com a angústia... A força da esperança está oculta precisamente na sua impotência.

É Advento: vida plena antecipada.



Mas não basta ter esperança. É preciso ser esperança. O ser humano vive de esperança, acredita na espe-rança, mas, sobretudo, é esperança. A esperança leva a querer algo mais. É antecipação criadora; ela tem “rosto novo”. É madrugada e não crepúsculo. Jamais “envelhece”. A esperança alimentada pelo Advento antecipa aquilo que ainda não é realidade. É o futuro que ainda pode ser convertido em história nova.

A esperança mantém sempre acesa a faísca de luz que todos carregamos dentro. É ela que nos faz cair na conta que somos “luz do mundo”, uma chama que nunca se apaga; somos “sarça ardente” para os outros, consumindo-nos constantemente, sem nunca nos consumir; somos uma lamparina humilde, brilhando na janela da nossa pobre casa, indicando aos outros o caminho da segurança e do aconchego.



A Luz é força fecundante, princípio ativo, condição indispensável para que haja vida.

Tem capacidade de purificar e regenerar. Em oposição às trevas, a Luz exalta o que belo e bom.

Vivemos imersos num oceano de luz; carregamos dentro a força da luz. Ela sempre está aí, disponível; basta abrir-nos a ela com a disposição de acolhê-la e de fazer as transformações que ela inspira.

Pelo fato de ser benfazeja e criadora, ela nos permite dizer com o poeta Thiago de Mello, no meio de impasses, ameaças e conflitos que pesam sobre nossa vida: “Faz escuro, mas eu canto”.

“Porque amamos as estrelas, não temos medo da noite escura. Elas são inalcançáveis, mas nos orientam. Lá nas estrelas se encontram nossas origens, pois somos feitos do pó delas. Elas nos guiarão e nos farão novamente brilhar. Porque é para isso que emergimos neste planeta: para brilhar. Esse é o propósito do universo e o desígnio do Criador” (L. Boff).

O ser humano é luz quando expande seu verdadeiro ser, ou seja, quando transcende e vai mais além, desbloqueando as ricas possibilidades de humanidade. A luz, por si mesma, é expansiva: “Vós sois a luz do mundo”.



Na Bíblia, Deus é Luz; o fogo é sinal da presença e ação de Deus no mundo; é expressão da santidade e transcendência divinas. Jesus é a Luz do mundo; sua mensagem é como o fogo que Ele quer espalhar sobre a terra. Quem crê se torna Luz, reflexo da Luz de Cristo.

A vida inspirada pela fé é um “caminhar na Luz”.

Somos portadores da “luz nova”; não extinguir essa luz que ilumina dentro. Abafar essa luz é menosprezar a vida da Graça, o tesouro que nos foi confiado no batismo.

Devemos guardá-la ciosamente, velar por ela, valorizá-la pela nossa colaboração, estimá-la e protegê-la, como a chama olímpica que nos levará à vitória.



Textos bíblicos:  Jo. 1,6-8.19-28   1Ts. 5,16-24



Oração: “Senhor, em meus horizontes, a vossa utopia: desejo de viver a esperança com encantamento”.

“O amadurecimento da experiência e uma visão de fé mais profunda evidenciam a grande Luz que nos precede, acompanha e segue no percurso da vida”.

Deixemo-nos iluminar, levemos a Luz nas nossas pobres e frágeis mãos, iluminando os recantos do nosso cotidiano.

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