sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Novena- 8º Dia.


Novena de Natal 2011  
   
   
Acolhida:

Dirigente: Estamos reunidos em nome de Deus que é Pai e Filho e Espírito Santo.


Todos: Bendito seja Deus, Pai que nos reúne pela força do seu Espírito, no amor de Jesus.


Leitura do dia: Gênesis 12,1-3

                         “E o Senhor disse a Abraão: sai da tua terra e vai onde lhe mostrarei. De ti farei nascer um grande povo e engrandecerei teu nome, de modo que tudo em ti seja uma bênção. Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem. E com teu nome, serão abençoadas todas as famílias da terra.

E Abraão partiu, como o Senhor lhe havia dito...”.




 

Pontos para oração e partilha: 

            - Deus escolhe e envia em missão. 

- Deus dá a graça necessária à missão. 

- Por um só homem, toda a terra é abençoada. 

            - Abraão não contesta ou discute. Acolhe e cumpre a vontade do Senhor. 





Para aprofundar:

                            Transfiguração e M

   O livro “Tempus fugit”, me convida a rezar a mudança no olhar de Abraão sobre sua vida. Nele Rubem Alves conta a experiência de uma paciente a quem ele acompanhava que, de repente, se vê surpreendida ao contemplar (que é mais que ver) uma prosaica cebola.

A mulher se imagina louca. Como o ato corriqueiro de cortar, fatiar uma cebola pode tornar-se algo transcendental?

Pois foi o que aconteceu. Da faina banal, doméstica e repetitiva, brotou a possibilidade do permanente. Do cheiro característico, marcante, de uma cebola cortada, numa ação limitada e limitante, fluíram aromas de eternidade.

A cena descrita no capítulo “Estou ficando louca...”, diz mais ou menos assim:

... Na semana passada uma coisa estranha aconteceu. Peguei uma cebola, igual a todas as outras, cortei uma rodela como sempre fiz, e levei um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Como isso era possível? Já havia visto e cortado centenas de cebolas e agora era como se estivesse vendo uma cebola pela primeira vez!

Olhei para a sua forma arredondada, senti a lisura de sua pele sob meus dedos, vi seus anéis circulares, perfeitos, encaixados uns dentro dos outros, surpreendi-me com sua quase transparência, a luz se fragmentando em centenas de pontos em sua superfície brilhante... 

Penso que, na verdade, a paciente de Rubem Alves não está descrevendo uma cebola, mas um olhar. Ou melhor, um modo diferente de olhar. A cebola continua lá, no seu destino cebolístico de ser sempre uma cebola. Mas os olhos que vêem para além da banalidade das coisas, quando percebem que tem suas raízes na alma, provocam uma transfiguração. E ela continua:


Meu automatismo prático se interrompeu. Deixei a faca sobre a pia e fiquei com a rodela na minha mão, encantada. Esqueci-me do prato que estava preparando. Naquele momento eu não queria fazer prato algum para o deleite da boca, pois eu havia encontrado uma outra forma de deleite: o deleite dos olhos. Meus olhos estavam comendo a rodela de cebola. E eu senti um prazer que nunca sentira antes.

Pela primeira vez na vida vi que uma cebola era bonita. Se fosse pintora, pintaria uma cebola. Se fosse fotógrafa, fotografaria uma cebola... Minha cebola deixara de seu uma criatura do sacolão, à mercê de facas e maxilares, e aparecia como criatura encantada, moradora do mundo da beleza, ao lado de jóias e de obras de arte... 

Eu lia e bebia. E pela fresta dos olhos entrava, aos poucos, uma luz que, refletida naquela cebola, revelava outros mundos, interiores, profundos, onde não é possível banalizar nem domesticar sentimentos e palavras. A paciente tinha razão. Ela entrava, assustada e encantada, no surpreendente e instigante mundo que chamou de loucura (e que chamo de poesia). E me levava junto...! 

Ao acordar deste transe místico, em que vi a rodela de cebola como se fosse o vitral de uma catedral gótica, fiquei assustada. Que coisa estranha deveria estar acontecendo como os meus olhos? Que transformação incomum deveria ter acontecido comigo mesma?

            Se eu contasse aos meus amigos o que tinha acontecido eles não entenderiam. Pensariam que eu estava fazendo gozação. Ririam. Não poderiam compreender a minha alegria vendo a rodela de cebola. Eu tive que fazer silêncio sobre a minha experiência. Pensei, então, que estava ficando louca. Pois loucura deve ser isto: aquilo que a gente experimenta e sobre que tem de calar-se. Pois se a gente disser, os outros não entenderão e começarão a pensar que a gente tem um parafuso solto.

Mas o pior é que o que aconteceu com a cebola começou a acontecer com tudo. Meus olhos já não eram os mesmos... 

Quem tem olhos, veja. Quem tem ouvidos, ouça. E eu, peço humilde licença para acrescentar: quem tem pele, toque, quem tem nariz, sinta os aromas, quem tem boca, prove.

É possível e preciso rezar com os sentidos; ver, ouvir, tocar, aspirar e saborear espiritualmente as coisas e pessoas que nos rodeiam e, pelo afeto, invadem.

E, afetados, percebemos, para além da cena previsível, do objeto e até das pessoas banalizadas, coisificadas, o toque do sagrado que muda o rumo da vida, que dá sentido à loucura de viver, que encontra o amor preciso e possível nas situações mais improváveis, que nos convida à missão.

A oração ensina o olhar a amar. E o que os olhos amam e rezam o coração sente, e pede a gente pra viver.

Eduardo Machado





Para rezar até o próximo encontro
Lucas 4,14-21
                                                                                         







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Eduardo Machado/novembro de 2011


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