terça-feira, 23 de novembro de 2010

Novena de Natal - 4º Dia

NOVENA DE NATAL 2010
- construindo o Presépio para acolher Jesus –
4° dia

Oração de Acolhida

Senhor nosso Deus, que nos visitas assim, Menino.
Dá-nos aprender de vós a simplicidade
Que se faz brilho e beleza,
A fragilidade que se faz força e poder,
A serenidade que se faz ternura,
A quietude que se faz paciência

Transforma nosso coração em manjedoura
Que nossos braços e mãos possam ser, como os de Maria
Aconchego e cuidado com todos os meninos e meninas
De todas as idades, do mundo todo
Em especial os que nascem e vivem perto de nós

Que nosso olhar seja como o de José
Sereno e firme
Livre e confiante
Sabendo exatamente o que deve e precisa ser feito
Para o Natal, de verdade, acontecer.

Ilumina nosso caminho com o brilho da vossa estrela
Inspira em nosso coração a generosidade dos magos
A hospitalidade dos pastores
O calor dos animais que, na sua irracionalidade
Foram testemunhas silenciosas do milagre maior

Deus se fez um de nós
A eternidade vestiu-se de Tempo
O Todo Poderoso mergulhou em nossa limitada humanidade
E o Universo se fez Altar.

Diante da humildade do Presépio podemos vislumbrar em nós, com Ele
As centelhas de divindade que refulgem em nossa alma
Desde o Gênesis

Amém!
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Meditação do quarto dia – “As testemunhas”

“Havia nos arredores uns pastores, que vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos durante a noite. Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor os envolveu de luz, e eles ficaram com muito medo. Mas o anjo disse-lhes: Não tenham medo, eu anuncio a vocês uma boa notícia, que será uma grande alegria para todo o povo: hoje, na Cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto lhes servirá de sinal: vocês encontrarão um recém-nascido envolto em panos...”.
Lucas, 2,8-12
Um outro olhar...

Janeiro de 2006. O Brasil e o mundo inteiro viram e se emocionaram com a cena de um bebê resgatado das águas da nossa Lagoa da Pampulha, aqui em Belo Horizonte. A mídia deu ampla cobertura ao episódio que foi registrado pela câmera de um cinegrafista amador e, com isso, ganhou a extraordinária dimensão de imagem globalizada, multiplicada via satélite.
A mãe, acusada pelo crime, foi condenada a nove anos de prisão. Hoje, cumpre regime semi aberto.
Na tela da memória, contemplo novamente a imagem que saturou os noticiários. A câmera capta e repete à exaustão o momento dramático quando o saco de lixo, com o conteúdo ainda desconhecido, é retirado das águas e colocado sobre a grama. Com receio e cuidado dois homens vão desatando o nó que o fechava e, surpresos, descobrem: é uma criança!
O bebê chora e é carregado com apressado carinho. Suas roupas molhadas são tiradas e logo aparece um cobertor que o envolve. O carro de resgate chega e, nos braços de um bombeiro a menina -é uma menina- é levada rapidamente ao hospital.
Lá, outra surpresa. A garotinha está bem, não sofreu nenhum dano...
Na sequência, outras imagens se multiplicam em torno da criança milagrosamente resgatada da morte certa. Depoimentos emocionados, revolta contra a pessoa responsável por essa monstruosidade...
Do país inteiro chegaram mais de trezentos pedidos de casais querendo adotar a pequena. Por alguns dias a mídia ainda falou sobre o assunto. Depois... outra notícia espetáculo, com outras imagens espetaculares ocuparam seu espaço e o drama da menina foi esquecido, ficando suas imagens guardadas para exibição em alguma edição de vídeos extraordinários ou coisas do gênero.
Hoje, quatro anos depois, a contemplação dos pastores, testemunhas do Natal, me convida a visitar, de novo, essa história.
O inusitado nesse episódio é que ele foi filmado, ganhando, como já disse, a força poderosa da imagem. Outra surpresa é a criança ter sobrevivido. Por questão de minutos e o desfecho do caso seria outro: talvez trágico e anônimo como tantos outros.
Quatro anos depois, a imagem da menina, envolta num saco de lixo, é, para nós, sinal de quê?
O primeiro sentimento que me vem é de que somos, como sociedade, imensamente hipócritas. Nos comovemos com a cena do bebê resgatado dos braços da morte e nos silenciamos diante do assassinato cotidiano de moradores de rua, toleramos coniventes a prostituição infantil, aprovamos veladamente as muitas formas de pena de morte já presentes no nosso Brasil.
Volto à imagem. No momento em que o saco é aberto, como a bolsa que se rompe, as águas sujas da lagoa, qual líquido amniótico, jorram, dando à luz uma criança que chora. Ela nos encanta, seduz, desperta sentimentos de ternura, compaixão, solidariedade porque a vimos!
E os que não vemos? Os outros tantos, milhares, que não estão sob o foco de uma câmera quando são excluidos, descartados, humilhados, despidos de qualquer esperança?
Vale aqui o ditado “o que os olhos não vêem o coração não sente?”
Jesus, em seu Natal, transformou o olhar cheio de compaixão da Trindade sobre a Humanidade em solidariedade e compromisso. O olhar, em Jesus, amplia-se em todos os sentidos e vai além. Ele nos toca com suas mãos, aspira nossos odores, sente o gosto da vida que pulsa à nossa volta, ouve, escuta, acolhe e ama.
O que nos revela a imagem daquela menina, ressurgindo das águas, nesse estranho batismo captado pelo olhar eletrônico de uma câmera desavisada?
O que não vêem nossos olhos? O que não sente o nosso coração?

Eduardo Machado
Novembro de 2010   


http://www.youtube.com/watch?v=rgxX97NMiAk

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