quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Amigos e amigas, próximo domingo é "Festa de todos os Santos e Santas". Seguem alguns "pontos" para ajudar a rezar o Evangelho das Bem-aventuranças. Um abraço a todos .Pe. Adroaldo sj


A LÓGICA SURPREENDENTE DAS BEM-AVENTURANÇAS

“... nós sabemos que não fazemos nada a não ser pregar o testemunho subversivo das BEM-AVENTURANÇAS, que revolucionaram todos os  valores ao proclamar:
      felizes os pobres, felizes os que tem fome e sede de justiça, felizes os que sofrem (Oscar Romero)

O Evangelho que mos foi confiado é um programa para alcançar a felicidade, a vida ditosa, prazerosa, bem-aventurada. Na boca de Jesus brilha sempre a palavra chave: “Felizes”.
A felicidade, proclamada aqui por Jesus, é já uma realidade presente na sua pessoa e na sua missão.
Todas e cada uma das bem-aventuranças são autobiográficas. Jesus viveu-as durante 30 anos antes de proclamá-las. Elas são, portanto, a expressão do que constitui o centro mesmo da sua pessoa e da sua missão, dos seus sentimentos, atitudes; numa palavra, do seu mistério.
Poderíamos dizer que as bem-aventuranças são o auto-retrato de Jesus. Elas são o compêndio do ministério de Jesus. Não é lei que se impõe por si mesma; é confissão: “o Reino chegou”.

Jesus, ao subir o monte das bem-aventuranças, promulga seu programa. Um programa, porém, que se diferencia substancialmente daquele promulgado por Moisés em outro monte, o Sinai. Lá Moisés promul-gou mandamentos, ao passo que Jesus, no monte da Galiléia, anunciou bem-aventuranças. Ou seja, passamos de uma ética de “deveres e obrigações” para uma ética de “felicidade e ventura”.
Aqui está a surpreendente novidade do projeto oferecido por Jesus.
Joaquim Jeremias disse que o Sermão da Montanha não é Lei, mas Evangelho, de tal forma que a diferença entre um e outro é esta: “A Lei põe o ser humano diante de suas próprias forças e pede-lhe que as use até o máximo; o Evangelho situa o ser humano diante do dom de Deus e pede-lhe que converta verdadeiramente esse som inefável em fundamento de sua vida. Dois mundos”.

Jesus compreendeu que o meio mais eficaz e mais direto para aproximar-nos de Deus, e para que cada um se realize como ser humano que é, não é estabelecer proibições, mas fazer propostas que mais e melhor se harmonizem com nossa condição humana, com aquilo que mais desejamos.
A experiência histórica nos ensina que os mandatos e as proibições tem cada vez menos força para modificar a vida das pessoas.  Todo mandamento e toda proibição tem certos limites, aos quais alguém se ajusta e assunto encerrado. Enquanto a proposta da felicidade contém em si uma busca sem limites. E é aí que se constata até onde chega a generosidade de uma pessoa, a fé e a entrega de alguém a uma causa que se leva a sério.
As bem-aventuranças vão muito mais além de tudo o que os mandamentos significam; elas não se fixam em alguns limites que não podem ser transgredidos, mas marcam algumas metas que nunca chegaremos a alcançar em plenitude. Não são proibições, e sim propostas. Não são a negação que esta-belece o que não se pode fazer, mas a afirmação que nos dá vida e nos deixa profundamente felizes.

Os enunciados das bem-aventuranças soam à primeira vista como “idealistas”, “utópicas”, não possíveis de serem vividas no mundo em que vivemos. De fato, há uma resistência surda frente às bem-aventuranças, não porque nosso coração não se reconheça nelas, mas porque parecem tão impossíveis, tão distantes estamos delas...; vivemos mergulhados em tantas contradições, profundos dramas e violências que nos parecem desmenti-las. Incomoda-nos e inquieta-nos sua mensagem de humildade, de mansidão, de paz, de pureza, de misericórdia... quando, na realidade, estamos envolvidos em construir, em fomentar um mundo que é arrogante, agressivo, violento, intolerante, excludente, injusto...
As bem-aventuranças são a plenificação daquilo que é o mais humano em nós. Temos resistências em escutá-las porque elas nos colocam de novo frente à verdade para a qual nascemos, diante do mais origi-nal de nosso coração e de nossas entranhas humanas. A ética de Jesus nas bem-aventuranças encontra resistência para ser assumida por nós precisamente em virtude de sua desconcertante humanidade.
As bem-aventuranças nos esperam no pequeno, no cotidiano, no próximo mais próximo, e nos impul-siona a proclamar: a paz é possível, a alegria é uma realidade, a justiça não é um luxo, a mansidão está ao alcance da mão... Elas nos dizem que nascemos para a bondade, a beleza, a compaixão...

Ao formular as bem-aventuranças, Mateus traça o perfil que caracterizará os seguidores de Jesus; elas condensam as atitudes básicas que os cristãos devem ter na relação com os outros, seguindo as pegadas do Mestre. Jesus propõe a ventura sem limites, a felicidade plena para seus seguidores. Deus não quer a dor, a tristeza, o sofrimento; Deus quer precisamente o contrário: que o ser humano se realize plenamente, que viva feliz... Jesus acreditava na vida, e queria que todos vivessem intensamente.
Por isso, as bem-aventuranças podem ser escutadas como uma mensagem que brota do mais profundo da vida e que tem como finalidade apresentar a qualquer pessoa o mais humano que existe em nós.
Ao proclamar bem-aventurados os pobres, os que choram, os perseguidos, os humildes... Jesus, certamente, jamais quis sacralizar a dor humana. Ele constata a situação do povo, de pobreza, humilhação, submissão; percebe o esforço que o povo faz para mudar a situação, e o proclama feliz nesta busca, porque esta busca mora no próprio coração de Deus.
Aos olhos de Jesus nada é mais perigoso para o espírito humano do que vidas satisfeitas, acomodadas, sem desejos, sem a afeição das esperas e o desassossego das buscas; corações quietos, indolentes, medrosos, covardes, petrificados, sensatamente contentes com aquilo que são e têm.
Como são, ao contrário, humanamente repletos de vida os que quase nada são e têm, os que ainda se encantam com as buscas, os que sonham e lutam por um mundo novo. Sua vida é penosa, sem dúvida, mas repleta de razões, criatividade, entusiasmo e vitalidade.

Também é preciso levar em conta que as bem-aventuranças falam da felicidade, não no singular, mas no plural. Ou seja, Jesus não fala da felicidade do indivíduo, mas da felicidade relativa à comunidade.
A felicidade não é uma questão meramente individual, mas essencialmente social, que a felicidade não se consegue isoladamente, mas comunitariamente.
Em outras palavras, o que Jesus afirma é que a felicidade de cada um está em intima relação com a felicidade dos outros com quem cada um convive.
“A ética de Jesus é a ética do prazer de viver para todos, da felicidade compartilhada por todos, sem excluir ninguém. E isso é o que mais custa assumir e aceitar como projeto de vida, porque a ascética mais dura não é a da renúncia, mas sim da doação” (José Maria Castillo).

Texto bíblico:  Mt. 5,1-12

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