segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Novena de Natal- 6º Dia.

Novena de Natal 2011     
           

 
Acolhida:


Dirigente: Estamos reunidos em nome de Deus que é Pai e Filho e Espírito Santo.
Todos: Bendito seja Deus, Pai que nos reúne pela força do seu Espírito, no amor de Jesus. Amém.


Leitura do dia: Gênesis 9,8-13


        “E Deus disse a Noé e seus filhos: ‘Eis que estabeleço a minha aliança com vocês e com seus descendentes, e com todos os animais que os acompanham: aves, animais domésticos e feras, com todos os que saíram da araçá e agora vivem sobre a terra.

            Estabeleço minha aliança com vocês: de tudo o que existe, nada mais será destruído pelas águas do dilúvio, e nunca mais haverá dilúvio para devastar a terra’.
              E Deus disse também: ‘Este é o sinal que coloco entre mim e vocês e todos os seres vivos que estão com vocês, para todas as gerações futuras. Colocarei o meu arco nas nuvens e ele se tornará um sinal da minha aliança com a terra’.”


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Pontos para oração e partilha:                                                 

            - Deus faz aliança com seu povo.



- Deus faz aliança com toda a Criação.



- De Deus não virá, mais, nenhum castigo.



            - A aliança de Deus atravessa as gerações e chega a cada um de nós.



 Para aprofundar:

                         Dá-me, Senhor, poesia...


Cedinho, indo para o trabalho, paro num sinal e descubro que a mesma chuva que nos últimos dias fez tantos estragos, hoje colocou um arco íris bem no meu caminho.

Durante os segundos do sinal fechado contemplo, admirado, aquela cena marcada pela banalidade das pessoas que passam na faixa, à minha frente, sem se darem conta daquele espetáculo.

Minto; uma mulher para, olha e sorri. Depois, segue em frente.

Eu também. No verde, instintivamente, faço o sinal da cruz, como algumas pessoas fazem quando passam diante de uma igreja.

Não vejo uma igreja por perto, mas há Deus por toda parte. Na verdade, há a poesia de Deus por toda parte. O que nos cabe é aguçar os sentidos e captá-la, senti-la pulsando em nós e à nossa volta.

Qualquer ser humano, por mais simples que seja, e às vezes, até por ser o mais simples, tem a capacidade de fazer essa leitura poética do cotidiano. A diferença está naqueles que, além da percepção, são capazes da expressão. Uma coisa é sentir, outra é dizer o que se sente, e outra ainda mais rara, é fazer o dizer acontecer no espaço da beleza, da sensibilidade, no espaço da poesia. E não me refiro apenas à poesia convencional, feita de versos, métrica e rima. A poesia é uma linguagem multifacetada que se expressa, sem pudor ou censura, de muitas formas. E como precisamos dela!

Há tanta poesia num verso de Pessoa quanto num quadro de Dali ou no olhar e no sorriso daquela mulher anônima. Há tanta beleza poética num traço ousado de Picasso quanto numa frase de Quintana.

A poesia transborda de uma cena de Kurosawa, de uma canção de Toquinho e Vinícius ou de uma escultura de Rodin.

Louvo a Deus que haja esses poetas de plantão para nos dizer da poesia presente, insistente, resistente, num mundo tão pragmático, apressado, endurecido e insensível.

Louvo a Deus, poeta maior e primeiro, do qual, o mais talentoso artista, é apenas um plagiador bem intencionado.

Como ignorar ou copiar a beleza poética daquele arco íris, entre a parede de concreto do conjunto JK, ou do fascínio delicado, colorido e aveludado das pétalas das flores que amanheciam comigo, ali na Praça Raul Soares.

É, há beleza demais no mundo para que não sejamos, todos, aprendizes de poesia...

Há beleza no mistério das pessoas. Havia beleza naquela mulher que passou por mim, apesar da roupa desencontrada num corpo que me pareceu grosseiro, os cabelos mal cuidados. No entanto, atravessou a rua, à minha frente, viu o arco-íris, sorriu cúmplice, e ficou bela.

Eu segui em frente. Ela também. Em mim ficou sua imagem fugaz. E o mistério permanente.

O que pensou aquela mulher? O que sentiu que a fez sorrir? Estaria apaixonada? Levava no coração apertado a preocupação com um filho e o arco íris lhe foi um alívio? Sonhava com a casa própria? Com um amor impossível? O que lhe disse o arco-íris? O que disseram nossos olhos anônimos naquela fração de segundo em que se cruzaram?

Não sei. E o mais provável é que nunca saberei e, no entanto, havia naquela mulher mistério suficiente para encher o universo. E somos sete bilhões... E quantos fomos e seremos ao longo do tempo, únicos, originais, irrepetíveis...?

Preciso urgentemente de um poeta que me socorra, de uma Adélia Prado, uma Martha Medeiros que me emprestem seu olhar sensível e me cedam as palavras certas para dizer da minha angústia, da minha esperança, do meu amor pelas pessoas, anônimas ou conhecidas, das mulheres e homens, que mesmo feios são sempre belos, das crianças de rua ou da lua, que cruzam o meu caminho.

Fui menino vadio, adolescente difícil, jovem rebelde. Hoje sou um adulto inundado de sentimentos, em busca de alguma poesia que me salve, que resgate em mim a beleza perdida, o olhar capaz de enxergar, no cotidiano mais banal, na cena mais normal, a presença da ternura poética que Deis derramou por aí, como pistas ou dicas para quem quer buscá-lo, reencontrá-Lo...

Pois os poetas são os profetas do nosso tempo, de todos os tempos. Duvida? Pois lhe conto duas histórias a modo de explicação.

Um homem saiu de casa e foi ao depósito de material de construção comprar tinta para pintar sua casa. Um resto de estoque estava em oferta. Arrematou o lote. A mulher, quando viu, brigou. “Onde você está com a cabeça, pintar a casa dessa cor...?”

Anos depois, a filha desse homem fez a leitura poética desse fato. E escreveu:

“Uma ocasião, meu pai pintou a casa toda de um alaranjado brilhante. Por muito tempo moramos numa casa, como ele mesmo dizia, constantemente amanhecendo...”

A menina da casa amanhecendo hoje é uma senhora que atende pelo nome de Adélia Prado.

Quer mais banalidade poética?

Aquele cara encostado no muro pode estar tramando um assalto, mas também pode estar esperando a moça que trabalha no prédio em frente para pedi-la em casamento...

Quem enxergou o rapaz para além da paranóia e do medo urbanos? Martha Medeiros.

A elas peço a benção. Em troca, ofereço o arco-íris da minha oração da manhã, aliança de Deus comigo, com todos...

Para rezar até o próximo encontro
Mateus 5, 14-16

Oração final:

Deus, nosso Pai; renova em nosso coração a aliança que fizeste com Noé, Abraão e todos os patriarcas.

Dá-nos a coragem dos profetas e o coração abrasado de amor dos santos e santas que nos apontam o caminho e mostram que é possível caminhar por ele.

Ensina-nos a fazer Aliança com teu povo que caminha, hoje e sempre, pelas estradas do mundo, buscando, com nossos frágeis, o rumo que leva ao encontro do teu amor, aqui, agora, e por toda a eternidade,

Amém.





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Eduardo Machado/novembro de 2011

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