sexta-feira, 18 de novembro de 2011

NOVENA DE NATAL- 4º DIA

Novena de Natal 2011 

Acolhida:

Dirigente: Estamos reunidos em nome de Deus que é Pai e Filho e Espírito Santo.

Todos: Bendito seja Deus, Pai que nos reúne pela força do seu Espírito, no amor de Jesus.
 
 
 
Leitura do dia: Gênesis 3,6-13            
A mulher, vendo que o fruto daquela árvore era bom para se comer, agradável aos olhos e desejável para dar entendimento, tomou dele e o comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu.
Então foram abertos os olhos de ambos, e viram que estavam nus. Envergonhados, tomaram folhas de figueira e se cobriram.
Entardecia. Ouvindo voz do Senhor Deus que passeava no jardim, esconderam-se entre as árvores.
O Senhor Deus chamou ao homem, e perguntou-lhe: Onde estás?
Respondeu-lhe o homem: Ouvi a tua voz no jardim e tive medo, porque estava nu; e escondi-me.
Deus perguntou-lhe: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?
Ao que respondeu o homem: A mulher que me deste por companheira deu-medo fruto da árvore, e eu comi.
Perguntou o Senhor Deus à mulher: Que é isto que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente enganou-me, e eu comi.

Pontos para oração e partilha:



            - O mal pode nos parecer agradável, atraente, sedutor 
- O pecado nos desnuda e envergonha 
- É difícil assumir a responsabilidade pelos próprios atos, é mais fácil encontrar um(a) “culpado(a)”...          

 Para aprofundar: “Histórias que curam”           
A aula de catecismo acabou e eu voltei pra casa encucado. Não conseguia me conformar com aquela história que Dona Íris acabara de contar segundo a qual, por causa do Adão e da Eva terem comido uma maçã (ainda se fosse uma jaca!), já nascíamos todos com uma mancha na alma, o tal do “Pecado Original”, expressão que ela falava arqueando as sobrancelhas e esticando as sílabas em tom cavernoso, garantindo que tal mancha só podia ser lavada através do Batismo.
Mas, ainda segundo ela, mesmo lavando ficava uma nódoa e a gente estava sempre precisando de uma lavanderia especial (a confissão) pra manter a alma mais ou menos limpa.
            Na minha infância e adolescência a idéia de pecado era, assim, uma sombra permanente e suas consequências uma ameaça constante. Cultivava-se o pavor de morrer em pecado mortal e, aí, a condenação eterna era inevitável. Havia também os pecados veniais, mais leves, mas que, somados, equivaliam a um mortal.
            Deus não era onipresente. O pecado sim. E como quase tudo era pecado, eu sempre tinha dificuldades em fazer a contabilidade, catalogar e separar os mortais dos veniais. Se ao menos nos dessem uma lista!
            Para me livrar daquela paranóia espiritual, minha Santa Madre Igreja criou diversos mecanismos capazes de garantir que eu não morreria sem ter a chance de passar pela lavanderia e dar uma geral na consciência. Era só comungar nas nove primeiras sextas feiras do mês e Deus me garantiria um padre, na última hora, para me ouvir em confissão. Por seguro, era bom fazer o rito mais de uma vez. Havia também a indulgência plenária para quem confessasse e comungasse na igreja de Nossa Senhora da Conceição em dia de jubileu.
            Hoje sei que a intenção até podia ser boa, mas a catequese que se fazia então acabava ressaltando quase que só o pecado. Os ritos, novenas, promessas viravam um jeitinho de colocar a ira de Deus sob controle e minorar os efeitos da mancha original em nós. Éramos pecadores, é certo, mas pouco se falava em misericórdia e no verdadeiro sentido do perdão. Nossa auto-estima espiritual andava sempre em baixa.
            E o mais triste é que gerações inteiras foram “educadas” nessa linha. Em consequência, há gente que passa a vida inteira arrastando essa culpa, cultivando o medo do fogo do inferno. Vez por outra, tropeço em gente assim, angustiada, sofrida, amargurada. Gente incapaz de se perdoar ou de se permitir ser perdoada. De gente assim, ouço, com frequência, a frase: “perdôo, mas não esqueço...”. Daí a dificuldade em lidar com a misericórdia, o perdão. Esse tipo de ‘perdão’ acaba virando mágoa. E a mágoa é a ante-sala do rancor. E o rancor é um veneno que eu tomo, querendo que o outro morra...
            Li recentemente o livro “Histórias que curam”, da médica americana Rachel Naomi Remem. Ela fala de experiências vitais, síntese de “conversas sábias ao pé do fogão”, muitas delas com seu avô, um rabino judeu que tinha uma maneira muito própria de ler, interpretar e ensinar a Toráh.
            Uma história, em especial, merece meu olhar. A reproduzo a seguir, na íntegra, como convite a ler todo o livro.
Vovó Eva

Quando eu era pequena meu avô me contava histórias. Muitas delas falavam de mulheres que haviam vivido tempos atrás, mulheres heróicas que aprenderem coisas importantes por meio dos seus erros. Havia Sara, cujo marido chamava-se Abraão; Raquel, esposa de Jacó; e Ester, que era rainha. Só depois que ele morreu fui descobrir que aquelas histórias eram do Gênesis, contadas por um rabino ortodoxo erudito, de barbas brancas, a uma devotada neta, filha de dois jovens socialistas agnósticos.
            A história de meu avô sobre vovó Eva e a serpente é na verdade uma história sobre a importância da vida interior.
            No começo da história, vovó Eva é uma menininha, e vive de um modo bem parecido com o que eu vivia na época. Deus é o pai e, como todos os pais, provê o alimento, o abrigo e todas as coisas necessárias à vida. Em troca, Eva obedece-lhe da mesma maneira que eu devia obedecer a meu pai. A vida prossegue no jardim, muito parecida, dia após dia. Pede-se muito pouco a Eva. Todos os animais e plantas vivem ali, junto com ela, inclusive uma árvore muito bela, no centro do jardim, chamada Árvore da Sabedoria Divina. Deus deu a Eva orientações bem precisas com respeito a essa árvore. Ela pode comer os frutos de todas as demais árvores, mas os frutos desta são proibidos. De início ela aceita isso sem questionar, muito embora a própria finalidade da vida possa ser crescer em sabedoria.
            Com o passar do tempo, embora o jardim não mude, Eva muda. Começa a crescer, a tornar-se adolescente. Certo dia, ao passar pela árvore mais bela, uma serpente enrolada em seus ramos lhe diz: “Eva, eis uma das maçãs desta árvore. Por que não a come?”.
            Naquele momento, meu avô sempre explicava que a serpente não era realmente uma serpente, mas um símbolo da ânsia humana por sabedoria, o poder sedutor do desconhecido e a infinita fascinação que o misterioso exerce sobre os seres humanos. A serpente é o primeiro mestre, e fala àquela parte de Eva que já não é mais uma menininha, mas alguém que busca.
Eva lembra o que o Pai disse. O fruto da árvore é proibido. Mas Eva é uma adolescente. Como a maioria das pessoas da sua idade, ela precisa descobrir por si mesma. Eva sente o magnetismo da maçã. Atraída por ela, estende a mão para pegá-la. Dá uma mordida.
            Aquilo que comemos torna-se parte de cada uma das nossas células e fica entremeado na própria estrutura de nosso ser. “Aquela maçã não é diferente de qualquer outro alimento”, disse meu avô.
Quando vovó Eva a come, a sabedoria de Deus torna-se parte de sua vida interior, uma sabedoria santa que ela carrega dentro de si, e não algo com que ela fala fora de si mesma. Ela agora traz a voz de Deus dentro de cada uma de suas células, como uma pequena bússola. Como seus descendentes, nós a trazemos também.
            Comer a maça possibilitou uma enorme mudança no modo de vida de vovó Eva. Ela já não precisava mais viver na casa de Deus, na estufa, para estar segura. Pôde deixar aquele ambiente protegido porque trazia Deus consigo. Podia ouvir Deus se desejasse ouvir. Ao comer a maçã, ela se tornou adulta e adquiriu a liberdade que tem o adulto de sair para um mundo de complexidade, aventura, responsabilidade e mudança. Para ter sua própria vida e fazer suas próprias escolhas.
            Como acontece com a maioria das crianças, os aspectos literais da história me preocupavam. “Mas vovô”, perguntei, “por que Deus disse a vovó Eva que ela não devia comer a maçã se não era verdade?”.
Uma das características mais magníficas do meu avô era não mudar sua resposta a uma pergunta só porque a pessoa que a fazia era muito jovem. Ele me respondeu como se eu fosse uma colega estudiosa da Cabala.
“Nashume-le”, disse ele, “essa é uma questão dificílima, uma questão que exige muita reflexão. A Bíblia está cheia de imagens de Deus. Deus como um pai autoritário, Deus apaixonado, Deus zangado, Deus ciumento, Deus fiel, Deus amoroso. Em um trecho Deus está caminhando sobre a terra, em outro seu sopro agita as águas. Em outro, ainda, ele é uma coluna de fogo. Mas Deus não é nenhuma dessas coisas. Essas são imagens de Deus na mente dos homens. Para conhecer Deus talvez seja preciso questionar todas essas coisas...”.
            O Deus em nosso interior parece demandar um tipo de atenção íntima dia a dia, momento a momento, em vez de apenas uma simples obediência. Eu tive pena de vovó Eva. Isso me parecia muito mais difícil do que a simples obediência...
            A complexidade do mundo real exige que lutemos para ouvir o Sagrado e que desenvolvamos a responsabilidade pessoal de viver de modo apropriado. Exige que nos mantenhamos acordados. Vovô apresentou-me Eva como uma pessoa adulta, em vez de uma pecadora. Só anos depois fui ouvir a versão oficial da história.
            Talvez agora haja algo para nós na versão do meu avô. Temos esperado muito de nossos especialistas e autoridades, de nossos médicos, políticos, técnicos e educadores, até mesmo de nossos rabinos, ministros, mestres e padres. Oferecemos a eles obediência, na esperança de que se disponham a responsabilizar-se por nos dar uma vida apropriada.
            É hora de encontrar o lugar da graça em nosso interior...

In - “Histórias que curam - conversas sábias ao pé do fogão”. Ed. Agora – pgs. 230/232
____________________________________________________________________________________________

Para rezar até o próximo encontro
Lucas 15, 11-32
                                                                                        
 Oração final: Pai Nosso (cantado)


Pai nosso que estás no céu,
Santificado seja o teu nome
Venha a nós o teu reino,
E seja feita a tua vontade

R     Pai, meu Pai do céu,
E     Eu quase me esqueci, eu quase me esqueci
F     Que o teu amor vela por mim,
R     Que o teu amor vela por mim
à    E seja feito assim
O alimento desse dia,
Dai nos agora e sempre
E perdoa as nossas ofensas,
De um modo maior do que perdoamos

Refrão

Não nos deixeis cair em tentação,
Mas livrai-nos de todo o mal,
Amém


Eduardo Machado/novembro de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário